terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os portões da cidade

  Relembrando...
 
          Conheci asfalto com quase 19 anos de idade, quando inauguraram a Rodovia do Xisto, entre União da Vitória e São Mateus do Sul, no Paraná. Foi inaugurada poucos dias antes de eu conhecer aquela cidade, ao ir inscrever-me para o Vestibular. Tinha notícias, os motoristas Adelar Baretta,  o Valdemar Matté e o Laurindo Biarzi me contavam, havia asfalto em Curitibanos. Era uma estrada sem pedras, sem barro, feita com piche e pedriscos. Meu primo Cosme Richetti, contava-me que havia asfalto na região de Ponta Grossa. Ele conhecia, estudava no Seminário de Riozinho. E eu perguntava: "A estrada é preta?", na minha ingênua dedução.

          Na região de Joaçaba, Campos Novos  e de Rio Capinzal, apenas conhecíamos a pavimentação com paralelepípedos, pedras de basalto, abundantes nas pedreiras do Vale do Rio do Peixe. Apenas nas áreas bem centrais das cidades havia calçamento.  As pedras eram retiradas por explosão com dinamite, em grandes blogos.  Depois, com a habilidade herdada desde os ancestrais, os cortadores de pedra iam moldando-as para que tomasse a figura geométrica "paralelepípedo".

          Os leitos das ruas eram, primeiro, emparelhados com trator de esteiras e, posteriormente, com a motoniveladora, de forma a que as lombas existentes fossem reduziddas. Faziam bueiros no sentido transversal, com pedras. Praticamente não existiam tubos de concreto.

          As cidades eram privilegiadas por terem  ruas calçadas e outras com revestimento primário de macadame, muitas vezes transportado por  carroças. E, as estradas rurais, que foram abertas por tratores de esteira e, raramente recebiam patrolagem, formavam atoleiros. Os colonos tinham a responsabilidade de ajudarem na conservação delas. Assim, faziam mutirões para roçar suas margens. Foram isentados do "Imposto de Estradas" mas tinham a obrigação de manter as testadas de suas propriedades roçadas, duas vezes por ano, uma no início do outono e outra na primavera. Quando iam fazer alguma manutenção, já mencionei isso, cavoucavam nos barrancos para retirar o macadame, carregavam em carroças de boi e transportavam para os pontos piores. O movimento de veículos era pequeno e os existentes, a maioria deles, da marca Willys, tinham tração nas 4 rodas. Jeeps e Rurais. Depois, vieram  as pick ups. Ter um carro desses era um privilégio, era o sonho de consumo e conforto de todos.

          E, outros carros, e todos os caminhões, so conseguiam se locomover em chão molhado se tivessem seus pneus "encorrentados". Aprendi a por correntes  em pneus quando começaram a pipocar os "fuques". Ajudei a encorrentar um "fuque" verde mar, do Nízio Baretta e aprendi. Adiante, trabalhei em Postos de Serviços e fiz tudo isso.

          Mas há algo que poucas pessoas sabem: as cidades tinham portões em cada uma de suas entradas. Lembro que, quando criança, no Distrito de Ouro, havia três portões: o primeiro, na saída Norte, para os lados de Nossa Senhora Saúde, Santa Bárbara, Barra Fria, Joaçaba, Novo Porto Alegre, Leãozinho e Linha Sete de Setembro. Localizava-se na divisa das propriedades de Aníbal Dambrós e Augusto Masson. O encarregado de por o cadeado, em dias de chuva, na década de 1960, era o Rozimbo Baretta. Depois, o Cabo Alaor Grazmazzio Pereira de Lima, o Sabará, passou a cuidar dele.

         Na subida para a Coxilha Seca, havia outro, defronte a Casa do Valdemar "Baitaca" Dambrós. Ele era motorista da Prefeitura de Capinzal,  desde o tempo do Breda,  e tinha a chave do portão. Nos dias chuvosos, era ele quem punha chave no portão. Na saída para a São José, em direção às Linhas Bonita e Dambrós, o outro Valdemar Dambrós, conhecido como "Corote", era o encarregado. Em Capinzal, na "Entrada do Campo", onde se ia para Campos Novos ou Piratuba, o porteiro era o Soldado Mário Santi.

          O Rozimdo, o Sabará, o Mário, o Corote e o Baitaca, e muitos outros, faziam isso de graça, não rcebiam pelo serviço.  Era na época em que vereadores não tinham remuneração. E não havia Vice-prefeitos. Os vices eram os Presidentes de Câmara, não me esqueço disso.

          Nos dias de chuva, esses  portões eram trancados a chave, pelos cidadãos que mencionei,  para que os veículos não fossem estragar as estradas. Abriam somente para emergências, para os jipes ou rurais que estivessem transportando doentes. Hoje, as estradas rurais permitem com raras exceções, que veículos trafeguem com a produção em qualquer situação de tempo. Apenas quando realizam motonivelagem há problemas, mas facilmente resolvidos. As gerações atuais não sabem o que são problemas verdadeiros. Pegaram tudo pronto, fácil e rápido. Não podemos condenar os que reclamam, porque não têm a mesma visão e compreensão dos problemas que nós, bem mais maduros, temos. Mas que as coisas já foram muito difíceis, ah, isso foram!!!

Euclides Riquetti
28-04-2013

2 comentários:

  1. Não conhecia a história dos portões da cidade, fiquei encantada.

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    1. Márcia, houve grandes avanços em termos de estrutura viária. Mas, em outros aspectos, como o cultural, por exemplo, não andamos muito...
      Abraços e obrigado pelo seu comentário!

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