sábado, 15 de junho de 2013

História de um Pescador muito Tchê!

          O Tchê era uma figura muita conhecida em Ouro e Capinzal. Era um homem de tez morena, tinha como nome Laurindo, acho. Mas, conhecido mesmo, era por "O Pescador Tchê". Por que "Tchê"? você pode perguntar. Ora, porque esta era a expressão vocativa predileta dele, equivale ao tchô, ao chê, aqui do nosso Sul, que os urbanos de nosso Sudeste chamam de "cara", os britânicos e americanos de "guy". Parafraseando o Obama:  O "Tchê", sim, é o Cara!

          Pois nosso Tchê era uma figurinha carimbada no ambiente pesca. Conhecido nas voltas e travoltas do Peixe. Até as pedras o conheciam e respeitavam. Simplório, calmo, tinha uma bicicleta bonita, reluzente, com espelho retrovisor preso ao guidom.  E uma buzininha tipo fom-fom, que usava para fonfonar para as crianças onde passasse. Andava a uns dez por hora, mas tinha muito cuidado para não atropelar ninguém.  Morana na "Rua do Cemitério", em Capinzal. E  sempre viveu de pesca. Dizem que foi o primeiro a obter "carteirinha de pescador". E, o forte dele, mesmo, era a linha de mão. Sabia "sentir" o peixe chegando no anzol. Farejava cardumes, não sei se pelo movimento das nuvens, do sol ou das águas. Conhecia todos os segredos do Rio do Peixe, desde o Poço dos Moresco, ali logo acima da Siap, passando pelos dos Campioni, pela Ilha, pelo da represa dos Zortéa, até chegar no do Zuchello. Conhecia cada barranco, cada sarandi, cada angico, cada guaviroveira, cada caneleira, cada pinheiro e cada cedro que houvesse numa extensão de uns oito quilômetros, em ambas das margens do Rio do Peixe.

           Com o tempo, já maduro, foi morar no Parque Jardim Ouro. Era apadrinhado pelo Werner da Silva, pelo Luiz Bonissoni e outros. Mas, com o tempo, com a morte desses, foi fincar morada lá na Linha Savóia, bem na margem do rio. Tinha uma casinha, um bote, e um pequeno arsenal de pesca. E um cachorro, pra cuidar da casa.  Dizem que ele ia pescar lambaris com o Armando Viecelli e, era tão amigo do mesmo, que quando este  se distraía, o Tchê tirava punhados da própria sacola  e jogava na vasilha do Armando, sem que ele percebesse.  Quando iam embora, tinham uma quantidade parecida. Mas a proporção de fisgada era mais ou menos de cinco por um. Em favor do Tchê, é claro. Mas ele não contava isso pra ninguém, não era de contar vantagem.

 Uma vez fui lá visitá-lo, convidá-lo para que fosse palestrar para estudantes, para explicar sua profissão e sua arte. Recebeu-me muito bem. Estava lá, isolado, numa curva do Rio do Peixe, mas feliz, Lá, no começo do território do Poço do Zuchello. Sabemos, todos, que era tão habilidoso e sortudo na arte de pescar, que as pessoas chegavam ali, colocavam linha ou caniço perto da dele, e nada. Mas, na dele, sempre vinham os melhores, mais bonitos. E , os seus segredos, duvido que os tenha ensinado para alguém...

          Contam muitas histórias sobre ele. O Barzinho, Aderbal Meyer, era expert em inventar histórias de pescador e atribuir os feitos ao nosso Tchê. As histórias que o Barzinho contava, e que encantavam todos os que o ouvissem, eram sempre muito engraçadas. Lembro de uma delas em que relatava o esforço do nosso Tchê  para retirar um serpelo de um exemplar de Dourado do Poço do Zuchello:  "... e aí, não é que o bicho me judiava um monte, tchê?! Eu ia dando uma corda pra ele, depois puxava um pouquinho, despois soltava de novo, que era pra mor de fazê o bicho cansá. E, despois dele cansado, eu ia puxando até trazê  ele pra cima do bote. E num é que ele vinha tudo suado, tchê?!" Suava o Laurindo,  fora,  e suava o peixe dentro d´água...Saía todo suado".

          Pois agora temos muitos pescadores ainda por aí... Tem o Bruno Fávero, O Hilário Lemes, popular Hile, o Deonir Biavatti, conhecido como Becão, e tem muitos outros. Mas não sei se algum deles herdou a manha do Tchê! O Tchê foi como o Roberto Carlos: "Sempre imitado, mas nunca igualado"! Ele tinha a determinação de Alexandre Magno, a impulsão de nossa Natália Zílio, a habilidade do Neymar, os cabelos do Tarcísio Meira, a ginga e a energia de uma funkete, mas só ele era nosso Pelé  da pesca: Laurindo, nosso Pescador, nosso Tchê, nosso Pelé das pescarias.

Euclides Riquetti
15-06-2013

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Faça de cada manhã...

Faça de cada manhã mais que o início de uma jornada
Faça com que pareça algo que já vem de tempos
Faça como a andorinha que espera pelos ventos
Para planar suas asas na planície azulada.

Faça de cada tarde mais do que uma parte de seu dia
Faça com que ela se torne um momento adorável
Faça como a senhora  do sorriso inefável
Que nos  sorri, amável e  que nos  contagia.

Faça de cada noite a espera por alguém
Faça com que esse alguém sinta falta de você
Faça como a namorada que espera quem não vem...

Mas faça tudo significar que vale a pena
Pois  que no mundo sempre se  haverá de crer
Que a vida será  bela se a alma  permanecer serena.

Euclides Riquetti
14-06-2013



quinta-feira, 13 de junho de 2013

Conversa de Ponto de Ônibus


          Escutar conversas através da porta ou das paredes é muito feio. Mas, quando você está num ônibus ou ponto de ônibus, cruz credo! Você escuta cada uma!...

          Pois que dias desses eu estava me abrigando num desses pontos de ônibus. Desses que os malandros picham, que têm apenas a parede traseira e, com sorte, o passageiro encontra um que tem as proteções nas laterais. Mas que as pessoas se obrigam a ficar ali, muitas vezes infinitamente, à espera de um coletivo. Há, porém,  uma coisa muito atraente em todos esses locais onde se reúnem pessoas, por força das circunstâncias, e acabam fazendo amizade. Assim como existem os amigos de escola, da mesma rua, do campinho, e até do facebook, existem os amigos dos pontos de ônibus.

          Idosos com suas carteirinhas que lhes permitem andar sem pagar as tarifas.  Mães que estão indo visitar fmiliares nas clínicas. Estudantes que voltam da aula. Diaristas que vão e voltam. E um monte de meninas penduradas nos  seus celulares. No tempo em que eu pegava ônibus, ali naquela Praça no Centro de União da Vitória, para ir trabalhar na Mercedes, nem se sonhava que um dia viessem a existir os celulares, os indispensáveis aparelhinhos que se grudam nos ouvidos das pessoas, desde Xangai até a Linha Maziero, ali no Ouro. Naquele tempo eu chegava cedo e ficava lendo romances, as jóias da nossa literatura.

          Então, como eu dizia, o papo vai longe, ali no ponto. O assunto da hora é a dissimulação que, traduzida na conversinha coloquial da hora, é a falsidade. E, uma jovem, com sua frente única e alguns pneuzinhos, falava das novelas, inconformada com algumas que acontecem:

          "Você viu, amiga, quanto falsa é aquela Bárbara Helen, da novela das sete, na Globo! Imagine que até tá torcendo que seu filho adotivo seja desorientado só pra dizer que é uma mãe moderna e compreensiva... Quem não te conhece que te compre!"

          Sua amiga de ponto: "É, ela é muito falsa, vive aprontando. Até roubou o Natan da Verônica. Coitada da Verônica! E a Amora, igualzinha à mãe!"

          "Tudo bem! Só que a Amora ainda vai endireitar no fim da novela. Aposto que vai ficar com o Bento. E a Malu vai acabar ficando com o Maurício, estou torcendo por isso! O maurício  é um baita menino. Mas o pai!... E,  na Flor do Caribe, você já viu o Hélio? Pura ambição! Ontem ele "desconvidou" a mãe dele para a sua festa de aniversário. Falso que só ele! É pura ambição e falsidade. Até deixou o pai um tempão na cadeia, inocente. Ele era o culpado, mas deixou o pai pagar em seu lugar"

          Então, um velhinho muito gente boa, aqui do Bairro Clara Adélia, se mete na conversa: "Concordo! Isso tudo é uma perdição. A Globo fica botando todos esses picaretas nas novelas e nós temos que assistir!  Tanto a Bárbara Helen como o Hélio são dois falsos. Piores que a Carminha, que enganava o Tufão! Mas o Hélio, esse, é mais falso do que nota de três reais...

          E você, amigo (a)  leitor (a), quantas histórias parecidas você já não ouviu? Aposto uma nota de seis reais que você já ouviu também...


Euclides Riquetti
13-06-2013

         



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Se ela te pedir...

Se ela te pedir uma estrela, promete que irás buscar
Se ela te pedir o céu, promete que ela o terá
Se ela precisar de um ombro para chorar
Encosta-te nela e deixa que chore...
Mas jamais deixa de dar-lhe a atenção que ela espera  e merece.

Depois, dize-lhe que as estrelas estão no brilho dos olhos dela
Que o céu ela já o tem no seu coração
E que teu ombro sempre estará, como sempre esteve
Ali pronto para ampará-la em todos os momentos
E que é por isso mesmo que o amor sempre se renova e sempre permanece.

Se ela te pedir balinhas de açúcar, dá-lhe o doce do teu beijo
Se ela te pedir que lhe recite um poema e tu não sabes, afaga-lhe o rosto com a mão
Se ela estiver esperando um presente no dia dos namorados, dá-lhe, mais uma vez,  teu coração
E faze com que ela se sinta uma princesa, amada, querida e respeitada
Como se fora, é é, a coisa mais importante de tua vida.


Euclides Riquetti
12-06-2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

Enquanto o sereno cai...

Cai o sereno na gélida  madrugada
Na turbulência das negras almas
Vai serenar os corpos que andam na estrada
E caem gotículas nas suas peles alvas.

Cai para amainar as desavenças
Das mentes ávidas e atiçadas
Para abrandar,  tornar crianças
Mulheres de saias já  alongadas.

Cai o sereno e vem acalmar
Todos os corações aflitados
Para que se abram no esperar
Pelo Dia dos Namorados.

E enquanto o sereno cai
Faço pra ti minha oração
Meu pensamento navega, vai
Vai morar dentro do teu coração!

Euclides Riquetti
11-06-2013

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Ainda há tempo...

          A frase "Ainda há tempo...", por si só já nos remete a uma reflexão: tempo para quê?

          Num mundo de permanente correria, em que andamos não sei onde e atrás de não sei o quê, ainda há quem pare, pense, motive-se e aja. E, motivar-se com coisas muito simples, que à primeira vista parecem não ter nenhum significado, tem um valor incomensurável.

          E o desconhecido? Por que temos medo do que desconhecemos? Por que preferimos andar em solo que, aparentemente, faz-nos sentirmo-nos seguros? Ao meu ver, isso é próprio da condição humana. E, muitas vezes, deixamos de colher belíssimos momentos em nossa vida porque não ousamos encarar realidades que nos são distantes apenas porque as desconhecemos.

          Pois neste sábado, já à noite, saímos para ver um programa que aconteceria no nosso imponente Teatro Alfredo Sigwalt, aqui em Joaçaba. Nosso filho ligou-nos, na semana, dizendo que jovens lhe estavam oferecendo ingressos para uma peça de teatro e queria saber se tínhamos interesse. Claro que temos! Moramos numa cidade que pode orgulhar-se de ter um belo teatro, conquistado com muita luta pela comunidade cultural, é um dos orgulhos de Joaçaba. E, no sábado, fomos ver a peça. Não tínhamos

          Chegamos 20 minutos antes do horário de início, muito bem recebidos pelas belas, atenciosas e simpáticas recepcionistas. Rostos diferentes dos habituais. Fomos amavelmente conduzidos para o mesanino à esquerda e nos acomodamos. Lemos um portfólio que nos foi dado na entrada, muito bem elaborado, bem diagramado e claro. Só então percebemos de que tipo de evento estávamos participando: um espetáculo cênico promovido pelo Ministério de Dança Ruach, organizado pelos jovens da Igreja Batista Liberdade, de Herval d´Oeste. Teatro lotado. O espetáculo consistia na apresentação de uma sequência de nove coreografias envolvendo três dúzias de jovens entre protagonistas e figurantes.

          "Ainda há tempo..." propõe um  reflexão, de forma muito sutil, sobre a presença humana na Terra, a passagem e a esperança da volta de Jesus para ela, os erros e as formas de nos redimirmos desses erros. Enfim, a restauração, pelo Oleiro, dos vasos que se quebram. Enfim, a Alegria da Salvação!

          O que mais me encanta quando tenho a oportunidde de presenciar eventos desse gênero, não é a habilidade dos bailarinos. Alguns têm mais habilidades, conhecem, inclusive o ballet. Outros são coadjuvantes, mas têm seu mérito também. Nem  utilizam sofisticado  figurino, que poderia ser luxuoso como ocorre nas grandes produções e no próprio carnaval. Não! A simplicidade é tamanha  como foi a de Jesus Cristo. Encanta-me, mesmo, é ver que jovens bonitos, dedicados e inteligentes tiram de seu tempo para Evangelizar. Usam a arte cênica para comunicar o que desejam. Mostram-nos que o mundo é mais do que as baladas das sextas e sábados à noite. Mostram-nos que é possível viver com dignidde e acreditar que há salvação para o mundo, ainda. Mostram-nos que há tempo para recuperar a estima perdida, o amor pela família, o respeito pelo próximo, cultivar o amor por Deus, que na Terra foi representado pelo Cristo Jesus. Há tempo para retomar o caminho do bem e a interação com as melhores e maiores virtudes e valors humanos.

          Parabéns, jovens da Igreja Batista Liberdade, propagadores do Evangelho através de arte, integrantes dos grupos do Ministério de Dança Ruach!

Euclides Riquetti
10-06-2013



    


       

domingo, 9 de junho de 2013

Quantos filhos você tem?

          Na semana que passou nosso venerando Papa Francisco, o argentino, que tão  humildemente se portou  logo que foi alçado à condição de representante maior do Apóstolo Pedro aqui na Terra, levou um banho de críticas por ter falado que os casais costumam ter apenas um filho por egosísmo ou por não abrirem mão do seu conforto pessoal, de suas viagens, de ter sua casa própria e bem confortável. Não tenho o contexto de como foi que surgiu o comentário, mas toda e qualquer análise feita sem se ter o panorama do fato é sempre temerário. E, sempre, é bom ver e ouvir os dois lados da situação para poder "tirar uma pranta", como diziam meus alunos do Ensino Médio, lá na Escola Sílvio Santos.

          Vendo algumas postagens na internet, senti  que a maioria dos nautas criticou a posição do Santo Papa, que traduziria a posição da Santa Igreja Católica. Discutir política, religião e futebol é sempre muito difícil, pois cada ser tem sua maneira de ver as coisas. Até algumas pessoas costumeiramente  comedidas manifestaram-se, naturalmente que com comedimento, mas achando que o papa não está com a razão. Penso que seja prfeciso ver bem a situação em que a afirmação foi feita e se tem, mesmo,  caráter assertivo. Ou se é reflexivo...

         Eu, pessoalmente, tenho três filhos e uma neta. Estou muito contente com o número de filhos, a maioria de meus colegas de escola tiveram dois, alguns três, mas isso não é regra. E que venham tantos netos quantos possam vir, terei imenso carinhos por todos eles, ajudarei a cuidá-los. Meus avôs e seus contemporãneos  ficaram na casa próxima da dezena, mais para mais do que para menos disso. A geração de meus pais dividiu isso ao meio e tiveram 5 ou 6. A minha, na casa dos 60 anos  e acima, 2 ou 3, mais 2 do que 3. Quer constatar? Então,  fique imaginando todos os seus colegas (aqueles com quem você não perdeu o contato), e veja quantos tilhos eles tiveram. A  geração abaixo, apenas um, ou dois, não muito longe disso. Os tempos mudaram, quase todas as mulhares trabalham fora, todos estudam, mudaram os costumes. É até possível que, com o tempo, as pessoas voltem a ter um número maior, mas, elevado, não creio que possa acontecer de novo.

          Ter ou não filhos é uma opção de cada casal ou mesmo de cada pessoa. A maioria justifica o não ter,  ou ter apenas um,   dizendo  que não é possível dar boa educação a mais de um filho, que por isso preferem ter apenas um. Intervir na vida dos outros, plantar ou colher em seara alheia não é bom. Então, respeitar a posição de cada um.

          Mas, como é bom ver famílias que se reúnem, com um monte de filhos e netos, rir, contar mentiras, vantagens ou infortúnios, e até fazer confusão, muitas vezes. O prazer de ter uma "tropinha" perto da gente, é impagável. E, quando todos são falantes, que alegria!

          As  pessoas que optaram por ter poucos ou nenhum, também têm como fazer tudo isso:  reúnem-se em grupos de amigos, fazem suas festas, comem, bebem, dançam e se divertem da mesma forma. Importante, sim, é viver bem a vida, dentro de certas  regras, como ideal moderação, sem dar trabalho aos outros e sem ter trabalho com esses. Respeitar as escolhas e aprender a conviver com grupos humanos que não sejam do mesmo sangue. Tem afinidades que vão além das sanguíneas, que muitas vezes ensejam mais entendimento do que estas.

           Você, madura ou maduro como eu, já fez sua opção. E você, leitor, ou  leitora, mais jovem, que está na vez,  deseja ter quantos? Só você, ou o mesmo pensamento tem seu companheiro ou companheira?
É uma decisão que não pode ser unilateral...

Euclides Riquetti
09-06-2013