Ao final de 1928, quando se avizinhava a maior crise econômica que abalou a História, o Embaixador Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, lançou uma revista que pretendia que se tornasse a "revista de todos os brasileiros", que circulasse, semanalmente, do Amazonas ao Rio Grande do Sul, em todos os municípios brasileiros. Chatô, como ficou conhecido, já era dono de alguns jornais diários nas principais cidades brasileiras. Jornalista por vocação e advogado, ingressou na Faculdade de Direito do Recife aos 15 anos. Adiante, o Rio e São Paulo passaram a ser o chão do paraibano.
O Grupo que ele liderava tinha muito conhecimento na área editorial impressa e, então, recrutou os "melhores dentre os melhores da época" para trabalhar na Revista, capitaneados por Davi Nasser. "O Cruzeiro" chegava às cidades por trem, ônibus, barcos, aeronaves, enfim, por todos os meios possíveis naquele tempo.
Quando criança, eu via nas bancas da Livraria Central, ali de nossa Rio Capinzal, a já famosa revista, que iciciou com 50.000 exemplares e que, quando do suicídio de Getúlio Vargas, atingiu 720.000, mantendo-se asssim doravante. Em 23 de outubro de 1943, passou a incluir um novo atrativo semanalmente, a charge mais famosa e mais comemorada da História, a do "Amigo da Onça".
Disputando o precioso espaço da revista, que trazia belas fotos de misses, cobrindo sempre com maestria os Concursos de Miss Brasil e de Miss Universo, a charge de humor, com aquele desenho de um cidadão magro, e com aquelas entradas brancas em meio ao cabelo escuro, que o cartunista Péricles Andrade criou, passou a fazer parte das expectativas dos leitores que, tão logo dispunham do exemplar na mão, iam direto buscar o "Amigo da Onça".
Mas a revista, muito moderna, nos trazia as notícias do mundo todo, colocava em suas páginas os políticos, os belos automóveis importados dos Estados Unidos e da Alemanha, o Carnaval Carioca, os prédios e viadutos das cidades, o Pão de Açúcar, e muitas outras atrações, em suas reportagens impecáveis e linguagem de fácil compreensão, tanto escrita quanto visual. Era determinado, tinha uma extraordinária visão empreendedora, e outorgava direitos e obrigações a seus colaboradores com facilidade. Tinha aliados e não empregados. Quando necessário, confrontava-se com autoridades que apoiara para chegar ao Poder. Não misturava jornalismo com amizade.
Adiante, passou a ter sérias concorrentes, com o lançamento de "Manchete" e de "Fatos e Fotos", que seguiam um formato muito parecido com o de sua criação. "O Cruzeiro" sobreviveu até 1975, teve uma vida de quase meio século, e a principal causa de seu desaparecimento foi que o grupo Diários Associados passou a priorizar mídia televisiva e radiofônica, inclusive com a criação das Rádio e Televisão Tupi, principalmente após a morte de Chatô. Uma pena, porque seus registros vieram, no século passado, mantendo preservados, de forma concreta, os principais acontecimentos do Brasil.
Admirador das artes, fundou o MASP, Museu de Arte de São Paulo. Em seus últimos anos de vida, datilografava seus textos com uma máquina de escrever adaptada, em razão de paraplegia ocacionada por uma trombose.
O legado maior que "O Cruzeiro" nos deixou foi a personagem "O Amigo da Onça". Em muitos escritórios, restaurantes, postos de gasolina e padarias, era normal ver recortes das charges que o incluíam fixadas na parede. A mim, a lembrança mais marcante é a de uma que o Barbeiro Alcides Spielmann tinha na parede da barbearia, ali no Ouro, em que a personagem estava cortanto barba e cabelo de um cliente e um cachorinho se colocava ali ao lado da cadeira. E o "Amigo da Onça" lhe dizia: "Calma, Totó, que vai sobrar uma orelhinha pra você também". Era mais ou menso isso a frase...
Nossa divertida figura tem seu nome, até hoje, aliado a situações em que alguém que parece amigo, constitui-se num misto de traidor e aproveitador: um amigo da onça! Parece, mas não é!
Euclides Riquetti
07-04-2013
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