sábado, 4 de maio de 2013

Quem vestia (bem) as mulheres?

          Cresci em meio a homens e mulheres que lidavam com tecidos  e máquinas de costura. Algumas tias minhas eram costureiras. E, nas famílias de origem italiana, fazia parte da formação das filhas o "saber costurar". Desde a adolescência,  as meninas eram ensinadas a pregar botões e a fazer barras em saias e calças. Mas, quando moças, tinham a obrigação em colocar,  dentre suas habilidades de jovens prendadas,  o aprender do manejo da máquina de costura.

          Mas, sabemos, é sempre mais fácil aprender a costurar com "uma estranha", que tem mais paciência para ensinar,  do que com a mãe ou a irmã mais velha. E as jovens buscavam aprender com alguma vizinha. Outras, até procuravam as melhores costureiras de sua comunidade ou cidade e pagavam para aprender. Os aprendizes de alfaiate faziam o mesmo. Tinham que pagar para aprender.

           Quando noiva, a moça recebia como dote, para seu casamento, uma máquina de costura, uma vaca de leite e um baú cheio de peças enxoval. Uma bela colcha para cama de casal, lençóis e sobrelençóis, travesseiros e fronhas. Toalhas de banho, feitas com sacos de algodão alvejados e com franjas e bordados. Toalhas de mesa e toalhas de pratos impecavelmente trabalhados.  A preparação do enxoval era um ritual sagrado...

          As mães compravam tecidos  com o dinheiro da venda de queijos e ovos. Compravam peças inteiras de tecidos de algodão, um tricolines para camisas para o serviço, normalmente xadrez. Com o mesmo tecido faziam fronhas, lençóis e até toalhas de mesa. Para o serviço pesado dos homens, peças de brim Diamantino, de fibras mais grossas de algodão, com entrelaces de fios brancos, cinzas e pretos. Para forros de roupas compravam o Morim. Mas também usavam a cambraia, tecidos em crepe de lã, seda ou algodão,  cretones, e  casimiras. Estas, só os alfaiates ou as boas costureiras sabiam utilizar. Os alfaiates faziam ternos. As costureiras, tailleurs.

          A História nos conta que as vestimentas mais antigas no mundo eram constituídas de peles de animais. A lã das ovelhas e outros animais, o algodão, o linho e a seda são materiais utilizados na confecção de tecidos dentre 2.500 e 3.000 anos aC. A partir da revolução industrial,  começaram a desenvolver tecidos a partir de moléculas, os fios sintéticos. Hoje estes estão presentes abundantemente no mercado, através do nylon e do poliéster.
           A necessidade de as pessoas se protegerem e, mais ainda, esconderem seu corpo, ou mesmo para "aparecer bem no meio social", fizeram com que os tecidos fossem inventados e reinventados em toda a história da Humanidade. Hoje temos uma grande variedades disponível, de todas as qualidades, cores, estampas, origens  e padrões.

          Na década de 1960 , nas alfaiatarias, começaram a aparecer, em nossas cidades,  os tecidos denominados "Tropical ou "Tergal", sintéticos, uma revolução na região, pois eram tecidos que não se amassavam, fáceis de serem passados a ferro. E os alfaiates fizeram sucesso e alimentaram nossa vaidade masculina. Era o sonho de todos ter uma roupa que não amassasse.

          Mas, e as mulheres, que opções tinham, quando precisassem comprar algo pronto, bem produzido, bem acabado?

          Bem, ou tinham suas costureiras ou buscavam comprar algo da moda nas casas de comércio então  existentes. E, em minha memória, voltam-me as casas comerciais que atendiam minha mãe sempre que precisava de algo: O Bazar da Dona Maria Fávero e  a Casa Marilu, na antiga  Capinzal,  e a Loja da Dona Serafina Andrioni, pelas bandas do Distrito de Ouro.

          Minha mãe comprava o que precisava para vestir-nos nessas lojas. Ela gostava de blusas de bouclê, que comprava da Dona Carmen Bridi, na Marilu Modas. Dizia que gostava do atendimento e da simplicidade daquela mulher que, mesmo numa "loja chique", atendia a todas com muito carinho e distinção. Sua loja ficava ali na XV de Novembro, um pouco acima do "Bananeiro", Augusto Hoch, defronte à casa da Dona Tosca Viecelli, por ali.

        E, para nós, na loja da Dona Maria Girardi Fávero, (a amiga e vizinha da Tia Clarinda), um bazar com produtos diversificados, em que também vendia "roupas prontas". Ali comprava para si blusinhas de Bon-lon. E, depois, para nós, as camisas "Volta ao Mundo". E, na Dona Serafina Andrioni, as blusas de lã. Eu lembro que, aos 15 anos, fui na Dona Maria, ali logo abaixo do cinema, comprar uma camisa para mim: de cor marfim,  com detalhes em azul xadrez. Fiz sucesso com ela... E, na Dona Serafina, precisei de uma blusa, e fui  sábado à tarde à casa dela,  e ela saiu da cozinha para ir vender-me um blusa cor canela, de gola olímpica. A prestação...

          Hoje, os tempos mudaram, os costumes mudaram, há grande ofertas de produtos do vestuário já prontos, para todos os gostos, todas as preferências, todos os bolsos... As famílias de Dona Maria e de Dona Carmen foram embora. A primeira está em Ponta Grossa,  a outra em Curitiba.  Os filhos saíram para as universidades e não voltaram. As mães foram atrás deles. E a sucessão familiar acabou acontecendo apenas na loja da Dona Serafina Andrioni. Quando faleceu, deixou seu comércio para uma das filhas, a Miraci. Ela a transformou na "Boutique das Lãs". E continua ali, no mesmo lugar, na Felip Schmidt, em Ouro. Construiu uma sala em separado, atrás de seu casarão, entrada pelo lado de uma loja existente.

          E a filha de Dona Serafina, a Miraci, continua ali, atendendo, colocando novelos de lã e outros fios nas mãos de nossas trocoteiras e crocheteiras, que produzem peças maravilhosas. Sempre amável, educada, discreta. Uma pessoa confiável que herdou a simplicidade e a honestidade de sua mãe. Perdeu o marido ainda jovem e encaminhou muito bem a vida de seus filhos, está honrando a memória de sua mãe.

          De todas as personagens, ficam-me as lembranças. Foram senhoras que ajudaram muitas mulheres a se apresentarem bonitas, elegantes. Talvez que o resultado de terem-se vestido bem tenha ajudado muitas jovens a chamar a atenção dos rapazes, que acabaram encantando seus namorados, que viraram  maridos, e hoje são os avôs que estão por aí, colocando as fotos dos netos no facebook.  Essas senhoras ajudaram a fazer a história e, quem sabe, a felicidades de muitas outras. Por isso, minha homenagem a elas. Que Deus guarde bem a Dona Serafina, lá no céu, e dê saúde a longevidade à Dona Maria e à Dona Carmem.

Minha homenagem a elas!

Euclides Riquetti
04-05-2013






       





 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

A Bicicleta, o Hidramático e o Diulino

          O Diulino foi meu colega de escola  no ensino primário, lá na antiga Rio Capinzal. Sempre tinha uma história boa para me contar. Em algumas ele exagerava, mas, quem  não exagera? Pois então eu vou contar uma dele. Propus-lhe amizade virtual e ele aceitou. Mandou-me uns recados e, não foi no primeiro contato que ele percebeu quem eu era. Ele me conhecia pelo apelido e não pelo nome.  Depois  ele me identificou e respondeu minhas mensagens in box.

          O Diula sempre foi uma figuraça. Era doente por carros. Acabou virando comerciante de caminhonetes e se deu bem. Tinha daquelas que só "doutores" conseguem comprar. Mas, antes disso, lá por 1960 e bem poucos, tinha uma bicicleta. E, quando faltava freio, botava a sola do sapato no pneumático para segurar. Tinha uma mania que era só dele: pedalar morro abaixo e frear perto da esquina.Um dia, saiu do Mater Dolorum, passou pela Casa Canônica, até aí sem pedalar. Mas na Rua ao lado de um engarrafamento de bebidas, onde hoje é a Prefeitura de Capinzal, deu uma pedaladas. Para seu azar, quando ia chegando na esquina, ao frear, não sei se quebrou ou caiu a corrente  da sua Monark e ele atravessou a Rua Carmelo Zóccoli (naquele tempo eram raros os carros nas ruas), bateu no meio-fio e,  com isso,  foi alavancado para a altura de uns 2 metros,  indo bater com a cabeça na parede de madeira da casa amarela que fora construída pelo Carmelo Zoccoli.

          A batida foi tão forte que derrubou um armário que estava num dos aposentos, dentro da casa. Imagine o estrago, não na casa. Nele!

          Quando soube da notícia, no outro dia, fui correndo visitá-lo no Hospital Nossa Senhora das Dores, naquela ala em que se vê a matriz São Paulo Apóstolo pela janela. . Estava lá com a cara preta e vermelha. Quem não o tivesse conhecido antes, não conseguiria imaginar como seria seu rosto. E os amigos iam visitá-lo e o faziam rir, pois todos já conheciam a história de sua aventura maluca. O boca-em-boca levava a informação rapidamente.  Mas ele não podia rir, pois quando era incitado a isso, doiam-lhe todos os músculos das faces. Se ele risse, día muito. Êta azar!... Nós lhe dizíamos que ele teve sorte porque era um "cabeça-dura". Se fosse  um "cabeça-mole" teria se danado.  Gostávamos muito dele. Logo ele voltou à vida normal, graças a Deus ( e ao bom tratamento que recebeu). Deu um susto no Seu Antônio Pelizzaro,  na mãe, nas manas  Angelina e Silvalina. O seu Antônio tinha um cabelão bem arrumado, tipo Elvis Presley, castanho-escuro. Agora está branquinho...

          Mas a obstinação  por veículos estava apenas começando. Uns tempos depois, quando já tinha idade, comprou um belo carro vermelho e branco. Um daqueles carrões importados. Claro que o dele era bem usadão. E nos falou: "É um hidramático". Nós nem tínhamos ideia do que isso fosse. Então, começaram as piadinhas porque ele deu um dinheiro e  mais umas coisas no negócio.  E os outros diziam: "O Diulino  comprou um hidramático. Deu um cavalo, uma bicicleta, uns boizinhos do pai dele, uma espingarda, um revólver  e umas galinhas na troca, um perfeito escambo. Era só gozação nossa, mas bem que ele empurrou um monte de coisas no negócio.

          O problema do carro dele é que esse tipo de carro não podia pegar no tranco quando a bateria não tivesse carga, porque não tinha embreagem. Nós achávamos aquilo tudo muito estranho. E a bateria era muito tranqueira e descarregava. E ele tinha gastado todo o dinheiro no negócio e não tinha como comprar uma bateria nova. Então, quando ia a algum lugar e na hora de ir embora o carro não pegava, ele o deixava onde estivesse. Retirava a bateria, colocava dentro de um sacvo de ráfia, punha sobre o ombro, ia a um eletricista e  mandava recarregar. Era um baita sacrifício. Mas ele não desistia. Muito antes da propaganda existir, já poderíamos dizer: "O Diulino é brasileiro. E brasileiro não desiste nunca!"

          Num e-mail falei-lhe de seu "hidramático"  e ele respondeu-me: "Agora até os tratores agrícolas são automáticos". O automático, hoje, equivale ao tal de hidramático de nossa época.

          Encontrei-o algumas vezes nos últimos 20 anos. Sempre com belos carrões. Fico contente que ele não aparece mais por aí de bicicleta. Vai que caia, de novo, a corrente dela quando estiver descendo um dos nossos morros...


Euclides Riquetti
03-05-2013






         

quinta-feira, 2 de maio de 2013

O doce de teu beijo - soneto

Que bom que eu tenho olhos que te veem
Que bom sentir o doce de teu beijo
Que bom que tenho lábios que te beijam
Que bom sentir o olhar do teu desejo.

É bom ver-te vestida desse rosa
É bom  tocar tua pele tão morena
É bom ver-te bonita, assim formosa
É bom amar tua alma tão serena.

Melhor é abraçar teu corpo frágil
Melhor é te roubar o beijo grácil
De amor e de desejo revolvido.

Divino é mergular no teu abraço
Divino é me perder no teu enlaço
No corpo que me deixa enternecido.

Euclides Riquetti
30-08-1997

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Dezenove anos sem Ayrton Senna


          Num domingo pela manhã, 1º de maio de 1994, Dia do Trabalhador, o determinado piloto brasileiro de Fórmula 1, Ayrton Senna da Silva, à época convivendo com a bela modelo Adriane Galisteu, fazia, como era de costume, mais uma corrida com bela performance. O Autódromo de Ímola, na Itália, onde se realizava o Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1,  tinha os olhos do mundo, através das maiores redes de Televisão. Mas havia um peça defeituosa em seu bólido e, logo adiante, a curva do Tamburelo Quando voava a 300 Km por hora, chocou-se contra um muro desprotegido. Ali, em 1987, acidentou-se outro brasileiro, Nelson Piquet. E, dois anos depois, Gerhart Berger, que só foi salvo de morrer queimado pela rápida ação dos fiscais de pista. .

          O narrador Galvão Bueno, da TV Globo, um apaixonado por corridas de automóveis e fã ardoroso do nosso Piloto "Ayrton Senna do Brasil", emudeceu de repente, perplexo. Parecia não conseguir dizer mais as palavras, que ficavam presas na sua garganta, de onde não fluía sua portentosa voz.  O Brasil parou diante da Televisão no momento daquela sétima fatídica volta. Algo de muito trágico poderia ter acontecido.  E começamos a chorar.

          De nada adiantou a rápida intervenção dos apoiadores, bombeiros, médicos e paramédicos. O capacete do Banco Nacional estava curvado sobre o volante. Dentro dele, o cérebro acostumado a se articular e a levar a decisões que, por décimos ou centésimos ou até milésimos de segundo, poderiam dar-lhes vitórias nas competições, parado. O corpo, imóvel, estático, fragilizado, jazia sem vida.

          Pouco tempo depois a condução até um hospital, e a notícia: "O Piloto Brasileiro de Fórmula 1 Ayrton Senna da Silva acaba de falecer!

          Aí, sim, começamos a chorar. Choramos o domingo, a segunda, a terça. Vimos todos os canais de TV ficarem repetindo, por dias, semanas, meses, aquelas imagens tristes. As revistas e jornais trazendo aquela imagem do piloto no carro, sem vida. E esta é a imagem que ficou gravada em nossa mente e coração, é a imagem que nos volta em cada Primeiro de Maio, Dia do Trabalhador.

          Na segunda-feira, eu lecionava  na Escola Sílvio Santos, em Ouro, e não havia como conter os alunos. Queriam ver televisão. Choravam. Escoravam-se uns aos outros e se abraçavam como se tivessem perdido alguém que muito amassem, de sua própria família.

          Perdemos, todos, com a morte de nosso piloto. Perdemos um cidadão exemplar, que tinha uma postura cidadã e cristã. perdemos um piloto que, em 19 anos, não conseguimos substituir. mas ficou-nos a lembrança de um cidadão que merce nomear ruas, autódromos, escolas e o quer que seja. Não um herói produzido por programas de televisão. Apenas um ser que, mais do que um piloto determinado, foi um cidadão que nos deixou memoráveis lembranças e os melhores exemplos.

          "Primeio de maio de 2013 - 19 anos sem o Ayrton Senna do Brasil!"

Euclides Riquetti

        

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Zique, a Goiaba e a Guaiaba

          A goiaba é um fruto rico em Vitamina C, tem mais que a laranja ou o limão. Já mencionei, em algum de meus textos, que na minha adolescência eu comi muita goiaba. Primeiro, porque quando saí de casa, com menos de 14 meses de idade, e me levaram para morar com meu Padrinho,  no Leãozinho, lá havia uma goiabeira bem ao lado do tanque de lavar roupas. O tanque fora confeccionado com pedras retangulares habilmente cortadas,  cimentadas e  sobrepostas bem entrelaçadas. Uma bica de bambus conectados trazia a água de algum lugar do morro da roça. Lembro bem da goiabeira que produzia os frutos de um verde bem escuro. Deliciávamo-nos com eles.

          Neste  de domingo, fui dar minha caminhada de final de tarde  e, chegando na Pista do Clube Comercial, senti um agradável olor vindo de algum lugar. Um delicioso aroma que eu conhecia de muitos anos. Virei-me para o lado e lá estavam dois pés de goiabas amarelas, daquelas cuja polpa é branca. Lembrei-me de quando minhas crianças eram pequenas e havia goiabeiras abundantemente, nos terrenos vizinhos, das famílias do Aldecir Campioni e do Benjamim Miqueloto. As crianças faziam muita festa com as goiabas: a Carol, a Michele, o Fabrício, o Felipe, o Maxuel, o Júnior, a Evelin, a Aquidauana, o Tiago, a Márcia, a Janaína, o Renato. Tínhamos o cuidado de dar-lhes aquelas que iniciavam o amadurecimento, pois as madruas, frequentemente, são portadoras do bicho-da-fruta, aquele que vem dos ovos que as moscas-da-fruta põem e buscam, quando vão se tornando "bichos", o interior dos pomos. Eu, pelo menos, não era adepto do "o que não mata, engorda!

          Não sei por que razão, se pela ausência das moscas ou pela variedade, (ou porque a gente não enxerga direito), mas as goiabas de polpa branca não possuem bichos, mesmo maduras. Não aquelas ali, que as pessoas retiram das goiabeiras e comem, ali na Pista. Nem vou pesquisar sobre isso, pesquise você, caro leitor (a).

          O Zique é meu afilhado, filho dos finados Compadre Carmozino e Comadre Jurema. Quando o batizamos já era grandinho, uns 9 anos, os pais tinham se tornado católicos e fizemos isso lá na Matriz São Paulo Apóstolo, nossa suntuosa Igreja de Capinzal. Tem as mesmas características da Basílica de São Pedro, em Roma, com uma abóbada semelhante. Pois que o Ezequiel devia ter uns nove anos quando o batisamos e, quando ele viu que o Padre jogava água na cabeça dos bebês com aquele jarro grande, esmaltado de branco, ele apavorou-se e saiu correndo pela Igreja. Deu-nos um trabalhão o Zique, mas eu, o Compadre e alguns dos demais presentes conseguimos levá-lo para a Pia Batismal.

          O Zique cresceu, jogou bola como Goleiro do Bairro Alvorada, foi para a Escola até o final do Ensino Fundamental, não quis mais estudar e foi trabalhar. Então casou-se e teve filhos. Quando ele me encontra, junta suas mãos, agora maiores que as minhas e me diz: "Bênça, Padrinho!" - E eu lhe respondo: "Deus o abençoe, Ezequiel!" E, depois,  peço-lhe como vai o serviço, as crianças, se estão indo para a escola direitinho.

          Pois que dia desses estávamos numa turminha, lá numa obra,  e começaram a falar que era tempo de goiaba. E ele: "Eu como muita guaiaba. Faz bem pra saúde e é gostosa!"  Um seu colega falou: "Zique, não é "guaiaba", é "goiaba!" E começaram a teimar... Então  me pediram  para mediar a questão. Falei-lhes: Olha, o nome certo é goiaba, embora muitas pessoas chamem elas de guaiaba. Guaiaba é uma palavra "não oficial", mas tem gente que a chama assim. Mas o Zique falou: "Sabe, Padrinho, tem das duas. Goiaba é daquelas mais amarela e guaiaba é daquelas mais verde!" E todos desandaram a rir. O Zique é esperto, acha saída para situações assim.

        Rimos muito. Prezo essa gente humilde e trabalhadora como se fossem minha família, eles bem sabem disso. Esses meus amigos e companheiros, pessoas muito simples a quem sempre pude dar minha atenção e retribuir-lhes a amizade, quando se reúnem, não deixam ninguém triste. Riem  muito, fazem-nos rir também.  Tudo é motivo pra piada e risos. E gostam de melancia, "vergamota" e "guaiaba".

          Mas, e afinal, você, leitor (a), prefere goiaba ou guaiaba?


Euclides Riquetti
30-04-2013

     

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Estudantes de Coração - poema

Seus corações palpitam
Têm vontade de vencer
Querem dizer para o mundo
Que têm tudo a oferecer.

Jamais pensem serem fracos
Pois fracos tombam no caminho
Voem livres como os pássartos
Tracem o próprio destino.

Vocês são fortes, são gigantes
Como as árvores frondosas
Com seus olhos cintilantes
Com as faces brancas, rosas.

Vocês são todos carinho
A natureza contemplada
São vida sem dor, sem espinhos
São a alma preservada.

Vocês foram meu poema
Foram minha inspiração
Dos meus versos são o tema
Repetido no refrão.

Seu futuro é infinito
É do mundo a imensidão
Bem por isso eu lhes dedico
Esta simples criação.

Parabéns, meus alunos!

Composto em 10-03-1995 e declamado
para meus alunos da Escola Prefeito
Sílvio Santos - Ouro-SC.


domingo, 28 de abril de 2013

Os Portões da Cidade

          Conheci asfalto com quase 19 anos de idade, quando inauguraram a Rodovia do Xisto, entre União da Vitória e São Mateus do Sul, no Paraná. Foi inaugurada poucos dias antes de eu conhecer aquela cidade, ao ir inscrever-me para o Vestibular. Tinha notícias, os motoristas Adelar Baretta,  o Valdemar Matté e o Laurindo Biarzi me contavam, havia asfalto em Curitibanos. Era uma estrada sem pedras, sem barro, feita com piche e pedriscos. Meu primo Cosme Richetti, contava-me que havia asfalto na região de Ponta Grossa. Ele conhecia, estudava no Seminário de Riozinho. E eu perguntava: "A estrada é preta?", na minha ingênua dedução.

          Na região de Joaçaba, Campos Novos  e de Rio Capinzal, apenas conhecíamos a pavimentação com paralelepípedos, pedras de basalto, abundantes nas pedreiras do Vale do Rio do Peixe. Apenas nas áreas bem centrais das cidades havia calçamento.  As pedras eram retiradas por explosão com dinamite, em grandes blogos.  Depois, com a habilidade herdada desde os ancestrais, os cortadores de pedra iam moldando-as para que tomasse a figura geométrica "paralelepípedo".

          Os leitos das ruas eram, primeiro, emparelhados com trator de esteiras e, posteriormente, com a motoniveladora, de forma a que as lombas existentes fossem reduziddas. Faziam bueiros no sentido transversal, com pedras. Praticamente não existiam tubos de concreto.

          As cidades eram privilegiadas por terem  ruas calçadas e outras com revestimento primário de macadame, muitas vezes transportado por  carroças. E, as estradas rurais, que foram abertas por tratores de esteira e, raramente recebiam patrolagem, formavam atoleiros. Os colonos tinham a responsabilidade de ajudarem na conservação delas. Assim, faziam mutirões para roçar suas margens. Foram isentados do "Imposto de Estradas" mas tinham a obrigação de manter as testadas de suas propriedades roçadas, duas vezes por ano, uma no início do outono e outra na primavera. Quando iam fazer alguma manutenção, já mencionei isso, cavoucavam nos barrancos para retirar o macadame, carregavam em carroças de boi e transportavam para os pontos piores. O movimento de veículos era pequeno e os existentes, a maioria deles, da marca Willys, tinham tração nas 4 rodas. Jeeps e Rurais. Depois, vieram  as pick ups. Ter um carro desses era um privilégio, era o sonho de consumo e conforto de todos.

          E, outros carros, e todos os caminhões, so conseguiam se locomover em chão molhado se tivessem seus pneus "encorrentados". Aprendi a por correntes  em pneus quando começaram a pipocar os "fuques". Ajudei a encorrentar um "fuque" verde mar, do Nízio Baretta e aprendi. Adiante, trabalhei em Postos de Serviços e fiz tudo isso.

          Mas há algo que poucas pessoas sabem: as cidades tinham portões em cada uma de suas entradas. Lembro que, quando criança, no Distrito de Ouro, havia três portões: o primeiro, na saída Norte, para os lados de Nossa Senhora Saúde, Santa Bárbara, Barra Fria, Joaçaba, Novo Porto Alegre, Leãozinho e Linha Sete de Setembro. Localizava-se na divisa das propriedades de Aníbal Dambrós e Augusto Masson. O encarregado de por o cadeado, em dias de chuva, na década de 1960, era o Rozimbo Baretta. Depois, o Cabo Alaor Grazmazzio Pereira de Lima, o Sabará, passou a cuidar dele.

         Na subida para a Coxilha Seca, havia outro, defronte a Casa do Valdemar "Baitaca" Dambrós. Ele era motorista da Prefeitura de Capinzal,  desde o tempo do Breda,  e tinha a chave do portão. Nos dias chuvosos, era ele quem punha chave no portão. Na saída para a São José, em direção às Linhas Bonita e Dambrós, o outro Valdemar Dambrós, conhecido como "Corote", era o encarregado. Em Capinzal, na "Entrada do Campo", onde se ia para Campos Novos ou Piratuba, o porteiro era o Soldado Mário Santi.

          O Rozimdo, o Sabará, o Mário, o Corote e o Baitaca, e muitos outros, faziam isso de graça, não rcebiam pelo serviço.  Era na época em que vereadores não tinham remuneração. E não havia Vice-prefeitos. Os vices eram os Presidentes de Câmara, não me esqueço disso.

          Nos dias de chuva, esses  portões eram trancados a chave, pelos cidadãos que mencionei,  para que os veículos não fossem estragar as estradas. Abriam somente para emergências, para os jipes ou rurais que estivessem transportando doentes. Hoje, as estradas rurais permitem com raras exceções, que veículos trafeguem com a produção em qualquer situação de tempo. Apenas quando realizam motonivelagem há problemas, mas facilmente resolvidos. As gerações atuais não sabem o que são problemas verdadeiros. Pegaram tudo pronto, fácil e rápido. Não podemos condenar os que reclamam, porque não têm a mesma visão e compreensão dos problemas que nós, bem mais maduros, temos. Mas que as coisas já foram muito difíceis, ah, isso foram!!!

Euclides Riquetti
28-04-2013