sábado, 19 de dezembro de 2015

O grito da sua alma

O grito de sua alma ecoa, livremente, no universo
Vem para encontrar o meu, sua ressonância
Enquanto meu pensamento jaz, ali submerso
Sob os eufemismos da matéria em substância!

O grito de sua alma, quando encontra a voz rouca
Da noite, dos lençóis de algodão, de travesseiro
Funde-se nas delícias de uma sensualidade louca
Para buscar em meus braços o afeto verdadeiro.

O grito de sua alma que me seduz afetuosamente
Move as imensidões, sobrepõe-se às montanhas
Cala em mim o desejo, que vem silenciosamente...

Vem para se juntar aos pingos da chuva fria
Vem para atiçar nossas vontades mais estranhas
Vem para me trazer amor, pra me trazer alegria!

Euclides Riquetti
20-12-2015















Vai, Cafu!

Relembrando um pouco mais...

          O Cafu era meu vizinho quando nossas meninas tinham apenas um ano de idade. Era  pedreiro, trabalhava aqui e ali, em Ouro. Morava num anexo a um açougue desativado, do Benjamim Mioqueloto, há uns 8 metros de minha casa. Pois o Cafu tinha duas paixões: Uma menina e um menino,  e um time de futebol: O Inter, de Porto Alegre.

          Tinha bandeira do Inter, camisa vermelha do Inter, fotografias tiradas no Baira-Rio com os jogadores do Inter. Seu compadre, Dr. Vicente o levou lá para conhecer o estádio e os jogadores, e ele  tirou fotos com o Capitão Figuerôa, Falcão, Batista, Caçapava e Escurinho, todos craques daquele timão que fora campeão gaúcho numa grande sequência de vezes,  e ainda brasileiro. Numa das fotos tinha o Marcelo, um menino magrelinho, cabelos claros, filho do nosso médico. Até hoje esse menino, que agora já é bem adulto, posta fotos do Clube Gaúcho de seu coração na internet.

          O Dr. Vicente tinha um Fordeco. Um Fordeco, na década de 1970, inspirava charme e saudosismo. Equivalia a, hoje, ter um fusquinha daquele modelo que fabricaram até 1969, com aqueles parachoques cromados, que na hora de lavar davam mais mão-de-obra do que os que fizeram a partir de 1970. Gostava de desfilar com os filhos pelas ruas calçadas com paralelepípedos de Capinzal e Ouro. E, quando o Inter ganhava um campeonato, e ganhava muitos, comemoravam andando com o F-29.

          Mas, como não me propus a escrever sobre fuscas e sim sobre o Cafu, devo dizer que ele herdou o apelido graças ao de um ponteiro-direito muito veloz que jogava no Fluminense. Como ele trainava na mesma posição no Arabutã, o pessoal lá da Baixada Rubra, na antiga Siap, assim o apelidou. E, por uma acomodação da linguagem, uma corruptela da palavra, acabou se tornando o Cafu. "Cafú", pronunciado assim, mas sem acento, que a regra gramatical não permite.

          O Cafu recebia muitas visitas em sua moradia acanhada. Mas a esposa dele dava um jeito de tratar todos muito bem. Dona Eva resolvia tudo, até fazia o chimarrão. E o Cafu, na boa, sentava numa das cadeiras de palha, daquelas que o Fongaro produzia lá no Alto Algre, e acomodava o visitante. E, visita bem tratada, volta sempre. Quando chovia, era visita na certa, pois pedreiro que se preza não trabalha em dia de chuva, ainda mais se tem risco de asma. E outra coisa que não falta na caixa de ferramentas é o radio de  pilhas. Motorrádio, de preferência, com 4 pilhas médias. Pega de tudo. Até canarinhos, pombas, arapongas...

          Acomodado o visitante, a segunda parte era  a mostra do álbum  de fotografias. Virava cuidadosamente cada página, mostrava, explicava. Pois tinha até uma foto do Fordeco do Dr. Vicente, uma relíquea, com  bancos bonitos, lustrinho, rodas com raios cromados, até buzina tinha... E muitas dos jogadores do Inter.

        E, quando seu time perdia, abaixava a cabeça e ficava emburrado. Pegava um martelo e coitado  do prego que aparcesse na frente: era pancada em cima de pancada. A cerca da mangueira do açougue era o equipamento certo para suportar sua ira.

          Num em dia que foi fazer uma consulta, com o Dr. Vicente, é claro, me aparece em casa com uma caixa de papelão comprida. Eu não perguntei nada, pois cada um de nós cuidava de sua própria vida. No vidro de uma das janelas, colava santinhos do candidato adversário do meu nas eleições, provocava. Mas eu não entrava na dele... Nossa amizade era uma coisa, a política era outra. E ele era do Inter e eu do Vasco...Eles tinham o Falcão e nós tínhamos o Roberto Dinamite, que ainda não virara espoleta.

          No outro dia, quando volto da Escola onde lecionava, uma big de uma antena sobre o telhado. Pensei: "O Cafu comprou um televisor. Legal, agora a Eva vai ver novelas e as crianças vão ver o Balão Mágico. E ele o futebol".

          Na primeira oportunidade, entabulei conversa: "TV nova, Cafu?"

          "Não! É uma antena de FM. Não é de TV. Comprei um rádio FM e vou escutar a Transoeste FM, de Joaçaba. A antena é pro rádio!"

          Argumentei porque ele não comprou uma geladeira, então, que ainda não tinha. (Eu devia ter ficado quieto e não me metido na vida dele...)

         E ele respondeu-me: "A minha já tá chegando. Mais uma semana e você vai ver quanto frio vai fazer a partir de junho. Quem precisa de geladeira com um frio desses que vem aí?!"

         Esse era o Cafu!  Andei assuntando e me parece que se abriga  ali pelas bandas de Herval d ´Oeste. Ainda não obtive o endereço, mas vou encontrá-lo uma hora dessas. Quero ver aquele álbum com aquelas valiosas fotos dos maiores craques que o Inter já teve. E rever o Cafu e, de repente, reencontar suas crianças, que já devem estar bem grandes!

Euclides Riquetti
02-06-2013

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O suave barulho da chuva


Há um suave  barulho na chuva que cai lá fora
E que afaga suavemente meu pensamento
Enquanto o tempo segue  frágil e lento
Levando meus versos jogados ao relento
Na noite  fagueira que se vai  embora...

Há um barulho terno na chuva que cai
E um mergulhar no mar da imaginação
Que me transporta ao porto solidão
Ao cais do oceano da grande ilusão
Na busca do sonho que vem e que vai...

Ah, chuva que molha minha saudade
Chuva que apaga as marcas da nossa  vaidade
Que deixa seus cabelos úmidos e sensuais

Chuva que banha sua pele queimada
Que  refresca o cair da doce madrugada
Vem curar a dor dos meus ais!!!

Euclides Riquetti

Rosas vermelhas também choram


Rosas vermelhas também choram
Quando não são recebidas com amor
E quando dadas nos momentos de dor
As rosas vermelhas também choram.

Choram por causa do coração  incompreendido
Choram pelo amor não correspondido
Apenas choram...

Rosas vermelhas da conquista
Rosas vermelhas da comemoração
Rosas do dia dos namorados
Do pedido de perdão pelos pecados.

Choram porque existem as distâncias
Choram por causa da intolerância
Mas choram...

Choram as rosas vermelhas, choram tanto
Choram o leve e o copioso pranto
Choram a pureza, choram o mundano
Enquanto esperam, como eu, pelo novo ano.

Algumas rosas riem
Outras comemoram...
Enquanto algumas delas...
Apenas choram!

Euclides Riquetti

Guga Kurten - o Manezinho que nos orgulha!

                Gustavo Kurten é um manezinho que muito nos orgulha. A mim e, por certo, a muitos brasileiros.  Na terça, 15, nosso tenista campeão recebeu o troféu Adhemar Ferreira da Silva, no Rio de Janeiro, no evento denominado Prêmio Brasil Olímpico. Com sua peculiar fala e  simplicidade, o filho do Aldo e da Dona Alice, menino bem educado na Ilha da Magia,  irmão do Rafael e do saudoso Guilherme, emocionou-se e emocionou os presentes, atletas brasileiros que disputarão as Olimpíadas do Rio de Janeiro no próximo ano, ao receber de Vanderlei Cordeiro o seu troféu.

          Guga é um de nossos muitos bons exemplos aqui desta terra abençoada. Na oportunidade, falou:
          " Vendo o exemplo de vocês, eu posso dizer que hoje é o dia em 2015 que eu senti mais orgulho de ser brasileiro. O esporte tem essa capacidade de envolver a gente, de emocionar. Eu cresci assim. O esporte precisa ser além do resultado. Ficamos muito marcados em ter que ganhar. Esporte serve para vida, é educação, é disciplina. O esporte é muito. Nós faremos de tudo para que vocês sejam o ídolo de nossos filhos, para que vocês sejam o exemplo".

          Depois, o tricampeão de Roland Garros,  mirando o público,  pediu o fim da corrupção no país: 
         "Clamo aos nossos representantes, ao governo, a todos do poder público, que olhem para dentro desta sala, que vejam as pessoas que estão aqui e se espelhem. Por favor, sejam honestos, sejam brasileiros de verdade. Esqueçam o partido, a panelinha, lutem pelo Brasil. Nosso país merece."

          O Guga, torcedor avaiano que vai ao estádio da Ressacada, na capital catarinense, vestindo a camisa alvi-celeste do clube de seu  coração, é assim mesmo. Um rapaz cheio de alegria e sensibilidade, que sempre enaltece os valores familiares e cívicos, que cresceu dando muitas alegrias a nós catarinenses, muito carinho ao seu irmão Guilherme, que era portador uma deficiência, mas que o aplaudia e vibrava em seus jogos,  respeito ao outro irmão, Rafael, e à memória do Aldinho seu pai, bem como à mãe Alice Kurten, grande apoiadora das Apaes aqui de Santa Catarina. O desportista Guga Kurtem é minha grande personagem para as Olimpíadas de 2015!

Euclides Riquetti
18-12-2015

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Novos ventos, novos alentos

Trouxe-me o vento na morna noite novos alentos
A doce paz que meu coração há tanto procurava
Na verdade, eles amainaram meus sentimentos
Trouxeram conforto a uma alma que os buscava.

E os alentos que me revigoraram e me devolveram
Aquela energia que por dias havia desaparecido
Foram os bálsamos que de novo me fortaleceram
E me transportam a ti para novos sonhos revividos.

E, com eles, voltaram-me as esperanças ausentes
Que estavam navegando em estranhos universos
E me inspiraram a cantos românticos e repentes.

Ah, suaves alentos inebriantes que nesse novo dia
Me repõem toda a inspiração para meus versos
Obrigado por tanta  paz e pela renovada alegria!

Euclides Riquetti
18-12-2015



Ponte Pênsil Padre Mathias Michelizza


          Os Distritos de Ouro e Rio Capinzal, na terceira década do Século XX, pertenciam ao Município de Campos Novos, de vasto território envolvendo o Planalto Catarinense e o Vale do Rio do Peixe.

           Um fator de dificultava a vida da população dos mesmos, principalmente dos moradores da margem direita do Rio do Peixe, era a falta de conexão entre os dois povoados, uma vez que apenas o serviço de balsa e botes era disponível para o transporte de pessoas e produtos de um para o outro. No lado Rio Capinzal,  havia a Estrada de Ferro, inaugurada em 20 de outubro de 1910,  ainda diversas indústrias, hospital,  um comércio bem organizado e até hotéis. No lado de  Ouro, o comércio era bem ativo e a produção agrícola muito forte, até por causa da vocação de seus colonizadores, descendentes de italianos originários da Serra Gaúcha.

          Em 1932, estando em bom estágio de desenvolvimento, precisavam construir uma ligação fixa entre os dois povoados. Então as comunidades, lideradas pelo Sr. José Zortéa, uma pessoa de alto espírito empreendedor, com grande agilidade e muio criativo, fez projetar uma ponte de madeira, sustentada por cabos de aço assentados em pilastras também de madeira. Coube aos Srs. Otávio Ferro e Aníbal Ferro formarem a equipe de trabalho e executarem a obra, pois tinham grandes conhecimentos em crpintaria e marcenaria.

          Para financiar a obra obtiveram, através do Município, uma pequena ajuda do Governo do Estado, mas o custos maiores foram bancados pelos moradores dos dois Distritos. Depois de quase dois anos desde a concepção do projeto, a ponte ficou pronta e teve sua inauguração em 1934, numa concorrida solenidade, quando o Padre Mathias Michelizza, um dos grandes incentivadores da obra, atravessou-a a cavalo. Na parte localizada em Rio Capinzal, havia sobre ela uma Casa de Pedágio, onde os usuários pagavam para passar de um lado a outro. À época,  era considerada a terceira ponte do gênero no mundo.

         Porém, por ocasião da grande enchente de 21 de junho de 1939, ela veio a ruir pela força das águas do Rio do Peixe, que atingiram, inclusive, a Rua da Praia, hoje Rua Governador Jorge Lacerda, e a Felip Schmidt. O local onde se situa a Praça Pio XII foi totalmente inundado. Fora uma enchente sem prcedentes. Também houve alagamento na área central da Rio Capinzal.

          Mas nossa comunidade, muito unida e determinada, contratou um responsável técnico, o Engenheiro Austríaco Máximo Azinel, que também teve o apoio do prático,  também austríaco,  Antônio Holzmann, e conseguiram reconstruí-la, agora com pilastras de concreto e com um vão central de 84,50 metros e ainda a parte de extensão imóvel. Hoje, na totalidade, atinge 142 metros. A segunda ponte exigiu um investimento de Cr$ 200.000,00 (Duzentos mil cruzeiros), e houve a participação do estado com Cr$ 90.000,00. Os Cr$ 110.000,00 faltantes e ainda muitos serviços, foram bancados pelos moradores dos Distritos de Capinzal e Ouro. Foi inaugurada em 1945. Os nossos benfeitores guardam, até hoje, plaquetas metálicas em que consta serem "sócios" do emprendimento.

          Cabe mencionar que tinha uma largula de 3,5 metros, o que possibilitava a passagem de carroças com tração animal e de pequenos caminhões, os quais transportavam artigos de consumo de Capinzal para o Ouro,  e suínos deste para serem abatidos no Frigorífico Ouro, mas que era localizado em RioCapinzal, ali próximo da Estrada de Ferro.

         Alguns anos depois da inauguração da Ponte Irineu Bornhausen, a chamada "Ponte Nova",  inaugurada em 06 de janeiro de 1955, a pista da Ponte Pênsil foi estreitada, ficando na largura atual, apenas permitindo-se a passagem de pedestres.

          Na enchente de 07 de julho de 1983, ela foi parcialmente destruída, sendo reconstruída pela ação dos Prefeitos de Capinzal, Celso Farina, e de Ouro, Domingos Antônio Boff. Entretanto, na segunda metade do ano de 1984, pouco tempo após a sua reconstrução, um violento vendaval seguido de ciclone atingiu a área central de Ouro, levando parte da cobertura de alumínio do Ginásio Municipal de Esportes André Colombo e derrubando a ponte.

         Foi uma cena horrível: A cidade escureceu na meia tarde, virou tudo noite, vieram fortíssimas rajadas de vento, o ar frio misturava-se ao quente, formava redemoinhos, as pessoas se agarravam aos postes e mesmo aos pneus dos carros estacionados na rua Felip Schmidt para não serem levadas pela sua força. E, num dado momento, os cabos laterais de segurança foram rompidos, a plataforma de madeira foi lançada ao ar sentido Sul/Norte, até a altura do topo das colunas altas que sustentavam os cabos de aço.

          Com o represamento do vento, foi tanta a força exercida, que as pilastras de concreto quebraram-se ao meio, na altura da plataforma, caindo tudo dentro do Rio do Peixe. Custou-me acreditar que isso tivesse acontecido. Presenciei a cena da janela da sala do Pré-escolar da Escola Prefeito Sílvio Santos, para onde corri quando percebi que vinha a escuridão. Preocupei-me porque esta era uma casinha de madeira, ao lado do prédio principal da Escola.  Com calma incentivei as crianças da Professora Neusa Bonamigo a "brincarem de se esconder" debaixo de suas mesinhas. Formulei uma brincadeira de nos escondermos, pois tive medo de que a edificação também desabasse sobre eles. A professora logo entendeu o que eu estava fazendo e o porquê. . Eu apontava o dedo para a janela sugerindo que fosse olhar sem as crianças notarem aquele cenário desolador. Fazia sinais e ela não imaginava a cena de horror que se passava lá fora. Eu não queria que as crianças se assustassem, mas entendeu que algo se passava e alojou os pequenos sob suas mesinhas.  Evitamos  que as crianças percebessem o que se passava. . Felizmente, nada de mal  lhes aconteceu.

          Alguns minutos  depois, a ocorrência de chuva. Um aluno nosso e o filho de uma professora, nossa colega, estavam sobre a ponte, mas conseguiram escapar de cair no rio ou serem atingidos pelos materiais da ponte. Caíram fora das águas. Tudo terminou bem. Mas as águas subiram e levaram todas as madeiras embora, de novo...

          No ano seguinte, 1985, foi reconstruída, com o aproveitamento das bases dos pilares e a fixação dos pórticos de sustentação dos cabos de aço sobre essas. Fizeram furações verticais nas pilatras restantes e conseguiram "chumbar" as colunas sobre elas. Tudo ficou bem novamente. Houve substituição do madeiramento por duas vezes, desde então, em 1991 e em 2005, , ficando no mesmo padrão, com o objetivo de preservar seu modelo arquitetônico, uma verdadeira obra de arte. Está ali, impondo sua simplicidade historica, majestosamente, sobre o nosso Rio do Peixe!


Euclides Riquetti
24-05-2013

Não importa qual o perfume das flores

 
Não me importa qual o perfume das flores
Todas elas me atraem  e me seduzem
Não importa quais sejam as suas cores
Mas sim os encantos que produzem...

Não importam quais as mãos que as plantaram
Todas o fizeram com amor e com carinho
Não importa com quais  águas as regaram
Ou se tenham ramos ternos  ou de espinhos...

Importa-me, sim, que sejam flores, apenas isso
Que possam deleitar-nos com sua doce singeleza
E que possam sorrir  com todo o garbo e todo o viço...

Flores de todas as cores, matizes e perfumes
Flores que inspiram os poetas por sua beleza...
Flores que te entrego porque tu  me seduzes...

Euclides Riquetti

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Há uma dor em mim...

Há uma dor em mim:
Algo inimaginável, inconcebível
Mas que me faz sofrer e me aflige
Não sei por que isso tem que ser assim
Mas há uma dor em mim!

Há um desconforto em mim:
Algo que me incomoda e preocupa
E de que não tenho nenhuma culpa
Mas há essa dor assim
É uma dor que está dentro de mim!

E, se o tempo cura as nossas feridas
As mais consistentes, as mais doloridas
Pois que este passe!
E, que nas novas jornadas a serem vividas
Venha o vento que anima e que você me abrace!

Apenas isso!

Euclides Riquetti
17-12-2015


Pão quente!

Belas lembranças...
     
          O dia  não vira, ainda, os primeiros claros do sol que deveria vir de Leste. As pessoas já andavam pelas ruas em sua ida para o trabalho, quando a fábrica da Pagnoncelli Hachmann abria sua estrondosa buzina a vapor, anunciando à cidade e a seus funcionários a hora do início de seu trabalho. Algumas senhoras emoldurando a cabeça com uma fita vermelha ao pescoço, que pertenciam ao "Apostolado da Oração", dirigiam-se à Matriz São Paulo Apóstolo para a Missa das Seis que seria celebrada pelo Frei Gilberto. As crianças nem tinham saído de suas casas para tomarem o caminho de suas escolas.. O frio da noite inibira até os animais de emitirem seus uivos, piados, grasnados  e mugidos. Apenas um ou outro galo liberava o canto na garganta. Era ainda madrugada...

         O silêncio era quebrado apenas pelo toque-toque das ferraduras nos cascos de um cavalo zaino que vinha em marcha bem ritmada pela "ponte nova", tracionando uma charrete. E algumas senhoras desciam até as proximidades da ponte, ali defronte a Indústria de Bebidas Prima,  portando suas cestinhas ou esportas confecionadas com palha de trigo. Objetivo: comprar pão sovado, da Padaria do  Cadorim, a única existente no primeiro quarto da década de 1960.

          Lembro da época como se fosse hoje. Fiz até amizade com o padeiro, que depois virou meu colega de aula na Escola Técnica de Comércio Capinzal: Artêmio Tonial, o Padeiro. Adiante, foi sucedido pelo Alcebides Soccol. A cidade se habituava a essas pessoas que traziam alegria em forma de pão quentinho...

          E lembrar do pão que vinha na  caixa de madeira portada pela charrete faz-me volver  o pensamento para aquela cidade bucólica de nosso Vale do Rio do Peixe, com a praticamente ausência de veículos nas ruas naquelas horas da manhã. Apenas um ou outro caminhão carregado de toras de madeira para alimentar as serrarias. Quando acabava nossa fornada de pão caseiro meu pai ia,  às sextas-feiras, esperar pelo pão de padeiro. Era uma alegria comer aquele "sovadinho". Depois,meu pai e eu tomávamos o mesmo rumo naquelas saudosas manhãs: o Colégio Mater Dolórum, onde eu frequentava o Terceiro Ano Primário, tendo como professora a Dona Marli Sartori. E meu pai o Normal, em nível do atual Ensino Médio, que naquela tempo chamavam de Segundo Ciclo Secundário.

       E ele era o único dentre duas dezenas de mulheres. Ainda lembro de seu quadro de formatura e de algumas pessoas que tinham sua foto nele: Vanda Faggion Bazzo, Dr. Nelson de Souza Infeld e algumas freiras. E, como colegas, Luinês Soares, Inês Dalpisol, Estela Flâmia, Lourdes Eide Fronza, Doraci Infeld, dentre outras.

          Os anos foram passando, as coisas mudaram muito. As cidades entopetaram-se de carros, multiplicaram-se as padarias, mercearias, mercados. Inventaram mil e uma receitas, todas muito deliciosas. A cada dia inventam maravilhosos novos produtos nas confeitarias e padarias.  Mas há duas coisas insubstituíveis em minha cabeça e meu coração: O cheirinho do pão quente saído do forno a lenha que minha mãe fazia  e a maciez do pão sovado do Cadorim, que o Artêmio e o Bide nos traziam na charreta do cavalo zaino. Isso é impagável...

Euclides Riquetti
22-05-2013

Vem beber do cálice da paixão

Vem beber no cálice da paixão
Vem beber do vinho que nos excita
Vem beber de minha alma e de meu coração
Vem beber-me  com tua boca bonita...

Vem, e traz com ela teu corpo sedutor
Os teus olhos amendoados
Delicados...
A tua pele macia
E tua  voz de poesia...

Traz também as tuas mãos carinhosas
As tuas pernas formosas
O teu rosto divinal
O teu corpo colossal.

Vem beber de meus sonhos
De meus lábios risonhos
Vem banhar-te em meu suor
Declamar-me versos de cor.

Vem. Te espero...
Vem beber no cálice da paixão!

Euclides Riquetti

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Uma oração para você


Quando o céu parecer mais azul, atrás dos montes,
E as tímidas árvores receberem os primeiros raios de sol,
E as flores fizerem a vida mais colorida,
E até mais azuis ficarem as águas das fontes...
Então estarei pensando em você, menina!

Quando quente o tempo estiver em dezembro,
E eu estiver um pouco mais velho do que agora,
E minhas noites ficarem tristes sem seu calor,
Mesmo que eu não saiba onde você esteja vivendo,
Eu estarei pensando em você, querida!

Mas o tempo não para e chegará o outono!
As folhas,  já pálidas como eu, cairão sobre a terra,
Virá o vento e nuvens escuras cobrirão o céu,
A chuva fria molhará o meu rosto sofrido...
Mas estarei pensando em você, meu bem!

E quando o inverno chegar novamente,
E eu andar pelas ruas ao encontro do nada,
E como hoje o vento soprar fortemente,
Pensarei em você sem rancor, com saudes...
Pois quem errou fui eu, meu amor!


Euclides Riquetti

Composto no inverno de 1973
e publicado no livros "Prismas - volume IV, da Coleção
Vale do Iguaçu", em União da Vitória - PR - em 1976,
(com ilustração).

O Sabonete e a Orora

Saudosismo com humor...

           O ano era 1972. Plena juventude, cidade nova, novos amigos, morada nova. A vontade de conhecer novos lugares, novos ambientes. Fiz grande amizade com o Sabonete, meu colega de República Esquadrão da Vida e de Letras na  Fafi. Ex-seminarista e muito bem empregado, costumávamos sair juntos nos finais de semana para "explorar a cidade". Fomos ao Aeroporto José Cleto e conseguimos tirar fotos ao lado de um avião. Fomos ver o "Cristo", no alto do Morro, em União da Vitória, que estendia seus braços e olhar sobre o Rio Iguaçu e as cidades gêmeas. Andávamos a pé, gastávamos nossos sapatos.

        Mas também gostávamos de ir a Bailes no Clube Apollo, do qual ficamos sócios. E, nos domingos, tarde dançante no 25 de Julho. Imperdível.  De vez em quando, uma saidinha para São Miguel, em Porto União. E, naquele tempo, só entrávamos lá de terno e gravata. Ainda bem que tínhamos nossos ternos fa formatura do então Segundo Grau. No final do domingo, o Cine Ópera. Tudo para compensar a semana de muito estudo na Faculdade e no Yázigy, onde fazíamos Inglês para desenvolver nossa fluência na conversação.

          Mas tínhamos tambérm nosso lado "sinistro" das coisas. Só que o sinistro da época era bem light, soft. Era um sinistrinho brando... No domingo, iamos ao Estádio Enéas Muniz de Queiroz ver o Iguaçu, torcer. " Chuta, Joaquim! Corre, Rotta! Corta, Chavala! Defende, Roque! Juiz ladrão!!! Muita gritaria, reclamação com o juiz. E, em muitos de nossos sábados, a ida para as gafieiras, levados pelos "mais antigos", que sabiam tudo disso, eram experientes no assunto e na ára.  Tinham lá o Primavera, que era um "meia-boca", o Farinha Seca, o Boneca do Iguaçu, ao lado da ponte férrea, e o Poeira. Estes três eram "boca inteira". 

          Éramos muito tímidos, mas nossos companheiros nos encorajavam e acabávamos indo para "dar uma espiadinha". Lembro bem de uma vez que nos levaram para o Boneca do Iguaçu. O Sabonete, que era muito "liso", tinha alta formação religiosa. O apelido, uma conformação fonética e semântica, contando seu sobrenome e sua inteligência. Como bom de "argumento", sabia Latim e Grego,   ia na frente e pedia para que deixassem "dar uma olhadinha", sem pagar entrada. Cheio de falas,  prometia que se gostássamos pagaríamos ingresso e ficaríamos, viraríamos fregueses. Ao contrário, iríamos para casa.

          Pois que em nossa primeira incursão, tão logo passamos por uma cortina de fumantes, adentramos ao salão e lá tinha de tudo. Cheiro de cerveja e conhaque. Cadeiras de várias cores e modelos, mesas de múltiplas cores e estampas. E genrosas senhoras,  de todos os padrões: altas, baixas, esquálidas, obesas, loiras, morenas, ruivas. E os homens: de todos os padrões: pobres, ricos, feios, bem feios, mais feios, carecas, mais carecas, obesos, bem obesos, solteiros (nós e mais alguns) e... casados! Mais casados do que solteiros! Todos tinham bons motivos para ali starem.

          Até aí tudo bem não fosse o susto do Sabonete: "Vamos sair já daqui! Não podemos ficar! Tá louco, cara!... O meu chefe tá aqui. O que ele vai pensar de mim? Vai pensar que eu sou um depravado. E estou no estágio probatório... - Argumentei que quem tinha que se preocupar era o chefe dele, "bem casado", que estava ali fazendo festa, amassando uma "bem fornida, teúda e manteúda". Mas não teve jeito, o Sabonete ficou apavorado, dando graças a Deus que o chefe não o viu. Ainda bem que entramos na "condi"!sem pagar o ingresso!

          Passado o susto, demos umas caminhadas pelas ruas centrais,  olhamos as vitrinas da Loja do Zípperer, da Loja Olga, dos Domit, das lojas do Magazine Jacobs, passamos pelo Bar do Bolívar no outro lado dos trilhos, vimos os cartazes dos filmes do Odeon, do Ópera e do Luz, este bem perto de casa. Ainda passamos pela  Willy Reich, bem pertinho de casa. Era época do "Sesquitecentenário da Independência" e estavam inaugurando a transmissão de TV em cores no Brasil, até transmitindo a "Mini Copa" de Futebol. Nos embasbacamos com a beleza das imagens coloridas no aparelho.

          Chegamos em casa e contamos para o Frarom sobre a decepção que o Sabonete teve ao encontrar seu chefe, um exemplo de chefe, um homem honrado, lá com sua teúda amarrada ao pescoço no "Boneca".
E ele veio  com essa: "Olha, cheguei agorinha. Fui dar uma olhadinha no "Poeira", mas nem entrei. Só dei uma esticada de pescoço pela porta.  Estava no intervalo, porque lá a dança já começa pelas oito horas. E o vocalista da bandinha estava dando um aviso: "Queremos dizer para a sociedade portuniense que aqui comparece  que temos em nossas mãos uma aliança de casamento que foi encontrada no chão de nosso tradicional salão, tendo se grudado na sola do sapato de borracha daquele amigo ali, ó..." E ninguém se manifestou, ninguém que estava lá queria mostrar seu verdadeiro estado civil, "casado". Com  o precioso objeto  na mão, pegou-o entre os dedos  e foi adiante: "Olha, aqui estão  gravadas  as iniciais da dona dessa preciosa jóia: Começa com " Ó", deve ser da... "Órora"! E lá não havia Ororas nem Auroras...

          Nem precisou ele continuar com a história. Ríamos mais do jeito com que ele nos contava das histórias do que com a graça que traziam.  E começava uma rodada de histórias e piadas que nos faziam esquecer das tristezas. Tudo muito divertido. Melhor que ter ido ao bailinho! Diversão com economia de dez cruzeiros. Dava para pagar a lavadeira na semana.

          E o respeito entre o Sabonete e o Chefe dele nunca foi abalado...

Euclides Riquetti
17-05-2013

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Espero, ansiosamente, pelo Dia de Natal

          Espero, ansiosamente, pelo Dia de Natal. Desejo que o tempo passe e que algumas coisas importantes se resolvam. E que eu possa ver pessoas por  quem tenho muita admiração felizes e saudáveis. Peço a Deus proteção para todos os meus familiares, dando-lhes, especialmente, saúde. Saúde é o maior bem que Deus nos deu.

          Peço ao Menino Jesus e a Sua Mãe, Maia, para que olhem pelas crianças, pelos velhos e pelos doentes. Que todos eles tenham forças, energia e sabedoria proporcional ao seu tempo de vivência para que possam enfrentar as adversidades. Que deem alento aos que sofrem, joguem sobre eles poderosos raios de luz.

          Que os males físicos e psicológicos se dissipem, que venha a cura para todos os males, que se revigorem as forças da esperança. Que nos campos se possam ver britadas as plantas  gramíneas e que nos vales continue a correr a água límpida e transparente. Que as estrelas possam continuar a cintilar e a lua afagar os corações dos poetas e dos enamorados.

          Desejo que o Natal lhes seja um tempo de nascer e renascer para a Vida!

Com afeto...

Euclides Riquetti
14-12-2015

É Natal...

 
Caminhos de luz se desenham no céu
De Noel
Ternos de renas saltitam ao léu
Acima das nuvens de claro de véu
Porque é Natal
Natal das crianças e de Noel!

É Natal
Inverno no Norte, verão no Sul
De céu anil,  azul.

Notas sonoras ecoam nas estradas
Articuladas.

No Polo Norte, anjos entoam cândidos  hinos
No outro, nas torres repicam o bronze dos sinos
Porque é Natal.

Lá, a neve matiza o verde nos pinos
Aqui, o bom velho abençoa os bons e os ladinos
Porque é Natal.

É o Natal dos velhinhos encurvados
Dos presentes desejados
Das crianças embevecidas
Das saudades mais sentidas
Mas é, de novo, Natal...

Natal de luvas, de barbas, de capuz
De sinos, de lembranças de Jesus
É tempo de amor, da cor vermelha que seduz
É, de novo, Natal.
De amor, de perdão, de  luz.

Euclides Riquetti

O adeus de Rogério Ceni

         Rogério Ceni, 42 anos, acaba de deixar o futebol profissional, aos 42 anos, depois de defender por 25 as cores de seu clube, o São Paulo Futebol Clube. Sou Vasco da Gama, é meu time de coração. Tenho simpatia pelo Palmeiras  porque era o time preferido de meu pai, que em sua juventude via jogos do Palestra no próprio estádio do Palestra Itália. Mas isso não me impede de nutrir  grande admiração pelo goleiro-artilheiro.

          Como o Marcos, conhecido como "São Marcos", ex-defensor do Palmeiras e da Seleção Brasileira, Rogério Ceni  construiu sua biografia num único clube, o São Paulo. Ora, em tempos em que atletas beijam a camisa do seu clube num dia e deixam-se vender por outro no seguinte, onde farão novas ( e falsas) juras de amor e fidelidade, um jogador atuar por um quarto de século num único clube é algo que torna Ceni digno de meus aplausos e de minha maior consideração.

          O eu não posso concordar é com a grandes bobagens que alguns torcedores postam nas redes de comunicação virtual, desrespeitosas com o ídolo são-paulino e, ainda, com um português que é uma vergonha. Perdoemos-lhes  os erros de escrita, mas não a sua falta de respeito e sua ignorância. Compreendamos as suas paixões pelos seus clubes, mas não aceitemos queiram tentar macular a história daquele que é considerado um mito dentro do São Paulo. Até o ex-Presidente Carlos Miguel Aidar andou falando bobagens e grosserias sobre Ceni. Mas, vindo de um ex-Presidente acusado de corrupção, deve ser entendido tudo como elogio.

          Nascido em Pato Branco, no Paraná, e revelado pelo SINOP, do Mato Grosso, em 1990, Rogério Ceni anotou 131 gols em sua carreira, marca que nenhum outro goleiro do mundo atingiu. Foi o jogador de futebol profissional que por mais tempo defendeu um mesmo clube, o São Paulo. É admirado por legiões de são-paulinos e mesmo por torcedores de outros clubes.

         Quero deixar aqui minha homenagem ao mesmo  pelo que fez pelo seu clube, ao qual sempre devotou extrema lealdade.

Parabéns e longa vida, Rogério Ceni!

Euclides Riquetti
14-12-2015

domingo, 13 de dezembro de 2015

De repente, uma saudade...


De repente, me bateu uma saudade...
Não sei de quem...
Não sei de onde...
Não sei por quê...

Acho que é o clima de Natal...
Que amolece o coração dos rudes...
Que enternece a alma dos brutos...
Que desperta a sensibilidade
Em tempos de fraternidade!

De repente, me bateu uma saudade...
Um sentimento que não se explica...
Que não se define...
Que não se reprime...
Que vem e que fica!

De repente, bateu uma saudade...

Acho que são os anos
Que nos fazem somar lembranças...
De nossos tempos de criança...
Mas que nos fazem sentir saudades!

Saudades de ti..,
Saudades de mim mesmo...
Saudades...
Apenas saudades!

Euclides Riquetti

O Santo, sim; o nome, não!


Apenas para lembrar, imaginar e... rir!

          Na Capinzal e Ouro,  na década de 1960 morava um cidadão que tinha muitas atividades. Era polivalente e "se virava" de muitos modos. Não deixava faltar nada para a a família.
Em tempos em que nós nem sabíamos direito "de que lado se situava o mar", ele já conseguia levar sua "tropinha"  para as praias no verão. E o cara também gostava de fazer piadas, de zoar com vida dos outros. Era só alegria!

          Gostava de falar palavras novas que aprendia. Guardava as mais difíceis e, quando surgia a oportunidade, usava nas suas falas. Fez o "ginásio" já bem madurão. Precisava estudar e trabalhar muito porque tinha que garantir o jabá da prole. Queria acompanhar a evolução dos tempos. Em seu estabelecimento, sempre tinha uma grande cuia para o chimarrão.  Sabia como agradar seus fregueses. Era chimarrão e conversa, muita conversa. (Naquele tempo, cliente era só medico e dentista que tinham, os demais eram todos "fregueses"...). E me dizia: "Olhe, Cride, o negócio é usar a Psicologia Aplicada ao Trabalho!"

          Ah, sim! O amigo, a quem chamarei de Zé da Kombi, foi meu colega de aula no Juçá Barbosa Callado. Era bastante aplicado, até. Não faltava às aulas. E lotava a furgona de gente na saída da aula, que ia despejando pela cidade, principalmente em dias de chuva. Nossos professores de Psicologia foram o Dioni Maestri e o Paulo Bragatto Filho. E gostávamos de Psicologia. Tínhamos isso no ginásio na época. Um privilégio!

          Nosso "gente boa", alíás muito boa por sinal, tinha umas "manias". Tantas que sua "vècchia" lhe deu as malas quando achou que o que ele fazia estava demais. E gostava de contar-nos as histórias de suas aventuras. Quando queria dar um "chego" na gandaia, saía de casa para jogar baralho. Ia a pé, deixava a Kombi na garagem. Mas tomava outro rumo.

        Uma das que bem me lembro era de suas escapadelas para os bailecos nas periferias da cidade. Contava-nos e dava risada. Ia para o salão do  "Sete Facadas", era muito amigo dele e bom freguês. Não deixava pendura, embora até crédito fácil tivesse se fosse preciso. Dançava umas "marcas", tomava umas cervejas, investia num abraços (hoje chamam isso de amassos),  e mais nada. E cuidava bem para que a camisa branca, de colarinho, não ficasse com marcas de rouge ou battom. O cheiro de cigarro dizia que era por causa dos palheiros que os companheiros tragueavam no jogo das cartas.

          Naquele tempo, nas redondezas do lugar, do outro lado do rio, havia outros salões: "O Bota Preta", o Sovaco da Cobra" e o "Alegria do Touro". Na entrada deles, sobre a porta, um aviso: "Tire o chapéu e entregue sua arma para o proprietário". Por uma questão de respeito...  Eram os clubes "alternativos" da época. Concorriam, com muitas dificuldades, com o Ateneu Clube, o Floresta e o Primeiro de Maio.

          Tinha um problema, principalmente nos dias de chuva. Não era por causa do guarda-chuva com as hastes de madeira e o cabo de chifre. Era o barro na rua. A rua que levava até o salão do Sr. Fontoura não tinha calçamento e precisava  ter cuidado para não sentar-se ao chão. Não havia tampouco lâmpadas nos postes. E não podia levar lanterna junto porque senão a patroa desconfiava. Mas o problema maior era com os sapatos. Não podia sair  de casa com galochas para ir jogar baralho ali pertinho, ela não iria compreender isso, pensaria que ele estaria aprontando...

          Então, quando ele voltava, mais de meia-noite, lavava os sapatos no riacho Coxilha Seca, ali em frente à Marcenaria São José. Em casa, deixava-os lá fora. No outro dia estavam secos e limpos, não davam  pista pra desconfiança.

          Como na época que não havia televisão nas casas,  as pessoas tinham muito tempo para pensar e bolar sacanagens. Uns amigos dele, uma noite, foram lá e passaram barro nos seus sapatos. E, de manhã, a "Dona Braba" viu aquilo e ficou furiosa. E o acordou dando-lhe chineladas. Ele, sem entender nada, começou a se confundir, pensando que esquecera de lavar os sapatos. Parecia que os tinha lavado. Será que bebera demais e não lembrava direito?! E isso lhe custou uma semana dormindo no sofá da sala...

          Tenho saudade dos causos que o amigo me contava e que nem posso escrever aqui, mas rio sozinho quando lembro deles. Levou azar alguns anos adiante, quando veio a TV. A patroa foi vendo muitas novelas, muitos filmes, por muito tempo,  e começou a ficar esperta na questão. Então a  história não teve um final feliz. Duas malas cheias de roupas e sapatos. E morar na Kombi... Deu-se mal nosso santo. Falo do santo, mas não digo o nome. Nem o apelido!


Euclides Riquetti
16-05-2013