sábado, 12 de dezembro de 2015

Na subida da maré

Na subida da maré
Deixei-me levar
Fui buscar os seus encantos
Nas ondas do mar.

Por conta da maré
Comecei a me inspirar
Imaginei lugares tantos
Onde a fui procurar...

Procurei nos pensamentos
Nas florestas e gramados
Senti o seu corpo  nos ventos
Deliciosamente perfumados.

Na descida da maré
Você foi embora
Foi pro sul se esconder
Nas lembranças de outrora...

Foi como os sonhos vividos
De quem deseja e quem quer
Sonhos de hoje, sonhos antigos
De menina mulher!

Bem assim, apenas assim!

Euclides Riquetti
12-12-2015

A Bicicleta, o Hidramático e o Diulino

Belas e saudosas lembranças
          O Diulino foi meu colega de escola  no ensino primário, lá na antiga Rio Capinzal. Sempre tinha uma história boa para me contar. Em algumas ele exagerava, mas, quem  não exagera? Pois então eu vou contar uma dele. Propus-lhe amizade virtual e ele aceitou. Mandou-me uns recados e, não foi no primeiro contato que ele percebeu quem eu era. Ele me conhecia pelo apelido e não pelo nome.  Depois  ele me identificou e respondeu minhas mensagens in box.

          O Diula sempre foi uma figuraça. Era doente por carros. Acabou virando comerciante de caminhonetes e se deu bem. Tinha daquelas que só "doutores" conseguem comprar. Mas, antes disso, lá por 1960 e bem poucos, tinha uma bicicleta. E, quando faltava freio, botava a sola do sapato no pneumático para segurar. Tinha uma mania que era só dele: pedalar morro abaixo e frear perto da esquina.Um dia, saiu do Mater Dolorum, passou pela Casa Canônica, até aí sem pedalar. Mas na Rua ao lado de um engarrafamento de bebidas, onde hoje é a Prefeitura de Capinzal, deu uma pedaladas. Para seu azar, quando ia chegando na esquina, ao frear, não sei se quebrou ou caiu a corrente  da sua Monark e ele atravessou a Rua Carmelo Zóccoli (naquele tempo eram raros os carros nas ruas), bateu no meio-fio e,  com isso,  foi alavancado para a altura de uns 2 metros,  indo bater com a cabeça na parede de madeira da casa amarela que fora construída pelo Carmelo Zoccoli.

          A batida foi tão forte que derrubou um armário que estava num dos aposentos, dentro da casa. Imagine o estrago, não na casa. Nele!

          Quando soube da notícia, no outro dia, fui correndo visitá-lo no Hospital Nossa Senhora das Dores, naquela ala em que se vê a matriz São Paulo Apóstolo pela janela. . Estava lá com a cara preta e vermelha. Quem não o tivesse conhecido antes, não conseguiria imaginar como seria seu rosto. E os amigos iam visitá-lo e o faziam rir, pois todos já conheciam a história de sua aventura maluca. O boca-em-boca levava a informação rapidamente.  Mas ele não podia rir, pois quando era incitado a isso, doiam-lhe todos os músculos das faces. Se ele risse, día muito. Êta azar!... Nós lhe dizíamos que ele teve sorte porque era um "cabeça-dura". Se fosse  um "cabeça-mole" teria se danado.  Gostávamos muito dele. Logo ele voltou à vida normal, graças a Deus ( e ao bom tratamento que recebeu). Deu um susto no Seu Antônio Pelizzaro,  na mãe, nas manas  Angelina e Silvalina. O seu Antônio tinha um cabelão bem arrumado, tipo Elvis Presley, castanho-escuro. Agora está branquinho...

          Mas a obstinação  por veículos estava apenas começando. Uns tempos depois, quando já tinha idade, comprou um belo carro vermelho e branco. Um daqueles carrões importados. Claro que o dele era bem usadão. E nos falou: "É um hidramático". Nós nem tínhamos ideia do que isso fosse. Então, começaram as piadinhas porque ele deu um dinheiro e  mais umas coisas no negócio.  E os outros diziam: "O Diulino  comprou um hidramático. Deu um cavalo, uma bicicleta, uns boizinhos do pai dele, uma espingarda, um revólver  e umas galinhas na troca, um perfeito escambo. Era só gozação nossa, mas bem que ele empurrou um monte de coisas no negócio.

          O problema do carro dele é que esse tipo de carro não podia pegar no tranco quando a bateria não tivesse carga, porque não tinha embreagem. Nós achávamos aquilo tudo muito estranho. E a bateria era muito tranqueira e descarregava. E ele tinha gastado todo o dinheiro no negócio e não tinha como comprar uma bateria nova. Então, quando ia a algum lugar e na hora de ir embora o carro não pegava, ele o deixava onde estivesse. Retirava a bateria, colocava dentro de um sacvo de ráfia, punha sobre o ombro, ia a um eletricista e  mandava recarregar. Era um baita sacrifício. Mas ele não desistia. Muito antes da propaganda existir, já poderíamos dizer: "O Diulino é brasileiro. E brasileiro não desiste nunca!"

          Num e-mail falei-lhe de seu "hidramático"  e ele respondeu-me: "Agora até os tratores agrícolas são automáticos". O automático, hoje, equivale ao tal de hidramático de nossa época.

          Encontrei-o algumas vezes nos últimos 20 anos. Sempre com belos carrões. Fico contente que ele não aparece mais por aí de bicicleta. Vai que caia, de novo, a corrente dela quando estiver descendo um dos nossos morros...


Euclides Riquetti
03-05-2013

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

O primeiro vento...

O primeiro vento que roçou meu rosto
Trazendo-me um doce bálsamo floral
Veio para se impregnar no meu corpo
Na manhã de sol e de um mar colossal.

Veio suave e  me trazendo as gaivotas
Com seus gemidos e os seus planares
Olho, no oceano, as distantes ilhotas
E voa meu pensamento sobre os mares.

O mesmo lufar que me traz saudosas
As lembranças que me fazem feliz
Traz-me também a energia prazerosa
Que me impele a te querer e sentir.

Então, enquanto contemplo a calmaria
E me transponho pelo azul celestial
Eu me perco na nave da nostalgia
E busco te encontrar no espaço sideral!

Euclides Riquetti
11-12-2015


Tu me pedes que te escreva um poema


Tu me pedes que te escreva um poema
Talvez romântico, falando-te  da flor
Confesso: Não sei usar nenhum outro tema
Que não seja pra te falar de amor...

Tu me pedes, com teu jeitinho todo gentil
De senhora adorável,  de  musa menina
E eu me encanto com teu sonho juvenil
E bebo de tua alma que me atiça e ilumina...

Apenas me pedes, com teu olhar sedutor
E me provocas com tuas palavras carinhosas
A que eu me rendo com desejo em verdor.

E, então, meu pensamento sai a encontrar-te
Vai buscar em  ti as  carícias deliciosas
Levar-te meus versos, meu amor, minha arte!

Euclides Riquetti

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

O Zico Show

;

Reprisando...

          Nos primeiros anos da década de 1980, apareceu lá em Ouro um jovem muito dinâmico oriundo da cidade de Tubarão-SC. O Prefeito da época, Ivo Luiz Bazzo e eu, seu Secretário, o recebemos em seu Gabinete. Moço simpático, aquele rapaz de tez morena, cabelos escuros e olhos um tanto claros mostrava bons modos ao falar e na postura das mãos. Viera à cidade para exercer a função de Exator da Fazenda Pública Estadual, concursado que fora. Seu nome: Selézio Guido Lopes.

          Pois que o Selézio enturmou-se nas cidades gêmeas em pouco tempo. Além de sua comptência profissional, tinha algumas  habilidades que o destacavam: Tocava muito bem o seu violão, cantava e jogava futebol, de campo e de salão. Praticava tênis. Nós o convidamos para jogar em inaugurações de quadras de futsal e campos de futebol e ele ia, entusiasmado. Depois, passou a disputar os campeonatos no Ginásio Municial de Esportes e a atuar no Penharol Esporte Clube, um time amador local,  mas que costumava ir às finais do estadual. E, a outra paixão, o violão e a voz, o tornavam conhecido em toda a região. Construiu sua casa ali na Rua Senador Pinheiro Machado. Branca, com janelas de madeira,  venezianas de arco, estilo colonial, pintadas de verde. As portas,  idem. Casou-se com uma bela jovem de Tangará, mas diferentes estilos de vida não combinaram e veio o divórcio.

          Já na chegada,  fez grande amizade com os Riquetti da Alfaiataria e da Churrascaria, o Sérgio, o Ovídio e o Hélcio, conhecido como o "Fantasma". Meu primo Sérgio, costumava chamar todos os rapazes de "Zico". Era o vocativo que empregava para chamar qualquer pessoa de que não conhecesse o nome. Com o tempo generalizou e passou a usar esse nome como se quisesse significar: "Cara!, Moço!, Amigo! e equivalências. E o Selezio era o cara certo pra ser mais um "Zico", até porque isso poderia representar uma corruptela de seu nome. E o Selézio virou nosso "Zico".

          E o Zico animou-se com sua popularidade como bom cnator e aprendeu a cantar em italiano. Cantava todas, os boleros românticos, as marchas, as valsas,  e até os vanerões em dialeto vêneto.  E começou a fazer pequenos shows pelo Vale do rio do Peixe. Mandou até imprimir cartazes em "off set", coloridos, a melhor tecnologia da indústria gráfica na época.

         Frequentemente, no início dos anos de 1990, o cantor Valdir Anzolin, de Veranópolis - RS, que tinha um vozeirão e gravava LPs em italiano, autor e intérprte de "Filton", era contratado para realizar bailes por aqui. Animou pelo menos duas Noites Italianas no Centro Educacional Celso Farina, em Capinzal. Com exceção de Capinzal, ele trazia uma equipe que preparava os jantares italianos nos bailes. Vinha com uma carreta enorme e um ônibus trazendo a banda e os cozinheiros. Fui a bailes em que ele tocou em Treze Tílias, Tangará e Campos Novos. Em Tangará, quando lá fomos, tivemos uma bela surpresa: O Show de Abertura de seu baile era protagonizado pelo amigo Selésio, nosso Zico. E o locutor, animadamente, anunciava: "E agooooora, Senhoras e Senhoooreeesss: Zico Show".  E ele fazia um show muito bonito, cantando as músicas em italiano.

          Nessa época, nosso Zico pediu transferência e veio morar em Herval D´oeste. Comprou um  terreno, fez nova casa e aquilo que mais gostava e queria ter: uma quadra de futsal, com iluminação. Angariou uma nova legião de amigos e ainda convidava os da nossa cidade para lá jogar.

          Fatalmente, após um desses jogos, ao desligar a chave da iluminação da quadra, eletrocutou-se e morreu...E seu corpo foi levado para sua cidade natal, Tubarão.

          A lembrança desse rapaz,  que se tornou nosso amigo e companheiro em muitas de nossas jornadas esportivas e políticas, nunca mais me saiu da cabeça. E, há dez anos, uma vez em que eu passava por Tubarão, conversei com um senhor que me perguntou de onde e eu era e,  ao saber, falou-me que tinha perdido um amigo aqui na região, o Selésio. Era vizinho deles, amigo dele e de sua famíla. Levou-me para conhecê-los: estavam lá sua mãe, uma irmã e um sobrinho.

       Ficaram emocionados quando lhes falei que não poderia passar pela cidade e, sabendo que ali residiam os familiares de um amigo que se foi, deixar de visitá-los. Sua mãe abraçou-me carinhosamente, jamais esquecerei disso. Aquele senhora simpática, meiga e de olhar benevolente e marejados  mostrava-me,  nas paredes, orgulhosamente, fotos do filho, com as camisas dos times em que jogou, ali de Capinzal e Ouro, Penharol, Arabutã, CME. Lá estavam muitos rostos de amigos nossos que conosco jogaram uma bolinha. E, bem ao meio de uma parede da sala, um daquele cartazes em que aparecia  caracterizado para cantar em italiano e a sua marca grafada:  "Zico Show".

          Não sei por que hoje me veio à mente as lembranças do Selézio. Tive vontade de chorar. Não poderia deixar de homenageá-lo, amigo Zico.   Zico foi, realmente, muito show!

Euclides Riquetti
09-05-2013

DECORSHOP - 18 anos ajudando a tornar seu lar mais bonito!


          Há 18 anos, nascia em Ouro uma empresa que se propunha a levar requinte, beleza e conforto a lares e ambientes de  convivência e de trabalho.  Entendiam seus idealizadores que, qualquer ambiente, por mais simples que seja, quando bem preparado, pode ser alçado a padrões de sofisticação apenas com a introdução de alguns acessórios, desde que criteriosamente sugeridos, escolhidos e adequadamente dispostos. Pode-se, assim, obter ambientes leves, confortáveis e de elevado padrão, sem muitos investimentos.
          Então, com conceitos pré-estabelecidos, concebeu-se uma empresa que viria a proporcionar não apenas bons negócios para os proprietários e clientes, mas  sim a satisfação de ambos,  por entenderem que quem investe, quem compra, quer receber em troca bens e serviços que justifiquem seus investimentos e, ainda melhor, que os resultados superem as expectativas geradas.
          Assim, nascia ao final de 1997 a DECORSHOP, uma empresa de iniciativa familiar, liderada por Marize e Hiroito Riquetti, que funcionou em Ouro até o ano de 2005, quando, buscando um espaço maior, transferiu-se para o alto da Rua XV de Novembro, em Capinzal, no prédio da Rede Feminina de Combate ao Câncer.  Hoje a empresa conta com a atuação dinâmica da Naiana Laís, filha do Hiroito e da Marize.
           Oferecendo produtos exclusivos das melhores marcas e  de altíssima qualidade, a empresa vem angariando clientes de várias regiões brasileiras, em especial os que visitam o Baixo Vale do Rio do Peixe. Dessa forma, Marize, Naiana, Hiroito e as suas colaboradoras oferecem um atendimento personalizado, sugerindo produtos que mantêm os ambientes leves e elegantes. A satisfação do cliente é a proposta da equipe que forma a família DECORSHOP.
          DECORSHOP 18 ANOS - Parabéns à empresa,  sua rede de clientes  e à família Riquetti. Vocês estão ajudando a tornar mais satisfeitas as pessoas que buscam viver em belos ambientes.

Euclides Riquetti

Fim de tarde



Os animaizinhos vão-se escondendo sem alarde
Os últimos raios de sol fenecem lentamente
As crianças entram em casa alegremente
Não,  não é apenas um final de tarde!.

No horizonte alaranjado do ocidente
O firmamento se cobre de vernizes
E nas cores  quentes  de todas as matizes
Desenha sua paisagem envolvente.

Indescritível cenário de harmonia
Pintura divinamente emoldurada
Pelas mãos de Deus executada
Visão que se renova em cada dia.

É, sim, bem mais que um simples entardecer
É, sim, um maravilhoso fenômeno sem igual
Quando o sol se põe no horizonte natural.

É a mão do divino Mestre a se estender
Abençoando cada planta e cada ser
Protegendo esse conjunto colossal!

Euclides Riquetti

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O Zique, a Goiaba e a Guaiaba

Replay:
          A goiaba é um fruto rico em Vitamina C, tem mais que a laranja ou o limão. Já mencionei, em algum de meus textos, que na minha adolescência eu comi muita goiaba. Primeiro, porque quando saí de casa, com menos de 14 meses de idade, e me levaram para morar com meu Padrinho,  no Leãozinho, lá havia uma goiabeira bem ao lado do tanque de lavar roupas. O tanque fora confeccionado com pedras retangulares habilmente cortadas,  cimentadas e  sobrepostas bem entrelaçadas. Uma bica de bambus conectados trazia a água de algum lugar do morro da roça. Lembro bem da goiabeira que produzia os frutos de um verde bem escuro. Deliciávamo-nos com eles.

          Neste  de domingo, fui dar minha caminhada de final de tarde  e, chegando na Pista do Clube Comercial, senti um agradável olor vindo de algum lugar. Um delicioso aroma que eu conhecia de muitos anos. Virei-me para o lado e lá estavam dois pés de goiabas amarelas, daquelas cuja polpa é branca. Lembrei-me de quando minhas crianças eram pequenas e havia goiabeiras abundantemente, nos terrenos vizinhos, das famílias do Aldecir Campioni e do Benjamim Miqueloto. As crianças faziam muita festa com as goiabas: a Carol, a Michele, o Fabrício, o Felipe, o Maxuel, o Júnior, a Evelin, a Aquidauana, o Tiago, a Márcia, a Janaína, o Renato. Tínhamos o cuidado de dar-lhes aquelas que iniciavam o amadurecimento, pois as madruas, frequentemente, são portadoras do bicho-da-fruta, aquele que vem dos ovos que as moscas-da-fruta põem e buscam, quando vão se tornando "bichos", o interior dos pomos. Eu, pelo menos, não era adepto do "o que não mata, engorda!

          Não sei por que razão, se pela ausência das moscas ou pela variedade, (ou porque a gente não enxerga direito), mas as goiabas de polpa branca não possuem bichos, mesmo maduras. Não aquelas ali, que as pessoas retiram das goiabeiras e comem, ali na Pista. Nem vou pesquisar sobre isso, pesquise você, caro leitor (a).

          O Zique é meu afilhado, filho dos finados Compadre Carmozino e Comadre Jurema. Quando o batizamos já era grandinho, uns 9 anos, os pais tinham se tornado católicos e fizemos isso lá na Matriz São Paulo Apóstolo, nossa suntuosa Igreja de Capinzal. Tem as mesmas características da Basílica de São Pedro, em Roma, com uma abóbada semelhante. Pois que o Ezequiel devia ter uns nove anos quando o batisamos e, quando ele viu que o Padre jogava água na cabeça dos bebês com aquele jarro grande, esmaltado de branco, ele apavorou-se e saiu correndo pela Igreja. Deu-nos um trabalhão o Zique, mas eu, o Compadre e alguns dos demais presentes conseguimos levá-lo para a Pia Batismal.

          O Zique cresceu, jogou bola como Goleiro do Bairro Alvorada, foi para a Escola até o final do Ensino Fundamental, não quis mais estudar e foi trabalhar. Então casou-se e teve filhos. Quando ele me encontra, junta suas mãos, agora maiores que as minhas e me diz: "Bênça, Padrinho!" - E eu lhe respondo: "Deus o abençoe, Ezequiel!" E, depois,  peço-lhe como vai o serviço, as crianças, se estão indo para a escola direitinho.

          Pois que dia desses estávamos numa turminha, lá numa obra,  e começaram a falar que era tempo de goiaba. E ele: "Eu como muita guaiaba. Faz bem pra saúde e é gostosa!"  Um seu colega falou: "Zique, não é "guaiaba", é "goiaba!" E começaram a teimar... Então  me pediram  para mediar a questão. Falei-lhes: Olha, o nome certo é goiaba, embora muitas pessoas chamem elas de guaiaba. Guaiaba é uma palavra "não oficial", mas tem gente que a chama assim. Mas o Zique falou: "Sabe, Padrinho, tem das duas. Goiaba é daquelas mais amarela e guaiaba é daquelas mais verde!" E todos desandaram a rir. O Zique é esperto, acha saída para situações assim.

        Rimos muito. Prezo essa gente humilde e trabalhadora como se fossem minha família, eles bem sabem disso. Esses meus amigos e companheiros, pessoas muito simples a quem sempre pude dar minha atenção e retribuir-lhes a amizade, quando se reúnem, não deixam ninguém triste. Riem  muito, fazem-nos rir também.  Tudo é motivo pra piada e risos. E gostam de melancia, "vergamota" e "guaiaba".

          Mas, e afinal, você, leitor (a), prefere goiaba ou guaiaba?


Euclides Riquetti
30-04-2013

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Eterno romântico

Eu até faria um poema acéfalo
Desarrumado, feio e esquálido
Infinitamente torto e indiscreto
Um poema desbotado e pálido...

Talvez um  poema heterorrítmico
Escrito com carvão preto, vegetal
Pra afrontar um outro isorrítmico
Árcade, brega, insosso sem igual. 

Eu faria algo bobo e detestável
Sem efeito, sem nenhum sentido
Poema inútil não recomendável
Falando sobre um amor bandido.

Mas isso está fora de cogitação
Serei um eterno poeta dos sonetos
Cantarei o amor, o afeto e a paixão
Ser eterno romântico eu prometo!

(Apenas isso...
Bem assim!)

Euclides Riquetti
07-12-2015














Tudo de que você precisa é amor! 35 anos sem John Lennon...

        Terminava o dia 08 de dezembro de 1980, era uma segunda-feira e uma notícia estrondosa repercutia no mundo: Mark David Chapman, de 25 anos, supostamente fã do ex-Beatle John Lennon acabava de assassiná-lo, com quatro tiros certeiros , na entrada do Edifício Dakota, em Nova York, onde residia com sua então esposa Yoko Ono. De fã passou a odiá-lo, em razão de divergência de pensamento religioso. Chapman, soube-se adiante, não concordava com as letras de algumas das canções de Lennon e de algumas posições que ele tomara na imprensa com relação ao Cristianismo,  por isso decidiu assassiná-lo, ato que consumou naquele dia. Ainda de dia, obtivera dele um autógrafo.

        Eu soube sobre isso bem cedo, na manhã seguinte, vi num noticiário de TV. Difícil de acreditar que o ex-companheiro de Paul MacCartney, com quem dividia a autoria das principais canções dos "The Beatles", bem como de George Harrison e Ringo Starr  tivesse perdido a vida assim tão tragicamente. Uma das figuras mais  importantes e imponentes da música pop mundial, vinha encantando o mundo em sua carreira solo (algumas vezes com a participação de sua companheira Yoko Ono), tendo-nos brindado com "Imagine", "Instant Karma", "Happy Xmas"  e outras.

         Mas o grande sucesso dos Beatles é creditado à grande habilidade e talento de Lennon e Mac Cartney em compor e interpretar canções como "Help", "All You Need Is Love", "Lucy in the Sky with Diamonds", "Come Together", "Don´t Let Me Down", "Across the Universe" e dezenas mais.

       Os Beatles influenciaram grandemente toda a minha geração. Passamos a usar cabelos compridos e usar calças apertadas com as conhecidas "bocas-de-sino", ou seja, bem alargadas abaixo do nível dos joelhos. Também camisas estampadas e floreais. Cantores  brasileiros lançaram músicas com ritmo acelerado por aqui, denominando-o de iê-iê-iê, uma espécie de  rock brasileiro que tinha em Roberto Carlos e Erasmo Carlos, talvez os maiores expoentes na época, vindo, logo depois, dezenas de outros. A influência dos meninos de Liverpool se espalhou pelo mundo inteiro.

        Lennon nos deixou um belíssimo legado como compositor e intérprete. Não me referirei, aqui, a suas posições religiosas ou políticas. Apenas lamente que o mundo tenha perdido uma pessoa que, aos 40 anos, poderia ter-nos contemplado com muito mais. Pessoalmente, considero The Beatles a banda de maior sucesso de todos os tempos!  Era fã deles, continuo sendo. Vou, sempre, ouvir e admirar a canção de que mais gosto e que traduzi no título desta crônica: "All You Need Is Love"!

Euclides Riquetti
08-12-2015
35 anos sem John Lennon





O Dia da Família - Dia da Imaculada Conceição

          O Brasil comemora, desde o ano de 1963, na data de 08 de dezembro, o Dia Nacional da Família. A Família ainda é a instituição mais respeitada no País, mesmo porque as outras instituições estão com muito desgaste perante a sociedade. Não que as famílias sejam perfeitas, tanto que, numa mesma, há muitas divergências entre seus membros e muitas diferenças no modo de comportamento de seus integrantes.

          A pluralidade de pensamento, opinião e  manifestação é garantida aos brasileiros num momento em que, mesmo com grande descontentamento nos rumos que a política partidária está tomando, com evidência da corrupção e do mau comportamento de classe em geral, ainda há quem preze e preserve os valores da FAMÍLIA. Os laços de sangue, principalmente, somados aos afetivos, fazem com que as pessoas façam aflorar seus sentimentos em todas as circunstâncias. A sensibilidade é inerente ao ser humano e, mesmo que ocorra a ascensão de toda a sorte possível de busca do crescimento material, nas horas difíceis  ainda se apresentam com toda a força os valores e os princípios que embasam e norteiam a família.

         Assim, neste dia 08 de dezembro, dia que também é consagrado à Imaculada Conceição, quero manifestar meu amor e meu carinho a todos os meus familiares, aos parentes em indistinto grau, e desejar que a harmonia se faça presente no seio de cada um, e que o entendimento, pautado no diálogo e no respeito se sobreponha a quaisquer diferenças.

Grande e afetuoso abraço aos meus familiares e a toda a família brasileira...

Com muito carinho!

Euclides Riquetti
08-12-2015

Os portões da cidade

  Relembrando...
 
          Conheci asfalto com quase 19 anos de idade, quando inauguraram a Rodovia do Xisto, entre União da Vitória e São Mateus do Sul, no Paraná. Foi inaugurada poucos dias antes de eu conhecer aquela cidade, ao ir inscrever-me para o Vestibular. Tinha notícias, os motoristas Adelar Baretta,  o Valdemar Matté e o Laurindo Biarzi me contavam, havia asfalto em Curitibanos. Era uma estrada sem pedras, sem barro, feita com piche e pedriscos. Meu primo Cosme Richetti, contava-me que havia asfalto na região de Ponta Grossa. Ele conhecia, estudava no Seminário de Riozinho. E eu perguntava: "A estrada é preta?", na minha ingênua dedução.

          Na região de Joaçaba, Campos Novos  e de Rio Capinzal, apenas conhecíamos a pavimentação com paralelepípedos, pedras de basalto, abundantes nas pedreiras do Vale do Rio do Peixe. Apenas nas áreas bem centrais das cidades havia calçamento.  As pedras eram retiradas por explosão com dinamite, em grandes blogos.  Depois, com a habilidade herdada desde os ancestrais, os cortadores de pedra iam moldando-as para que tomasse a figura geométrica "paralelepípedo".

          Os leitos das ruas eram, primeiro, emparelhados com trator de esteiras e, posteriormente, com a motoniveladora, de forma a que as lombas existentes fossem reduziddas. Faziam bueiros no sentido transversal, com pedras. Praticamente não existiam tubos de concreto.

          As cidades eram privilegiadas por terem  ruas calçadas e outras com revestimento primário de macadame, muitas vezes transportado por  carroças. E, as estradas rurais, que foram abertas por tratores de esteira e, raramente recebiam patrolagem, formavam atoleiros. Os colonos tinham a responsabilidade de ajudarem na conservação delas. Assim, faziam mutirões para roçar suas margens. Foram isentados do "Imposto de Estradas" mas tinham a obrigação de manter as testadas de suas propriedades roçadas, duas vezes por ano, uma no início do outono e outra na primavera. Quando iam fazer alguma manutenção, já mencionei isso, cavoucavam nos barrancos para retirar o macadame, carregavam em carroças de boi e transportavam para os pontos piores. O movimento de veículos era pequeno e os existentes, a maioria deles, da marca Willys, tinham tração nas 4 rodas. Jeeps e Rurais. Depois, vieram  as pick ups. Ter um carro desses era um privilégio, era o sonho de consumo e conforto de todos.

          E, outros carros, e todos os caminhões, so conseguiam se locomover em chão molhado se tivessem seus pneus "encorrentados". Aprendi a por correntes  em pneus quando começaram a pipocar os "fuques". Ajudei a encorrentar um "fuque" verde mar, do Nízio Baretta e aprendi. Adiante, trabalhei em Postos de Serviços e fiz tudo isso.

          Mas há algo que poucas pessoas sabem: as cidades tinham portões em cada uma de suas entradas. Lembro que, quando criança, no Distrito de Ouro, havia três portões: o primeiro, na saída Norte, para os lados de Nossa Senhora Saúde, Santa Bárbara, Barra Fria, Joaçaba, Novo Porto Alegre, Leãozinho e Linha Sete de Setembro. Localizava-se na divisa das propriedades de Aníbal Dambrós e Augusto Masson. O encarregado de por o cadeado, em dias de chuva, na década de 1960, era o Rozimbo Baretta. Depois, o Cabo Alaor Grazmazzio Pereira de Lima, o Sabará, passou a cuidar dele.

         Na subida para a Coxilha Seca, havia outro, defronte a Casa do Valdemar "Baitaca" Dambrós. Ele era motorista da Prefeitura de Capinzal,  desde o tempo do Breda,  e tinha a chave do portão. Nos dias chuvosos, era ele quem punha chave no portão. Na saída para a São José, em direção às Linhas Bonita e Dambrós, o outro Valdemar Dambrós, conhecido como "Corote", era o encarregado. Em Capinzal, na "Entrada do Campo", onde se ia para Campos Novos ou Piratuba, o porteiro era o Soldado Mário Santi.

          O Rozimdo, o Sabará, o Mário, o Corote e o Baitaca, e muitos outros, faziam isso de graça, não rcebiam pelo serviço.  Era na época em que vereadores não tinham remuneração. E não havia Vice-prefeitos. Os vices eram os Presidentes de Câmara, não me esqueço disso.

          Nos dias de chuva, esses  portões eram trancados a chave, pelos cidadãos que mencionei,  para que os veículos não fossem estragar as estradas. Abriam somente para emergências, para os jipes ou rurais que estivessem transportando doentes. Hoje, as estradas rurais permitem com raras exceções, que veículos trafeguem com a produção em qualquer situação de tempo. Apenas quando realizam motonivelagem há problemas, mas facilmente resolvidos. As gerações atuais não sabem o que são problemas verdadeiros. Pegaram tudo pronto, fácil e rápido. Não podemos condenar os que reclamam, porque não têm a mesma visão e compreensão dos problemas que nós, bem mais maduros, temos. Mas que as coisas já foram muito difíceis, ah, isso foram!!!

Euclides Riquetti
28-04-2013

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

E que venha o mar

E que venha o mar
Que venha com suas ondas brancas
Que venha para atiçar as lembranças
Que venha para me acalmar...

Que acalme meus desânimos acentuados
Me console pelos consolos já desconsolados
Me traga à memória teu rosto bonito e jovial
Me devolva o riso, a serenidade natural!

Que venha, de novo, o mar
Para me trazer renovadas esperanças
Para me trazer suas águas que balançam
Para me seduzir e me encantar...

Que amenize todos os meus tormentos
Me livre de alguns de meus sofrimentos
Me traga o prazer de me sentir contigo
Me apague as dores que eu tenho sentido!

Que venha o mar
Para agraciar-me com o calor do verão
Para lembrar-me que é teu o meu coração
Que venha, de novo, o mar!

Euclides Riquetti
07-12-2015

Vasco na Série B - um raio três vezes no mesmo lugar!!


          Um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Cai, sim! Mas, no meu caso, no caso de meu time do coração, caiu três. Onde? Em  São Januário, sede do Clube Regatas Vasco da Gama, estádio que sediou jogos da Copa do Mundo de 1950.

          Houve um tempo em que o Vasco era soberano no Caldeirão de São Januário. Agora, aiaiaaaaaiiii! Nem lá em nem cá, infelizmente! Ações equivocadas da diretoria levaram a equipe da cruz de malta a ser rebaixada por três vezes da Série A para a Série B do Campeonato Brasileiro de Futebol. E nem podemos reclamar da arbitragem, que num balanço geral mais ajudou do que atrapalhou neste ano. Resta-nos, agora, buscar o bi do Campeonato Carioca e, em vermos jogos na quarta, quinta e domingo, passar a ver nas terças à noite e nas tardes de sábado.

         Dizer que eu não lamentei, seria um descarada mentira. Sofri minha cota, queria que os adversários diretos não vencessem, mas as coisas não foram fáceis e nem mesmo o time conseguiu resultado positivo em seu jogo no Alto da Glória, o estádio do coxa, em Curitiba, ficando n o zero a zero.

        Agora é dar a volta por cima, reorganizar o elenco, mandar embora um monte de gente que teve desempenho pífio e segurar os que podem ajudar. manter a Comissão Técnica com o Jorginho e o Zinho, que tiveram bom desempenho no período que estiveram na direção técnica da equipe e tentar forar um esquadrão de acordo com a tradição cruzmaltina, muito maculada atualmente. Os erros históricos, o endividamento do clube nos últimos dez anos e uma série de gestões desastradas nos levaram ao caos. Vale registrar, também, que o futebol carioca, em si, anda muito mal, não apenas o Vasco, pois Flamengo e Fluminense, com muito maior investimento, embora firmes na Série A, não tiveram campanha condizente com o que investiram.

         Em 2016 vamos ter uma Copa Libertadores da América com três clubes paulistas, Corinthians, São Paulo e Palmeiras; um mineiro, Atlético; e um gaúcho, Grêmio de Porto Alegre.

E, nós, cruzmaltinos, teremos que nos contentar com a B mesmo!

Euclides Riquetti
07-12-2015

Depois que a chuva caiu

 
Depois que a chuva caiu e veio o sol
Aquele mesmo que você me mandou
Que chegou vestido de poesia e cachecol
Veio, então, a tarde em que me desejou.

E, nela, a doçura romântica, a fala muda
O desejo tácito, o ímpeto desenfreado
A paixão implícita, da musa desnuda
O instinto que brota livre e desnaturado.

E perderam os pensamentos os seus freios
Que, portentosos, foram buscar outro lugar
Longe de suas açoiteiras e dos seus reios.

E, no entardecer da mansidão, a calmaria
Aloja-se  nas entranhas de meu divagar
E eu penso em você com amor e alegria.

Euclides Riquetti
07-12-2015

domingo, 6 de dezembro de 2015

As férias da Jujubinha, da Maria Clara e da Mariane

          A Jujubinha está comemorando a chegada de suas férias. Foi um ano bem proveitoso, está aprendendo a ler na Escola Girassol,  aqui em Joaçaba. Pois, ao final da quinta-feira, já estava quase que comemorando a folga que há de vir. E, ao chegar em casa, já chamou a coleguinha Maria Clara Frigo, filha do Sandro e da Rita, dois meses mais velha do que ela, também com cinco anos, para brincarem na calçada.

          Crianças, quando se reúnem, já começam a fazer suas baguncinhas. Conversaram sobre o encerramento das atividades da escola na noite de sexta, no Teatro Alfredo Sigwalt e suas expectativas. Depois, brincaram num monte de pó de pedra, ali na rua, entre as casas de ambas. Sujaram as mãos e queriam lavar-se na...mangueira! Deixe-lhes a mangueira de  jardim, a Júlia abriu a torneira, lavou as mãos e depois, começou a dar água para uma folhagem. Falei-lhe que não devia desperdiçar água, que tem chovido muito e que a folhagem, exposta ao tempo, não estava precisando de água. Disse-me: "Está bem sequinha, precisa de água, sim!" Falei-lhe que não e nisso chegou a amiga Maia Clara por perto. Disseram-me que iam jogar-se  água somente nos pés para lavá-los, mas, foi virar as costas e lá estavam as duas já com as camisetas molhadas.

         A Maria começou a contar-me uma história: "Sabe, vô Clides, o Bob morreu. É um cachorrinho da dinda Célia. Ele deve ter comido veneno e morreu. O dindo enterrou ele... é uma longa e triste história!" Olhei para os olhos dela e vi que as lágrimas ensaiavam correr pelo seu rostinho.

          Alguns minutos depois estavam com a roupa trocada e seca. Brincaram mais um pouco e a amiguinha foi para casa porque era hora de sua mãe voltar do serviço. Então, muda um pouco o cenário e vem a Mariane, filha do Renato e da Ivone,  também vizinha, seis anos, cursou o primeiro aqui na Escola Nossa Senhora de Lourdes. Perguntei se estava em férias e disse que sim. Tentou explicar que a escola está sendo reformada porque houve um vento muito forte em setembro, um"ventaval" e foi explicando que  não consegue dizer direito a palavra, que é difícil, mas que tem outra palavra que já aprendeu e consegue dizer, que tem sílabas extremamente complexas, mas que pronunciou direitinho.

         As crianças são sempre uma alegria. Quando brincam,  sempre estão criando algo engraçado, ingênuo. Que bom ser criança, não ter as preocupações que se tem na vida adulta, não precisar assumir compromissos muito grandes e muito sérios. Nas férias, vamos ter muitas alegrias por aqui!

Euclides Riquetti
06-12-2015

         

O Mash e o Cabo Maciel - lembranças de Porto União


          A Finlândia é um país muito bem desenvolvido. Tem consideráveis indicadores sociais e solidez econômica. Situa-se entre a Suécia, a Rússia, a Noruega  e a Estônia. Dizem que lé existem ruivas de olhos bem azuis...

          O Cabo Maciel servia no 5º BE, em Porto União. Era natural de Concórdia e moramos na República Esquadrão da Vida, em União da Vitória, em 1973. Nessa época, meu Inglês já estava com uma base razoável, pois, além de Letras na FAFI eu estudava no Yázigy, com o Professor Geraldo Feltrin.  Quando o Maciel chegou ao nosso convívio, estava muito interessado em praticar a língua dos britânicos e americanos.

          O Maciel não havia feito nenhum curso de Inglês. Tinha estudado o Técnico em Contabilidade, na CNEC de Concórdia. Mas era um autodidata. Aprendera a chave de pronúncia do dicionário do MEC, aquele verde, que pesava pelo menos uns três quilos, e se afundava nos estudos. Tinha um livro básico, fazia os exercícios, traduzia, verificava a pronúncia, seguindo as orientações que teve de seus professores. No Exército, passara no concurso para Cabo e já estava se preparando para o de Sargento. Pouco saía de casa, ficava estudando.

          Mas o Maciel, moço bem apessoado,  num daqueles anúncios de pessoas que queriam "manter correspondência" com outras, que as revistas de fotonovelas traziam, retirou o nome de uma garota e mandou uma proposta de amizade. Bem mais difícil do que hoje, em que as pessoas se jogam numa ferramenta da internet e arrumam quantos amigos queiram ter. (Não é o meu caso, que aceito as solicitações de amizade,  mas só convido para ser meu amigo pessoas que tenham um pensamento próximo do meu ou sejam meus amigos "na real").

          Mandou carta, pediu-me para ajudar na primeira e, depois, pegou o tranco e seguiu independente. Iam e vinham cartas, em Língua Inglesa. Ele me mostrava as cartas, pedia-me para ajudá-lo em algumas expressões idiomáticas que não entendesse. E me mostrou a foto da sua amiga. Não lembro o nome dela, acho até que era Emmy, mas não tenho certeza disso. Mas, sei, perfeitamente, como ela era, isso ficou muito bem marcado: cabelo ruivo, corte meio chanel, razoavelmente liso, blusinha azul piscina e, o mais importante e harmônico: um belo par de olhos azuis, dois diamantes brilhantes bem da cor de sua blusa. A inveja, lá na Rua Professora Amazília, 322, foi geral.

          Num domingo fomos ao cinema Ópera, íamos assistir ao M.A.S.H. Era um filme que versava sobre a Guerra da Coréia, lançado em 1970, do Diretor Robert Altman, que tinha no elenco, dentre outros, o então jovem Donald Sutherland. O cenário era um bagunçado Posto Médico, em meio ao campo de guerra, onde os médicos militares atendiam os soldados feridos. Havia uma menina, lembro que era amiga de um cabo do Exército Americano, Mac Bee, me parece. E ela chamava: "Corporal  Mac Bee! Corporal  Mac Bee"! E os médicos acudiam, aqueles soldados de maneira muito louca. O filme, na verdade, era uma sátira àquela guerra e à do Vietnã, numa só tacada.

          A milicada, lá da nossa república, foi toda: Os Cabos Godoy, Figueira, Maciel, Frarom, Backes... E nos levaram. Até o japa, Mineo Yokomizzo, que também nos influenciou e  levou a ver "Tora Tora" deve ter ido.

          Chegamos em casa, o Maciel foi para o dicionário, pesquisou, procurou, bateu na porta do meu quarto, meu e do Osvaldo Bet, e perguntou-me: "Riquetti, como é Cabo, em Inglês". Falei-lhe: "Bem Cabo é cable, mas, dependendo do que você quiser significar,  pode ser outra coisa. Você viu que menina do filme chamava o personagem de Corporal Mac Bee?"  -  E o Maciel: "Tô frito!!! Que vergonha!!! Cara, não é que escrevi para a ruiva  da Finlândia que eu era "Cable of the Army" e agora você diz que cabo do Exército é Corporal? Bah, será que ela entendeu? O que ela vai pensar de mim?..."   - Disse-lhe: "Calma, colega, tem uma pequena chance de ela pensar que você seja o encarregado de mandar "cabogramas" do Exército, uma prática muito comum em tempos de guerra...

          Desde 1975 não mais tive notícias dele. Como nunca aprendi o seu primeiro nome, não sei localizá-lo. Pela dedicação aos estudos e sua disciplina, certamente que fez bela carreira militar Vou ter que pedir para o Leoclides Frarom que me informe sobre ele pelo facebook. Muito mais fácil do que escrever o manuscrito, por no envelope, selar e, ainda arrumar lugar para estacionar lá perto do Correio!

Euclides Riquetti
26-04-2013