sábado, 4 de fevereiro de 2017

Preciso que tu me faças sorrir



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Preciso que tu me faças sorrir
Preciso que tu me faças cantar
Preciso que me faças ouvir
A doce canção de ninar. 

Preciso, sim, que me faças sonhar
Pois sonhar é algo que eu posso
Um sonho assim, singular
Que devolva os momentos só nossos.

Mas os  anos passam  ligeiro
Mudam destinos e trocam caminhos
O tempo fugaz é passageiro
Não me imagino ficar sozinho.

Preciso que tu me faças sorrir
Preciso que tu me faças viver
Quero dar  meu amor só pra ti
Quero que sejas meu bem-querer!

Te amo!

Euclides Riquetti

Doces lábios de morango







Beijo seus lábios doces de morango
De divina pele avermelhada
O delicioso aroma vai-me contagiando
Com o gosto de sua  essência adocicada.

Sorver seus lábios e sentir  seus olhos distanciados
Perdidos na planície que se estende  ao longe
Sentir seu coração aberto aos meus afagos
Tentando me levar pra não sei onde.

Ah, doces lábios de morango que me seduzem
Ah, corpo grácil que me aquece nesta tarde fria
Ah, mãos suaves que nas noites me conduzem

Morangos que bailam na música da grande orquestra
Que devolvem a minh' alma a nostalgia
Que fazem minha vida ser u'a grande festa!

Euclides Riquetti




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Minha Nona Crônica do Antigamente

       
Foto de "Caçadores de Imagens" - Capinzal - SC


           Recordar e Pensar é preciso. Principalmente nós, que somos antigos, temos, sempre, muito que recordar. E recordar nos traz à  mente  situações que vivemos e das quais temos saudades. De algumas delas nos orgulhamos e queremos revivê-las. Nem que seja apenas no imaginário.  Outras, nosso subconsciente rejeita, ferrenhamente. Há uma pessoa que sempre me diz: "tem algumas coisas que minha mente quer apagar, nada há que me atraia a lembrar delas". E, mais:  "O que é ruim já deletei de minha cabeça. De pessoas desprezíveis quero distância. Se fui pobre, nem lembro".

           Concordo plenamente com ela, embora muitas vezes  isso nem seja possível. Mas vale desviar o pensamento das coisas que nos desagradam, canalizando-o para aquilo que nos deleita, que nutre nossa alma, que incita nosso ânimo, que nos dá mais prazer. Uma pessoa, uma vez, me disse que seu analista recomendou que trabalhasse o domínio de sua mente para não sofrer, procurando evitar lembrar de tudo o que fosse desagradável, dirigindo a mente para algo que lhe confortasse, que fosse auspicioso. Tem razão, ela.

          Mas, dentro de meus propósitos de ressaltar que sou antigo, muitas coisas me vêm à mente. Em 1988 estive candidato a um cargo político. Na época, em agosto, nasceu a Rumer Willis. Hoje ela tem 23 anos, é bonita, mora nos Estados Unidos. Meu filho, o Fabrício, tinha menos de um ano, e nós o levávamos para todos os lugares, principalmente às festas no interior do Ouro, onde se come churrasco de verdade nas festas das capelas. E a Michele sempre dava um jeito de, literalmente, cair na água de algum riacho, inverno ou verão. A Caroline vinha correndo chamar-nos. E, assim, lá pelas 14 horas, tínhamos que ir para casa...

          Ontem, dia 2 de fevereiro, ao caminhar pela rua central do Ouro, lembrei de meu pai, de minha mãe, de meu irmão, de muitos amigos que já se foram. Pessoas de quem lembro com muito carinho. A procissão de Nossa Senhora dos Navegantes pelo Rio do Peixe remeteu-me à minha infância, quando meu pai e uns amigos, com seus botes, realizaram uma procissão com a imagem de nossa padroeira, vindo da "ilha" até o "açude" e depois trazendo a imagem até o Seminário. Recordei-me do Sr. Reinaldo Durigon, provavelmente o seu maior devoto, que faz aniversário neste dia. Também do Olivo Zanini, que todos os anos ajudava a carregar a imagem desde o Rio do Peixe até a rua. Do Rodrigo Parmalat, que ficava ao colo da mãe, enquanto a barca aportava em sua propriedade, e o João Antunes da Costa, seu pai, ajudava a organizar o local por onde  a Santa passaria. Lembrei-me de histórias ouvidas da Dona Noemia Sartori, do Érico Dambrós, do Sr. Ivo Luiz Bazzo, do Pedro Zaleski, do Rozimbo Baretta, do Ivo Maestri e de outros, todas interessantes. Também imaginei o Afonsinho da Silva e sua esposa, Eleonora, ele balseiro e padeiro, estabelecido ali onde hoje é a Unidade Sanitária. Lembrei-me da história de que trouxe a imagem da Santa de Caxias do Sul, fez um capitel para ela, levado pela enchente. Mas, a imagem, intacta, foi encontrada por ele quando a água baixou, ali na margem do Rio do Peixe.   Momentos assim nos trazem muitas saudades. São os momentos indeletáveis de nossa mente.

          É, ser antigo nos  dá privilégios, conhecem-se mais histórias. Ah, a Marjorie Estiano, a Manu, da Vida da Gente, está enveredando para os lados do Eriberto Leão, agora Gabriel, ele que foi o "devagar" Pedro, naquela novela filmada em Floripa. Com a concordância da Julinha...

          Antes que eu esqueça, a Rumer Willis é filha do Bruce Willis. E da Demi Moore. É por isso que ela passa frio, lá nos "States", onde é inverno. Aqui, nós, calor de 35 graus e muito calor humano, para compensar.
Euclides Riquetti

Enquanto chove...




Chove no asfalto
Onde o verde e o cinza
Compõem o retrato:
A natureza é a tinta
O pincel que pinta
As pedras, o rio, o mato.

Chove uma chuva fina e teimosa
Fria e silenciosa  (delituosa)...
Banha os animais que se aconchegam
Por debaixo das caneleiras frondosas
(As imbúias e os cedros o homem levou...)
Das árvores santas, restantes, bondosas
E chove!

Chove serena  minha alma
Chora sereno meu pensamento
E a chuva lava ( e leva )
A preocupação do momento.

Chove na manhã do dia que corre
E nas valas a água desliza mansa, mole
Enquanto chove.
E some...

Apenas não somem as lembranças
Que vão e voltam, que fazem pecar
Que transpõem os montes
Enquanto transbordam as águas ( e as mágoas)
Das fontes
E se perdem nos rochedos
Buscando ressonância
No tempo e na distância
Até chegar ao mar!

Ressonam nos corações benditos
Nos pensamentos infinitos
Nos pensamentos teus
Nos sonhos meus
Que vagam no ar.

Só não leva para ti os meus poemas
E meus dilemas
Que transformo numa única oração:
Apenas uma oração para ti
Enquanto chove!!!


Euclides Riquetti

Poeminha



Eu fiz pra ti este poema
Um poema de amar e querer bem
Eu fiz pra ti este poema
Apenas pra ti e pra mais ninguém.


Euclides Riquetti

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Quando a chuva molhou as roseiras






Quando a chuva molhou as tuas roseiras
E as gotículas pousaram sobre a tenra folha
Os  cravos bailaram, serenos, nas fileiras
Ali dispostos, solitários, sem ter quem os colha.

Jazem, felizes e exalam seu perfume masculino
A excitar o mais erótico pensamento
A mesclar-se em meio ao frescor matutino
Com seu doce aroma de encantamento.

Cravos e rosas, uma comunhão singular
Na manhã que chegou um tanto acabrunhada
Rosas e cravos, lembranças sutis a me atiçar.

Sonhos, lembranças, paixão e beleza
Na tarde que te deixa deslumbrada
Lembranças, sonhos, majestosa realeza.

Euclides Riquetti

Imagine-se...bem assim!

 

 

Imagine-se numa barca enorme
Flutuando sobre as águas do mar.
Faça de conta que ali você dorme
Sob um sol ameno a se bronzear...

E, enquanto dorme, você sonha
Com alguém que a possa querer
Com uma vida graciosa  e risonha
Sem lugar para a dor e o sofrer...

Imagine-se recebendo os afagos
Que minhas mãos podem fazer
E delicie-se com os meus agrados
Perca-se nas volúpias e no prazer...

E, enquanto você absorve a energia
Que vem do mar, do sol, de mim
Comemore a luz de mais um dia e...
Beije-me com seus lábios de cetim!

Bem assim!

Euclides Riquetti

Nas primeiras manhãs de fevereiro



Nas primeiras manhãs de fevereiro
Fui pisar nas claras areias do mar
Porque o sol, antes bem prazenteiro
Escondeu-se, não sei em que lugar.

Não vi aqueles raios de sol dourado
Que sempre douram peles e cabelos
Nem mesmo o lembrar  do passado
Me animavam a tornar a vê-los...

Não vi o céu azul de outros tempos
Nem as garças que ali voavam
Mas senti a força que vem do vento.

Não vi mais o seu rosto faceiro
Nem as coisas que me marcavam
Apenas sonhei o amor verdadeiro.

Euclides Riquetti
02-02-2017


Pendure atrás do fogão...




          O fogão a lenha ainda é um equipamento de cozinha indispensável nas casas das pessoas que hoje estão na condição de semi-idosas ou já inclusas. Principalmente nas de quem não reside em apartamentos.

          Os fogões, aqueles esmaltados brancos com estampas de flores bem coloridas, bem tradicionais, das margas Geral, Marumby, Wallig ou Venax,   estiveram presentes na história de nossas famílias. Deles, tenho belas lembranças, principalmente da casa de minha madrinha Raquel, no Leãozinho, ou da Nona Baretta, na Linha Bonita, em minha casa e nas das tias, no antigo Rio Capinzal. As panelas grandes, de alumínio, fervendo o leite, ou no preparo do arroz quebradinho ou da macarronada. As de ferro,  para o cozimento do feijão e  as carnes. A polenteira, pesada, presente também. Algumas famílias tinham uma composição tão numerosa que precisavam de duas dessas polentas no almoço para saciar a fome após a lida da manhã. Os queijos, os salames, as copas, as bacias de saladas, principalmente os radicci.

          Um grande caixão para a lenha, com tampa, situado atrás do fogão, onde as crianças gostavam de ficar para menterem-se aquecidas nas frientas manhã de nossos invernos. Era disputado, mas os pais o reservavam sempre para os mais pequenos. E, de vez em quando, um susto, quando o vapor da água elevava a tampa da panela e, em gotas caía sobre a chapa muitas vezes avermelhadas pelo calor...

          Minha mãe conservou um até o final de sua vida. Nós, aqui em casa, também tivemos o nosso, mas já abolido desde que as crianças cresceram.  Porém, o que me faz retornar a ele não é a sua utilidade como o principal componente da cozinha, em tempos que as pessoas não tinham geladeiras e nem fogões a gás.

          Lembro dos arames esticados atrás dos fogões, fixados com pregos na parede angular, de madeira. E ali penduravam os uniformes para que secassem e as crianças pudessem ir para a escola devidamente paramentadas. Outras vezes, punham dois peçados de lenha no forninho e sobre eles um par de calçados, para que secasse e no outro dia pudessem ser usados...

          E há até lembranças que me fazem rir: uma vez minha irmã Iradi, professora na escola em Linha Pocinhos, colocou uma gravura de uma cozinha no quadro-negro. Estava ensinando  os alunos a fazerem uma descrição. E, uma aluninha, hoje uma respeitável senhora, escreveu: "Atrás da bunda da moça tem o fogão". Nada mal se os malandros não tivessem apelidado de "fogão" o traseiro dos homens.

         Também  histórias muito tristes foram protagonizadas diante desse histórico equipamento, com pessoas levando queimaduras que as marcaramou que lhes tiraram a vida...

         O fogão a lenha é um objeto que está caindo em desuso, gradativamente. Mas há muita gente herdando o costume de tê-lo e vão continuar utilizando-o. Alguns já substituíram a lenha por um dispositivo a gás que aquece a chapa. Mas, aquele brilho saindo da porta do fogão, ou aquele cheirinho da cinza da gavetinha sob a grade da combustão das lenhas, nunca será esquecido.

         Não importava para as crianças se suas roupas ficassem impregnadas de odores de fumaça ou de frituras.  Quem ligava para isso? O importante era não passar frio e no outro dia ir para a escola de uniforme e com calçados secos. Além disso, no inverso, tomar mate doce e comer aquele pinhão delicioso cozido sobre a chapa aquecida. E, todos sabemos, a comida que a mamãe ou a nona fizeram nos fogão a lenha era muito mais gostosa, não era?

          E o seu, era de que marca? De que cor? Tinha flores estampadas? Como era o caixão da lenha? Qual a marca: Geral? Marumby? Wallig? Venax?

          Você pode ter esquecido da marca, mas não esqueceu, certamente, das roupas penduradas atrás dele...

Euclides Riquetti

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Desculpa-me


Desculpa-me se eu não consigo ser
Tudo aquilo que sempre esperas
Se há  um dar e não há  um receber
Se fogem os sonhos e as quimeras...

Desculpa-me pela minha ansiedade
Talvez bem maior que a volúpia
Talvez seja minha a  fragilidade
Quando sou tomado de angústia...

Desculpa-me por não ser perfeito
Por não conseguir resolver tanto
Não sei se isso é o meu defeito...

Porém, tenho alma e sentimentos
E quando luto contra meus prantos
É porque não quero o sofrimento!

Euclides Riquetti
13-11-2015

Por qual janela?





Por qual janela devo olhar?
Pela da rua barrenta
Ou pela que me mostra o mar?

Por qual janela devo olhar?
Pela que  vejo a manhã cinzenta
Ou pela que me mostra o azul celestial?

Por qual janela devo olhar?
Pela que me leva até você
Ou pela que me quer afastar?

Você é quem escolhe
Quem determina meu destino:
Se faz de mim o amado lorde
Se faz de mim um mendigo
Se me mostra um caminho nobre
Ou aquele cheio de espinhos...

Há uma janela entreaberta
Que esconde indesvendáveis mistérios
Atiça minha mente inquieta
Me afunda em mil sortilégios.

(Mas há algo que emotiva
Que me acende minha paixão
Pois detrás daquela cortina
De onde vem a doce canção
Deve estar alguém que anima
Que mexe com meu coração).

Mas... por qual janela devo olhar?
Para poder encontrar
Aquela que me faz pensar
Aquela que pode domar
Meu indefeso coração?

Euclides Riquetti

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Uma folha de papel na areia

 

   

 Perdi uma folha de papel na areia
Que alguém encontrou e me devolveu sorrindo
E, a manhã que poderia tornar-se feia
Deu lugar a um indescritível horizonte infindo...

Um pedaço de papel com uma das faces em branco
O espaço ideal para um poema de teor inefável
Descrevendo venturas ou simplesmente um pranto
Uma declaração de amor ou uma mensagem amável.

E, na manhã do sorriso largo, de tanta gente bonita
As galés flutuam, deliciosamente, sobre as águas
Decorando o mar azul na sua beleza infinita.

E, enquanto eu relembro de outras manhãs como esta
Quando  as horas apagam os ressentimentos e mágoas
Eu contemplo as ondas que me trazem o vendo que refresca...

Euclides Riquetti

Escondendo as panelas, Jurandi?


Primo Jurandi, o Jota, de Lacerdópolis, 70 anos, cheio de energia, joga futebol para o Máster do Santa Tereza aqui de Joaçaba. Filho da tia Rosalina (Baretta) e do tio César Riquetti, in memoriam


          Não venha  querer me dizer que você nunca escondeu uma panela difícil de lavar. Todo o ser humano, quando adolescente, faz isso. E aprende com o irmão mais velho. Ou com o primo mais velho. Ou com o tio. Esconder panelas difíceis de lavar é regra cotidiana para o sexo masculino, aquele mesmo que uma vez se autointitulava de "sexo forte". Na verdade, em se tratando de lavação de louças, o "sexo forte"sempre foi a mulher. Sempre foi ela que, jeitosamente, esfregou bem o fudo das panelas. O de dentro e o de fora. Sim, porque nos tempos em que poucos tinham fogão de cozer a gás, uma mesma panela nos trazia dois sofrimentos, que vou descrever no segundo parágrafo, pois parágrafo muito comprido é chato, parece que a leitura fica demorada, não dá tempo para o leitor respirar... sentiu isso,leitor (a)?

          Bem, se sentiu  é porque está um tanto, ou dois tantos,  fora de forma. Mas tem como corrigir isso: treinamento. Treinamento full time. É assim que os técnicos de futebol mais antigos diziam nas entrevistas para o rádio. Era mais fácil de dizer do que falar que teriam treino "o dia inteiro". O Inglês, língua sintética, tem muitas palavras curtas e estruturas curtas. Tão curtas quanto são curtos os salários dos professores no Brasil... Então pelo menos leitura em "half time", que  já ajuda!

          Veja, amigo, eu enrolei você dizendo que ia falar sobre os sofrimentos de limpar dois fundos de uma mesma panela no segundo  parágrafo e nem falei. Então, calma com o dedo no controle, não mude de canal que eu explico: quando ainda o fogão a lenha era o mais usado,   principalmente no meio rural ou em cidades menores, para acelerar o crescimento, digo o cozimento, muitas vezes eram retiradas as argolas das chapas dos fogões, de modo que a chama atingisse diretamente a base da panela. Assim, tínhamos dois efeitos: o fundo externo enegrecido, encarvoado, e o interno com aquelas crostas de comida que queimou e grudou porque a mama teve que ir por a roupa no arame para aproveitar o sol antes que ele sumisse. Agora isso mudou também, é varal em vez de arame.

          Quando o cheiro de queimado se espalhava pela casa e saía pelas janelas, vinha correndo a  mama e dava um jeito de meter a mescola na bóia e desgrudar o que fosse possível. E então dava para aproveitar a comida, mesmo que não ficasse a costumeira delícia. E era nessas horas que as panelas iam para um esconderijo, para que ficasse para ser lavada no dia seguinte.

          Um primo meu era bem expert nisso. O Jurandi morava na casa do Nono Serafim Baretta, lá na Linha Bonita. E quando nós íamos lá à  noite para rezar o terço ou tomar um mate doce com pipoca melecada, , enquanto todos ficavam batendo papo na sala ele tinha que ir lavar a louça. Então ele cumpria o seu papel de primo mais velho e me ensinava. As panelas com o fundo preto ou cascão de comida grudada por dentro, ele guardava embaixo do lavador. O lavador é aquele móvel que vocês, da cidade grande, chamavam de pia. Dizia o primo Jurandi que, no outro dia, as tias Nair e Lindamir iam ver as panelas sujas escondidas ali e ficariam fulas da vida. E que, então, ele estaria lá na roça ajudando a quebrar milho e elas lavariam. E, quando voltasse, a nona não ia dexar que brigassem com ele por tão pouca coisa. Era bem esperto já o primo, imagine agora, Até está com um contrato com um time de veteranos, aqui da Vila, em Joaçaba. O treinador Torresmo não abre mão da presença do primo no time. Vem lá da Barra Fria jogar aqui.


          Todo o jovem, moço ou moça, deve ter feito escondido panelas,  um dia. Eu pensava que quando ficasse grande não ia precisar me ocupar com questões assim. Mas os tempos mudaram e agora nós precisamos dividir tudo em casa. Os bônus e os ônus. E o meu é lavar a louça muitas vezes ao dia. Sem esconder panelas. Por isso tenho que cuidar bem para não estragar o teflon, senão me ferro...

Euclides Riquetti
11-07-2013

Meus medos e meus segredos



Tenho medo de meus muitos medos
Não de meus segredos...
Tenho lá minhas preocupações
Vivo, intensamente, todas as emoções
Pois pra viver nunca é cedo!

Há uma fragilidade emocional
Algo que até  parece banal...
Não sei se é por zelo desnecessário
Se é cuidado extraordinário
Mas só quero nosso bem, não o mal!

Conflitos, que fiquem longe de mim
Que toda a confusão tenha fim...
Prefiro o sol que doura ao céu cinza
E que nenhum raio me atinja
Que cresçam as flores no jardim!

Sou apenas um ser comum
No contexto complexo, apenas mais um
Que quer viver normalmente
Nem sei quão intensamente
Aqui, ali, e ou em lugar algum

Apenas isso...
Bem assim!

Euclides Riquetti

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Deixe-me embalar seus sonhos



Deixe-me embalar seus sonhos e seu sono
Como se eu fosse uma canção de ninar
Da planta alvissareira quero ser o pomo
Que adoça seus lábios com o meu beijar...

Deixe-me cativar seu sorriso brilhante
Que tanto me seduz  e me faz contente
Maroto, ousado, muito lindo e cativante
Que adorna seu rosto de adolescente...

Deixe-me compor-lhe apenas um soneto
Simples como as canções que você canta
E no seu ninho ser ao menos um graveto...

E, depois, colha de mim o que lhe agrade
Pegue pra você o que mais lhe encanta
Me pegue, me tenha, me queira, me abrace!

Euclides Riquetti

O Ximbé e o Virso - Bahia, Meu Deus do Céu!


Herval d´Oeste - SC...foto antiga...


          Na quinta-feira, fui dar uma banda no centro de Joaçaba. É andar por lá e encontrar amigos de longa data, principalmente quando se anda pela Rua XV. Toda a cidade que se preza tem uma Rua XV. E, em meu estado, também uma Rua Felip Schmidt. Por serem sempre as primeiras ruas a receberem nomes quando das fundações das cidades, estão localizadas sempre na sua área central.

          Pois que ao entrar numa loja para reclamar do defeito de um poduto ( a gente compra de marcas famosas, em lojas igualmente famosas, mas são importados da China também...), deparo com um cidadão moreno, cabelo agrisalhando-se, jeito humilde e simpático, inicio conversa: "Bom dia, senhor. Carteira do Internacional e jaqueta do Vasco?"

          "Sim, respondeu-me. Sou vascarino"!  Na minha cidade de origem, Capinzal/Ouro, quando era criança tinha muios amigos que usavam o termo vascarino em vez de vascaíno. Lembro que o Valério e o João Luiz Beviláqua dizem isso também. São vascaínos!  Trajava uma bela de uma jaqueta preta, da Kappa, com um discreto distintivo do meu time,  Vasco da Gama , aquele senhor. Disse-lhe que também era vascaíno. Cruz de malta na testa. Tenho uniforme, até!


          Perguntei-lhe se era de Herval d'Oeste, confirmou-me que era. (algo me fazia supor que era de lá) Perguntei-lhe se ele conhecia o Vilson da Rosa, o "Virso", e ele começou a rir e imitá-lo, falando igualzinho a ele, com aquela fonética peculiar dele. Conhecia o Virso, sim, até trabalhou com ele há uns quarenta anos atrás, lá em Capinzal, na Pedeira que ficava pra cima dos Caetano, perto de Frestão, um prostíbulo que ali havia no início da década de 1970.  E começamos a conversar como se nos conhecíamos de há muito.

          "Sou o Ximbé, trabalhei com os Lautério, com o pai do Virso. Aprendi a cortá  pedra com eles, pedra de obras, de calçamento, de mão, de tudo o que é tipo", falou-me. Olhei para aquele rosto judiado pelo tempo, mas que irradiava uma indescritível simpatia. Os sulcos e as rugas na testa e no rosto muito visíveis, denotando sofrimento, luta pela sobrevivência, exposição aos danos do tempo, do sol, do frio, das chuvas e dos ventos que roçaram aquele pele envelhecida...

          Deixei-o bem à vontade, ele até sentou num banco ali na loja e continuamos nossa conversa. Eu tinha tempo, estava a esperar o retorno do gerente, para que me atendesse, Contou-me algumas das aventuras deles, rimos muito. Depois, sugeriu-me:"Quando encontrá  o Virso, grite pra ele: Bahia, meu Deus do Céu!. E depois você me conta quanta risada ele deu"!". Perguntei-lhe por que e ele foi dizendo:

         "Uma veiz, quando nóis tava acampado na Pedreira de Capinzal, fizemo uma chopana com madera roliça e cubrimo e fizemos as perede com mato. Tudo de mato. E num é que uma noite uma vela tacô fogo no barraco e queimô tudo? E o Virso, quando viu aquilo tudo, gritô assustado: Bahia, meu Deus do céu! E foi um Deus nos acuda. Mais conseguimo tirá as ropa e as panela antes do fogo tomá conta. E mudemo pruma caverna, um tipo de gruta que tinha no paredão de pedra, e nunca mais fizemo chopana. Tinha o Hélio, otro cortadô, que cada vez que via o Virso, gritava: Bahia, meu Deus do Céu!  E o Virso se matava de tanto dá risada. Dava de vê de longe os dentre branco dele"

          O entusiasmo do Ximbé me contagiou. Disse-me que o Virso é um vencedor na vida, que está muito bem. Fiquei contente. E prometi que ainda nos vamos reunir eu, ele e o Virso para  contar uns  causos. O Ximbé tem três anos mais do que eu e o Vilson. Algo me diz que eu o conhecia dos tempos da infância. O rosto me é familiar, mas o apelido, não.

         Ah, para ajudar você a entender e lembrar, a expressão "Bahia, meu Deus do Céu" vem de uma música do final da década de 1960, da dupla paranaense Jacó e Jacozinho.

          Agora é  esperar que o Virso comece a fazer o muro aqui no Bairro e marcar nosso encontro. Para rir muito, pois isso é impagável, nos faz bem, estimula nossas células boas!

Euclides Riquetti
14-07-2013

domingo, 29 de janeiro de 2017

A Saudosa Biblioteca do Major, em Zortéa, formando uma geração de leitores

Para relembrar...

          Só quem já percorreu longos caminhos na vida pode ter uma dimensão mais apurada de quantas mudanças de costumes já ocorreram e a velocidade como isso aconteceu. E, aqui do alto da cidade, também do alto e sagrado altar da maturidade, posso contemplar as planícies da vida e relembrar de incontável número de fatos que já presenciei em minha existência terrena. A outra, vou ter que aguardar para ver como é, o que me reserva, a mim, a você, a todos nós. Do futuro tenho medo, por ter medo do desconhecido, o que é natural no Ser Humano. E eu não sou diferente dos demais... Um caminho para desvendar os mistérios que nos cercam e encorajar-nos a conhecer o futuro é o livro. Viajar através dele, volver-se ao passado e projetar o futuro, imaginar o porvir!

          Lembro que,  na época em que me iniciei, efetivamente, na carreira de professor público, em Duas Pontes, hoje município de Zortea, após ter lecionado temporariamente no Colégio Industrial Coronel Cid Gonzaga, em Porto União, e no Instituto de Idiomas Yázigy, em União da Vitória, encontrei na Escola Básica Major Cipriano Rodrigues Almeida uma Biblioteca sensacional.

          Funcionava numa sala bem arejada, com uns 48 metros de área, as prateleiras bem fornidas de livros, e as mesas e cadeiras de madeira natural envernizadas que foram doadas pela Zortea Brancher S/A, a empresa madrinha da Escola.  Vivi ali uma das melhores e mais saudosas experiências de minha vida. Dentro das aulas de Língua Nacional, hoje Língua Portuguesa, costumava levar os alunos para a Biblioteca, cada turma uma vez por semana, onde fazíamos a entrega de livros para os alunos levarem para casa e lerem. Faziam a retirada e iniciavam a leitura ali mesmo.

         Uma pergunta frequente lá: "Professor, posso levar mais do que um?" - podiam, sim!  E liam, positivamente, verdadeiramente, maravilhosamente. E, depois, tínhamos um método de produção de textos com uma sequência lógica de aprendizagem, baseada no sistema do Samir Curi Meserani, com seu "Redação Escolar - Criatividade" - o método tinha sido introduzido pelas professoras Elza Melo Zanetti e Victória Leda Brancher Formighieri, esta também Diretora da Escola, que mais tarde veio a tornar-se minha comadre, madrinha da filha Caroline, gêmea com a Michele, que nasceram quando lá moramos e trabalamos. As professoras deram o pontapé inicial, uma base formidável para um trabalho sequencial com expressivos resultados.

          E, o gosto pela leitura bem disseminado,  mais o trabalho de motivação, somados a uma prática de escrever textos,  dentro de uma linha de aprendizagem progressiva de estruturas do Método Meserani, resultavam na formação de alunos escritores. Faziam maravilhosas redações, contos,  crônicas, poemas, notícias para nosso jornalzinho. Eram leitores e escritores. Quando me afastei de lá, fui sucedido por outra professora que deu sequência ao nosso trabalho, uma contumaz leitora a Gena Casara.

          Mas preciso fazer o registro que mais me apraz do valor incomensurável de nossa Biblioteca: uma coleção de encadernações contendo centenas de exemplares da revista "Seleções do Reader's Digest",  que foi doada para a Escola pela família Brancher.

          Quantas e quantas vezes peguei aquele material na mão, admirei, abri, li relembrei, viajei no tempo, fui conhecer as reportagens realizadas nos campos da Segunda Guerra Mundial. Edições a partir da década de 1930 até a de 1960. Um material valioso, belo, atraente, encantador.

          Mas, com os vendavais ocorridos no início da década de 1980, um ciclone destruiu o prédio escolar e tudo ficou arrazado. Que pena! Todos aqueles livros destruídos, desde  "As Terras do Rei Café" até "Os Capitães d ' Areia", de Jorge Amado. E todos os de José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Camilo Castelo Branco, Maria Clara Machado,Euclides da Cunha, Érico Veríssmo, Cecília Meirelles, e mihares de outros,  tudo ficou destruído...

         Hoje tenho saudosas mas muito boas lembranças daquela escola, de meus colegas professores, de meus alunos. Formamos ma geração de leitores, por issomesmo vencedores. Agora, com as modernas e rápidas tecnlogias de comunicação, consigo ter contato e reatar amizades que ficaram adormecidas, muitas delas por mais de três décadas. Mas vale a pena relembra  e comemorar que nossos alunos foram buscar seus espaços em vários estados brasileiros. Que as modernas tecnologias venham todas, mas o  livro, esse bem sólido e material,  que nos traz em si inimagináveis recursos  para nos deleitar, permaneça sempre entre nós!

Euclides Riquetti
12-07-2013

Na agenda fugaz do tempo...


                    
                                                                                       Foto: A. Canela Castela



Caminhos por nós percorridos não mais se repetem
Quando nós não quisermos que eles se repitam
Perdem-se na poeira e na agenda fugaz do tempo:
Amizades voltam como vem e como vai o vento.
Fascinam-nos os corações agitados que palpitam
Doem os corpos cansados quando doem as almas
Catalisam-se as dores agudas nas noites calmas
Plena harmonia vem nos sonhos que se refletem.

Pagam-se os pecados quando não forem perdoados
Sorriem os rostos das antes moças, agora senhoras.
Toadas antigas invadem as casas pelas janelas
Paz contagiante vem das flores suaves e singelas
Fazem-nos lembrar dos belos dias, das boas horas.
Sei de teu amor, de teus abraços, tudo foi desejo
Provas de amor que me oferecem teu gostoso beijo
Materializam-se em versos com cuidado forjados.
Primores que escrevo, bela, apenas para te encantar
Cantados pra ti na solidão da praça, ou na beira do mar.

Doces lembranças me fazem sentir doces saudades
Prazerosamente, elas me reanimam e me deleitam.
Talvez que nossos caminhos possam ainda se cruzar
Vales e montanhas que os raios de sol os enfeitam.
Mais do que tudo, na vida, triunfam as verdades
Suaves notas das canções que te chegam  pelo ar:
Mares, oceanos e imensidões suscitam emoções
Alimentam-nos para a vida, nos reacendem paixões.

Euclides Riquetti
29-01-2017








Jogo de sedução




Não quero que me vejas como um fútil galanteador
Nem  quero despertar em ti uma faísca de paixão
Quero apenas que sinta em mim um poeta sonhador
Não como alguém vulgar que faz o jogo da sedução...

Não imagino que possamos dar luz a uma realidade
Apenas que possamos surfar nas ondas de uma ilusão
Em cada verso far-te-ei  uma jura de lealdade
Em cada um de meus poemas um recado ao teu coração...

Quero, sim, que penses em mim, como quero pensar em ti
Quero, sim, que tu me queiras, como eu quero te querer
Quero, sim,  que escrevas na noite, como quero escrever aqui...

Quero, sim, te seduzir, com palavras de amor e paixão
Quero, sim, que tu te percas, como quero me perder
Quero, sim, que guardes pra mim, a tua alma e teu coração...

Euclides Riquetti

O dia em que minha vida virou ao avesso



Arabutã FC - Estádio da Baixada Rubra - Ouro - SC



          O dia 22 de julho de 1984 me é inesquecível. Tinha tudo planejado: jogar bola, ir a uma festa, descansar para na segunda trabalhar. Levantei-me cedo, peguei a sacola com minhas chuteiras, despedi-me da família e fui para o Estádio do Arabutã. Era o dia mais frio do ano,  um domingo.  Tivéramos duas semanas de férias escolares e, no dia seguinte,  haveria o reinício das aulas. Queria aproveitar bem meu domingo. Depois do jogo, me encontraria com a família e amigos numa festa de batizado.

          Ali, ao lado do Estádio, havia uma sede recreativa onde seria realizada a festa do batizado da Aquidauana, uma bebezinha,  filha do compadre Neri Miqueloto e da Zenete. Fui o primeiro a chegar ao campo. Havia neblina e frio, muito frio. A promogênita deles, que atualmente cursa um doutorado nos Estados Unidos.

          Nove horas e já estávamos em campo. O treinador Valdomiro Correa deu-me a camisa branca com  mangas vermelhas, número 4,  jogaria como quarto zagueiro, fazendo dupla com o Fank.  Normalmente eu jogava com a 2, na lateral direita. Nsta atuou  o Mantovani, que era apelidado de "25". Era o mais maduro da turma. Na esquerda, o Mingo Barbina. Eu tinha 31 anos e estava em plena forma física. E me achava velho... Tinha ossos fortes, minha mãe sempre dizia que me deu muito cálcio quando criança. E eu achava que jamais pudesse machucar-me, era muito corajoso nas jogadas, não tinha medo de que algo me pudesse acontecer...

          Placar ainda em branco e nossos adversários fazendo pressão. Formávamos linha de impedimento, já tínhamos um ótimo entrosamento e sempre que jogávamos, nos  adiantávamos quando o adversário iria lançar a bola. Deixávamos os desavisados sempre impedidos. Nossa média de idade era bem acima da deles e tínhamos que dispor de nossa esperteza para enfrentá-los. E, num desses lances, quando saímos, um de nossos jogadores deu condição legal de jogo para os adversários. O Tita, de 16 anos, muito habilidoso e veloz, recebeu a bola e saí atrás dele. Quando ele entrou na grande área e ia fazer o gol, alcancei-o e dei toda a força possível para cortar a bola. Nesse instante, veio o goleiro, meu companheiro, num carrinho e me atingiu. Foi um estouro. Disseram-me o Mafra, o Marcon e o Nito Miqueloto, meus companheiros, que pareceu um tiro de revólver 38. Senti que algo de muito ruim me havia acontecido. Eu não queria acreditar: O que iriam dizer meus familiares? Cmo iria dar aulas no dia seguinte?

         Meu colegas vieram acudir-me. Estavam apavorados. Olhei para minha perna direita e o pé estava desgovernado. A perna dobrou-se, apenas a pele mantinha o pé preso ao meu corpo. Uma fratura na Tíbia, duas no Perônio, e os ossos esfacelados. Uma senhora contusão! Tiraram minhas chuteiras, minhas meias. Uniformizados,  não conseguiam achar as chaves dos carros para levar-me ao hospital. Ficaram todos atrapalhados. Vi o Irineu Miqueloto (saudoso...), que viera de Ponta Grossa para o batizado de sua sobrinha, pedi para que me socorresse,  e ele, apavorado, no alambrado, procurava nos bolsos as chaves de seu carro, e nada! Até se esquecera de que não estava de carro lá.  Havia deixado o carro com a esposa e nem se lembrava disso.  Estavam todos desorientados...

          Enfim, os amigos Vilson Farias, atual Vice-prefeito de Capinzal, e o Alvanir Mafra, com o Fusca deste, resolveram que deveríamos ir de imediato para o hospital, no fusca. Colocaram-me no banco traseiro,  o Mafra dirigia e o Farias me dava apoio moral. Iríamos direto pra Joaçaba, onde haveria ortopedista no Hospital Santa Terezinha.

          Na estrada eu olhava para o espelhinho retrovisor e via que estava pálido, meus cabelos molhados, o rosto muito suado. Não sentia dor, ainda, porque estava om o corpo muito quente, havia  corrido muito e por mais de meia hora. Não me conformava por aquilo estar acontecendo comigo...

          Em menos de meia hora estávamos nas ruas centrais de Joaçaba, onde não haia asfalto ainda. Quando o carro trafegava sobre sobre os paralelepípedos do calçamento, os ossos pareciam espinhar os músculos e doía muito, muito. No Hospital Santa Teresinha, fui posto na numa maca, e o médico Dr. Marino, ortopedista, colocou uns saquinhos de areia nos lados da perna, imoilizando-a. Como que se  a mão de Deus tirasse a dor, senti-me aliviado. Veio o raio-x, o gesso, envolvendo toda a perna até a bacia. Não havia necessidade de cirurgia, graças a Deus. Apenas 90 dias no gesso. Levaram-me para casa. Eu estava chateado porque minha família não pudera participar da festa da Aquidauana. mas não sentida dores. Até que passou o efeito da anestesia  quando passei por dores insuportáveis. Ligaram para o hospital e indicaram-me injeções para alviar a dor que um rapaz, meu aluno, o Neodir Zanini, veio aplicar, junto com o pai dele, o Nadir.jovem, trabalhava na Farmácia São Pedro.  A dor  ia e voltava...

         À noite, demorei para dormir. Depois sonhei. Sonhei que estava numa bela tarde de sol, lá no mesmo campo, jogando futebol, mas na lateral esquerda, com a camisa 6. Jogando contra o Clube 4 S de Linha Sul, marcando o Joãozinho Baretta, um primo. Ele estava de camisa verde e eu marcando-o.
Muitos dias com dores, passei os primeiros vendo na TV as Olimpíadas de Los Ângeles, torcendo pelo Brasil, em especial pelo goleiro Gilmar Rinaldi, que defendeu até pênaltis. E nos deu a Medalha de Prata. O Gilmar foi nosso compnheiro de bola no campinho, ali no Ouro, quando vinha passar as férias na casa de sua irmã, a Matilde. Jogava no Inter, depois jogou no São Paulo, na Udinese, num clube do Japão e n Flamengo.

          Seis meses depois, estava eu de volta aos campos. Mudei meu jeito de jogar, mais cauteloso, usando menos a força e mais a inteligência. Percebi que nosso corpo tem limites, esta foi minha lição. E consegui correr atrás da bola por mais 25 anos, apenas com 3 meses de interrupção em 98, quando estourei menisco e ligamentos, pondo até parafuso de titânio no joelho esquerdo, que está ali até hoje. Estou até pensando em voltar a jogar,  agora na Primavera...

          Realmente,  aquele domingo, 22 de julho de 1984, meu mundo ficou de pernas pro ar. Mas sobrevivi!

Euclides Riquettii
22-07-2013