sábado, 28 de julho de 2018

Ruas da cidade, ruas da saudade...





Ruas da saudade, por onde os seres andam
Por onde pisamos  nas calçadas
Ladrilhadas...

Ruas de nossas cidades, onde as saudades cantam
E te fazem lembrar das tardes ensolaradas
Ou chuviscadas...

Rua das cidades por onde andamos
Rua das cidades em que moramos
Ruas tortas ou direitas:
Quem se importa se são estreitas
Se trazem saudades minhas e tuas?

São apenas ruas...são acentuados aclives
São desesperados declives...

Ruas que permitem aos passantes
De todas as espécies, de todas as idades
Ruas que já nos marcaram antes
Por onde já nos movemos com liberdade...

Ruas não são apenas ruas
São, de lembranças, itinerários
São, das bem-aventuranças, o sacrário
São as histórias minhas, as histórias tuas.

Ruas por onde trafegam gentes
Carros, outros passantes
Por onde andaram os queridos entes
Por onde andaste em passadas elegantes
Por onde andam nossos espíritos e mentes
Por onde andei... e andaste antes:

Ruas, apenas ruas...
Das lembranças...
Das amenidades
Das andanças...
Das saudades!

Euclides Riquetti

Cravos também falam...





O cravo branco, com sua calma e simpatia
Me disse "Bom Dia'!
E me recomendou que eu tivesse cuidado
Com o cravo bordô avermelhado...

Ora, um cravo falante
Era só o que me faltava!
Nunca vira isso antes:
Falava, ria, cantava.

Seria um cravo narcisista
Invejoso
Egoísta
Ou apenas um fiore formoso
Amoroso
Faceiro, artista?

Nunca vi coisa assim:
Uma flor que encantava
E que perfumava
Todo o espaço do jardim.

Mas,  depois,  entendi:
Há, entre as flores,  o desejo incomum de nos agradarem
De ver nossos olhos brilharem.
E, com meu próprio coração, eu vi
E com meus olhos,  senti:
Só pensavam em me alegrarem!

Adoro flores:
Rosas, dálias, crisântemos e margaridas
De todas as cores
Nos  jardins e nas casas floridas.

Mas o que me traz mais agrado
(Em termos de perfume...)
Certamente que é o cravo
Branco, bordô... ou rosa matizado!
E flores amarelas... e rosas champanhe!

 Euclides Riquetti

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Uma lágrima de cristal


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Uma lágrima de cristal
Rolou em teu rosto
Belo
Perfeito
Natural...

Não era uma lágrima de desgosto
Nem de desconforto
Era apenas uma lágrima casual
Como tantas outras que caem
Em momento especiais.

Uma lágrima límpida
Transparente
Insípida
Intransigente
Que apenas queria cair
Rolar
Sumir
No mar!

Uma lágrima de cristal
Como uma joia preciosa
Esplendorosa
Excepcional
De  beleza colossal
Num semblante divinal.

Apenas uma lágrima tímida
Fugidia
Que chegou para me dar bom dia
E foi-se embora
Venturosa.

Euclides Riquetti

A celebração do amor e da vida

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Celebro o amor porque celebro a vida
Celebro a vida porque celebro o amor
Celebro ambos com alegria desmedida
Abstratos ou concretos, a vida sem dor!

Celebro cada um dos momentos felizes
Nos anos, nos meses, nas semanas e dias
Pois não sabemos do amanhã, bem o dizes
Se virão tristezas ou se virão alegrias.

Importam as alegrias  mais que as primeiras
Pois que elas nos animam e nos confortam
Importam as sensações mais verdadeiras.

Importa a mim e a ti a felicidade presente
Os teus abraços e beijos também importam
Importa-nos sermos felizes hoje e sempre!

Euclides Riquetti

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Havia um sol...







Havia um sol a aquecer a tua  aura serena
Um sol que migrou e foi brilhar lá bem longe
Pra encantar uma tímida e frágil falena
Que além do meu vale verde se esconde.

Havia um brilho lunar a pratear teus encantos
Um luar que amenizou a aflição de tua alma
Pra acalmar os teus ais, teus choros e prantos
E fazer-te mais doce, mais terna e  mais calma.

Havia um pedido de perdão e um desculpar-se
Pois um de nós dois, certamente que errou
Um pergunta sem resposta, apenas um calar-se.

Um calar-se que faz sofrer, que nos fere e pune
Mas que não apaga um sentimento que ficou
Pois o tempo que apaga é o mesmo que une....

Euclides Riquetti

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Os primeiros pingos da chuva

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Quando os primeiros pingos da chuva rolaram na vidraça
E embaçaram teu rosto angelical
Me pareceu que foram as tristes lágrimas
De uma despedida bem sentimental
Há muito tempo acontecida.

Quando meu pensamento misturou-se às gotas da chuva
E meu coração pulsou intensamente
Pareceu-me reviver aquele dia
Em que em mim morreu toda a alegria
Pois foste embora de repente...

Quando meu corpo de moveu para procurar o teu
E não encontrou  mais teus lábios junto aos meus
O mundo se tornou uma grande incerteza
O mundo então perdeu sua beleza
Ficou sem o sorriso de era meu e teu...

Euclides Riquetti

Não tenha medo de sonhar







Não tenha,  nunca,  medo de voar
Libere as suas asas à imaginação
Não tenha,  nunca,  medo de sonhar
O sonho é vital para o seu coração!

Voe, livremente, busque o espaço
E, se precisar, repouse nas nuvens
Voe, contente, livre-se do cansaço
Contemple as estrelas que reluzem.

Vá, com a força de sua liberdade
Ela  é um bem, é sua maior conquista
Considere quem lhe devota lealdade
Busque seus sonhos, nunca desista.

Vá , experimente todas as sensações
Seja, na vida, uma eterna aprendiz
Dê vez a seus anseios e às emoções
Não desista, nunca, de ser feliz.

E, em cada novo dia, nova jornada
Haverá uma mão esperando pela sua
Pensarei em você na manhã ensolarada
Rezarei por você nas noites de lua!

Euclides Riquetti
06-04-2016



terça-feira, 24 de julho de 2018

Revisitando o Deus Negro (e os anos 70)

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Ponte do Arco - União da Vitória - PR


          Não sei o porquê de hoje ter-me voltado à década de 1970, uma das mais produtivas de minha vida. Mas algo me impeliu a retornar a ela e, por conseguinte, relembrar de como era a vida dos jovens. Eu queria estudar, fazer uma carreira, construir uma vida digna, ter confortos que não tive antes, "ser alguém". E então  lembrei-me de pessoas que me apoiaram, me ajudaram... e também dos que me jogavam na vala da "ninguenzada".

           Quanta coisa contabilizei naquela década: Fiz 18 anos, terminei o curso de Técnico em Contabilidade, passei no vestibular, mudei de cidade, de estado, de trabalho, badalei muito, namorei,  terminei meu curso de Letras/Inglês, casei-me, tirei carteira de motorista, comprei meu primeiro carro, fiz concurso para professor, fiz minha casa, tive duas filhas, gêmeas. Ah, e escrevi algumas poesias que acabei jogando no lixo. Como gostaria de reavê-las! Apenas duas salvei, porque foram publicadas num livro, em União da Vitória e me restaram "Tu" e "Uma Oração para Você", esta muito significativa, que compus no verdor de meus 20 anos...

          Naquela década,  usávamos cabelos compridos, calças boca-de-sino e mais adiante pantalonas, camisa xadrez ou com estampas florais,  meias vermelhas, perfume Lancaster ou Pretty Peach. E, quem conseguia obter,  calça Lee ou Levi´s importada, indigo-blue. Era bacana ter jaquetas Lee ou então verde-oliva, a cor do Exército Brasileiro. Comprávamos distintivos "US Army" ou "Marinner", que aplicávamos nos ombros das jaquetas,  e isso era marca de prestígio perante a galera. Alguns conseguiam umas camisetas de malha de algodão que tinham a inscrição: "University of Californy" ou "Columbus University". Isso significava sucesso garantido.

          E as mulheres? Bem, a maioria delas também usava roupas assim, unissex. E a minissaia dos anos 1960 e as saint tropez  acabaram  substiuídas  por shorts curtos, aquelas meias "cabaret" e botas de cano médio ou longo. E, a partir de 72,  aquela onda de, no inverno, usar blusa de tricô e meia da mesma lã e das mesmas cores.

          Nos cinemas Guiliano Gemma fazia o Ringo derreter os corações das mulheres e as múscas italianas e  francesas que vinham nos compactos simples ou duplos e nos long-pays imperavam nas rádios.  A onda "inglês" veio meio junto, com  "The Beatles" em seu rock.

          Mas a grande onda da década veio por conta de uma ofensiva da Igreja Católica no sentido de mobilizar as novas lideranças jovens e reanimar as já maduras para suas lides religiosas.  Começaram com o cursíhos, obra iniciada na Espanha bem antes do que no Brasil.  Nunca participei de um, mas muitos amigos meus fizeram parte de ações cursilhistas. Jovens que optaram por deixar o seminário passaram a atuar como professores ou engajando-se nas atividades da Igreja. Inteligentes e com boa formação,  eram bons exemplos a serem seguidos.

         Foi nessa época que o corumbaense que foi para São Paulo aos 16 anos, Neimar de Barros, deixou o trabalho de junto à TV do Sílvio Santos, onde dirigiu os programas "Cidade Contra Cidade" e "Boa Noite Cinderela" e converteu-se de ateu para Católico Apostólico Romano. Tornou-se escritor poeta e pensador,  e passou a ter forte liderança dento da Igraja Católica. Visitou mais de 4.000 comunidades religiosas e vendeu mais de 4 milhões de exemplares de seus mais de 10 livros que escreveu nas línguas portuguesa e espanhola.

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          Em 77, quando eu me iniciava efetivamente no Magistério Catarinense, na Comunidade de Duas Pontes, hoje município de Zortéa, em Santa Catarina, a moda  era ler "Deus Negro", de Neimar de Barros. Logo depois surgiram outros livros dele e o que mais chamava  atenção era "O Diabo é Cor-de-rosa". Todos liam, recomendavam, iam passando adiante a idologia, o pensamento do convertido autor. E, em seu rastro,  também vinha o Artur Miranda, que conheci lá na Casa Paroquial de Capinzal.
          Em 1986 Barros concedeu uma entrevista à Revista Veja que fez grandes estrondos nos meios religiosos brasileiros. Declarou que estava infiltrado na Igreja a serviço da maçonaria ( o que nunca foi comprovado, acho que foi invencionismo dele), que estava descobrindo os podres da mesma e disposto a revelá-los para o mundo. E declinou diversas "vergonhas" que estariam acontecendo nos meios eclesiásticos. A repercussão foi das piores.

         Eu tinha lido justamente os dois livros que mencionei, entrei na onda da época, era imaturo, não tinha propriedade sobre minha opinião ainda. Fiquei muito revoltado com ele e mesmo os comentários que li sobre ele, oriundos de seus admiradores internautas, não me fizeram mudar em relação ao péssimo conceito que formei a seu respeito. Acho que ele foi ou oportunista, ganhando muito dinheiro e se promovendo em cima da de nossa Fé, ou  um baita enganado,  que usou de meios pouco legítimos para atingir  seus nebulosos objetivos.

          Acho que de bom alguma coisa restou nessa história:  muitos jovens, na época, foram surgindo como lideranças nas cidades, alguns que se conheceram nesses encontros até constituíram família, tornaram-se importantes gestores públicos e privados, emprendedores, educadores. Enfim, essa geração teenager que tornou-se adulta  naquela década, deixou filhos com elevado nível de formação pessoal e intelectual que estão espalhados pelo Brasil e pelo mundo,  fazendo sua parte no contexto de nossa história.

          No ano passado, dia 06 de maio, bastante debilitado em função do Alzaimer de que estava acometido, Neimar de Barros veio a falecer. Sua morte passou em branco. Não pela doença, mas por ter sido rejeitado pelos eus fãs em razão da falta de coerência entre o que pregou e o que deixou de concreto como exemplo. Caiu no ostracismo e os brasileiros o esqueceram. Só lembram de seu nome os pré-idosos que viveram em seu tempo. Os outros, só conhecem o Neymar que joga no Santos, baita craque de bola!

Euclides Riquetti
27-02-2013

Para a felicidade, há receita?










Para a felicidade há receita?
Há alguma fórmula possível?
Por que é que você não tenta
Você e sua alma sensível?

Poderia ser seu belo sorriso
Ou um abraço terno também
Ponha seu olhar de paraíso
Em tudo o que nos faz  bem!

Misture um pouco do carinho
E de toda sua amabilidade
O amor que vem devagarinho
Que se transforma em saudade.

Coloque o doce de seus lábios
Acrescente seu jeitinho natural
Adicione os bons  presságios
E faça com seu encanto jovial.

Então, sorva tudo alegremente
Mas antes enfeite com flores
Sinta os aromas deliciosamente
De seu mundo de lindas cores!

Para a felicidade, amor e vida
E seu otimismo que contagia
A melhor receita redigida
É aquela que dá brilho ao dia!

Euclides Riquetti

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Preciso encontrar o sonho

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Preciso encontrar o sonho que não consegui sonhar
Aquele que desejei, mas não voltou na noite passada
E todos os outros antigos sonhos eu preciso resgatar
Todos os que eu sonhei ao longo de minha estrada.

Todos os sonhos bonitos eu os sonhei intensamente
Criei jardins onde coloquei você, jardins imaginários
Pintei-os com as cores mais lindas, pintei suavemente
Idealizei e coloquei você em todos os meus cenários.

Relembro com muito carinho dos sonhos e da realidade
Revivo cada momento em minha imaginação atiçada
Revivo beijos e abraços,  de tudo tenho muita saudade.

Relembro e quero a sonhar, ter sonhos simplesmente
Revivo porque quero sentir a emoção já vivenciada
Revivo porque quero sonhar, amar você eternamente!

(Bem assim...)

Euclides Riquetti
23-07-2018






domingo, 22 de julho de 2018

O dia em que minha vida virou ao avesso - 34 anos depois!

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Em pé: Valdomiro Correa, treinador; Zucco,
Altair Secchi, Ademir Rech, Euclides Riquetti
(eu mesmo...), Vicente Gramázzio, Malmir
(Mazzo) Padilha. Agachados: Domingos dos
Santos (Mingo Balbina), Valência de Souza,
Braguinha Ramos, Carmelino Nora e Sérgio
Scarton. Meus companheiros da época, eu
tinha 31 anos.


          O dia 22 de julho de 1984 me é inesquecível. Tinha tudo planejado: jogar bola, ir a uma festa, descansar para na segunda trabalhar. Levantei-me cedo, peguei a sacola com minhas chuteiras, despedi-me da família e fui para o Estádio do Arabutã. Era o dia mais frio do ano,  um domingo.  Tivéramos duas semanas de férias escolares e, no dia seguinte,  haveria o reinício das aulas. Queria aproveitar bem meu domingo. Depois do jogo, me encontraria com a família e amigos numa festa de batizado.

          Ali, ao lado do Estádio, havia uma sede recreativa onde seria realizada a festa do batizado da Aquidauana, uma bebezinha,  filha do compadre Neri Miqueloto e da Zenete. Fui o primeiro a chegar ao campo. Havia neblina e frio, muito frio. A promogênita deles, que atualmente cursa um doutorado nos Estados Unidos.

          Nove horas e já estávamos em campo. O treinador Valdomiro Correa deu-me a camisa branca com  mangas vermelhas, número 4,  jogaria como quarto zagueiro, fazendo dupla com o Fank.  Normalmente eu jogava com a 2, na lateral direita. Nesta atuou  o Mantovani, que era apelidado de "25". Era o mais maduro da turma. Na esquerda, o Mingo Balbina. Eu tinha 31 anos e estava em plena forma física. E me achava velho... Tinha ossos fortes, minha mãe sempre dizia que me deu muito cálcio quando criança. E eu achava que jamais pudesse machucar-me, era muito corajoso nas jogadas, não tinha medo de que algo me pudesse acontecer...

          Placar ainda em branco e nossos adversários fazendo pressão. Formávamos linha de impedimento, já tínhamos um ótimo entrosamento e sempre que jogávamos, nos  adiantávamos quando o adversário iria lançar a bola. Deixávamos os desavisados sempre impedidos. Nossa média de idade era bem acima da deles e tínhamos que dispor de nossa esperteza para enfrentá-los. E, num desses lances, quando saímos, um de nossos jogadores deu condição legal de jogo para os adversários. O Tita, de 16 anos, muito habilidoso e veloz, recebeu a bola e saí atrás dele. Quando ele entrou na grande área e ia fazer o gol, alcancei-o e dei toda a força possível para cortar a bola. Nesse instante, veio o goleiro, meu companheiro, num carrinho, e me atingiu. Foi um estouro. Disseram-me o Mafra, o Marcon e o Nito Miqueloto, meus companheiros, que pareceu um tiro de revólver 38. Senti que algo de muito ruim me havia acontecido. Eu não queria acreditar: O que iriam dizer meus familiares? Como iria dar aulas no dia seguinte?

         Meu colegas vieram acudir-me. Estavam apavorados. Olhei para minha perna direita e o pé estava desgovernado. A perna dobrou-se, apenas a pele mantinha o pé preso ao meu corpo. Uma fratura na Tíbia, duas no Perônio, e os ossos esfacelados. Uma senhora contusão! Tiraram minhas chuteiras, minhas meias. Uniformizados,  não conseguiam achar as chaves dos carros para levar-me ao hospital. Ficaram todos atrapalhados. Vi o Irineu Miqueloto (saudoso...), que viera de Ponta Grossa para o batizado de sua sobrinha, pedi para que me socorresse,  e ele, apavorado, no alambrado, procurava nos bolsos as chaves de seu carro, e nada! Até se esquecera de que não estava de carro lá.  Havia deixado o carro com a esposa e nem se lembrava disso.  Estavam todos desorientados...

          Enfim, os amigos Vilson Farias, atual Vice-prefeito de Capinzal, e o Alvanir Mafra, com o Fusca deste, resolveram que deveríamos ir de imediato para o hospital, no fusca. Colocaram-me no banco traseiro,  o Mafra dirigia e o Farias me dava apoio moral. Iríamos direto pra Joaçaba, onde haveria ortopedista no Hospital Santa Terezinha.

          Na estrada, eu olhava para o espelhinho retrovisor e via que estava pálido, meus cabelos molhados, o rosto muito suado. Não sentia dor, ainda, porque estava com o corpo muito quente, havia  corrido muito e por mais de meia hora. Não me conformava por aquilo estar acontecendo comigo...

          Em menos de meia, hora estávamos nas ruas centrais de Joaçaba, onde não haia asfalto ainda. Quando o carro trafegava sobre sobre os paralelepípedos do calçamento, os ossos pareciam espinhar os músculos e doía muito, muito. No Hospital Santa Teresinha, fui posto na numa maca, e o médico Dr. Marino, ortopedista, colocou uns saquinhos de areia nos lados da perna, imoilizando-a. Como que se  a mão de Deus tirasse a dor, senti-me aliviado. Veio o raio-x, o gesso, envolvendo toda a perna até a bacia. Não havia necessidade de cirurgia, graças a Deus. Apenas 90 dias no gesso. Levaram-me para casa. Eu estava chateado porque minha família não pudera participar da festa da Aquidauana. mas não sentida dores. Até que passou o efeito da anestesia,  quando passei por dores insuportáveis. Ligaram para o hospital e indicaram-me injeções para alviar a dor que um rapaz, meu aluno, o Neodir Zanini, veio aplicar, junto com o pai dele, o Nadir.jovem, trabalhava na Farmácia São Pedro.  A dor  ia e voltava...

         À noite, demorei para dormir. Depois sonhei. Sonhei que estava numa bela tarde de sol, lá no mesmo campo, jogando futebol, mas na lateral esquerda, com a camisa 6. Jogando contra o Clube 4 S de Linha Sul, marcando o Joãozinho Baretta, um primo. Ele estava de camisa verde e eu marcando-o.
Muitos dias com dores, passei os primeiros vendo na TV as Olimpíadas de Los Ângeles, torcendo pelo Brasil, em especial pelo goleiro Gilmar Rinaldi, que defendeu até pênaltis. E nos deu a Medalha de Prata. O Gilmar foi nosso compnheiro de bola no campinho, ali no Ouro, quando vinha passar as férias na casa de sua irmã, a Matilde, que era nossa inquilina. Jogava no Inter, depois jogou no São Paulo, na Udinese, num clube do Japão e no Flamengo.

          Seis meses depois, estava eu de volta aos campos. Mudei meu jeito de jogar, mais cauteloso, usando menos a força e mais a inteligência. Percebi que nosso corpo tem limites, esta foi minha lição. E consegui correr atrás da bola por mais 25 anos, apenas com 3 meses de interrupção em 98, quando estourei menisco e ligamentos, pondo até parafuso de titânio no joelho esquerdo, que está ali até hoje. Estou até pensando em voltar a jogar,  agora na Primavera...

          Realmente,  aquele domingo, 22 de julho de 1984, meu mundo ficou de pernas pro ar. Mas sobrevivi!

Euclides Riquettii
Escrito em 22-07-2013, reeditado em 22-07-2018