terça-feira, 19 de junho de 2012

Décima Oitava Crônica do Antigamente

          Já me referi, anteriormente, aos périplos de meu pai, Guerino, no final da  década de 30 e início da de 40 do Século Passado, em São Paulo, depois de ter fugido do Seminário São Camilo, onde era noviço e cursava Filosofia, já usando batina.

          Bem, como relatei, um mascate português prometeu-lhe que, se reunisse algum dinheiro, o traria de volta a Santa Catarina, ao Distrito de Ouro, em Linha Bonita, onde seus pais deveriam estar residindo. Conseguido o dinheiro para a viagem, vieram de trem, pela Rede Viação Paraná Santa Catarina, atravessaram o Rio do Peixe em balsa existente na Estação Avaí, 10 Km ao Sul da Estação  Rio Capinzal. Foram a pé, carregando suas malas, retangulares, duas para cada um. Atravessaram o Passo do Rio do Peixe, passando pelas propriedades dos Teixeira Andrade, de Victório Baretta (que mais tarde se tornou meu avô), Serafim Baretta, Ambrósio Baretta, Francisco Zanini, Constantino Bressan, Abramo Colombo, Joaquim Casara, Angelim Baretta, Elias Baretta e, finalmente chegaram à de Frederico Richetti, seu pai, depois  meu avô paterno. As pessoas olhavam curiosas para aquele mascate e o rapaz, que parecia conhecido, um moço de olhos castanhos esverdeados, magro, alto, de caminhar firme, gestos elegantes. Algumas informações buscadas com pessoas que encontrava, das quais nem mais lembrava direito, e os locais não se atreviam a perguntar-lhe quem era, embora imaginassem ser  Guerino, o seminarista.

          E então, 11 anos depois de ter saído de casa, chegam ao portão da propriedade cercada de taipas capichosamente feitas com pedras irregulares manualmente assentadas e alinhadas, que seguiam pelo plano próximo ao riacho e se estendiam morro acima, perdendo-se por entre as árvores verdes de um capão ao alto, onde os animais costumavam franquear-se, fazendo inveja aos mortais que tinham que trabalhar de sol a sol. O portão de madeiras falquejadas, com ferragens malhadas numa  ferraria colonial da Coxilha Seca, foi transposto com expectativa, com os olhos do jovem buscando descobrir algum familiar, possivelmente Dona Genoveva Píccolli Richetti, a mãe. Após uns 150 metros caminhados,  foi possível visualizar sua mãe, magra, rosto  sofrido, olhos fundos, meigos,  lenço amarrado na cabeça, protegendo os cabelos castanhos. Foi de muita  emoção o encontro dos dois: o abraço, as lágrimas de alegria, " l´era lo figlio perduto que a casa ritorneva". Alegria incontida,  a "corneta" berrando para atrair para casa o pai e os irmãos que estavam na roça, os gritos de alegria ecoando pelo vale e chamando a atenção da vizinhança.

          A "Mama Genoeffa", que era a pronúncia italiana para Genoveva, mal pode acreditar que o filho  retornara, pois quando este  figiu do seminário e dele não mais teve notícias, julgava que estivesse ido para a Itália, na Força Expedicionária Brasileira, e que lá tivesse perecido. Uma vez lera uma reportagem  n´O Correio Riograndense, jornal que ainda hoje circula no meio rural, editado em Caxias do Sul, sobre um "figlio perduto", em que uma  mãe chorava sua perda na Guerra. Ela pensara que o mesmo havia se sucedido com seu Guerino.

          Foi uma semana de festa na propriedade, lá onde hoje mora o primo Nelson Baretta, irmão do Chascove. Ninguém trabalhou naqueles dias, apenas tiravam o leite das vacas e alimentavam os animais. Abateram-se porcos, ovelhas e até bois. A comunidade foi convidada a festejar a volta do filho. Muito vinho e muita gasosa. Dizem que por lá esteve uma filha do Victório Baretta, comerciante, de olhos bem verdes, bonita, dois anos mais jovem do que ele, e que foi "amor à primeira vista". Foi, sim, minha mãe, Dorvalina, casou-se com ele um ano depois, e tiveram seis filhos, sendo eu o segundo deles. Ah, posso parodiar um renomado escritor e dizer: "fui fruto de uma maretada  que um  noviço deu no dedão do pé de um colega de seminário"...  Ainda bem!

Euclides Riquetti
19-06-2012



       

domingo, 17 de junho de 2012

Quindicesima Notte del Formaggio e del Vino - Ouro - SC

          Participamos, neste sábado, 16 de junho de 2012, da Décima-quinta Noite do Queijo e do Vinho, que nossos oriundi, em seu dialeto "Talian", muito próximo do Vêneto, chamam de "Note del Formaio e del Vin", evento que vem sendo promovido desde 1998, e que, naquela época, foi sugerido ao Grupo Pìccola Itàlia del Oro pelo então Prefeito Sérgio Durigon. É o principal evento no gênero em Ouro e acontece no Clube Esportivo Floresta.

          No Meio Oeste Catarinense, Vale do Rio do Peixe, acontecem muitos jantares e bailies italianos, todos os anos. Mas cada um tem suas próprias características: Capinzal tem sua Noite Italiana, ou Festa Italiana, concebida pelo saudoso Prefeito Celso Farina, que acontece em julho. Luzerna tem seu Baile/Jantar Italiano, promovido sempre em meados de junho. No ano passado, participei do de Arroio Trinta, convidado pelo Prefeito Cláudio Sprícigo.

          Arroio  Trinta é a Capital Catarinense da Cultura Italiana. Tem um mirante com vista fabulosa, menos  em dias com neblina, por causa da considerável altitude. Tem sua Casa da Cultura, uma réplica de um casarão construído pelos colonizadores. Tem um portal que reproduz a arquitetura de Veneza, sobre um riacho que corta a cidade,  e o prédio da Preferitura, em estilo italiano, é muito bonito. Um bom Hotel, com ótimo café da manhã. A cidade está consolidando seu "gemelaio" com uma cidade da Região da Emília Romana, na Itália. Seu Prefeito, o Sprícigo, costumo dizer-lhe, é um sósia do ator Giuseppe Oristânio, que fez algumas novelas na TV Globo. Aliás, já pediram até autografo ao Prefeito, num aeroporto, certa  ocasião, achando que era o ator. 

          Essas manifestações culturais dos descendentes de italianos, filhos, netos e bisnmetos de italianos que chegaram à Serra Gaúcha a partir de 1875, ajudam a resgatar a cultura das cidades e possibilitam muito entretenimento, com variada gastronomia, danças típicas, vinhos coloniais ou de parreiras viníferas de altitude, e muita música.

        A Noite do Queijo e do Vinho deste ano seguiu o padrão das demais, com muita comida toda a noite(não é jantar). A decoração do ambiente é bem característica e harmoniosa. Os integrantes do Píccola Itàlia vestem-se impecavelmente, preaticamente com novo figurino a cada ano. De início, um grupo de 7 casais de adolescentes, coreografados pela Professora Tatiane Viganó, faz sua apresentação inicial e depois os casais de adultos também apresentam suas coreografias e canções. O Ildo Cicconet dirige a parte de cantos e o Valdir Bonato, com sua gaita, executa as músicas. O baile ficou a cargo do grupo Ragazzi dei Monti, de Monte Bello, RS. Aliás, é uma forma repetida, mas solicitada pelos participantes, uma vez que atingem em cheio o gosto dos que frequentam a festa. Álvaro e Mara, os dois líderes e vocalistas,  interagem com muitas piadas divertidas, durante todo o evento. É o grupo ideal para animar e fazer-nos rir, muito, muito.

          Uma inovação neste ano foi a apresentação de um vídeo, na abertura, com um resumo de toda a história dos bailes que aconteceram no Floresta, por eles organizado. E é aí que somos remetidos à saudade. Observamos que algumas pessoas amigas, que aparecem na tela, não estão mais entre nós: A Edite Zanini, o Zacarias Tessaro, o Pedro Zaleski, o Olivo Zanini, o Rozimbo Baretta, que aturaram nos primeiros anos. Também sentimos a falta de outras pessoas que, por causa da idade ou outros motivos, ficam em casa, apenas lembrando: a Dona Mirian Doin, o Reinaldo Durigon e sua Esposa, e a Dona Ida Caldart, mãe do Renô, Rogério e Roberto, que no ano passado lá esteve, cabelinhos brancos, sem aquela "força" que sempre teve, mas esteve lá.  E há aqueles que, por uma ou outra razão, afastaram-se do grupo, tomando outros rumos. Todos, de alguma forma, fazem falta...

          Foi uma noite maravilhosa, as pessoas dançaram muito, todos os gêneros. Mas vem a hora do tango, e sobram poucos  casais: sempre os primeiros a adentrarem a pista, o Adelir e a Elba Baretta, o Darci Baretta e a Iraci, e mais uma meia dúzia de pessoas corajosas. O Vilson Dambrós e a Ruth já haviam saído. Nesses momentos lembramos de quantas vezes vimos o saudoso João Fontes e a Dona Léa, o Plauto Dambrós e a Selvina, no passado, dançando tango. O Severino Dambrós e a Marília também mandaram muito bem nesse gênero ao longo da história do Ateneu e do Floresta.

          Muitos dos presentes vieram de outras cidades, para onde foram, mas que escolhem momentos assim para rever seus familiares, amigos, e fazer MUITA FESTA, QUE NINGUÉM É DE FERRO. 

Parabéns ao pessoal do Píccola pela beleza e nível de organização!

Euclides Riquetti
17-06-2012