sábado, 23 de fevereiro de 2013

Jeito de Pecado (reedição)

Foi de madrugada
Que pensei em você:
Senti algo no peito
Foi assim do meu jeito
De gostar, de beijar, de querer.

Desejei o seu corpo
Elegante, maroto.
Beijei os seus lábios quentes
Acariciei seu corpo envolvente
Amei você, perdidamente.

Fui atrevido, incontido bastante
Encantei-me com seu jeito elegante
E entre pensamentos profanos
Meu coração cigano
Ficou transportado
Para o mundo desejado!

Desejei, ousei...
Pequei. Quis.
Quis ser feliz!...
E foi muito, muito bom!
Bom, mas com jeito de pecado!...

Euclides Riquetti

(Composto em 30-11-2006)

Pão e Circo

          A Frase "Ao povo pão e circo", (ou quaisquer outras similares), é  comumente usada por pessoas que não concordam quando o Poder  usa o dinheiro público para oferecer entretenimento "gratuito" à população. Em minha opinião, isso é relativo, há os que concordam e os que discordam disso. Ambos têm razão, pois depende do ponto de vista como isso é encarado e dos propósitos de ação implementada.

          Aqui em Joaçaba, a esse respeito, a opinião pública é bem dividida, por causa dos gastos com o carnaval. E, se atentarmos para a argumentação de internautas que fazem comentários nos sites locais, vamos constatar que é mais ou menos isso.

         O Carnaval de Joaçaba, que sempre se disse que seria "De Joaçaba e Herval D Oeste", é organizado pela LIESJHO, Liga Independente das Escolas de Samba de Joaçaba e Herval D ´Oeste. O atual presidente é o Engenheiro Felipe D ´Agostini. O tesoureiro da Liga é o Gilmar Bonamigo, Policial Civil advogado, marido da Eliane Bazzo, também da Civil,  filha do Selvino e da Professora Nair Baretta Bazzo, são ambos lá do Ouro. O Gilmar foi presidente até o ano passado. A última vez que falei com ele foi na terça, 19, aqui no Teatro Alfredo Sigwalt, em Joaçaba.  Ser tesoureiro é mais trabalhoso do que ser presidente.

          Conheço centenas  de entidades de nossa microrregião, de Santa Catarina e do Brasil. Poucas delas têm a capacidade de organização que a Liga tem. Há a necessidade de muito trabalho, muita capacidade de liderança e articulação, e muita dedicação para se organizar vum carnaval como o de Joaçaba, que é, seguramente, um dos melhores do Brasil. Não sou um expert nessa área, mas já vi o de algumas cidades brasileiras e o "nosso", em termos de qualidade, só perde para o do Rio de Janeiro. Duvido que as escolas  de São Paulo tenham mais samba, luxo e alegria que o de Joaçaba. Têm maior número de escolas, maior número de integrantes em cada uma, mas isso não denota qualidade. Podem ter em igual nível, mas não melhor.

          Seguindo o planejamento de cada uma, antes mesmo do carnaval deste ano ter seu desfile concluído, sabe-se que já têm o tema de seu enredo escolhido. Ouvi o Marcos Zanardo, da Vale Samba, dizer que já tem o tema para 2014, mas que vai deixar a turma descansar um pouquinho e só então dizer qual é. Mas nunca passa da Páscoa o prazo para que os simpatizantes saibam qual será o escolhido. E, por mais simples que possa ser, conseguem transformá-lo numa grande ideia, num grande projeto, num grande desfile. E é por isso que eu digo, tranquilamente, qu sabem muito bem fazer um carnaval.

          A Liga recebeu, neste carnaval, R$ 2.300,00 de dinheiro público. São R$ 600 mil da Prefeitura; R$ 1.200 mil do Estado;  e R$ 500 mil do Governo Federal. A despesa para a montagem de toda a estrutura de arquibancadas, camarotes, som, serviços e jurados fica em R$ 1.000.000,00. O restante é repassado para as três escolas tradicionais,  Vale Samba, Unidos do Herval e Aliança. A Liga não faz repasses para escolas novas, como é o caso da Acadêmicos do Grande Vale. Para ter esse benefício uma escola precisa desfilar por dois anos seguidos e provar que tem como efetivar-se. O primeiro desfile da Acadêmicos teve 550 componentes, bem menos que metade  do que as demais, que têm no mínimo 1.200 cada. As pessoas que aceitam carregar "o fardo" de organizar o carnaval merecem o meu aplauso.

          Como você pode constatar, o agito por aqui é grande. Têm vindo turistas de vários estados brasileiros e do exterior para ver nosso carnaval. A opinião pública é dividida. Há muita gente contra porque constatam que a cidade tem muitas carências na área social e estrutural  que o dinheiro deveria ser usado para resolver isso. A outra parte diz que os recursos da cultura dão diferentes. Também acho, mas posso falar com conhecimento de causa que quando uma das esferas públicas projeta a peça orçamentária para cada exercício, nada há que determine que o dinheiro seja colocado num ou outro setor. Apenas a Educação e a Saúde têm os percentuais constitucionalmente definidos. E nossos problemas são gritantes e precisam de urgentes soluções.

          Concordo plenamente que a cidade tenha seu carnaval, que lhe dá projeção nacional. Não acredito que a movimentação econômico-financeira da cidade recupere os investimentos feitos pelas três esferas, embora dizem ter estudos que provam que sim. Mesmo porque não temos uma rede hoteleira na cidade para comportar a vinda de turistas que fiquem todos os cinco dias na cidade, como têm Treze Tílias e Piratuba. E nem temos agências receptoras que estejam "bem" conectadas com agências emissoras de outras cidades. Já sugeri ao Bonamigo para qu isso seja melhorado. Em termos de turismo temos muito ainda que aprender.

          A grande verdade é que as autoridades não têm como negar ajuda às escolas. Se o fizerem estarão sendo crucificadas.

          Também já vi "otoridade" dizer que o carnaval é a expressão da cultura joaçabense. Puro engano. É um atrativo turístico e de lazer que pode até dar lucro para os empreendedores, mas temos autênticas formas de manifestação que denotam nossa cultura e que não têm nenhum apoio. É pura incompetência e ignorância. Ou estou errado??

          Péricles, governante grego  que viveu de 495 a 429 antes de Cristo, construiu a cidade de Atenas considerando o que de mais sofisticado havia em Engenharia e Arquitetura para sua época. Construiu templos, arenas e teatros. E, fazia colocar no orçamento do país, anualmente, recursos para que o Poder Público pudesse comprar ingressos de teatro para que os pobres pudessem ter acesso à cultura. Então, "bolsa cultura" não é invenção de agora, é coisa muito antiga. No Brasil, o dinheiro mais mal empregado e pouco ficalizado é o da cultura. E, na maioria, é utilizado por aproveitadores que oferecem ao povo enetos pseudoculturais. É uma vergonha!!!

         "Pão e circo", na verdade, é o que mantém o populismo nos governos. É uma prática que só acabará quando o nível de escolaridade no Brasil e nos outros países da América Latina melhorar muito. E quando as pessoas que defendem alguns princípios éticos e morais saírem do casulo e se manifestarem. Suas versões da verdade poderão contrapor-se às demais. Enquanto isso, vamos usar nossa liberdade de expressão para mostrar os dois lados da moeda.

Euclides Riquetti
23-02-2013



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O Voo da Garça (reedição)

O Voo da Garça

A garça voa o voo leve da alma
Voa a garça
Voa como a branca pluma, com graça
Voa a garça.

E, no voo breve, voa lenta, calma
Voa com toda a graça a garça.

Voa o infinito, voa por instinto
Voa sobre o monte a garça...
E pousa na torre da igreja
Ou na árvore da praça
Voa e pousa a garça.

E seu voo atrai o disperso
O menino, o esperto
O velhinho, o passante
E voa de novo a garça.

Vai, seguindo os trilhos dos raios de sol
Cortando o azul, a garça.

E pousa suavemente sobre a nuvem
Uma nuvem feita branco lençol...
E descansa outra vez a garça!



          (A garça povoa os meus sonhos,
orienta minha vida.
          A garça é meu ser, é você, sou eu...
A garça é meu norte seguro, é minha inspiração...
          É minha emoção transmitida no papel...
Euclides Riquetti)



Nota do autor: Reedição do poema composto em 1997,
já publicado em jornais e neste blog - 10º lugar nacional
no Prêmio Professor Mário Carabajal de Poesias em 2010
promovido pela Academia de Letras do Brasil.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Primeiro Assalto ao Trem Pagador - o filme

          A História Catarinense traz, em seus registros, um fato que muito marcou nosso Vale do Rio do Peixe, há 104 anos, um antes da inauguração da Estrada de Ferro que serpenteia nosso Vale,  e que ligou Porto União a Marcelino Ramos: O Assalto ao Trem Pagador, em Pinheiro Preto, na época em que o território daquele município ainda pertencia a Campos Novos. Foi na época em que estavam construindo o túnel para a linha férrea.

          José Valdomiro Silva, que nasceu em 1902, na Fazenda Umbu, município de Campos Novos, autor de "O Oeste Catarinense - Memórias de um Pioneiro", editado em 1984, viveu sua infância entre o intrior de Campos novos,  Piratuba e Capinzal e  era um menino muito antenado já naquele tempo. Em 1908  ele já ajudava seu pai no abate e venda de carne para os que trabalhavam na construção da ferrovia.

          Na infância empunhou fuzil ali no Centro de Capinzal para ajudar na defesa da cidade, sujeita a ataques de revoltosos da Guerra do Contestado.  Conheci-o em 1982, quando eu era Secretário da Admnistração do Prefeito Ivo Luiz Bazo, em Ouro. Eles eram amigos e Silva o visitou. Fomos apresentados. Eu era bastante jovem ainda e pouco valor dava à História. A maturidade levou-me a mudar meus conceitos e meus interesses por História, principalmente do Vale do Rio do Peixe e os conflitos que precederam e sucederam a Guerra do Contestado.

         Escutei do Seu Ivo que este era um homem de grande conhecimento e muito honesto. Do tempo em que os políticos eram muito idealistas. Prefeitos tinham ajudas de custo e vereadores não tinham ordenados. Agora...

          Na página 16 de seu livro, ele traz uma menção interessante: "Por aquela época, já quase nos fins dos trabalhos  da construção, eram empreiteiros de um trecho os Srs. Manoel Fabrício Vieira e Zeca Vaccariano, cujo nome verdadeiro não me recordo. Homens valentes e com fama de caudilhos. Em certo dia, a pretesto de cobrarem contas da Cia. que lhes devia, reuniram seus operários e, entre Videira e Rio das Antas colocaram pedras e outros obstáculos sobre os trilhos que obrigaram o trem pagador a parar, quando assaltaram e roubaram todo o dinheiro que se destinava ao pagamento do pessoal que trabalhava na linha até o Rio Uruguai".

          Diversos historiadores se referem a esse fato que muito chamou a atenção dos meios noticiosos naquela época bo Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Zeca Vaccariano, de nome José Antônio de Oliveira, ex-combatente da Revolução Federalista, empreiteiro, precisava de seus haveres para pagar seus empregados. Não recebendo, assaltou o Trem Pagador. Apanhou o dinheiro que vinha em envelopes destinados nominalmente aos empregados da Rede. Fugiu para o Rio Grande do Sul.

          Herói ou vilão, vamos poder conhecer melhor essa história já no dia 28 de fevereiro, aqui em Joaçaba, quando o filme será exibido aqui no Teatro Alfredo Sigwald. O papel de protagonista do filme, que estreou  nesta quarta, 20, em Pinheiro Preto, será o Tchê Mendes, locutor de rádio e cantor, agora também vereador em Concórdia, desde 1º de janeiro.

          Não falo com o Tchê há  bastante tempo. Entrevistava-me quando ainda  era repórter em Capinzal, na Rádio Barriga Verde. Não sei qual é a formação acadêmica dele, mas fala com muita propriedade. Ouço-o aos domingos pela manhã, aqui na Rádio Catarinense, de Joaçaba. Trabalha também em Concórdia e no Rio Grande do Sul. Imagino que se eu estudasse comunicações meu TCC o teria como tema. Seu linguajar é muito singular. É um verdadeiro artista. 

          Tchê Mendes expressa-se como  gaúcho nativista, fala meio acaipirado, filosofa, defende muitíssimo a ética. Fala com convicção e tem uma grande audiência. É acompanhado por brasileiros que residem no exterior e por conterrâneos  que se espalham pelo território brasileiro. Acho que o cabeludo magrão é o cara certo para interpretar o Vaccariano. Tem um excelente nível cultural.

          Meu amigo Jaime Teles, âncora da Rádio Líder do Vale, de Herval D ´Oeste, que também é compositor, cantor,  declamador e incentivador de novos talentos, uma vez, dizia-me que "o Tchê Mendes por si só já é um artista, uma grande atração aonde vai". Concordo com ele.

          O filme ainda traz a participação do amigo João Paulo Dantas, jornalista e  produtor cultural que nos deixou a exato um mês, aos 60 anos. Dantas viveu o papel de Felip Schmidt, governador catarinense época e  Gabriel Sater, cantor e compositor é quem faz o papel de Carlos Gaerthner, um esciturário. Gabriel é filho de Almir Sater, que esteve aqui em Treze Tílias quando filmaram a novela da extinta TV manchete, "A História de Ana Raio e Zé Trovão", dirigida por Jaime Monjardim.  Almir Sater contracenava com Ingra Liberatto.

          Dois outros assaltos a trens pagadores  sucederam o primeiro: O Assalto ao Trem Pagador da  Central do Brasil, em 1960,  e o outro na Escócia, protagonizado  por Ronald Biggs. Mas a repercução, na época, proporcionalmente, do assalto ocorrido em Pinheiro  Preto, foi maior do que a desses.

          Vamos torcer para que o filme possa ter sucesso!

Euclides Riquetti
21-02-2013

         
     

         
       
         

O Telhado da Garagem do Laurindo

          Dizem que cada um precisa cuidar de seu telhado. Do meu telhado capilar, de que eu tanto gostava, cuidei muito. Mesmo assim o ventou o levou. Jogar pedras no telhado dos outros é fácil, mas é preciso cuidar do próprio telhado. Porém, onde há um telhado, tudo pode acontecer. Por sobre eles, passam pássaros e aviões.  Por debaixo deles, confidências, conflitos, intimidades...   Mas, quando passam através deles, o que pode acontecer?

         Telhados são todos telhados. De chapas de cimento amianto, de madeira, de peças de cerâmica, de concreto, de telhas de barro brasileiras, francesas, romanas. Ou de palha, fibras, latões, alumínio, zinco. Ou de vidro... Ah, esses são os mais vulneráveis...

          O Laurindo Biarzi foi caminhoneiro da Comercial Baretta desde a década d 1960, quiçá 50. Trabalhou com os caminhões da empresa do seu Severino, mas que as pessoas chamavam de Silvério. Era primo de meu avô Victório Baretta. O último caminhão era um daqueles Mercedes-Benz LP331, um brutamontes de caminhão para a época, trucado. Viajava para São Paulo. Asfalto, só depois de Curitibanos. Antes, só estrada de chão batido, com pouco cascalho. Em dias de chuva, correntes nos pneus traseiros.

          Já em 1970 ele trabalhava com uma carreta dois eixos, Scania-vabis 75, cor laranja, tanque tansportador de combustível do Posto Esso, dos Irmãos Dambrós. Ia a Porto Alegre, levando tábuas de pinho sobre o tanque. (Hoje isso é probido).  Retornava trazendo combustível: gasolina e óleo diesel. Para o Posto Ipiranga, com uma carretinha cor marfim, de apenas  um eixo, MB 1313, do Sr. João Flâmia,  fazia o mesmo o Valêncio José de Souza, liderança incontestável dos tempos autuais em Capinzal, empresário premiado.

          Nossa personagem,  Laurindo,  tinha um jipe Willys 54, verde-garrafa metálico, uma verdadeira relíquia. Ia às festas na colônia do Ouro, com a esposa. Sempre estava presente. Até faixa branca tinha nos pneus. Cuidava muito do jipe! Na maturidade, desfez-se do jipe, aposentou-se e comprou um automóvel. Tinha a garagem entre sua casa e a Escola Prefeito Sílvio Santos, onde eu lecionei até 2008.

        Mas foi lá pelo  início do novo milênio que nossos alunos estavam muito "impossíveis". Gostavam de  fugir da aula. Que novidade!!! Para eles, era um desafio enganar direção e professores. Acho que não era tanto por fugirem mas por sentirem o gosto de nos terem enganado...

         Pois bem, uma noite combinamos de que os professores iriam perfilar-se ao longo do muro para ver quem iria fugir. Era uma quarta-feira, dia de balada. E tivemos que rir muito: três  meninas levaram uma cadeira e duas conseguiram pular o muro. A mais "fofinha" não conseguiu e teve que voltar. Estava difícil  fazer o corpo ir para o lado da rua. Ela sentiu-se injuriada...  (Lembrei-me de uma vez em que fugi da aula de Inglês do Professor João Bronze e esqueci o guarda-chuva na sala. Tive que voltar, pedir dsculpas e ficar até o final da aula. Como é que eu iria explicar em casa que havia perdido o guarda-chuva? Em 1968 um bom deles custava uma baita  nota...)

          E os meninos? Bem, os pequenos varões foram para o  muro lateral, subiram, foram  sobre o telhado da garagem do Laurindo e... caíram dentro da garagem. Foi-se o telhado! Foi um escândalo.

          Houve pânico e preocupação na casa do homem. Telefonou para o 190, veio a Polícia que estava em ronda ali próximo e focou a lanterna na cara deles. Foi um desespero. Não sei se ficaram assim porque quebraram o telhado ou porque nós os vimos e os colegas zoavam deles.

          Serenados os ânimos, veio a negociação. Prometeram que pagariam o estrago. E o Laurindo, gente boa, estava a fim de aceitar. A esposa, não! Dizia ela: "Olha, velho, você sempre confiou nos outros e sempre levou na cabeça. Não tem acordo. Eles pagam o estrago e vão embora.  Se não, vão pra cadeia!"
          E os meninos, todos filhos de amigos e conhecidos do Laurindo?! E o Laurindo,  na dúvida: "Se deixar irem, a mulher briga comigo. Se não deixar, não confiar neles, como é que vai ficar sua situação perante os pais deles, seus amigos?"

          Somente depois de muito diálogo, algum choro, (muito choro falso), convenceram  a esposa dele a  liberá-los, sem cadeia, sem delegacia.  Dias depois, lá estava o Laurindo reclamando na escola que quebraram o telhado da garagem, até o carro ficou riscado na lata e ninguém pagou nada...

          Não sei bem qual foi o desfecho, mas os anos de exercício do magistério me fizeram presenciar muitas histórias desse tipo. E, hoje, quando encontro meus ex-alunos na rua, quanta alegria, quantas boas lembranças daqueles velhos e saudosos tempos! Ah, se os problemas do mundo fossem tão simples assim...

Euclides Riquetti
20-02-2013



         

         

   

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Nuvem Cinzenta

Não quero ser uma nuvem cinzenta
A confundir teu pensamento
Quero apenas diluir-me no firmamento
Vagar na atmosfera turbulenta.

Não quero ser apenas um relâmpago
A rabiscar a infinita escuridão
Apenas ser a relva a cobrir  o chão
Aparando a chuva que vem em cântaros.

E, mesmo no pisoteio dos passantes
Restar amassada para ressurgir
E, feita uma fênix emergir
Liberta do peso dos pisantes.

E, sorvendo a energia do sol que haverá de vir
Dizer-te: Vem e pisa em meu coração
Só não mates minha grande paixão
O grande amor que guardo dentro em mim...

Por ti, pra ti, para ti!

Euclides Riquetti
18-02-2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Dublê em entrevista

          Quando voltei para passear um casa, num  feriado de 1972, fui à missa na Matriz de Capinzal, no domingo à noite. Depois, era ir ao Cine Glória, comprar um pacotinho de pipoca do carrinho do Gigi Gramázzio, e pegar um filme. Era o costumeiro programa de domingo. Formava-se uma extensa fila defronte ao cinema, todo mundo querendo comprar ingresso na mesma hora. Os mais espertos, já compravam o seu na sessão do sábado, para não se procupar no domingo.

          Aquele domingo foi muito especial para mim, pois minha amiga Eloí Elisabete Santos, hoje Eloí Bocheco, escritora, colega na literatura, convidou-me para fazer uma das leituras da celebração. Deveria ler uma daquelas duas leituras que precedm o Evangelho, podia escolher a que quisesse. Tremi um pouco, mas procurei encorajar-me, pois sempre fora muito tímido. Teria de haver uma primeira vez. E eu não podia desapontar aquela bela e prendada colega, que cursava o Segundo Grau, recém inventado.

         Foi minha primeira leitura em público. Até uma freira veio conversar comigo, perguntou se eu sempre lia em missas, se eu queria fazer parte de um grupo litúrgico  formado por jovens. Agradeci, disse que não moarava mais na cidade. Eu era muito envergonhado, pois na escola sempre riam de mim quando eu lia. Mas aquela encarada ajudou-me a perder o medo, e já li milhares de vezes em público. Devo isso à Eloí, agora ela sabe!

         Tendo visto e ouvido minha leitura, após a missa,  vieram  o Márcio "Pimba" Rodrigues  e o Vilmar Nêne Matté e me fizeram uma proposta meio doida: O Arabutã tinha obtido uma bela vitória em Joaçaba, contra um time de lá, não lembro se o Comercial ou a ABCLESC e o Tio Pé, centroavante, tinha feito dois golaços. Queriam que eu desse uma entrevista dublando o Tio Pé para o programa de esportes  da Rádio Clube de Capinzal.

          Achei que isso era uma loucura, que as pessoas iriam ver que não era a voz dele e isso não ia dar certo. Argumentei também que eu não tinha visto o jogo, não sabia como foram os gols, etc. etc. Até me propus a dar uma orientação ao jogador, se eles me antecipassem as perguntas. Eu faria um treinamento com ele e era melhor uma entrevista fraca concedida pelo verdadeiro protagonista do que uma razoável respondida por um dublê. E os convenci a arrumarem outro dublê, mas ninguém aceitou esse desafio e acabaram eles mesmos, na segunda-feira, falanndo sobre a façanha do Tio Pé, filho do falecido Pé-de-angico.

          Pior que isso, somente aquela história que cotam sobre um jogador do Inter, o Claudiomiro, que costumava dar suas entrevistas recheadas de gafes. Uma vez, tendo jogado contra o Clube do Remo, no Pará, disse a um repórter que estava muito contente por ter jogado em Belém, a terra onde Jesus nasceu. Outra vez, escolhido melhor jogador em campo e tendo feito um gol, agradeceu à equipe esportiva de uma rádio de Porto Alegre por tê-lo escolhido como o melhor em campo, em especial por terem lhe dado uma "caixa de brahmas da Antáctica"...

Euclides Riquetti
22-02-2013





           

Breca lá, Riquetti!

          Jogadores de futebol são muito dados a falar gírias. Os boleiros estão sempre inventando expressões  ou modificando significados delas. Por exemplo, dizem "hoje tá uma lua muito doida", pra dizer que está fazendo muito sol durante o treino. Todo o treinador é chamado de "Professor", mesmo que não tenha concluído o antigo primário. Chamam também de professor o árbitro. E a galera o chama de ladrão e gaveteiro.

          Não há torcedor que tolere goleiro frangueiro, canela dura, e nem firuleiro.  Zagueiro furão ninguém quer. A galera não perdoa.  Zagueiro bom é aquele que, no apuro, dá bicuda. Atacante que dá bicanca é grossão, mas quando faz tento vale do mesmo jeito. Cartola "se achão", então, que se mude. A estrela tem que ser o da grama, não o da tribuna.

          Quando era pequeno jogava num campinho abaixo da ponte nova, no Ouro. E no campo da rede ferroviária, onde é a Praça da Rodoviária, em Capinzal. Jogava de conga porque não tinha grana pra chuteira. Depois, em União da Vitória, na república, tínhamos um campinho ao lado de casa onde jogávamos nos finais de semana. Ali aprendi a amolecer a canela, até consegui ter uma certa habilidade.

          O Gilmar Rinaldi jogou conosco no campinho ali do Ouro.  Já era goleiro. Tinha camisa amarela, igual à do Raul, goleiro do Cruzeiro. Ninguém achava que viraria astro, mas virou. Jogou no Inter, no São Paulo, na Udinese, num clube do Japão e no Flamengo. Agora é empresário de boleiros. Rompeu com o Adriano Imperador (isso dispensa comentários...).

          Voltando ao Paraná: Uma vez fomos jogar no Campo do São Bernardo, em União da Vitória. O Boles era nosso centroavante. Corria mais que lebre. Ele coiceava a esfera do meio para cima, então ela ia rolando. E ele corria atrás, às vezes chegando antes do que a bola.  Uma vez deu o chute e saiu correndo junto com a pelota. Correu tanto que chegou à  trave antes que ela.  Ela bateu atrás das canetas dele e voltou para a área, enquanto que ele foi para dentro das redes. E nós zoamos muito dele.

          Na república de estudantes tínhamos um colega que era nascido em Lacerdópolis, no tempo que este pertencia ao Distrito de Ouro e Município de Capinzal. Ele tinha jogado no Iguaçu como profissional Jogou numa célebre partida em que empataram com o Atlético Paranaense em Curitiba, em 1972, no estadual. Diz que o azar dele foi o tião Kelé, que voltou do México e fez gol nele do bico da área ao seu lado esquerdo. Chutou cruzado. Disseram que se ele tivesse 1,90 não tomaria o gol. O Kelé azarou a carreira dele. Jogou bem mas foi dispensado no final do ano. Alegaram que ele tinha pouca altura para goleiro. Foi jogar futsal e trabalhar na Casa do Bronze. Agora tem sua loja de carros.

          Quando fazíamos nossas peladas no campinho da Rua Professora Amazília, ele gritava: "Riquetti, breca lá!" E eu brecava, não deixava o adversário passar. Desde então apelidamos ele de Breca. Era a gíria do Bugão, do Nire, do Duda, do Jaime Rotta  e do Tanque Joaquim lá no Iguaçu. O Celso Lazarini é "Breca" até hoje.

          O Nivaldo "Bode" Dambrós foi goleiro da AMFO no campo da Linha Sagrado, no Ouro. Fomos inaugurar a ampliação. Um cara "da casa" chutou forte. Ele pensou que o balão de couro ia para fora e nem se mexeu. A bola deu no travessão, voltou, bateu atrás da cabeça dele e foi por cima da trave. Evitou o gol, sem querer. Foi saudado como herói.

          Uma vez, lá no Arabutã, eu estava jogando com raiva. Tinha um painel de propaganda do Besc às minhas costas. Estava há 60 metros da baliza, fiz  um gol do meio da rua. Enfiei um canhão com a gamba esquerda e o goleiro foi buscar a pelota no fundo da cozinha. Comemorei muito, pois eu era lateral direito. Em 22 de julho de 1984 quebrei a perna quando estava na quarta zaga. Saí pra deixar o Tita na banheira e o Vinte Cinco deu condições de jogo prum  pelego. Fui mandar a bola pro mato mesmo que o jogo não fosse do campeonato, e meu goleiro me atingiu. Foram três quebradas, uma de tíbia e duas de perônio. O Mafra e o Farid me levaram pro gesso em Jç. Muita dor e seis peses no estaleiro. Depois O Mafra foi pra Floripa e o Farid virou vice-prefeito de Capinzal. Mas quando eu era pequeno era muito perneta, canela seca e dura. Era um baita pé torto. Com a idade fui aprendendo a jogar. Mas da daí as pernas foram ficando muito curtas e o campo muito comprido.

          Próximo de decisões de classificação cuidam dos boleiros para que não aceitem nada dos malas pretas. É vergonhoso. Ninguém tolera quem dá migué, pois deixa os amigos no compromisso. Boleiro que se preza dá o sangue no campo, sua a  camisa e reza pro seu pai-de-santo. Mas a maioria tem fé em Nossa Senhora, de preferência a Aparecida.  Quando a coisa fica preta, no entanto, exclamam: "Santo Deus, joque sério!" ou "Jesus Cristo, mexa-se!" Mas quem tem que fazer isso é o jogador, não Deus nem Jesus. Quando tem  muita lua no céu, no verão, pedem: "São Pedro, manda umas gotas daí de cima!"

          Bem, lembrar de algumas das muitas histórias de boleirinho me traz saudades. Saudades do Caburé, do Paciência, do Jota Bronquinha, dos Coquiara, do Inferninho, do Foguete, do Flamenguinho, do Nêne, do Sapuca,  e de muitos outros. Alguma hora dessas me atrevo a dizer quem foram esses. Enquanto isso, "Breca lá, boleiro!"

Euclides Riquetti
18-02-2013





         

         
















domingo, 17 de fevereiro de 2013

Eu quero ser teu sol

Eu quero ser teu sol
Morenar teu corpo levemente
Dourar teus cabelos  infinitamente
Eu, apenas eu, teu sol...

Eu quero ser teu sol
Beijar teus lábios docemente
Acariciar tua pele suavemente
Eu, apenas eu, teu sol!

Quero me perder em ti e que tu te percas em mim
Quero me abraçar a ti e que tu te abraces a  mim.

Quero ser teu sol novamente
Beijar-te, ter-te, perdidamente
Brilhar  pra ti e que tu brilhes pra mim com afã
Em todas as  tardes  e em cada manhã
(Quero dar-te o que buscas incessantemente)
Apenas eu, teu sol...

Euclides Riquetti
17-02-2013