Em 15 de
novembro de 1988 fui eleito Prefeito Municipal em Ouro, aos 35 anos. Fiz 57%
dos votos válidos. Gastei duas semanas de meu primeiro ordenado para pagar toda
a campanha. Com adversário, sem ser em eleição com candidato único, fui o mais
jovem eleito prefeito daquele Município. Eleito no ano de promulgação da
Constituição Cidadã, fizemos parte da transição para uma nova edição desta,
devidamente aprovada e sancionada. Ainda, a Constituição Estadual e a Lei
Orgânica do Município. Uma grande mudança na vida dos cidadãos, em todos os
níveis.
Um deputado me
dizia: “Vocês vão ter muito dinheiro para administrar!” Só não falou que
iriamos receber muitos encargos que antes eram de competência dos governos
estadual e federal. Principalmente na Educação e na Saúde. Para quem gosta do
Poder, de dominar pessoas e orçamentos, maravilha! Mas para quem gosta de
situações de normalidade, uma fardo. Porém, quem se candidata e é eleito, não
adianta reclamar nem choramingar. Tem que mostrar capacidade de gestão, de
liderança, de articulação.
Tive, oito anos
antes de o início de minha gestão, a experiência de atuar como “secretário do
prefeito”, único. Era nomeado como Diretor da Divisão Administrativa. Tinha
muitas responsabilidades e adicionei a minha experiência como gerente de filial
de concessionária de caminhões e administrador de empresa industrial, num
universo de 550 funcionários, algo muito forte para a década de 1970. Professor
em escolas particulares e estaduais, muita experiência em lidar com o ser
humano.
Trabalhando
desde criança, na roça, em engenho de cana e em alambique, na adolescência fui
balconista de armazém, lavador e lubrificador de veículos, ajudante de
açougueiro, servente de pedreiro, auxiliar de lavanderia, e outras coisinhas
mais. Não perdi nenhum pedaço de mim...Listar aqui as entidades que dirigi
antes de ser eleito prefeito soaria como prepotência.
Nas eleições
municiais de 1988, na microrregião da Ammoc, tivemos grande mudança na
política. Figuras tradicionais, as velhas raposas, deram lugar a uma outra
geração de políticos. O mesmo aconteceu com as câmaras de vereadores. Posso
classificar nossa geração de prefeitos em degraus. No primeiro, os mais jovens,
em idades entre 34 e 36 anos: Euclides Riquetti (PDS) , em Ouro; Ari Ferrari
(MDB), em Ibicaré; Euclides Miazzi (MDB), em Lacerdópolis; Rudi Ohlwailer
(PDS), Treze Tílias; Noveli Sganzerla (MDB), em Água Doce. Depois, um degrau
acima (em idade): Nelson Primo (MDB), Herval d´Oeste; Saul Leovegildo de Souza
(PDS), Catanduvas; Faustino Panceri (PDS), Tangará; Ozires Randon (PFL),
Pinheiro Preto. Um terceiro time, com Raul Furlan (MDB), Joaçaba; Agenor
Piovezan (MDB), Erval Velho; Iirineu Maestri (MDB), Capinzal. Um ano depois, em Abdon Batista, elegeu-se
Santin Palavro Júnior, pelo MDB.
Administrar
há quase quatro décadas, e hoje, tem diferença? – Tem e não tem! – Em nossa
época, um prefeito precisava ter a sorte de pertencer ao partido do Governador.
As verbas eram garantidas, os deputados da base governista traziam recursos. Os
dois primeiros anos, com Pedro Ivo Campos e Casildo Maldaner (MDB). Dos dois
subsequentes, com Vilson Kleinubing (PFL). Em Brasília, José Sarney (MDB), que
seus companheiros diziam “O povo não esquece, Sarney é PDS!”. Depois Fernando
Collor e Itamar Franco. Os deputados federais e senadores não tinham os
privilégios que os atuais têm. Mas, as tetas da viúva davam muito pouco leite!
Os prefeitos se
viravam como podiam. O dinheiro era mais curto, mas não havia tantos
compromissos com a Educação e a Saúde, nem com o social. Havia quem comprasse
caminhão caçamba com dinheiro da Educação e quem construísse os ginásios de
esportes com recursos daquela pasta. Caminhão com caçamba para transportar
merenda escolar, ponte para os alunos chegarem até as escolas, etc, etc...
Agora, os
compromissos são maiores, as despesas aumentaram, mas o dinheiro também.
Administrar uma cidade é fácil, pois o dinheiro entra nos cofres públicos, mais
facilmente do que entra nas empresas.
Euclides Riquetti – Escritor – www.blogdoriquetti.blogspot.com
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