sábado, 31 de março de 2012

Saudosa lembrança de uma cidade bucólica e outras reflexões

          Houve um tempo em que apenas algumas ruas de Capinzal ( e seu Distrito, Ouro), dispunham de pavimentação com paralelepípedos. Na margem esquerda do Rio do Peixe, havia calçamento, com paralelepípedos,  em parte da Rua XV de Novembro e parte da Carmelo Zóccoli. Em Ouro, o calçamento vinha de onde é hoje a Prefeitura até defronte o Seminário Nossa Senhora dos Navegantes, mais precisamente até a casa do Amélio Dalsasso, onde hoje mora o Sr. Jardino Viel. Era uma casa de madeira, cor alaranjada, madeira beneficiada, telhas francesas no teto. Aliás, a maioria dessas telhas vinham da Cerâmica Santa Cruz, de Canoinhas, famosas pela excelente qualidade,  mas havia algumas fabricadas em Alto Alegre, Capinzal, porém não chegavam a atingir a qualidade das de Canoinhas. As nossas eram utilizadas para cobrir paióis e chiqueiros, sucedendo as tabuinhas de madeira falquejadas, que os italianos chamavam de "scandoles", utilizadas largamente para cobrir casas e outras benfeitorias desde 1902, pelos "brasileiros", e a partir de 1910 pelos "italianos", até a década de 1950.

          Muito interessante é que na XV, na quadra que vai do Bradesco e prédio do Mência, até o prédio do Saul Parizotto e o da família Henrique, havia argolas de aço fixadas ao chão, nos meio-fios, dobráveis ao chão para que não  tropeçássemos nelas, onde se podiam amarrar os animais de montaria, ou mesmo os bois que arrastavam as carroças, ou os animais de puxavam as charretes. Para que não fugissem, enquanto seus donos faziam negócios, entregando mercadorias no comércio, bebidas, ou vendendo pão.

          Restam, em minha memória,  a charrete do Santo Boff, que levava  bebidas aos bares; a carroça da Comercial Baretta, conduzida pelo Juca Rupp, que entregava ranchos e buscava mercadorias na estação ferroviária;  a charrete da Padaria Cadorin, tendo o Artêmio Tonial e depois o Alcebides Soccol como pilotos; o Ari Wilbert, me parece, também utilizou uma em alguns anos; a carroça freteira do Eurides Venâncio, puxada por duas mulas, que trouxe parte da mudança da Prefeitura de Capinzal para  o Distrito de Ouro, no tempo do Prefeito Horácio Heitor Breda, na década de 1950, e que foi a que mais tempo permaneceu em serviço;  e a gaiotinha do Tio Vitório Richetti, que fazia entrega de bebidas, puxada por uma mula, e que ele a utilizava também para nos levar em pescarias, subindo a serrinha dos Masson, Miqueloto e Campioni,  e estacionando-a onde hoje é o Bairro Alvorada, em Ouro, para que descêssemos a pé pelos "peraus"até o Rio do Peixe, ali acima de onde hoje é o Tio Patinhas Lanches, para encher as sacolas de lambaris, jundiás e cascudos.

         Ah, como era bom viver nas gêmeas bucólicas cortadas pelo serpenteio do Rio do Peixe, e que até 1963 eram uma cidade só!!! E, aos 16 anos, tomar um ônibus (a gasolina) para ir cobrar uma conta em  Joaçaba, a "Capital do Oeste Catarinense"... e não receber nada...  Vejam bem, 16 anos e conhecer a primeira cidade além de Capinzal. E, aos 17,  conhecer Piratuba, aos 18 Concórdia e voltar mais uma vez a  Joaçaba, para tomar um ônibus e ir a União da Vitória increver-se no vestibular ao curso de Letras. Campos Novos, fui conhecer aos 23 anos, já formado na Faculdade. E sem TV em casa! Que Universo Limitado, fechado. Em compensação, viajei pelo mundo todo, n' O Correio do Povo, Revistas Manchete, Cruzeiro e Seleções do Reader´s Digest, escritores  Machado de Assis, Jorge Amado, José de Alencar, Camilo Castelo Branco, Dalton Trevisan, Alceu eAmoroso Lima (o Tristão de Athaíde), Nelson Sicuro, Francisco Boni, Francisco Filipak, Abílio Heiss, Ivonish Furlani, (meu Patrono) Júlio Verne, William Shakespeare, Edgar Allan Poe, Jonathan Swift, Oscar Wilde, Lewis Carrol, Charles Dickens, e muitos, muitos outros incontáveis amigos de minha juventude, que entravam em minha casa a todo o dia, a toda a  hora, e não precisavem me pedir licença! E que Deus os tem em seu Reino. Obrigado, amigos, que me permitiram viajar pelo mundo.

Euclides Riquetti
31-03-2012     

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!