sábado, 30 de março de 2013

Pendure Atrás do Fogão

          O fogão a lenha ainda é um equipamento de cozinha indispensável nas casas das pessoas que hoje estão na condição de semi-idosas ou já inclusas. Principalmente nas de quem não reside em apartamentos.

          Os fogões, aqueles esmaltados brancos com estampas de flores bem coloridas, bem tradicionais, das margas Geral, Marumby, Wallig ou Venax,   estiveram presentes na história de nossas famílias. Deles, tenho belas lembranças, principalmente da casa de minha madrinha Raquel, no Leãozinho, ou da Nona Baretta, na Linha Bonita, em minha casa e nas das tias, no antigo Rio Capinzal. As panelas grandes, de alumínio, fervendo o leite, ou no preparo do arroz quebradinho ou da macarronada. As de ferro,  para o cozimento do feijão e  as carnes. A polenteira, pesada, presente também. Algumas famílias tinham uma composição tão numerosa que precisavam de duas dessas polentas no almoço para saciar a fome após a lida da manhã. Os queijos, os salames, as copas, as bacias de saladas, principalmente os radicci.

          Um grande caixão para a lenha, com tampa, situado atrás do fogão, onde as crianças gostavam de ficar para menterem-se aquecidas nas frientas manhã de nossos invernos. Era disputado, mas os pais o reservavam sempre para os mais pequenos. E, de vez em quando, um susto, quando o vapor da água elevava a tampa da panela e, em gotas caía sobre a chapa muitas vezes avermelhadas pelo calor...

          Minha mãe conservou um até o final de sua vida. Nós, aqui em casa, também tivemos o nosso, mas já abolido desde que as crianças cresceram.  Porém, o que me faz retornar a ele não é a sua utilidade como o principal componente da cozinha, em tempos que as pessoas não tinham geladeiras e nem fogões a gás.

          Lembro dos arames esticados atrás dos fogões, fixados com pregos na parede angular, de madeira. E ali penduravam os uniformes para que secassem e as crianças pudessem ir para a escola devidamente paramentadas. Outras vezes, punham dois peçados de lenha no forninho e sobre eles um par de calçados, para que secasse e no outro dia pudessem ser usados...

          E há até lembranças que me fazem rir: uma vez minha irmã Iradi, professora na escola em Linha Pocinhos, colocou uma gravura de uma cozinha no quadro-negro. Estava ensinando  os alunos a fazerem uma descrição. E, uma aluninha, hoje uma respeitável senhora, escreveu: "Atrás da bunda da moça tem o fogão". Nada mal se os malandros não tivessem apelidado de "fogão" o traseiro dos homens.

         Também  histórias muito tristes foram protagonizadas diante desse histórico equipamento, com pessoas levando queimaduras que as marcaramou que lhes tiraram a vida...

         O fogão a lenha é um objeto que está caindo em desuso, gradativamente. Mas há muita gente herdando o costume de tê-lo e vão continuar utilizando-o. Alguns já substituíram a lenha por um dispositivo a gás que aquece a chapa. Mas, aquele brilho saindo da porta do fogão, ou aquele cheirinho da cinza da gavetinha sob a grade da combustão das lenhas, nunca será esquecido.

         Não importava para as crianças se suas roupas ficassem impregnadas de odores de fumaça ou de frituras.  Quem ligava para isso? O importante era não passar frio e no outro dia ir para a escola de uniforme e com calçados secos. Além disso, no inverso, tomar mate doce e comer aquele pinhão delicioso cozido sobre a chapa aquecida. E, todos sabemos, a comida que a mamãe ou a nona fizeram nos fogão a lenha era muito mais gostosa, não era?

          E o seu, era de que marca? De que cor? Tinha flores estampadas? Como era o caixão da lenha? Qual a marca: Geral? Marumby? Wallig? Venax?

          Você pode ter esquecido da marca, mas não esqueceu, certamente, das roupas penduradas atrás dele...

Euclides Riquetti
30-03-2013



         

sexta-feira, 29 de março de 2013

Jorge Dudu - O Padre do Violão

          Imagine que você olha em meio a uma multidão e vê um cidadão moreno, cabelos agrisalhando-se, olhar profundo vindo de um par de olhos negros, semblante tranquilo, voz calma e serena, mãos se movendo lentamente, passos firmes em seu caminhar elegante. Então volte sua imaginação para aqueles escravos sofridos que você viu nas novelas ou de que teve notícias através dos livros de Castro Alves. Lembre-se da humildades deles e depois navegue através do mundo da música: Busque Martinho da Vila, Agnaldo Timóteo, Evaldo Braga.

           E, através da Literatura, encare os romances de Machado de Assis, vá  ao simbolismo dos poemas de Cruz e Souza, com suas sinestesias e aliterações.  Relembre do Pai João,  intensamente replicado em quadros que adornam paredes das casas  em suas molduras brancas. Não deixe de lembrar da figura de Martin Luther King e de Ghandi.

          Então, criteriosamente, escolha as qualidades de todos esses que mencionei e de outros mais que você conhece ou admira e migre seu pensamento para a personagem que estou tentando descrever e que talvez você até conheça: Jorge Dudu da Silva, o Padre cantor, a Padre do Violão, 50 anos de idade, paranaense de Marechal Cândido Rondon que viveu em Capinzal desde dezembro de 2011.

          Pois esse sacerdote que aprendi a admirar desde o primeiro intante que eu o vi, e com quem falei no máximo vezes, deixou-nos na última quarta-feira à noite. Estava tratando-se em Curitiba e teve uma parada cárdio-respiratória quando ia submeter-se a um cateterismo. Viera há duas semanas de lá para buscar  algumas roupas e seu violão.

          O Frei Dudu, como era conhecido, tinha a alma dos poemas de Cruz e Souza. Morreu igualmente jovem. No ano e pouco que viveu na nossa cidade, mostrou-se um grande pacificador. Cantor que reunia a habilidade de postar a voz dos cantores que mencionei e o dedilhar de um violão como o mestre Paulinho Nogueira, foi   tamém  nosso Eric  Clapton. Foi o Dudu, grande animador de eventos religiosos e de festas com os amigos. No dia 27 de janeiro, celebrou sua última missa, na Festa de São Paulo Apóstolo, em Capinzal.

          Frei Dudu vai cantar no grande coro de anjos lá do céu. E continuar olhando por todos nós. Abraços, Dudu - Padre do Violão!

Euclides Riquetti
29-03-2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

Perdas

Perdas são sempre sentidas
Ensejam  as saudades
Aguçam a sensibilidade
Ferem os corações e as almas doridas...

As perdas dilaceram os ânimos
E mutilam os pensamentos
Fazem a mente viajar pelo tempo
Perder-se em dias, meses e anos...

As perdas deixam marcas que não se apagam
Que ficam conosco eternamente
E que nos destroem  lentamente.

As perdas acontecem e as vidas passam
Fica a dor a matar quem já tanto sofreu
Fica o tempo a lembrar-nos de quem se perdeu...

Euclides Riquetti
28-03-2013











quarta-feira, 27 de março de 2013

As Apaes e a Inclusão.

         
          Quando fui candidato a um cargo eletivo, propus-me a visitar todas as casas de meu Município, não apenas para pedir votos, mas também para conhecer a realidade de cada família. Portava uma planilha e anotava o nome dos componentes familiares e fazia algumas observações, que iriam nortear meu trabalho se fosse eleito. O que me surpreendeu e até me assustou foi a diferença com que as pessoas com limitações físicas ou mentais eram tratadas em cada casa. Em algumas, muito amor e carinho. Em outras, a rejeição. E minha constatação veio porque, numa delas, especificamente, quando perguntei se havia mais alguém na casa, responderam-me: "Tem um lá em cima, mas aquele é "alejado", não vota".

           Pois pedi para ver a pessoa e fiquei chateado por ter presenciado tal situação, não a do jovem deficiente, mas com relação ao comportamento da família. Não faziam isso por mal. Foi cultura vigente, ao longo de nossa história, pessoas com algum tipo de limitação serem tratados com diferença. Saí de lá com uma firme decisão: Vou colocar um veículo com motorista para buscar,  em cada casa,  as crianças e jovens que quiserem frequentar escolas ou a Apae.  

         Na caminhada da campanha, registrei o nome, a idade e o endereço de cada um. Numa casa, em Linha Sul, encontrei uma Fisioterapeuta que visitava uma família. Perguntei-lhe o que podia ser feito pera essas pessoas, em especial para as crianças, e ela orientou-me. No ano seguinte, coloquei o transporte com uma Kombi e passamos a levá-los para a Escola Regular ou para a Apae de Capinzal. Também conveniamos com Fisioterapeuta e Psicóloga para dar-lhes apoio.  Lembro-me até hoje da alegria dessas crianças. Lá no Pinheiro Baixo, uma aluna  não tinha como andar a pé cerca de 2 Km para ir à escola. Começamos a transportá-la...

          As Associações de Pais e Amigos de Excepcionais são entidades que têm em seus quadros profissionais que fazem de si verdadeiros amigos daqueles que as frequentam. Apegam-se às pessoas como se fossem seus próprios familiares tão grande é o carinho e o amor que lhes dispensam. E têm a reciprocidade dos alunos, que também se apegam a eles. Conheci a maioria dos funcionários dedicados da Apae de Capinzal e agora vejo da mesma forma a ação dos da de Joaçaba. Ambas, têm o carinho e o respeito ao seu educando como a característica principal, o que é muito animador.

          Moro a menos de 100 metros da Apae de Joaçaba, localizada logo acima da Gruta de Nossa Senhora de Lurdes, no Bairro do mesmo nome. Vejo, diariamente, seus alunos chegando nos microônibus e vans, procedentes de alguns municípios circunvizinhos. As crianças descem com alegria e são recebidas com alegria. Muitas vezes saem para pequenos passeios e caminhadas, sempre com uma ou duas professoras. Não fosse o uniforme que usam, com a logo da Apae, nem se perceberia que são diferentes. Sua postura é das melhores, têm alto nível de disciplina e seguem as precisas  orientações das professoras. Sinto que a vizinhança reconhece o magnífico trabalho dos funcionários.

          Dia desses,  uma turminha  passou aqui defronte a minha casa. Todos felizes, falantes, alegremente acompanhados pela professora, muito jeitosa e demonstrando ter ótima formação. Conversamos e sinto o quanto eles ficam contentes em sair para seus passeios.

          O local onde se situa a unidade de Joaçaba é muito aprazível, plano, com pátio seguro para sua rcreação e atividades. Têm uma pista,  coberta, para a equinoterapia. Sinto que eles gostam muito de andar no dorso dos cavalos, apoiados pelo pessoal da Apae. Fico contente que assim seja e que, no Brasil, a criança diferente tem uma Legislação que a protege e lhe dá os merecidos direitos, inclusive o de frequentar escola regular e ter um professor exclusivo, pago pelo Estado. Pelo menos em Santa Catarina é assim.

          Em algumas cidades, porém, as Apaes são localizadas em lugares de difícil acesso, em terrenos com topografia muito irregular e com o espaço para atuação muito limitado. Acho que as Prefeituras deveriam começar a pensar em adquirir áreas bem favoráveis e amplas, apresentar projetos aos Governos Federal e Estadual e dar um carinho especial a essas pessoas, relocalizando-as.  Dizem que quando elas foram iniciadas, há meio século, as pessoas tinham muito preconceito com relação aos portadores de necessidads especiais e faziam as escolas em lugares retirados. É difícil de acreditar que foi assim. Acho que utilizavam os terrenos de baixo custo e não imaginavam que a entidade um dia se tornaria algo bem melhor que um simples depósito de gente com limitações.

          A Literatura que se refere à Inclusão deixa bem claro que há,  ainda , um certo nível de intolerância pela sociedade com relação àqueles que precisam de atenção especial.  E que os pais levam um grande susto e sentem-se culpados quando se deparam com a situação de terem um bebê com alguma deficiência. As áreas de saúde e educação, porém, já dispõem de excelentes profissionais que podem ajudar esses pais a superarem isso e aprenderem a como lidar com seus filhos nesses casos, para que não se sintam rejeitados e nem os pais culpados. A sociedade também deve fazer a sua parte, compreendendo e apoiando os pais e os alunos. Pais, Escolas, Sociedade e Poder Público precisam continuar a darem-se as mãos para as causas da Inclusão.

          Ah, não posso deixar de registrar: Já há alguns anos, recebi uma carta da jovem de Pinheiro Baixo, mencionada lá atrás,  que mudou-se, indo morar em município vizinho. E me agradecia por tê-la apoiado quando era criança.  Era já adulta, trabalhava, tinha independência. Só por isso já valeu-me a pena.

Euclides Riquetti
27-03-2013   

A Verdade Sem Curvas

Busca incessante a verdade
Procura encontrá-la  com todos os meios
Não te amedrontes, não tenhas receios
Nem te intimides pelas dificuldades.

Um sábio ancião sempre me dizia
Que a verdade não tem curvas
Que mesmo nas águas turvas
A verdade sempre viria.

E, mesmo que tu tenhas as tuas
E que os outros também as tenham
As verdades se redesenham
As verdades nuas e cruas.

Não duvides do que diria
Alguém que viveu por muitos anos
Que até pode cometer enganos
Mas tem em si a sabedoria.

E quando a velhice chegar
Com muitos anos na memória
Tu também terás tua história
E terás o que nos contar...

Euclides Riquetti
31-03-2013







terça-feira, 26 de março de 2013

A Perda do "Doutor Bruno"

          Conheci o Bruno da Silva quando eu era criança e ele adolescente. Trabalhava na Farmácia São Pedro, em Capinzal. Os pais e as irmãs moravam ali perto da casa da Professora Vanda Meyer. Depois o Bruno se mandou da cidade e demorou para reaparecer.

          Fui revê-lo quando eu já estava com a vida encaminhada e morando em Duas Pontes, hoje Zortéa. Eu trabalhava no financeiro da Empresa Zortéa Brancher S/A - Compensados e Esquadrias, e também fazia traduções de correspondências e emissão de proformas para exportação. Ele apareceu lá, esteve com o Dr. Lourenço Brancher Diretor Comercial, e com o Presidente da empresa, Hilário Zortéa. Estava com compradores europeus. Ele fazia a função de intérprete bilíngue. Trabalhara com Turismo e aprendera Inglês.

          Depois sumiu de novo. Só fui revê-lo quando o Sr. Werner, seu pai, faleceu, no início da década de 1980, lá na casa deles, agora no Parque e Jardim Ouro. O pai foi o empreendedor do melhor bairro da cidade de Ouro, o Parque Jardim, onde era uma vez a SIAP - Sociedade Industrial Agro Pecuária.  Estava morando em Belo Horizonte, então, e com a perda do pai veio morar em Ouro para cuidar da mãe, Dona Alma, uma senhora imponentemente germânica, com sotaque. Passou a trabalhar novamente numa farmácia.

          Conhecia tudo. Era nosso prático farmacêutico, enfermeiro, médico, psicólogo: um baita autididata.   As pessoas acreditavam muito nele e em suas recomendações. E era brincalhão, sempre tinha um belo causo para contar. Quando passava defronte a casa onde morou nas últimas duas décadas, ali ao lado da Ponte Pênsil, abordava-me: "A Vera Fischer está muito bem. Está arrumadona, cada vez melhor, mais bonita".

          Achava que nossa inflação era sempre de mentirinha, que os americanos iam governar o mundo, que iam descobrir remédios para todas as doenças e que os japoneses sabiam inventar de tudo.

         Na farmácia, uma vez disse para uma senhora: "Dona......, a Senhora não quer levar umas camisinhas? Tenho daquelas bem lisas, maias, suaves, saborosas, sabor morango, menta, de todos os tipos e para todos os gostos." E a Senhora, pessoa religiosa e respeitável: "Tá louco, Bruno? Você pensa que eu sou dessas coisas?" E ele: Leva três e paga só duas... Pois a Senhora, em vez de ficar brava, acabou rindo pela maneira carinhosa com que ele a tratava.

          Contava-me confidências, tinha uma namorada "muito secreta" numa cidade vizinha, não aquela do outro lado do rio. E olhava para ter a certeza de que ninguém estava escutando. Era um caso perigooooso!...

          Posso dizer que foi um de meus melhores amigos. Nós nos entendíamos, tínhamos opiniões muito parecidas sobre muitas coisas.

          Uma vez liguei-lhe porque um médico receitara algo para uma pessoa e ela quria saber se o medicamento estava correto. Diante da resposta afirmativa, a pessoa tomou o remédio. Tinha muita credibilidade, nosso Bruno.


          Pois o Bruno foi encontrado sem vida, no sofá de sua casa, na tarde desta terça-feira. Tinha 69 anos e muitas histórias.

          Ah, não posso esquecer: A Vera Fischer era a mãe dele. Era com esse carinhoso apelido que ele a chamava! Agora, vão encontrar-se lá no céu: A Dona Alma e a alma do "Doutor Bruno".


Euclides Riquetti
26-03-2013

Da Fajo à Unoesc - Acadêmicos Pioneiros

          O ano era 1972. Havíamos concluído o curso equivalente ao atual Ensino Médio no ano anterior, na Escola Técnica de Comércio Capinzal, como Técnico em Contabilidade. Representávamos uma geração de trabalhadores, a maioria do serviço pesado. Eu trabalhava como frentista no Posto Ipiranga, de Capinzal. Antes, fora lavador de carros noutro, serviço que me causou uma pneumonia e interamento hospitalar por uma semana. Tínhamos que tomar algum rumo, mas todos tínhamos uma determinação: Deveríamos continuar a estudar.

          Alguns colegas iriam para Florianópolis, outros para Curitiba. Muitos não queriam deixar a cidade, tinham conseguido empregos em escritórios contábeis ou  em empresas e estavam com a vida pessoal encaminhada, não desejavam mudar de cidade. Cogitei estudar Economia em Lages, mas gostava de ler, de escrever, não tinha nenhuma definição ainda sobre o que cursar. Costumava ler biografias de grandes vultos nacionais e percebia que, a maioria deles, tinha formação jurídica ou em letras. Encantava-me. Queria ser como eles, queria escrever, compor poesias, contos, crônicas até.

          Meu pai, Guerino, professor, disse-me que entre ser professor e economista eu deveria ser professor. Certamente que não ficaria rico, mas que ganharia o suficiente para me sustentar. Então, o professor Teófilo Proner ajudou-me na decisão. Disse-me que em União da Vitória havia a Fafi, onde eu poderia estudar Letras/Inglês. Foi na medida pra mim. Iria buscar meus fundamentos para escrever, iria conhecer novas pessoas e matar quem me matava: o Inglês. Eu era uma calamidade  em Inglês. Mas fui.

          Alguns dos colegas que permaneceram em nossa cidade também tiveram ótimas perspectivas:  Em Joaçaba, distante apenas 35 Km, iria começar a funcionar um curso Administração de Empresas. Estavam criando, há quase a 4 anos, a FAJO, Faculdade de Admistração de Joaçaba. Começou com 9 professores.  Foi a salvação da lavoura para aqueles jovens determinados e estudiosos. De nossa "Rio Capinzal" tivemos e exitoso colega Osvaldo Federle, o Machadinho, hoje um dos proprietários da Êxito Contadores. Começou na primeira turma, a de 1972. Mas, por falta de condução para locomover-se a Joaçaba, trancou matrícula e esperou o segundo semestre, quando também foram acadêmicos o Adauto Francisco Colombo e o Benoni Zóccolli (filho).

        Esses foram os três primeiros acadêmicos de nossa cidade a fequentarem a FAJO, que funcionou nos dois primiros anos junto ao Colégio Marista Frei Rogério. Depois foi transferida para o Colégio Celso Ramos, na sequência para o Pavilhão Frei Bruno e para o Colégio Cristo Rei, onde permaneceu até a inauguração da sede atual.

        O amigo Machadinho conta que o  primeiro transportador de alunos para Joaçaba foi o Ludovino Baretta, popular Chascove, meu primo e compadre, com uma de suas Kombis. Depois o Zeca Almeida e um funcionário do Banco do Brasil, o Rogério, conhecido como "Desligado", comprou uma Kombi e continuou a realizar o serviço. Os custos de transporte eram bancados pelos próprios acadêmicos. A Rodovia Estrada da Amizade não tinha nenhuma pavimentação. Muitas vezes tiveram que empurrar as Kombis nos dias de barro. Ou desviar por Linha Sete de Setembro, aumentando em muito o tempo da viagem.
          A Fajo foi transformada em FUOC, Fundação Universitária do Oeste Catarinense. Em 1992 já era transformada em  Universidade do Oeste Catarinense e,  em 1996,  reconhecida como Universidade. O grande comandante de toda a sua evolução foi, sem dúvida alguma, o Professor e Doutor Aristides Cimadon. Coordenou toda a sua implantação. E, desde 2004 é seu Reitor. Tem mandato até 2016. É difícil imaginar a Instituição sem a figura do Aristides.

          Na década de 1970 trabalhou como educador em Capinzal. Em 1978 ingressou nos quadros do Estado de Santa Catarina através de concurso, tendo obtido o primeiro lugar na área de sua formação. É um cidadão muito inteligente. Suas entrevistas, no rádio, seguem um extraordinário padrão didático. Ouvi-lo, é a mesma coisa que estar tendo uma aula.

          Ingressei no magistério em outra área, no mesmo concurso. Cruzamo-nos muitas vezes em encontros da educação e nos jogos de futebol. É muito elegante no falar e tem elevado carisma. Quando ele saiu de Capinzal, preocupamo-nos, pois perdíamos um grande professor. Mas agora vemos que não foi uma perda, foi um ganho. Nossa região ganhou muito com ele. Só o campus da Unoesc em Joaçaba tem 6.000 alunos. E ele é um dos principais protagonistas da sua  ascensão. Homens determinados implantaram a FAJO há 4 décadas. Sua semente foi a que proporcionou os melhores frutos para a nossa região. Permitiu que tivéssemos um grande impulso de dsenvolvimento. Graças a isso, hoje, nossa iniciativa privada é muito forte e segura, efetivamente, a economia da região, com excelência na qualidade dos serviços e produtos.

Euclides Riquetti
26-03-2013

segunda-feira, 25 de março de 2013

Noites outonais

Noites inspiradoras,  outonais
De céus enegrecidos (e manhãs incertas)
Janelas fechadas, janelas abertas
E a alma a não querer dormir jamais.

Noites das lembranças mais saudosas
De carinhos, sortilégios e de enganos
Noites de pensamentos ciganos
Que vagam pelas mentes perigosas...

Noites, apenas noites, noites  nossas
E de mais ninguém.
Nem do aqui, nem do ali,  nem dos do além
Apenas nossas, virtuosas, só nossas...

Noites que já foram nuas
Despidas de todos os mantos estelares
Noites minhas que foram todas tuas
De sabores, de beijos, de olhares...

Minhas, mas todas tuas... só tuas!

Euclides Riquetti
25-03-2013




domingo, 24 de março de 2013

As Garatujas da Indiazinha

          No dia 19 de abril a Júlia vai completar três anos. Lembro bem daquela tarde  em que nasceu, na Maternidade do São Miguel. Mamãe Caroline e o Papai Buja muito faceiros. Vovô Adão e Vovô Cride também. E as avós Liane e Miriam todas orgulhosas, cuidadosas...

         Nasceu no dia certo, nossa morena indiazinha. Como a Iracema, de Alencar, já com os cabelos "mais negros do que a asa da Graúna", até esboçou uns sorrisos, espásmicos, é claro. Mas sorriu!

        E vinham as visitas, muitos dos amigos dos pais. Revezavam-se no apartamento em que estavam a Carol e a filha.

        Agora, aluninha da Escolinha Girassol, é um encanto. Claro que todos os vovôs irão achar, sempre, que seus netos são um encanto. Devemos compreendê-los. A Juju é um encaaaanto!!

        Neste primeiro sábado outonal, veio cedo, antes das 7 horas para nossa casa, para a mãe ir ao trabalho.  Tomou meu lugar na cama. E o vovô foi cumprir suas funções de vovô: preparar um "zical". Zical, para ela, é um Nescau, nem que seja um achocolatado da Apti. Mas vale o carinho de ela sentir que fazemos o que ela gosta. E isso nos deixa muito felizes. O que mais querer de um sábado assim, em que os primeiros raios de sol estão aí, lutando para fulminar as nuvens e vir trazer-nos alegria?

         Ah, claro que você, vovô ou vovó, que é de minha geração, que curtiu os mesmos ambientes que eu curti na infância e na juventude, também tem, a todo o instante, o prazer de ouvir a vozinha de um neto, nem que seja ao telefone. E isso é muito compensador!

          O soninho emendado por uma hora e, ao acordar, o afetuoso abraço. Muito carinhoso e confortador. E diz: "Vovô, sabe porque meu cabelo tá perfumado? É porque a Mamãe Ine lavou com condicionador da Barbie.  E depois com shampu... da Barbie!

          E aproxima sua cabeça, seu cabelão negro, para que eu o cheire. Perfume suave, gostoso, discreto.

          Rolamos na cama, armamos uma grande bagunça. Olhamos para fora da janela,  embaçada. Apenas um tímido passarinho. Expliquei-lhe: "Os passarinhos estão escondidos embaixo das folhas das árvores, porque está frio!" E ela: "E quando vem o sol, vovô, os passarinhos voltam?"

         "Claro, fofa! Daí vamos olhar para todos eles e escutar eles cantando!"

        Depois, estiquei o braço para o janelão e desenhei um coração. Escrevi nele as palavras: Júlia, Vovô, Vovó... E li para ela. Ela, por sua vez, dedo indicador, desenhou uma grande "garatuja". E passou a fazer outras menores  no interior: "Esta é a Ju. Esta, a vovó. Este, o vovô. Esta, a Mamãe Ine. E esta,  a dinda Michele!"

         Fomos, então, para o café. Tomou e comeu daquele cafezão que nós, "italodescendentes", costumamos fazer. E mencionei que deveríamos dar a ela algo para melhorar sua imunidade. E a vovó: "Vamos fazer um suco de laranjinha do céu! Vamos usar as laranjinhas do céu que a mamãe da Tia Lu, a Dona Maria, mandou de Ibicaré!"  E a Júlia: "Vovó, como é que a Tia Lu fez pra subir e pegar as laranjinhas lá no céu?!"

          Agora, ajude-nos a explicar-lhe também isso...

Euclides Riquetti
23-03-2013