sábado, 15 de dezembro de 2012

Meus primeiros poemas Hicai

Olhar de janela
Paisagem de imensidão
Riqueza na mão.

Ponte majestosa
Liga cidades irmãs
E almas bondosas.

No vale encantado
Vai o sinuoso rio
Do peixe e do nado.

Natureza viva
Esperança renovada
Verde e colorida.

Dia ensolarado
Vem meu verão, vem meu sol
Alento esperado.

Só não vem você
Acalentar minha alma
E não vem por quê?

Acho que não vem
Porque há um pecado em querer
E culpa também.

Então pensamentos
De dúvidas povoados
Misturam-se aos ventos.

E eu aqui...

Euclides Riquetti
15-12-2012






sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Bom dia!

          Dia desses, creio que numa manhã de sábado, saí a curtir o centro de Joaçaba. Pela geografia da cidade, há ali grande concentração de prédios, as ruas são um tanto acanhadas, não como as avenidas de Curitiba ou Brasília, e grande contingente de pessoas circulam pelas calçadas, movimentando o comércio. Alías, pela condição de polo microrregional, a ciade, com pouco mais de 25.000 habitantes, atrai uma população estimada em mais de 100.000 que têm interesses aqui. São milhares de veículos que ficam desfilando pelo centro, com uma ou no máximo duas pessoas em cada um. Carros bonitos, a maioria, de profissionais liberais, das mais afamadas marcas mundiais e dos modelos mais sofisticados.

          Eu já tenho meus lugares estratégicos para estacionar, nas periferias, preferindo andar a pé, vendo pessoas, as vitrines das lojas, uma feirinha defronte à Praça da Prefeitura, aquelas máquinas de sorvetes, os carrinhos de xixo, pipocas, cachorro-quente... E também aqueles que gostam de fazer brincadeiras no semáforo da XV, caracterizados de palhaços, para ganhar seu honesto dinheirinho.

          Estive no local onde meu filho trabalha, dei-lhe um abraço, cumprimentei seus colegas, saí. Bem defronte à empresa, na calçada, passava um senhor franzino, mais de 80 anos, humilde, boné verde bastante soleado na cabeça, roupinha modelo social surradinha, com aquele semblante de gente boa, humilde, dos que não fazem mal a ninguém. Apenas agradecem a Deus por estarem vivendo...

          "Bom dia!", sapequei-lhe. Ele já tinha passado por mim uns dois metros, voltou-se e, suavemente, retribuiu ao meu cumprimento. E me disse; "Muito obrigado por me cumprimentar. As pessoas não costumam falar comigo, principalmente as com jeito de importante como o senhor". Fiquei assustado em saber que há pessoas que não cumprimentam pessoas com quem se esbarram, que encontram no dia-a-dia, mas as que ignoram, parecendo que elas não existem. Mas isso não pode me surpreendeer, pois em todos os lugares há pessoas que se portam assim. E eu não sou mais importante que aquele amável senhor pois, certamente, tem mais história do que eu, viveu mais dias, conheceu mais pessoas, trabalhou mais, ajudou mais, viu mais amanheceres e entardeceres, mais noites parou para contemplar o luar, ver as estrelas, tomou chimarrão com a esposa e os filhos mais vezes, enfim, tem uma bagagem cultural maior do que a minha e talvez que a sua, caro leitor (a).

          Em cinco minutos descobri que seu nome é Pedro Moreira, temos em comum termos nascido em Capinzal, ele é parante dos Andrade, lá dos lados de Alto Alegre e Lindemberg e se orgulha muito disso. Apenas que é pobre, que mora em Herval D ´Oeste há algumas décadas, está aposentado e controla muito bem seu dinheirinho para que não lhe falte quando precisar comprar remédios. Foi-me gratificante conhecer o Seu Pedro, como me foi conhecer tantos a quem já dei carona no trevo e tantos que deram carona pra mim.

          Ainda ontem, no meu bairro, na caminhada costumeira, encontrei um cara manquitolando, com uma muleta, a quem já  dei algumas caronas, o Clóvis, frentista de de posto de gasolia, meia idade.  Não o via há quase um ano. Contou-me que teve um acidente, que está desde fevereiro assim, mas que em um ano vai estar bem, disse-lhe o médico. Deu-me os detalhes do acidente, que não vou relatar. Algo bem inusitado, salvou-se por pouco. . Adiante, encontrei o Jaime, que perdeu o emprego por causa de uma reestruturação na empresa onde trabalhava, era jardineiro e zelador, agora uma "consultoria" sugeriu a ela terceirizar o serviço e ele ficou na mão. Mas esteve numa construtora que lhe indiquei, prontifiiquei-me  em ser referência para ele,  prometeram que o ficham já em janeiro. Por enquanto está fazendo uns biscates, está satisfeito porque está bem com a família e isso é o que mais lhe importa.

          Como o Pedro, o Clóvis e o Jaime, conheci milhares em minha vida. Dei-lhe a atenção possível e isso nada custou-me. É muito fácil fazer com que as pessoas fiquem contentes, sintam-se valorizadas, incluídas. A formação que meus pais me deram, as dificuldades para estudar, trabalhar, manter uma família, foram-me moldando à vida, a aprender a respeitar os outros, ser gentil. Realizo-me pelas amizades que venho angariando em minha nova cidade, onde vivo a mais de 4 anos. Então, o que recebi deles em troca de meu cumprimento, foi-me sempre valioso, ajudou, quem sabe, a suportar pessoas intoleráveis, prepotentes, que me sugaram. Então, se você não sabe dizer: Buongiorno, Buenos Dias, Bonjour, Good Morning, Guten Morgen ou Namastê, então abra um sorriso e, em qualquer outro lugar do mundo, onde quer que esteja, vão entender que você é um ser humano, que percebe que há outros além de você.

          O Bairro Nossa Senhora de Lurdes é meu chão, agora. Tenho centenas de conhecidos aqui. Ando a pé, frequento os lugares, somo amizades. Tudo ao preço de um sorriso, de uma Boa Tarde ou simplesmente por causa de um sincero "Bom dia"!!!

Euclides Riquetti
14-12-2012

         

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

"A virtude está no meio" - o Epitáfio

          Quando, em minha juventude, entrei para o curso de Letras da Fafi, em União da Vitória, depois de ter vivido toda minha vida em Ouro e Capínzal (só fui conhecer Joaçaba aos 16 anos), fiquei deslumbrado por estar numa cidade maior que a minha, ter feito muitos novos amigos e colegas. Minha Lee,  meu  Samello e meus cabelos longos  me levavam para lugares que até então  eu não estava acostumado a frequentar. Era um mundo novo e poucas pessoas eu conhecia naquele lugar. Meus primeiros meses se resumiam a ir para a aula à noite, estudar um pouco durante o dia, assistir aos treinos do Iguaçu e, aos finais de semana, junto com o colega Samonek, irmos explorar alguns lugares e tirar umas fotografias, tipo ao lado de aviões  no Aeroporto José Cleto, no monte do Cristo, ou andar pelas redondezas do Iguaçu. Também algumas incursões em bailinhos nas cidades e comunidades dos arredores faziam parte de nossa agenda de final de semana. E, no domingo à tarde, dançar no "25".

          Como minha família não tinha telefone, minha comunicação com casa se dava por cartas, que eu escrevia semanalmente e obtinha resposta em no máximo 10 dias. Minha mãe aderira ao costume de escrever, tornou-se até hábito. Eu escrevia relatando minhas "façanhas", com o entusiasmo de quem via em tudo novidade. Meu pai ficou preocupado com o que eu escrevia e pensou que seu filho regrado poderia estar se enveredando por caminhos tortuosos e, na dúvida, escreveu-me uma cartinha, que carinhosamente veio no mesmo envelope que a de minha mãe. Poucas palavras, praticamente um bilhete, em que se sobressaía uma frase: "In medio virtus".

          Como vinha estudando Latim e até já havia comprado um dicionário, busquei entender aquilo. (Naquele tempo não existia google,  e  Barsa só algumas escolas tinham). Confesso que o Latim não era meu forte nem minha matéria preferida, apenas me esforçava para obter a média exata para ser aprovado sem Exame Final. E não entendi direito o que ele queria dizer, embora a tradução eu tivesse conseguido: "A virtude está no meio". Fiquei a matutar, matuto que eu era, com dificuldade para pronunciar os "erres" adequadamente e outras inconveniências fonéticas. Mas não cheguei ao objetivo do "meu velho".

          Com o tempo, numa de suas raras visitas, perguntei-lhe o que quisera dizer com aquilo e ele me respondeu: "Primeiro,  queria fazer você buscar respostas por si mesmo e, segundo, quis dizer-lhe que não é pra você ser muito "prafrentex", mas nem ficar atrás dos outros. Não queira ser um adiantado mas também não seja um atrasado, busque o meio termo".

          Somente os anos vieram a me elucidar bem isso que no princípio me pareceu uma muito enigmática afirmação do filósofo e pensador grego Sócrates, quatro séculos antes de Cristo. A virtude e a verdade  estão no equilíbrio, no meio termo, no desprezo do radicalismo. E entendi que muitos conflitos poderiam ter sido evitados entre os povos se isso tivesse sido levado em consideração. Realmente, nosso triunfo está em parar para ouvir e decidir com sabedoria, ter cuidado no que se diz e se faz, pois nossas verdades não são, necessariamente, as verdades dos outros. Poderia até metaforizar, dizendo que um time de futebol que só tem jogadores habilidosos, mas que pouco correm, não obtém  bons resultados. É preciso que haja nele também aqueles menos técnicos, mas que desenvolvem melhor sua condição física, que correm e se disciplinam taticamente, ajudando os outros, em equipe, a lograrem resultados favoráveis. Ah, também a mescla de jogadores mais experientes com outros mais jovens ajuda muito. E você obtém um futebol de bom padrão, com o time bem postado e organizado.

          Então, a afirmação socratiana é bem atual, revestida de muita  universalidade. E pode ser aplicada numa sala de aula, onde os indivíduos, professores e alunos, são diferentes, pensam diferente e, se bem articulados, podem obter sucesso na aprendizagem e na formação pessoal.

          Em 18 de junho de 1977 perdi meu pai. Tinha 55 anos. Era um professor bem informado, atualizado, inteligente. E, minha forma de eternizar minha homenagem a ele foi mandar produzir uma placa de bronze com sua foto em porcelana, assentada em granito, onde está gravado seu epitáfio: "In medio virtus".

Euclides Riquetti
12-12-2012

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Evita Perón - Segunda Parte

          A sedutora e carismática aspirante a atriz, Eva Duarte, que em sete anos saiu do anonimato para tornar-se Evita Perón, Primeira Dama da Argentina,  ídolo dos descamisados argentinos, conquistou o Poder através de sua liderança e da coerência de seus discursos. Casada com Juan Domingo  Perón, que alçou à condição de Presidente democraticamente e constitucionalmente eleito pelas classes trabalhadoras argentinas, Eva tornou-se um ícone da política de um país que ansiava por mudanças. Sua determinação e coragem, a firmeza de seus discursos e a simpatia angariada entre os pobres canalizou votos e mais votos para o marido, que se elegeu Presidente.

          As façanhas da líder que organizou e deu vida à Fundação Eva Perón, foram-se tornando notícia em todos os lugares do mundo. Uma jovem senhora, bonita, elegante, apaixonada, que sabia tocar fundo o coração de seus compatriotas, agia na Fundação, mantida com doações de empresários e até de trabalhadores que repassavam parte de seus aumentos salariais conquistados através das lutas de Evita. Lá, comandava voluntários e  organizava eventos esportivos e sociais, sempre com o intuito de contemplar os menos favorecidos. Fundou casas de saúde, de proteção ao idoso, à mãe solteira, e escolas.

          A partir de sua morte, vitimada que foi por câncer, em 26 de julho de 1952, aos 33 anos, Evita causou muita comoção dentre os argentinos. Seu corpo foi embalsamado e restou vestida em vestido de cetim branco e, com sua pele clara,  parecia apenas um anjo ou  uma princesa  adormecido dentro de um caixão. Após seus funerais, longos, seu corpo foi enterrado no Cemitério Monumental de Milão, na Itália, onde permaneceu por 16 anos, até 1971, quando o transferiram para a Espanha, onde se encontrava seu exilado marido.

          Apenas após a morte deste, em 1974, Isabelita Perón, viúva e terceira mulher do General Presidente providenciou para que o corpo de Evita  fosse trasladado para Buenos Aires, onde ficou exposto um tempo numa urna de vidro, perfeito, como se houvesse morrido há poucos dias. Depois, foi sepultado no Mausoléu da Família Duarte, no Cemitério da Recoleta, em Buenos Aires. A comovente e apaixonante história da jovem Primeira Dama, após sua morte, é tão envolvente como a de seu tempo em vida.

          A vida de Evita foi revivida num drama musical biográfico dirigido por Alan Parker em 1996, sendo que seu papel foi vivido pela cantora Madonna, contracenando com Jonathan Price, no papel de Peróm, e Antônio Banderas no de Che. Madonna, ao saber da intenção de Parker em produzir Evita, dirigiu-se uma carta praticamente implorando pelo papel. Cher, Meryl Streep, Maria Conchita Alonso e Michele Pfeiffer também estiveram cotadas para o papel, que coube a Madonna.

          A música de Andrew Lloyd Webber, Don´t cry for me Argentina, com letra de Tim Rice foi gravada inicialmente, em 1978, por Julie Covington, para a Peça "Evita".  Em Italiano, por Rita Pavone, e no Brasil por Cláudia, com o título de "Não chores por mim, Argentina". E em muitos outros idiomas. É um trabalho lírico tão envolvente que, em qualquer língua, desperta emoções indescritíveis. "Santa Evita", de quem já existem até intenções de canonização, merece o louvor dos argentinos e de nós que somos seus seguidores.

          Em 25 de julho de 2012, por ocasião do aniversário de 60 anos da morte de Evita, a cédula de 100 pesos argentinos passou a ter estampada a efígie de Evita Perón, substituindo a de um ex-Presidente. Ela mora no coração do sofrido povo argentino, sempre às voltas com seus problemas políticos e econômicos. Mas ainda inspira os romancistas, os cantadores e os poetas. Inclusive eu...

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Euclides Riquetti
10-12-2012

         

domingo, 9 de dezembro de 2012

Na beira do mar

Fui me pretear
Na beira do mar.
Preteei-me um pouco
Na beira do mar
Pois queria morenar.

Foram sete manhãs
Foram algumas tardes
Sem alardes
Apenas com saudades...

Apenas com a convicção
De que corpo e coração
Poderiam descansar
Na beira do mar.

E me morenei
Quase me preteei
Na beira do mar
Onde havia gavotas brancas
E algumas pardas dentre tantas
Voavam no mar.

Comiam o pão que lhes jogava aquela senhora
Que ali se soleou outrora
Mas que agora
Leva o neto
Esperto
Para ver o mar.

E eu, contemplativo
Fico olhando aquilo
Com a saudade a me  matar
Dos anos que se foram
Passados a sonhar
Vendo a vida passar.
(E melancolia a me judiar)
Na beira do mar.

Euclides Riquetti
10-12-2012