sábado, 2 de junho de 2012

Perdas sem ganhos

          Há situações em que alguns perdem e outros ganham. Há, também, aquelas em que todos perdem. E, numa falsa avaliação, apenas ilusória, até aqueles que ganham,  perdem. Pessoas têm perdas materiais, que se recuperam, se recompõem. As perdas do coração, parecem-nos irreparáveis. As perdas humanas, as definitivas, quando vidas são ceifadas, são as mais sentidas. Em seu lugar, restam as lembranças, muitas boas lembranças.

          Ontem, perdemos mais uma pessoa amiga, desta vez a já saudosa Noemi Pontim, que conhecemos desde duas décadas atrás.  A nossa nutricionista, parceira em projetos de nosso trabalho no serviço público, na saúde e na educação. Moramos na mesma cidade, Ouro, alguns anos. Depois ela foi para Joaçaba. Nós fomos também. Muitas e muitas vezes nos encontrávamos em eventos, cursos. Além de uma amizade simples, mas verdadeira, o respeito profissional mútuo. No campo do trabalho, deixou-me duas lições:

          A primeira, foi quando desenvolveu sua pesquisa para o Mestrado, lá na Escola Sílvio Santos, quando eu era professor. Constatou que os jovens estudantes de Ensino Médio, rapazes, filhos de agricultores, eram muito altos e magros, longelíneos. As garotas tinham a estatura normal para a idade, mas estavam, muitas delas, com sobrepeso. E buscou saber as causas: Os rapazes, em casa, no período da tarde e até noite, tinham que trabalhar muito na lavoura e no trato das criações, porque o número de filhos em cada família estava cada vez menor, havia menos mão-de-obra. . As garotas, por sua vez, eram poupadas do trabalho pelas mães, porque não queriam que as filhas passassem pelos mesmos sacrifícios por que elas passaram em sua juventude. Então, as próprias mães faziam os afazeres da casa e da propriedade, dispensando-lhes o tempo para que estudassem.

          A segunda, foi numa entrega de certificados para proprietários de estabelecimentos alimentícios, padarias, bares, lanchonetes e restaurantes. Num vídeo, nos mostrava as incoerências em  muitos estabelecimentos do gênero, em que, na hora da limpeza, viravam as cadeiras e colocavam-nas sobre a mesa onde servem alimentos para os clientes. Outra, que em cozinhas aparentemente bem cuidadas e organizadas, armazenavam caixas com verduras, que vinham das granjas, sobre a pia  ou a mesa da cozinha. No primeiro caso, era uma grande falta de respeito para com o cliente. (Até hoje, quando passo em frente a um restaurante e vejo cadeiras postadas com as pernas para cima, sobre as mesas, perco a vontade de frequentar o estabelecimento, com repulsa). No caso das caixas sobre as mesas, balcões e pias, trazem em sua base bactérias, que contaminam os alimentos.

          Então, quando se perde em ente querido, há a perda irreparável, pois nada repõe a tamanho da perda. Mas, podem ficar bons exemplos, se a pessoa que partiu nos deixou algum legado cultural ou pessoal, como no caso da amiga.

          Minha homenagem à nutricionista Noemi Pontim e seus familiares. Ela nos deixou, no primeiro dia de junho de 2012, antes do meio-dia, em trágico acidente na BR 282, juntamente com o Valmir, do HUST, seu colega de trabalho.

Euclides Riquetti
02-06-2012

         

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dura Lex

        Nesta semana, estive visitando um órgão ambiental oficial em Joaçaba, onde costumo acompanhar projetos em licenciamento, e não pude deixar de sair de lá pensando no quanto o emaranhado de leis e normativas engessa ou  dificulta a vida das pessoas. Há tantas, tantas leis, que se não houvesse a possibilidade de acesso a elas através da redenet, os profissinais da área jurídica teriam muitas dificuldades em trabalhar suas teses. Comentavam  dois profissionais de nível superior, uma Engenheira Ambiental e um Biólogo, sobre algumas  barbaridades que têm que encarar em seu trabalho de conceder licenciamentos para instalação ou operação de alguns empreendimentos. Eu mesmo vi um Processo de Licenciamento de um local para venda de botijões gás de cozinha, em que, para armazenar 10 botijões de gás que um comerciante tenha em estoque, precisa pagar uma taxa de cerca de R$ 2.300,00 e ainda contratar um escritório especializado para encaminhar e acompanhar o licenciamento.

           Bem, você pode imaginar: Se alguém se propõe a vender gás, precisa estar na conformidade com as leis e normas. Tudo bem. Então, indago-me: Alguns botijões de gás armazenados, uma dezena, oferecem mais riscos ambientais, ou riscos de incêndio? Claro que um pouco de gás vazando,  numa gaiola feita com algumas barras de ferro de construção soldadas, oferece mais risco de incêndio do que a possibilidade de um desastre ambiental. Concluímos, juntos, que deveriam, sim, ser observadas todas as normas de segurança, toda a orientação dos bombeiros. Ah, e quantos botijões o comerciante terá que vender para poder sobrar todo aquele dinheiro que investiu no licenciamento? E  quem vai pagar esse custo? Naturalmente que você e eu, caro (a) leitor (a). 

          Ainda, quando ia para casa, fui pensando num artigo que li na Resvista "Fique de Olho", ali de Curitibanos, escrito por um juiz, que descrevia a cena constrangedora de ver uma senhora aparentando considerável idade, mostrando ser "da paz" e não "da guerra", que tinha que se apresentar no Fórum da Justiça, todos os meses, porque fora condenada por ter mandado cortar uma árvore ao lado de sua casa, pois tinha medo que caísse sobre ela. E o próprio magistrado achava isso um absurdo, uma senhora inofensiva, frágil, envergonhada, ter que passar por tamanha humilhação. Não fora ele a condená-la, mas, se o processo tivesse ido às suas mãos, deveria ter a mesma atitude que o colega, pois sua função é fazer cumprir a Lei. E, pela Lei Ambiental Brasileira, ela é uma criminosa. Lamentável, essa "Dura Lex, Sed Lex" (A Lei é Dura, mas é Lei), quando se vê tanto críme ambiental acontecendo no Norte do Brasil e em todo o mundo. E nós, brasileiros, há alguns anos estamos aí divergindo sobre nosso "Código Ambiental/Florestal Brasileiro", sem chegarmos a um entendimento.

          Há alguns meses lamentei a queda de um pinheiro sobre o aviário de um agricultor, ali em Ouro, que havia me procurado, em meu trabalho,  para pedir autorização para cortar o pinheiro, antes que caísse sobre sua casa. Quem era eu, na ordem do dia, que poder eu poderia ter, perante a Lei, para "autorizá-lo" a derrubar o Pinheiro, antes que caísse? E, graças a Deus, o Pinheiro, na hora do vendaval, pendeu sobre o aviário, não sobre a casa, evitanto que alguém perdesse a vida. E, parece-me, não havia frangos alojados naquele momento...Apenas um ex-aviário!

          E, vem aí a Rio+20, neste mês. Teremos um Código Ambiental para apresntar na Conferência? E os outros países, o que já fizeram para a preservação do planeta? Parece que a conta está ficando apenas para os brasileiros...

Euclides Riquetti
01-06-2012

domingo, 27 de maio de 2012

Sol de Outono

Sol de outono
Resteia no teu acanhado e belo corpo
Secando o orvalho do gramado
Reativa teu pensamento absorto
E reconforta  teu ânimo abalado.

Sol de outono
Não é apenas mais um sol que brilha
Não é um sol comum do verão:
Reanima uma alma maltrapilha
Aquece o frágil e tímido coração.

Sol de outono
Sol de dimensão universal
Astro Rei semi-hibernado
Da natureza és o  Deus maioral
Tu  clareias o Universo iluminado.

Sol de outono
Oculto nas frias manhãs de inverno
Reinarás  na primavera ainda ameno
E, no verão, com teu Poder Eterno
Virás de novo:  Rei-Deus, Soberano Extremo!

Euclides Riquetti
27-05-2012