domingo, 6 de dezembro de 2015

O Mash e o Cabo Maciel - lembranças de Porto União


          A Finlândia é um país muito bem desenvolvido. Tem consideráveis indicadores sociais e solidez econômica. Situa-se entre a Suécia, a Rússia, a Noruega  e a Estônia. Dizem que lé existem ruivas de olhos bem azuis...

          O Cabo Maciel servia no 5º BE, em Porto União. Era natural de Concórdia e moramos na República Esquadrão da Vida, em União da Vitória, em 1973. Nessa época, meu Inglês já estava com uma base razoável, pois, além de Letras na FAFI eu estudava no Yázigy, com o Professor Geraldo Feltrin.  Quando o Maciel chegou ao nosso convívio, estava muito interessado em praticar a língua dos britânicos e americanos.

          O Maciel não havia feito nenhum curso de Inglês. Tinha estudado o Técnico em Contabilidade, na CNEC de Concórdia. Mas era um autodidata. Aprendera a chave de pronúncia do dicionário do MEC, aquele verde, que pesava pelo menos uns três quilos, e se afundava nos estudos. Tinha um livro básico, fazia os exercícios, traduzia, verificava a pronúncia, seguindo as orientações que teve de seus professores. No Exército, passara no concurso para Cabo e já estava se preparando para o de Sargento. Pouco saía de casa, ficava estudando.

          Mas o Maciel, moço bem apessoado,  num daqueles anúncios de pessoas que queriam "manter correspondência" com outras, que as revistas de fotonovelas traziam, retirou o nome de uma garota e mandou uma proposta de amizade. Bem mais difícil do que hoje, em que as pessoas se jogam numa ferramenta da internet e arrumam quantos amigos queiram ter. (Não é o meu caso, que aceito as solicitações de amizade,  mas só convido para ser meu amigo pessoas que tenham um pensamento próximo do meu ou sejam meus amigos "na real").

          Mandou carta, pediu-me para ajudar na primeira e, depois, pegou o tranco e seguiu independente. Iam e vinham cartas, em Língua Inglesa. Ele me mostrava as cartas, pedia-me para ajudá-lo em algumas expressões idiomáticas que não entendesse. E me mostrou a foto da sua amiga. Não lembro o nome dela, acho até que era Emmy, mas não tenho certeza disso. Mas, sei, perfeitamente, como ela era, isso ficou muito bem marcado: cabelo ruivo, corte meio chanel, razoavelmente liso, blusinha azul piscina e, o mais importante e harmônico: um belo par de olhos azuis, dois diamantes brilhantes bem da cor de sua blusa. A inveja, lá na Rua Professora Amazília, 322, foi geral.

          Num domingo fomos ao cinema Ópera, íamos assistir ao M.A.S.H. Era um filme que versava sobre a Guerra da Coréia, lançado em 1970, do Diretor Robert Altman, que tinha no elenco, dentre outros, o então jovem Donald Sutherland. O cenário era um bagunçado Posto Médico, em meio ao campo de guerra, onde os médicos militares atendiam os soldados feridos. Havia uma menina, lembro que era amiga de um cabo do Exército Americano, Mac Bee, me parece. E ela chamava: "Corporal  Mac Bee! Corporal  Mac Bee"! E os médicos acudiam, aqueles soldados de maneira muito louca. O filme, na verdade, era uma sátira àquela guerra e à do Vietnã, numa só tacada.

          A milicada, lá da nossa república, foi toda: Os Cabos Godoy, Figueira, Maciel, Frarom, Backes... E nos levaram. Até o japa, Mineo Yokomizzo, que também nos influenciou e  levou a ver "Tora Tora" deve ter ido.

          Chegamos em casa, o Maciel foi para o dicionário, pesquisou, procurou, bateu na porta do meu quarto, meu e do Osvaldo Bet, e perguntou-me: "Riquetti, como é Cabo, em Inglês". Falei-lhe: "Bem Cabo é cable, mas, dependendo do que você quiser significar,  pode ser outra coisa. Você viu que menina do filme chamava o personagem de Corporal Mac Bee?"  -  E o Maciel: "Tô frito!!! Que vergonha!!! Cara, não é que escrevi para a ruiva  da Finlândia que eu era "Cable of the Army" e agora você diz que cabo do Exército é Corporal? Bah, será que ela entendeu? O que ela vai pensar de mim?..."   - Disse-lhe: "Calma, colega, tem uma pequena chance de ela pensar que você seja o encarregado de mandar "cabogramas" do Exército, uma prática muito comum em tempos de guerra...

          Desde 1975 não mais tive notícias dele. Como nunca aprendi o seu primeiro nome, não sei localizá-lo. Pela dedicação aos estudos e sua disciplina, certamente que fez bela carreira militar Vou ter que pedir para o Leoclides Frarom que me informe sobre ele pelo facebook. Muito mais fácil do que escrever o manuscrito, por no envelope, selar e, ainda arrumar lugar para estacionar lá perto do Correio!

Euclides Riquetti
26-04-2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!