segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Dona Carmela Zambon Susin, com muito carinho!

 



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        Na minha infância, costumávamos fazer piqueniques em família. Íamos de caminhão, com o Ford F-600 verde e branco do meu primo Rozimbo Baretta. Muitas vezes, na propriedade da família Zambom, em Nossa Senhora da Saúde. Perto de onde o Rio Leãozinho se encontrava com o Rio do Peixe. Ali nas proximidades da AABB, no Ouro. havia um extenso gramado e muitas árvores de sombra que nos faziam bem.  Também passávamos pela Coxilha Seca para ir para várias comunidades. Numa encruzilhada, onde há uma travessa que liga a estrada de Coxilha com a Rodovia Estadual, em Novo Porto Alegre, havia uma casa de alvenaria com certas características da colônia italiana. Fora da Família Susin, depois adquirida pela Família Trentin e, recentemente, demolida.

          Avancemos uma década, pelo menos, e cheguemos ao Distrito de Zortéa, quinze minutos de carro de Capinzal, mas pertencente a Campos Novos. Ali chegamos, um casal bastante jovem, em março de 1977. Eu fora convidado a lecionar na Escola Básica Major Cipriano Rodrigues  Almeida.  Recentemente eu completara 24 anos e minha esposa, Miriam, 18. Viéramos de União da Vitória. Atividade nova, um lugar novo, tudo novo. Ali, apenas alguns conhecidos, das famílias Sernajoto e Susin. Também tínhamos algum conhecimento com os proprietários de uma empresa local, a Zortea Brancher S/A - Compensados e Esquadrias. Na parte da tarde, eu trabalhava no departamento financeiro desta.

          Em poucos meses, já mantínhamos uma forte relação de amizades. Fomos reencontrando amigos da juventude, como o Olivo e o Hilário Susin, o Almiro Meloto, o Izaías Bonato, ainda a professora Marlene de Lima, a Alias Xavier,  minhas conhecidas dos tempos de Mater Dolorum. A Alias estava casada com o Ticão, meu colega de juventude em Capinzal.

          Por conta da relação de trabalho, que se transformou em relação de amizade com o casal Vitória (Brancher) e Aníbal Formighieri, acabamos atuando fortemente nas atividades da Capela de Santa Catarina. Vieram, em 1978, os Padres Missionários, que convidávamos para jantar em nossa casa, e nos envolvemos muito com a atividade social e religiosa. Tínhamos energia, disposição, fomo-nos engajando nas causas da comunidade.

          Pois que, tanto nas atividades da escola quanto da Capela, nos tornamos muito amigos da família da Dona Carmela (Susin), esposa do Olmiro. Ele tinha um caminhão e transportava compensados e portas para a empresa. Tornei-me professor de seus filhos Dirceu (Xexéu), Deonir, Marilene, Marisa, Vilmar e Márcia. A Aracely era bem criança, ainda. Traziam muito das características de seus pais, que eram calmos e cordatos. O "Miro" era muito reservado, pouco falava. A Dona Carmela era mais envolvida com a vida escolar e religiosa dos filhos. Sempre estava presente nas reuniões de pais,  tanto na escola quanto na Capela.

          Tenho muitas boas lembranças da Dona Carmela. Era assim que tratávamos aquela senhora de 47 anos, mãe exemplar e que não levantava a voz para ter a sua autoridade sobre as crianças. Perdera um filho amado,  o Ademir, vitimado que fora num acidente de trabalho. Os amigos falavam muito bem dele, que não conheci. Sentiam saudades, diziam que era um bom menino, muito alegre, divertido, companheiro. Eu imaginava, então, o que se passaria na cabeça e no coração daquela mãe que perdera um filho. Uma mãe amorosa, sensível, carinhosa... perguntava a mim mesmo e não me vinham as respostas.

           Mas há dois fatos relacionados a ela que estão fortemente marcados em minha mente. Primeiro, que numa manhã de domingo, lá pelo final de 1978, um temporal muito forte se abateu sobre a vila. Lá na Capela, estávamos eu, que era celebrante de cultos,  e o Sr. Darci Zílio, que era Ministro Extraordinário da Eucaristia. Abrimos as portas, ligamos um aparelho de som com músicas do Padre Zezinho para atrair as pessoas, pois não tínhamos sino ainda. Quase chegando a hora do culto e apenas meia dúzia de pessoas subindo pelas ruelas em nossa direção. Falei para o amigo: "Pode ter certeza de uma coisa: a Dona Carmela Susin  não vai faltar!" Ela estava sempre presente aos cultos e missas, sempre concentrada em ouvir as palavras ditas ou lidas. Parecia buscar, nelas, a força de que precisava para superar a dor da perda recente.  E deu a hora, 9 horas, no máximo uma dúzia de fiéis e nada da Dona Carmela. Dias depois, ela me encontrou e  justificou-se: "Fiquei rezando em casa, estava muito perigoso sair para a rua"!

          Em maio de 1979, quando nasceram nossas  gêmeas, Michele e Caroline, Dona carmela nos visitou. Trouxera dois pijamas de pelúcia para nossas meninas. Ela mesma confeccionara, com muito carinho. E o inverno veio muito rigoroso naquele ano. Nós éramos marinheiros de primeira viagem e morávamos longe dos parentes. Todo o apoio que recebemos dos amigos nos fortaleceu muito. E o carinho das pessoas, também. E Dona Carmela, que meu pai certamente conhecera quando lecionou na comunidade em que ela nasceu, Nossa Senhora da Saúde, era uma pessoa bondosa e presente em nossa vida. Mesmo com o que havia sofrido em razão da perda do Ademir,  sempre tinha um sorriso e palavras de ânimo a distribuir.

         Se eu tivesse que escolher uma palavra para descrever aquela senhora, eu a teria de pronto: generosa! Esta é a que a qualificaria, centamente. E resumiria a bondade que havia em seu coração, o amor que dedicava aos filhos e ao esposo, a simpatia com que tratava a todos. Generosidade! Algo presente em Dona Carmela, uma personagem que passou pela nossa vida e que, em 01 de outubro de 1983, aos 53 anos, deixou-nos para ir viver num outro Plano.

          Abraços aos familiares de Dona Carmela que, até hoje, seguem as suas orientações e praticam os seus exemplos.

           Saudades!

Euclides Riquetti
05-06-2014

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