sábado, 16 de março de 2013

É preciso dizer... (E é preciso assustar-se!...)

          O tempo passa e muitas situações que não desejamos que nos voltem acabam voltando-nos. Em 23 de fevereiro de 2011, ou seja, há pouco mais de dois anos, tive publicado, na coluna do Ademir Belotto, do Jornal A Semana, de Capinzal/Ouro, um texto em que propunha uma reflexão sobre comportamento ambiental. É um comportamento que relaciona o Homem e a Natureza. Depois disso, várias tragédias já aconteceram. E elas nos mostram que práticas da vida diária das pessoas, em todos os lugares, ocasionam desastres que poderiam ser evitados ou amenizados. Lembro que em 1983, no mês de julho, as enchentes dos Rios do Peixe, Iguaçu e Itajaí assombraram os três vales, causando vítimas e ocasionando prejuízos. E muitos traumas.  A ocupação das cidades em  suas margens,  com muitas edificações e pavimentações das vias,  vem impermeabilizando o solo das mesmas e isso é muito preocupante.   Assim, estou republicando a matéria, pois acho que ela se universaliza ao ponto de eventos adeversos se repetirem: Aí está, na íntegra:

          "Vivemos em cidades charmosas, colonizadas por descendentes de italianos ou germânicos, com declives e aclives acentuados, numa topografia altamente irregular. É assim nosso Vale do Rio do Peixe. Matas exuberantes cobrem os morros e formam os cílios dos riachos e de nosso majestoso rio, outrora piscoso, cujas águas já foram muito cristalinas, depois tornaram-se turvas (e turbulentas).

         Ouro e Capinzal não fogem à regra. São belas e prósperas. Por aqui já aconteceu "de tudo", coisas boas e muitas barbaridades. São cidades onde acontecimentos tristes têm ocupado as notícias no âmbito microrregional ou até estadual. Tivemos perdas humanas que jamais serão compensadas, até porque a vida é irrecuperável. Coisas insignificantes, recorrentemente, ocupam os noticiários.

          Mas os temas verdadeiramente sérios e importantes não têm sido debatidos. Meio ambiente e mobilidade urbana têm ficado em plano secundário. Deveriam ser discutidos à exaustão. Nas conferências das cidades estiveram na pauta, mas a participação popular não foi expressiva.

          Os eventos adversos da segunda semana deste ano, em cidades da serra e do litoral carioca, nos remetem a uma reflexão profunda: De quem é a responsabilidade pelas catástrofes?

          As catástrofes naturais podem acontecer a qualquer tempo e em qualquer lugar. No entanto, algumas delas podem  devem ser previstas e evitadas, ou minimizadas, e isso é responsabilidade dos governos e da sociedade. Note-se que as catástrofes que ocasionam a perda de vidas humanas são decorrentes de danos que o próprio homem já causou à Natureza. E elas podem, então, ser evitadas. Acima das leis, deve haver o bom senso e o conhecimento histórico do que já aconteceu em cada cidade.

          Todo esse intróito é para chegar a um relato cujo conteúdo gostaria que você analisasse:

          Há cerca de três anos, realizamos em Ouro um Seminário Regional do Meio Ambiente. Na oportunidade, um dos palestrantes referiu-se ao Furacão Katrina (ou Catarina), que ocorreu no litoral sul de Santa Catarina, e que causara muitos prejuízos materiais. E sobre as Tsunâmis, na Indonésia. Estudantes presentes indagarm se isso poderia se repetir, quando e onde,  e se ia morrer muita gente. O palestrante disse que sim, e  que "morreria muita gente,sim". No intervalo, foi censurado pelo dito. Houve divisão de opinião sobre o que ele disse. Intelectuais a favor e intelectuais contra.

          Passados poucos meses, a história nos mostrou algumas verdades: A Tragédia de Ilhota, Gaspar e Blumenau; a Tragédia de Angra dos reis. E, agora, a maior delas: a das cidades do Rio de Janeiro.

          Numa palestra que proferi para acadêmicos da UNOESC, apresentei imagens sobre algumas áreas de risco de Ouro  Capinzal, algumas incoerências que causam danos ambientais, e relatei um pouco das histórias das anormalidades climáticas dos últimos 30 anos por aqui: As enchentes de 1983, os vendavais que ocasionaram a queda da ponte pênsil, os vendavais que destruíram parte das instalações de uma agroindústria em Capinzal, bem como dezenas de resiências no Bairro São Cristóvão. As estiagens que ocasionaram prejuízos nas lavouras, as enxurradas que destruíram (e continuam destruindo) pontes e estradas, o granizo que destruiu casas em Linha Sagrado, e outras calamidades.

          Tudo isso é muito preocupante: temos áreas de risco, altamente vulneráveis, e há de se retomar um debate necessário, em que surjam proposições e ações para  minorar impactos ruins que podrão efetivar-se sobre nós. É preciso dizer... E é prciso assustar-se, sim!!!  (Professor Euclides Riquetti)."

Euclides Riquetti
16-03-2013

sexta-feira, 15 de março de 2013

O Papa é Pop

          Agora temos, de novo,  um Papa pop.

          Quando a fumaça branca da Capela Sistina abriu as janelas para o anúncio do novo Papa, o mundo se surpreendeu: ninguém tinha em conta que o eleito, com expressiva votação dos cardeais, pudesse ser um Argentino. Mas foi. E, naquele momento, os internautas brasileiros já começaram a escrever aquelas mensagens malucas, revelando seu descontentamento, até revolta, porque um brasileiro, Dom Odilo Scherer, não havia sido o escolhido. Escreveram coisas impublicáveis em qualquer veículo de comunicação decente.

          Agora, menos de dois dias após a escolha, as abóboras estão-se acomodando na carroça. As primeiras atitudes de nosso Papa Francisco mostraram o porquê de ele ter sido o escolhido. É uma pessoa humana sensacional, um ser muito carismático e humilde. Saiu da Capela Sistina e foi para a casa onde estava hospedado de ônibus, junto com os cardeais, dispensando o carro oficial do Vaticano. Em seu pronunciamento, por diversas vezes quebrou o protocolo oficial. Foi rezar na Capela onde costumava celebrar missas. Vestiu sua túnica branca sem nehum adereço. Discursou numa linguagem simples, compreensível. Recebeu os cardeais,  não para um beijo no anel, mas para um afetuoso abraço. E, nesta quinta-feira, ao levantar de sua cadeira, quase caiu um tombo porque não percebera o degrau. Mas reequilibrou-se, sorriu, achou graça de si mesmo e foi abraçar, de pé, os que vieram cumprimentá-lo.

         E seus compatriotas, em Buenos Aires, davam, ontem, declarações sobre sua simplicidade. Dormia num quartinho muito simples, aos fundos da Catedral da Capital Argentina. Ali, houve intensa comemoração quando do anúncio de seu nome. Duas missas foram celebradas na mesma noite. E o povo saiu às ruas com suas bandeiras azuis e brancas, como se tivessem conquistado a Copa do Mundo.

        E, mesmo as  acusações, costumeiras em ocasiões assim, de que ele teria servido à Ditadura Militar, na Argentina, não se sustentaram. Nosso Papa é mesmo Pop. Por isso corre os mesmos riscos que correm quaisquer outras pessoas. Mas ele é um Homem de Deus e terá a Proteção Divina para o exercício de seu Ministério Papal. Dizer "seu Reinado" não combinaria com a simplicidade de alguém que não pretende ser Rei, mas sim um Peregrino, como foi João Paulo Segundo, que era Papa há 12 anos quando a Banda Engenheiros do Hawaii escreveu na letra de um rock que o Papa era pop. Foi o maior sucesso da banda, vendendo, no início, 400.000 long-plays.

          E já saíram as piadas. Eu recebi uma foto de uma amiga em que Dom Odilo Scherer estava com aquele chapéu de Bispo e uma cruz de malta nele,  e a mensagem mais ou menos assim: "ficou em segundo", uma gozação em cima de nós, vascaínos, que somos acostumados a ficar vem segundo no Campeonato Carioca de Futebol. E umas caricaturas do Maradona com uma cara emburrada. O Maradona, agora, tem três sombras a lhe tirar o título de Rei, a afrontar sua vaidade: Primeiro, a de Evita Perón, que  já ofuscou por demais sua pretensão de ser o argentino mais popular. Depois, Leonel Messi, o craque do Barcelona e da seleção portenha. E, agora, o Papa muito Pop, Francisco, de nome Jorge  Mário Bergoglio. Francisco, um Argentino!

          Com alegria, posso dizer que agora temos um Papa bem  Neymar:  alegre, disposto e ágil como o craque santista e da Seleção Brasileira de Futebol.

Euclides Riquetti
15-03-2013

 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Vida No Vale

Eu amo as plantas de meu verde vale
Os girassóis, canelas e cinamomos
O alaranjado aroma das pitangas
O vento calmo em seu lufar.
Eu amo as águas de meus rios e de minhas sangas
Qua vagam entre as pedras rumo ao mar...

Nos galhos enramados  os pássaros cantam
E borboletas misturam-se às flores coloridas
As crianças sorriem seus sorrisos brandos
E as mães as abraçam  ternamente.
E elas,  com seus rostos inocentes,  como  anjos
Entregam-se aos afagos docemente.

Aqui  há uma  natureza imensa que nos olha e chama
E nos oferece a vida plena e natural
E,  mesmo que tu chores e  reclames 
Dá-te  um mundo de beleza sem igual...
Acredito que é o normal da condição humana
O bem vencer a luta contra o mal.

Euclides Riquetti
14-03-2013



quarta-feira, 13 de março de 2013

Habemus Papam - Papa Francisco - de Buenos Aires.

          A fumaça branca, emitida através da chaminé especialmente implantada na Capela Sistina, em Roma, anuncia o nome do novo Papa, Ministro de Deus e sucessor de Pedro, sobre quem a Igreja Católica e Apostólica Romana se sustenta.

          O Conclave teve seu início oficial na terça, 12 de março de 2013, na Capela Sistina, que sofreu todas as adequações físicas necessárias para a sua ralização. No dia anterior, os cardeais vindos de todos os lugares do mundo onde a Igreja se faz presente, foram  hospedados na Casa Santa Marta, de onde deviam sair pela manhã, a partir das sete horas do horário de lá, onze horas no horário oficial brasileiro,  e voltar para o almoço às treze horas. À tarde, mais duas reuniões diariamente, somando-se até 4 votações por  dia. No primeiro dia foi celebrada a missa oficial de abertura do Conclave e houve apenas uma votação. Os cardeais são os delegados da grande convenção, a mais esperada da presente década e talvez dos últimos 600 anos, desde que houve a última renúncia,  porque se reveste de características diferentes das demais. Agora, há um Papa Emérito, Bento XVI, que surpreendentemente renunciou ao cargo.

        A população mundial, principalmente nos primeiros dias de março, começou a formular sua opinião. Os brasileiros desejavam  um Papa Brasileiro, afinal  é o Brasil o país onde se concentra o maior número de católicos do mundo. Sabia-se que a intenção dos cardeais era de que o Papa escolhido tivesse inteligência e energia suficientes para trabalhar em duas frentes: a pastoral e a administrativa. E ainda propor mudanças no Direito Canônico e em algumas posições da Igreja. Mas, só agora, que temos um Papa, é que vamos ficar sabendo qual será a linha de conduta e ação do novo Pontífice. Em miha opinião, o Sumo Pontífice deveria cuidar da Pastoral e ter uma espécie de Primeiro-ministro que cuidasse da Administração do Vaticano.

          Os principais noticiosos do mundo apontavam, como favoritos: O italiano Ângelo Scola, teólogo conservador; o brasileiro Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo;  o canadense Marc Oullet; o ganense Peter Turkson; o nigeriano Francis Arniz. Também o italiano Tarcísio Bertone era  considerado um candidato com chances.

         Nas redes sociais os internautas comentaram as notícias conforme sua conveniência. Alguns de forma respeitosa, outros usando linguagem baixa e a costumeira péssima ortografia. No meio brasileiro, os mais doidos e chulos comentários. E o português mais sofrível ainda.

          Alguns cardeais estavam mapeados, pelo menos pelos jornalistas que cobrem o Vaticano, como favoritos a serem eleitos:
          Mas os votos dos 115 delegados deu a sucessão de Bento XVI a  Jorge Mário Bergoglio, um religioso de Buenos Aires - Argentina, contrariando as expectativas. Adotou o nome de "Francisco"

         Sua linha de conduta, na opinião dos principais comentaristas e vaticanistas do mundo, vamos conhecer logo. Latino, Jesuíta. Bom para todos nós.

         E os católicos do mundo inteiro esperam por mudanças   na conduta da Igreja Católica, especialmente no comportamento dos padres, uma vez que muitos deles têm sido um mau exemplo para os fiéis e em nada têm ajudado nossa Igreja. Aliás, além de não ajudarem, têm atrapalhado. E muito!

          Esperamos que o novo Pontífice possa dar linhas de ação ou diretrizes que possam influenciar os governantes de todos os países a iniciativas que melhorem a vida de seus dirigidos e que a violência, em todas as suas concepções, possam ser evitadas.

         Boa sorte, Papa Francisco! Pela primeira vez um Chico! O mundo espera que seus conselhos e seus exemplos possam ajudar a melhorar a vida de todos.


Euclides Riquetti
13-03-2013

Zé da Barraquinha

          O Zé da Barraquinha era um sujeito muito simpático. Tinha uma... barraquinha!

          O seu Zé estava instalado com seu comércio ali em anexo ao Hotel Imperial, da Dona Clementina  Goelzer. Ele tinha um jeito meio diferenciado de falar, tinha um sotaque peculiar. Como nunca soube o seu sobrenome, também nunca conectei isso bem, não pude saber qual  sua origem.  Não sei se era germânica, mas possivelmente que sim. Tinha jeito de alemão! Na época, íamos lá comprar canetas, cadernos, revólveres de brinquedo e bolicas de vidro.  Mas essas coisas também vendiam na Livraria Central, do Alfredo Casagrande.

          Se uma senhora precisasse de um diadema para segurar os cabelos, encontrava lá no Zé. Lembro que minha prima,  Salete Baretta,  adorava diademas. Para segurar seus belos e bem tratados cabelos escuros. Aliás, foi ela que me disse, um dia, que os  lavava com shampoo. Shampoo tinha para vender na farmácia.  O Palmolive era o melhor. Nem sei se havia algum outro... Na barraquinha não vendiam shampoo, mas vendiam aqueles espelhos que em todas as varandas de casas e nos banheiros tinha, os com a moldura alaranjada. Nossos italianos chamavam aquilo de "soada", não sei  por quê. Ainda vou descobrir... E foi assim que eu aprendi que as mulheres já estavam usando shampoo, uma maravilha tcnológica para dar mais brilho e leveza aos cabelos.

          Tinha até uma propaganda na TV nas décadas  de 1960 e 70: "Você está vendo minha voz? -Continua a mesma. Mas meus cabelos... quanta diferença!"

          O seu Zé da Barraquinha era muito atencioso e educado. Uma vez uma Senhora me pediu para ir lá comprar-lhe  uns grampos para cabelos. Foi lá por 1966. O Zé me disse: "Crampos, só loiros." É que ele vendia uns grampos de cor dourada, uma inovação para a estética. mais uma revolução. Mas a senhora me fez levá-los de volta porque ela  era conservadora. Queria os pretos. Estes, sim, combinavam com a cor de seu cabelo.

          O Djair Pecinatto, que era meu colega de Colégio e amigo do Zé, fazia uma brincadeiras, imitava-o. Eles tinham sua loja de calçados defronte à Barraquinha, ali onde é a Churrascaria Riquetti, dos meus primos. Quando o Pecinatto foi embora pra Lages, o Gabriel Casagrande, que veio de Piratuba, montou ali uma loja. Comprou o estoque e colocou sapatos bem bonitos. Tinha aqueles com "couro de cobra" e os com "couro de crocodilo", tudo coisa artificial. E meias vermelhas, que estiveram no auge da moda na virada de década. Até eu tive um par delas.

          Pois o Zé sumiu de Capinzal. E ninguém nuca mais o viu. Você, litor (a) deve estar-se perguntando por que o Zé vendeu a sua barraquinha para o Arlindo Henrique e foi embora. Pois eu acho que ele queria mudar de cidade. Penso que as pessoas devam ter ficado com saudades dele. Era simpaticíssimo. Depois da hora e nos domingos, costumava estar ali na Rua XV, normalmente em  frente ao Sanalma. Pegava, no máximo, um cinema à noie.

          Mas, como o mundo é mesmo cheio de surpresas, eis que, em meados da década de 1990, eu estava em São Miguel D´Oeste visitando meu cunhado Nei. Passamos perto  da Estação Rodoviária e o Nei perguntou-me: "Conhece aquele cara lá? Ele era de Capinzal, tem uma barraquinha aqui! Fui lá. Era o nosso Zé da Barraquinha. Conversamos, relembramos coisas alegremente. Você também deve ter conhecido o Zé. Ele continua lá, com os seus óculos, sua bondade, sua simpatia. Se não conheceu, sabe agora que ele existiu. E não foi uma página em, branco em minha vida. Tomara que ainda esteja bem. Ah, em tempo: Ele ainda vendia "crampos loiros".

Euclides Riquetti
13-03-2013

   



        

terça-feira, 12 de março de 2013

Perde-se de mim

Dócil e envolvente
Despida de pudor, a roupa ausente
Com ímpetos de amor e de vontade
Silhueta  de perfeita divindade.

Mulher,  alegre, sorridente
Corpo espelhado na luz:  reluzente.
Charme e olhar provocador
Lábios que desejo com amor.

Vai assim, depressa como veio
Nega-me  o abraço, o lábio, o seio
E desaparece num repente, num instante...

Perde-se na noite chuvosa e ecura
Perde-se com seus afagos e sua ternura
Perde-se de mim, mas acha-se  adiante!

Euclides Riquetti


segunda-feira, 11 de março de 2013

O Assalto Frustrado em Ouro

          Setembro de 1980, eu havia voltado há poucos meses ao Ouro.  Lecionava na Escola Sílvio Santos. Em setembro, a oportunidade de ganhar um dinheirinho extra. Fui contratado para trabalhar durante o mês  na execução do serviço de recenseamento de toda a área urbana do município. Lá fui eu, de casa em casa, mapa da cidade na mão, maletinha  do IBGE sob o braço.  Era a época ideal para isso, estávamos  fugindo do Inverno, prestes a chegarmos à Primavera.

          Meu supervisor era o Rogério Baretta. Fizemos, em agosto, o  treinamento nas dependências do antigo Ginásio Padre Anchieta, juntamente com o pessoal de Capinzal. Naquela cidade, lembro que havia o Bragato e o Régis Golin atuando. Eu tinha outros companheiros: o Dirceu Cadore, popular Cadorna, na ára rural, e Francisco Miquelotto, na região de Linha Sete de Setembro. Lembro bem desses.

          Eu havia ficado oito anos morando fora, entre Porto União da Vitória e Duas Pontes, hoje Zortéa. Muitas pessoas não me conheciam mais. Comecei pelo centro da cidade, fui para o Bairro Navegantes e depois para o Parque e Jardim Ouro. Havia, no máximo, trinta famílias somando-se os dois bairros.

          Tenho alguns  fatos que ficaram fortemente registrados em minha memória. Primeiro, quando fui fazer o censo na casa do João Tessaro, ali na Rua Pinheiro Machado, ao terminar, agradeci a atenção da Dona Jaci e ela foi cuidar de seus afazeres domésticos. Ao descer da escada, revestida com cacos de cerâmica, foi "um tombo só". Fui parar lá na rua. Olhei para todos os lados e não vi ninguém, graças a Deus. Ia ser uma vergonha para mim. Uns pequenos esfolões, mas o produto do meu trabalho estava salvo: a maleta preservada, com os formulários dentro. Os óculos, que voaram longe, também intactos. Bem, os esfolões seriam resolvidos com um pouco de mertiolate...

          Dias depois, o maior e mais inesperado ( e inusitado) acontecimento da história de minha cidade: o assalto ao Banco Bamerindus. Lá trabalhavam alguns amigos e alunos, dentre eles: Minha futura cunhada, Marise Früauf, a Zanete Helt (Miqueloto), que virou minha comadre, O Ladir Reina, filho do Texaco, o Ivan Vitorazzi, sobrinho de minha madrinha Raquel, e o vigia, Onorino da Silva, irmão do Terto, e outros.

          Três bandidos, sendo um  menor em idade, que vieram de São Paulo para trabalhar na construção de um frigorífico em Capinzal, realizaram o assalto ao Banco, no horário de almoço.  Lembro que fecharam alguns funcionários no banheiro. Minha cunhada estava voltando do almoço com meu irmão, Piro,  e viram que o assalto estava acontecendo. Tiveram sorte. Funcionários, como o Texaco e o Onorino, foram feridos.

          A notícia espalhou-se em instantes pela cidade.As pessoas colocaram um caminhão atravessado em cada saída da Felip Schmidt para que os assaltantes não pudessem fugir. Lembro que algumas pessoas atiravam contra o Banco, como o Sr. Santo Segalin, com espingarda, e o Rangel, conhecido como  "Alemão da Carlota",  com seu 38.

          Mas a bravura maior veio com o então Delegado de Polícia, Sargento Pedro Morosini, que adentrou à agência dando tiros nos bandidos. Até saía fumaça pela porta, de tantos tiros trocados. Quando acabaram as balas, de ambos os lados, os assaltantes partiram de faca para cima do amigo  Mosorini, que acabou sendo projetado por sobre um banco de corvin preto (aquele em que a gente senta na frente do gerente para pedir empréstimo...) e ficou  defendendo-se com os pés.  Levou golpes de  faca na cabeça, tendo, inclusive, restado uma ponta de faca alojada ali  próximo do cérebro. E alguns chumbos de tiros de espingarda restaram cravados em seu pé.

          Foi um grande e sangrento combate: Ao final, dois assaltante mortos, estendidos ao chão. E o menor, sendo conduzido a pé, pelo Carleto Póggere, que o segurava pelo pescoço com o braço esquerdo e carregava seu revólver na mão direita. Encontrei-o e ele me disse: "Esse não vai incomodar mais ninguém", e o levou para a Cadeia do Ouro. Este, depois, foi recambiado para São Paulo, terra de origem.

          O Delegado Morosini teve muitos ferimentos. Mas, com coturno nos pés, defendeu-se bravamente dos golpes de faca desferido contra ele. E teve muita sorte de sobreviver.

          Nos dias que se seguiram, o pânico rondava as casas. Mal escurecia e todos trancavam portas e janelas. O trauma levou muitos meses para ser amenizado. Eu lembro que, quando fui fazer o censo na casa do Serafim Andrioni, a esposa dele não queria abrir a porta porque não me conhecia. E, na época, a cidade tinha 6.000 habitantes. Só depois que eu disse que era o filho do Guerino Riquetti que havia estudado em Porto União e voltado para casa,  que ela concordou em abrir.

         Seguramente,o assalto  foi um fato que ficará registrado em nossa Hístória. Já são 32 anos passados. Mas, coisas assim, a gente não esquece nunca...

Euclides Riquetti
11-03-2013