sábado, 31 de março de 2018

Caem lágrimas do céu


Resultado de imagem para imagens céu escuro em Joaçaba sc

Caem lágrimas do céu e dos olhos meus
Pois eu choro a dor de meu maior lamento
O choro de meu indisfarçável sofrimento
Choram os crédulos, os crentes e os ateus...

Choram os anjos, como choram os arcanjos
Das divas e sereias, das virgens os gemidos
E assim choram as águias os seus prantos
Lamentam as gaivotas pelo voo perdido...

Cobrem o céu as nuvens densas e escuras
Os raios de sol se acanharam e fugiram
Prometem mais águas vindo das alturas...

E eu me perco nas lembranças, eu reflito
Já não seco minhas lágrimas que sumiram
Olho pro céu enegrecido e apenas medito...

Euclides Riquetti
31-03-2018






Chuvas de outono


Resultado de imagem para imagens homem na chuva

Caem, no meu Outono, chuvas torrenciais
Molham a terra e verdejam as paisagens
Protegem-se, as pessoas, dos ventos fatais
Que fazem tombar plantas e pastagens.

Esconde-se, o passaredo sob folhas planas
Buscam ocos nos troncos os animaizinhos
E nas velhas árvores frondosas e soberanas
Agazalham-se os sabiás e os passarinhos.

Espantam as chuvas as pessoas das praias
Afugentam os homens que aram os campos
Já não correm os cavalos zainos nas raias
O balido das ovelhas assemelha-se a prantos.

Riem, os idosos, do medo dos meninos
Não se abalam com fenômenos conhecidos
Não temem as intempéries e os desatinos
As marcas da vida os deixaram fortalecidos.

Enquanto isso, penso nos anos que se vão
Penso em você e nas tormentas da sua vida
Rezo a Deus para que lhe dê Sua proteção
Mas chora a minha alma débil e sofrida...

Euclides Riquetti
31-03-2018













sexta-feira, 30 de março de 2018

Não quero que me abraces

Resultado de imagem para fotos abraço apaixonado




Não quero que me abraces se não quiseres
Quero apenas que me queiras se quiseres
Não quero que me beijes se não desejares
Quero apenas que me desejes se desejares.

Não sou perfeito em minhas perfeições
Tampouco imperfeito nas imperfeições
Não sou o certo que foi convencionado
Tampouco sou incerto para  ser acertado.

Não sou como uma água que contamina
Nem um veneno que te possa contagiar
Beber de mim não é o que se determina.

E, nas minhas perfeições e imperfeições
E em todos os teus quereres e no desejar
Apenas perguntas, apenas interrogações.

Euclides Riquetti

Primeiros Dias de Outono


Resultado de imagem para imagens outono faxinal do céu
Foto de Edno Pilonetto - Faxinal do Céu - Pinhão - PR


O outono nos trouxe suas primeiras manhãs
Acanhadas, tímidas, ventosas
Levemente chuvosas
Mas também manhãs.

E nos trouxe as tardes amenas
As nuvens claras e cautelosas
Quietinhas , dengosas...
Apenas nuvens, nuvens apenas...

O outono nos traz lembranças
Das pessoinhas  agasalhadas
Luvas nas mãos, jaquetinhas bordadas:
Adoráveis e belas crianças.

O outono nos leva ao passado
Aos momentos mais sentidos
Aos abraços mais comovidos
Recebidos e dados: lembrados!

Ah, outono, quantas e quantas saudades...

Euclides Riquetti

No silêncio da madrugada

Resultado de imagem para fotos quarto casal à noite


Acordo na madrugada, num repente
Apenas a música do silêncio e da magia...
Não há mais barulhos, foi-se a gente
Na fresca madrugada, calma e silente
Apenas uma leve nostalgia!

Na madrugada do lençol macio, da cama quente
Um frágil pulsar de corações
Nos corpos que se encostam levemente
Quando  amantes  se perdem sutilmente
E brotam mil amores, mil paixões.

É no silêncio da madrugada que eu escuto seu coração
Não sei  de onde, mas manda-me sua música contagiante
De seu pulsar harmônico embebido de paixão.

É na madrugada que meu pensamento move-se no ar
E vai em busca  de seus olhos cativantes
Vai em busca de encontrar seu belo olhar...

Euclides Riquetti

Vagam, na noite, pensamentos mundanos

Resultado de imagem para imagens coRAção em noite escurA



Vagam pensamentos na noite escura
Levam meus pecados até o seu coração
Vagam nas ondas da imaginação.
Sobrepõem-se às  turbulências, pedras e agruras
Vão buscar alento na imensidão.

Vagam meus pensamentos que se misturam aos seus
Levam-lhe os desejos que excitam minha  mente
Vagam sem amarras, abertamente
Levam aos seus lábios os beijos que são meus
Vão dizer a você o que minha alma sente.

Pensamentos entendem códigos indecifráveis
Têm a liberdade que o corpo não tem
E criam cenários inimagináveis.

Pensamentos, ah, pensamentos mundanos
Vaguem libertos até encontrarem meu bem
Alguém que possa entender meus sentimentos profanos.

Euclides Riquetti

quinta-feira, 29 de março de 2018

Atire, em mim, a sua primeira pedra!

Resultado de imagem para imagens mulher diabo


Atire, em mim, sua primeira pedra
Alveje-me com toda a força de sua raiva
Com todo o ódio que sua alma encerra
Com a turbulência de sua mente sem alma...

Fale-me com a força de sua eloquência
Expulse-me de sua mente com furor
Jogue-me na lama com sua insolência
Atire em mim sua frustração e seu rancor...

Ataque-me nas ondas do mar revoltoso
Alimente minha sede com a água salgada
Queime-me com o sol quente e fogoso
Que agride minha pele sofrida e desgastada...

Faça de mim o alvo de suas agressões, mas
Cuide para que os papéis não se invertam
Pois só quem semeia o bem colhe a paz
Só com luz e amor os anjos se contentam!


Euclides Riquetti
29-03-2018


Nas areias macias

Resultado de imagem para imagens crianças fazendo castelos areia praia


Brincam, as crianças, nas areias macias
Correm atrás de bolas multicoloridas
Jogam-se nas águas espumosas, frias
Mergulham gaivotas buscando  comida.

O vento fresco borda desenhos criativos
Os pés desnudos repisam nos castelos
Erigidos pelas mãos ágeis das meninas
Areia e água trazida no balde amarelo.

Descreve o poeta a cena do amanhecer
O camelô a oferecer as cangas e saias
A confeiteira acena com doces de prazer
Passam os namorados felizes pela praia.

O camelô vende óculos, bonés e viseiras
Vende sanduíches, churros ou cocadas
Tem batida deliciosa, caipira brasileira
Cuias pra chima habilmente torneadas.

Passam vendendo milhos e pamonhas
Pulseiras do mais bonito artesanato
Bolsas, mantas,  e roupas medonhas
Badulaques e muitos outros artefatos.

Assim é nossa praia bela e hospitaleira
Um pedaço de céu, areia e muito mar
Água que atrai, nossa bela Canasvieiras
Lugar de viver, tomar sol, rir e nadar!

Euclides Riquetti
29-03-2018










quarta-feira, 28 de março de 2018

Nossas escolhas

Resultado de imagem para imagens caminho bifurcado

Todo o ser detém o poder do livre arbítrio
E, por ele, pode fazer suas escolhas
Pode amparar-se em sólido edifício
Ou agarrar-se à fragilidade das folhas.

Por escolhas erradas, poderá se arrepender
Pelas retilíneas, haverá o bem-usufruir
Mas tudo isso dependerá de cada ser:
De como se entregar ou de como reagir.

Se as escolhas equilibrarem razão com paixão
Se encontrará o ponto de serenidade
Não se maltratará um frágil coração.

Mas, se as escolhas se assentarem na ilusão
No sonho fútil, distante da realidade
Se terá que arcar com a dor da decepção.

Euclides Riquetti
28-03-2018




Uma musa que me sorri...


Resultado de imagem para fotos mulher olhando para o mar


Dize-me, mulher dos cabelos escuros  e dos lábios rosados
Azul é o mar que tu contemplas com teus olhos castanhos
Da beleza exótica,  dos teus seios nus e braços  esculturados
Alma encantadora  e sorriso leve  que não me são estranhos
Ideal de forma sutil,  personagem  de meus devaneios sonhados
Vais com teus pés na areia enfrentar a fúria dos ventos tacanhos.

Esta mulher, quem é, de onde vem, o que faz ali no mar ?
Rainha do sol que bronzeia, que doura a pele fresca e macia
Algo assim, indescritível, a perturbar meu coração e meu pensar
Igual a uma sereia, que me faz mergulhar na nostalgia?

Num átimo de êxtase, num momento de doce frenesi
Te entregas ao balanço das ondas, ao cenário de azul infinito
Divinamente enudecida, desejada, uma musa que me sorri
Arte projetada na imaginação do poeta, do pintor magnífico
Ponte entre o céu e a terra, paixão de lá, paixão que sinto aqui...

Euclides Riquetti

terça-feira, 27 de março de 2018

O Zé da Barraquinha (De Capinzal)

Resultado de imagem para fotos grampos de cabelos



          O Zé da Barraquinha era um sujeito muito simpático. Tinha uma... barraquinha!

          O seu Zé estava instalado com seu comércio ali em anexo ao Hotel Imperial, da Dona Clementina  Goelzer. Ele tinha um jeito meio diferenciado de falar, tinha um sotaque peculiar. Como nunca soube o seu sobrenome, também nunca conectei isso bem, não pude saber qual  sua origem.  Não sei se era germânica, mas possivelmente que sim. Tinha jeito de alemão! Na época, íamos lá comprar canetas, cadernos, revólveres de brinquedo e bolicas de vidro.  Mas essas coisas também vendiam na Livraria Central, do Alfredo Casagrande.

          Se uma senhora precisasse de um diadema para segurar os cabelos, encontrava lá no Zé. Lembro que minha prima,  Salete Baretta,  adorava diademas. Para segurar seus belos e bem tratados cabelos escuros. Aliás, foi ela que me disse, um dia, que os  lavava com shampoo. Shampoo tinha para vender na farmácia.  O Palmolive era o melhor. Nem sei se havia algum outro... Na barraquinha não vendiam shampoo, mas vendiam aqueles espelhos que em todas as varandas de casas e nos banheiros tinha, os com a moldura alaranjada. Nossos italianos chamavam aquilo de "soada", não sei  por quê. Ainda vou descobrir... E foi assim que eu aprendi que as mulheres já estavam usando shampoo, uma maravilha tcnológica para dar mais brilho e leveza aos cabelos.

          Tinha até uma propaganda na TV nas décadas  de 1960 e 70: "Você está vendo minha voz? -Continua a mesma. Mas meus cabelos... quanta diferença!"

          O seu Zé da Barraquinha era muito atencioso e educado. Uma vez uma Senhora me pediu para ir lá comprar-lhe  uns grampos para cabelos. Foi lá por 1966. O Zé me disse: "Crampos, só loiros." É que ele vendia uns grampos de cor dourada, uma inovação para a estética. Mais uma revolução. Mas a senhora me fez levá-los de volta porque ela  era conservadora. Queria os pretos. Estes, sim, combinavam com a cor de seu cabelo.

          O Djair Pecinatto, que era meu colega de Colégio e amigo do Zé, fazia uma brincadeiras, imitava-o. Eles tinham sua loja de calçados defronte à Barraquinha, ali onde é a Churrascaria Riquetti, dos meus primos. Quando o Pecinatto foi embora pra Lages, o Gabriel Casagrande, que veio de Piratuba, montou ali uma loja. Comprou o estoque e colocou sapatos bem bonitos. Tinha aqueles com "couro de cobra" e os com "couro de crocodilo", tudo coisa artificial. E meias vermelhas, que estiveram no auge da moda na virada de década. Até eu tive um par delas.

          Pois o Zé sumiu de Capinzal. E ninguém nuca mais o viu. Você, litor (a) deve estar-se perguntando por que o Zé vendeu a sua barraquinha para o Arlindo Henrique e foi embora. Pois eu acho que ele queria mudar de cidade. Penso que as pessoas devam ter ficado com saudades dele. Era simpaticíssimo. Depois da hora e nos domingos, costumava estar ali na Rua XV, normalmente em  frente ao Sanalma. Pegava, no máximo, um cinema à noie.

          Mas, como o mundo é mesmo cheio de surpresas, eis que, em meados da década de 1990, eu estava em São Miguel D´Oeste visitando meu cunhado Nei. Passamos perto  da Estação Rodoviária e o Nei perguntou-me: "Conhece aquele cara lá? Ele era de Capinzal, tem uma barraquinha aqui! Fui lá. Era o nosso Zé da Barraquinha. Conversamos, relembramos coisas alegremente. Você também deve ter conhecido o Zé. Ele continua lá, com os seus óculos, sua bondade, sua simpatia. Se não conheceu, sabe agora que ele existiu. E não foi uma página em, branco em minha vida. Tomara que ainda esteja bem. Ah, em tempo: Ele ainda vendia "crampos loiros".

Euclides Riquetti
13-03-2013

Além de ti há o mar...

Resultado de imagem para fotos mar de ingleses



Além de ti há o mar
Uma imensidão azul que te desafia
Um sol que te agride com ousadia
E que tu não o podes enfrentar.

Além de ti há o mar
Majestoso, atrevido e valente
Misterioso, voraz e imponente
E  que tu não o podes dobrar.

Além de ti há o mar
Cujas águas voláteis te cortejam
Como meus olhos que te devoram e desejam
E que te quer para te embalar.

O mar, apenas o mar...
O mar de milhões de anos
Que lava teus medos e teus enganos
E que alimenta teu sonhar.

O mar, simplesmente um mar
A te fazer pensar
A sentir saudades
De eu querer te amar...

Apenas te amar!

Euclides Riquetti

segunda-feira, 26 de março de 2018

Os buracos da Rodovia SC 135

Resultado de imagem para fotos placas rodovia sc 135 lacerdópolis


Imagem ilustrativa

       Na semana que passou, alguns sítios de notícias deram conta de que uma mulher teve sua viagem de Capinzal a Joaçaba interrompida por seu veículo ter dois pneus estourados num buraco da pista da Rodovia SC 135, antiga SC 303. A notícia não me surpreendeu, pois durante o mês de março me dirigi uma dezena de vezes a Ouro, para cumprir compromissos pessoais, e vim observando a precária situação da “Estrada da Amizade”, construída na primeira metade da década de 1970, quando o Estado de Santa Catarina seguia o slogan “Governar é encurtar distâncias”, a marca do Governo de Antônio Carlos Konder Reis. Quatro décadas depois, a rodovia foi “revitalizada”. Agora, pede socorro de novo!

       Conheci o projeto de reforma, o qual comportava pelo menos 18 Km de faixa adicional na extensão de 29 Km entre Ouro e Joaçaba. Ao final, apenas no percurso que cobre parte do território do município de Lacerdópolis recebeu a ”terceira pista”, metade do que fora projetado. Também haveria o assentamento de telas nas laterais da estrada, de forma que a fauna somente pudesse deslocar-se de um lado para outro da rodovia passando por bueiros ou galerias de passagem de águas, evitando a morte de animais. Também isso foi abortado, para a redução de custos...

       Há quase duas décadas atrás, o empresário Benoni Viel, máster do Grupo Auto Elite, que tem sede em Capinzal, cobrava das lideranças políticas a recuperação daquela SC. Ele visitava ou ligava às lideranças e cobrava atitude proativa. A obra foi feita e, agora, começa a se deteriorar. Em diversos pontos, quando ocorrem chuvas como as dos últimos dias, voltam a aparecer os buracos. E é bem visível que muitos outros surgirão, basta ver as condições do leito da estrada. Ainda, em algumas curvas, a vegetação adulta, que deveria ser suprimida, atrapalha a visão dos condutores de veículos, gerando insegurança. Tirando-se algumas manifestações de alguns radialistas aqui de Joaçaba, que recebem reclamações de usuários daquela via, nada mais! Não se vê nenhuma preocupação das lideranças políticas e  empresariais  do Baixo Vale do Rio do Peixe no sentido de alertar as autoridades estaduais de que, com a deterioração, o custo para recuperação será bem maior. Um trabalho bem feito, agora, resultaria em economia adiante. Mas, em último ano de Governo, dificilmente veremos alguma iniciativa nesse sentido.

       Enquanto isso, o assassinato de uma vereadora e seu motorista, no Rio de Janeiro, cidade onde “tudo pode acontecer”, está tendo a maior repercussão possível. Lamento pela vida dos dois e de milhares de outras pessoas que são barbaramente assassinadas anualmente no Brasil, e que têm como efeito apenas “engordar” as estatísticas da violência urbana nas grandes cidades.

Euclides Riquetti – Escritor – Membro da ALB/SC

Eu quisera ser...

Resultado de imagem para imagem beija-flor


Eu quisera ser
Aquele que te encanta
Que te faz tremer...
Enquanto cantas.

Eu quisera ser
Como o beija-flor
Que no alvorecer
Te beija com amor...

Eu quisera ser
Como o sol brilhante
Que te leva a ter
Calafrios a todo o instante...

Eu quisera ser
A canção que tu cantas
E poder te dizer
O quanto me encantas...

Eu quisera ser
Um poeta terno
E poder merecer
Teu amor eterno...

Eu quisera ser
O grande inspirador
E poder te dizer
Que sou teu único amor!

Euclides Riquetti

O Telhado da Garagem do Laurindo

Resultado de imagem para imagens escola sílvio santos ouro sc

Escola Prefeito Sílvio Santos - Ouro - SC
AA garagem do Laurindo situava-se entre
a casa amarela, aos fundos, e o após o prédio
escolar.  




          Dizem que cada um precisa cuidar de seu telhado. Do meu telhado capilar, de que eu tanto gostava, cuidei muito. Mesmo assim o ventou o levou. Jogar pedras no telhado dos outros é fácil, mas é preciso cuidar do próprio telhado. Porém, onde há um telhado, tudo pode acontecer. Por sobre eles, passam pássaros e aviões.  Por debaixo deles, confidências, conflitos, intimidades...   Mas, quando passam através deles, o que pode acontecer?

         Telhados são todos telhados. De chapas de cimento amianto, de madeira, de peças de cerâmica, de concreto, de telhas de barro brasileiras, francesas, romanas. Ou de palha, fibras, latões, alumínio, zinco. Ou de vidro... Ah, esses são os mais vulneráveis...

          O Laurindo Biarzi foi caminhoneiro da Comercial Baretta desde a década d 1960, quiçá 50. Trabalhou com os caminhões da empresa do seu Severino, mas que as pessoas chamavam de Silvério. Era primo de meu avô Victório Baretta. O último caminhão era um daqueles Mercedes-Benz LP331, um brutamontes de caminhão para a época, trucado. Viajava para São Paulo. Asfalto, só depois de Curitibanos. Antes, só estrada de chão batido, com pouco cascalho. Em dias de chuva, correntes nos pneus traseiros.

          Já em 1970 ele trabalhava com uma carreta dois eixos, Scania-vabis 75, cor laranja, tanque tansportador de combustível do Posto Esso, dos Irmãos Dambrós. Ia a Porto Alegre, levando tábuas de pinho sobre o tanque. (Hoje isso é probido).  Retornava trazendo combustível: gasolina e óleo diesel. Para o Posto Ipiranga, com uma carretinha cor marfim, de apenas  um eixo, MB 1313, do Sr. João Flâmia,  fazia o mesmo o Valêncio José de Souza, liderança incontestável dos tempos autuais em Capinzal, empresário premiado.

          Nossa personagem,  Laurindo,  tinha um jipe Willys 54, verde-garrafa metálico, uma verdadeira relíquia. Ia às festas na colônia do Ouro, com a esposa. Sempre estava presente. Até faixa branca tinha nos pneus. Cuidava muito do jipe! Na maturidade, desfez-se do jipe, aposentou-se e comprou um automóvel. Tinha a garagem entre sua casa e a Escola Prefeito Sílvio Santos, onde eu lecionei até 2008.

        Mas foi lá pelo  início do novo milênio que nossos alunos estavam muito "impossíveis". Gostavam de  fugir da aula. Que novidade!!! Para eles, era um desafio enganar direção e professores. Acho que não era tanto por fugirem mas por sentirem o gosto de nos terem enganado...

         Pois bem, uma noite combinamos de que os professores iriam perfilar-se ao longo do muro para ver quem iria fugir. Era uma quarta-feira, dia de balada. E tivemos que rir muito: três  meninas levaram uma cadeira e duas conseguiram pular o muro. A mais "fofinha" não conseguiu e teve que voltar. Estava difícil  fazer o corpo ir para o lado da rua. Ela sentiu-se injuriada...  (Lembrei-me de uma vez em que fugi da aula de Inglês do Professor João Bronze e esqueci o guarda-chuva na sala. Tive que voltar, pedir dsculpas e ficar até o final da aula. Como é que eu iria explicar em casa que havia perdido o guarda-chuva? Em 1968 um bom deles custava uma baita  nota...)

          E os meninos? Bem, os pequenos varões foram para o  muro lateral, subiram, foram  sobre o telhado da garagem do Laurindo e... caíram dentro da garagem. Foi-se o telhado! Foi um escândalo.

          Houve pânico e preocupação na casa do homem. Telefonou para o 190, veio a Polícia que estava em ronda ali próximo e focou a lanterna na cara deles. Foi um desespero. Não sei se ficaram assim porque quebraram o telhado ou porque nós os vimos e os colegas zoavam deles.

          Serenados os ânimos, veio a negociação. Prometeram que pagariam o estrago. E o Laurindo, gente boa, estava a fim de aceitar. A esposa, não! Dizia ela: "Olha, velho, você sempre confiou nos outros e sempre levou na cabeça. Não tem acordo. Eles pagam o estrago e vão embora.  Se não, vão pra cadeia!"
          E os meninos, todos filhos de amigos e conhecidos do Laurindo?! E o Laurindo,  na dúvida: "Se deixar irem, a mulher briga comigo. Se não deixar, não confiar neles, como é que vai ficar sua situação perante os pais deles, seus amigos?"

          Somente depois de muito diálogo, algum choro, (muito choro falso), convenceram  a esposa dele a  liberá-los, sem cadeia, sem delegacia.  Dias depois, lá estava o Laurindo reclamando na escola que quebraram o telhado da garagem, até o carro ficou riscado na lata e ninguém pagou nada...

          Não sei bem qual foi o desfecho, mas os anos de exercício do magistério me fizeram presenciar muitas histórias desse tipo. E, hoje, quando encontro meus ex-alunos na rua, quanta alegria, quantas boas lembranças daqueles velhos e saudosos tempos! Ah, se os problemas do mundo fossem tão simples assim...

Euclides Riquetti
20-02-2013


domingo, 25 de março de 2018

Eu quisera que não chovesse

Resultado de imagem para imagens chuva


Eu quisera que não chovesse
Na manhã nublada de domingo
Pois eu queria que escolhesses
Andar de mãos dadas comigo...

Eu quisera que a chuva parasse
Para podermos andar por aí
E que o tempo hoje limpasse
Enquanto fico a esperar por ti...

Eu quisera pouco, muito pouco
Porque com pouco me contento
Não precisa ser algo muito louco
Pode ser algo lento, muito lento!

O que importa mesmo é ter paixão
É ter amor sadio, equilibrado
Tudo com calma, com moderação
Namoro simples, mas apaixonado!

Mas, se continuar a chuva agora
Chuva contínua, com intensidade
Não haverá como sair lá fora
Não há como andar pela cidade!

Porém, se aparecer uma proposta
Aceitá-la-ei com todo o prazer
Tens meu beijo como resposta
Então agora é só parar de chover!

Euclides Riquetti
25-03-2018

















O Tchule, o Urco e o Mário Ferro - personagens de minha cidade!


Resultado de imagem para fotos arabutã fc estádio
Escudo de nosso Arabutã FC - no qual joguei
futebol com o Tchule e o Urco - O Mário fazia
a manutenção geral do gramado do estádio,
localizado na Baixada Rubra - em Ouro - SC


          No dia em que os brasileiros comemoram o Dia Nacional da Consciência Negra,  minha mente se voltou para alguns amigos com quem convivi e que, ao partirem, me deixaram com muitas saudades. São pessoas que marcaram época em Capínzal e Ouro  pela sua maneira de ser e posso até arriscar a classificá-los como figuras folclóricas: O José dos Anjos, conhecido como Tchule; Vivaldino dos Santos, o Urco; e Mário Borges da Rosa, o Ferro.

          De comum com eles, em alguma época de minha vida vesti a camisa do nosso glorioso  Arabutã FC. Os dois primeiros como jogadores e o último como um aficcionado pelo Rubro da Baixada.

          Conheci o Tchule ainda na infância, tinha um irmão, o Jânio, que chamávamos de "Chefo". O pai deles chegou a aposentar-se como funcionário da Prefeitura de Ouro. O Tchule era uma figuraça. Quando ria, seus dentes brancos eram bem realçados em sua tez morena. Muito simpático, inteligente, habilidoso com os pés, no futebol, e com as mãos e braços no repicar  das baquetas em sua bateria no tempo de "Os Fraudsom". Gostava muito de samba, era muito fera. Trabalhei com ele no Posto Texaco, ali no Ouro, da Família Dambrós. Éramos lavadores e lubrificadores de carros e caminhões. Trabalhávamos muito.

          Jogava no Arabutã, era zagueiro central habilidoso, mas sabia jogar nas outras posições. Quando voltei de União da Vitória e fui morar em Zortéa ele apareceu por lá, no tempo em que estive fora havia jogado no Grêmio Lírio. Na mesma época, a notícia de que foi acometido por uma hepatite que, mal curada, levou-o para o mundo dos mortos. Até hoje guardo seu sorriso bonito e sua maneira educada de resolver as coisas. Uma vez emprestei-lhe minha jaqueta branca e ele me emprestou um de cor gelo, ainda quando lavávamos carros. Era a maneira que tínhamos para ir aos bailinhos...

          Com o Urco, jogamos bola nos veteranos do Arabutã. Além de lateral esquerdo vigoroso, era um bom marcador. Às vezes atuava na zaga. Era também árbitro da Liga e trabalhava no Serviço de Inspeção  Federal na Perdigão, junto com o Bisteca, o Cheiroso e o  Kojak.  Levou azar o amigo, pois foi acometido de Leucemia. Fez transplante de medula óssea em Santa Maria, RS, mas com o tempo a mesma voltou e ceifou-lhe a vida, deixando os filhos, que foram meus alunos na Escola  Sílvio Santos.

          O Mário Ferro foi uma das figuras mais folclóricas que conheci. Só usava camisa de vermnelho encarnado, do Arabutã. Na falta de uma, podia ser do Internacional. Trabalhou na conservação do Estádio do Arabutã, era muito caprichoso. Mesmo depois de sair de lá, defendia o clube e o patriomônio como se dele fossem. Aos domingos, ia a pé pela rua de asfalto, meio cambaleando, e chegava ao campo, ficava torcendo de pé, junto ao alambrado. Mesmo não estando perfeitamente sóbrio, sabia tudo o que se passava no gramado. Reclamava do juiz, lamentava as derrotas e invadia o campo após as vitórias.

          Muitas vezes, no frio do inverno, de madrugada, batia lá em casa. Não queria nada, não entrava, só queria me comprimentar. E perguntava: "Ondé que tão as geminha? Tão durmindo? E a zoinho preto?" Eu ficava um bom tempo lá com ele e ele pegava seu chapéu de aba larga e ia embora. A vizinhança gostava dele, as crianças gostavam dele. De vez em quando filava uma prato de comida na Dona Ézide Miqueloto e depois de brincar com as crianças, a Caroline, a Michele, o Fabrício, o Maxuel, o Felipe, o Júnior, a Evelyn, a Aquidauana e o Thiago,  se mandava. na rua, ia abanando pra todo mundo, conhecia todos e todos o conheciam.  Gostava de ir ao sítio do Nízio Dal Pivo, no Pinheiro do Meio, onde era bem tratado e até ajudava a fazer cachaça no alambique. Viveu a maior parte de sua vida sozinho e, quando foi a Joinville ver uma filha, ficou por lá e morreu. Acho que perdeu seu habitat natural...

          Três pessoas boas, simples, que muito marcaram a vida de muita gente. Que angariaram a simpatia nossa e das pessoas que os conheceram. Então, no Dia Nacional da Consciência Negra, quero homenageá-los, bem como a todos nossos irmãos afrodescendentes. Estejam com Deus, Tchule, Urco e Ferro!

Euclides Riquetti
21-11-2013