segunda-feira, 13 de maio de 2013

De novo o Amílcar

          No sábado, estava eu muito pensativo. Tinha que serrar uns toretes de madeira para garantir o churrasco do Dia das Mães. E retirar todas aquelas folhas caidas da pereira e que estavam a matizar de marrom o verde das gramas. E lavar as calçadas, muitas.

          Meu rádio de pilhas no volume, ouvindo todas aquelas filhas ligando para o locutor, escolhendo música e oferecendo para as suas mães, de cada uma delas, é claro. E, todas, dizendo que a sua era a melhor do mundo...A minha também, mas, infelizmente, depois de ter feito sua parte, foi morar com Deus. Todo o filho que se preza sabe que sua mãe é a melhor do mundo, a minha, a sua, a do Amílcar e até a Lady Laura, mãe do Roberto Carlos, que foi pro céu.

          Toca meu  telefone celular, aquele bem simplesinho que, quando você esquece sobre a mesa do restaurante e liga para o mesmo tentando recuperá-lo, alguém atende e   lhe diz: "Sim, você deixou aqui. Guardei para o Senhor!" Vou deixar aí no caixa, pegue quando quiser!  Também um "basico", sem câmera, sem aplicativos sofisticados,  quem vai querer?

         Uma voz:   "Riquetto, buon giorno,  é o Amílcar! Sabe que outro dia passei lá pelo Porto e encontrei um róspo que disse que era teu amigo e tinha o teu telefone?!  Digo, tinha o teu número de telefone, Riquetto! Vim do litoral e ia pra General Carneiro ver a filha, vim pelo Porto e parei pra almoçar lá e, conversando, eu disse que tinha um amigo que estudou no Porto  40 anos pra trás e o bicho disse que te conhecia, que morou junto contigo numa pensão e me deu o número!"

          Fiquei muito contente, até porque fazia muito que ninguém me chamava mais de "Riquetto".  Demonstrei isso. E a conversa foi longe: "Sabe, amigo Riquetto, tó ficando preocupado...  Até pra comer já tá  caro. A cebola e o tomate com o preço lá no São Pedro.  E não é que nas quitanda tá tudo treis e noventa e nove na promoçom do sacolom. E nos outro lugar tem até de sete real. Até o pinhom, que eu pagava dois real agora me pedem quatro!  Ainda bem que a erva aqui tá mais barata do que nos outro lugar, dá pra conttinuar cevando um mate. (Eu compro no preço de custo porque tenho amizade com o dono do soque)!"
          Rimos muito, eu e ele. Amigo a gente tem que ouvir, mas que o Amílcar é engraçado, ah, isso é!  Às vezes, até penso que esse talian está  se fingindo de doido só pra  me enrolar, ele não era assim quando jovem Mas, como o vi pouco nas últimas três décadas, nem sei o que dizer.

          E conversa vai, conversa vem, ele me diz mais uma das boas: "Olha, esses dias quando  saí de General e ia voltar pra  Palmas, tinha carona garantida com um ervateiro. Comprei uma dúzia de pintinho de poedeira e não é que o caminhãozinho da erva estragou e tive que ir de ônibus? Coloquei os bichinho numa caixa de papelón vazia e fiz uns furinho com prego de caibro pra que eles não morresse.  Embarquei no busão e, quando estava lá perto do Trevo do Horizonte, não é que os pinto começarum a piá. E ninguém sabia de onde vinha o barulho. Até que o motorista parou pra que embarcasse mais um casal e ia dizendo pros que tavam de pé: "Mais um passinho pra trás, amigos, mais um passinho... E vão entopetando a linha de gente. E não é que ele escutou os piozinho e quis saber quem que tava levando animal e não pode?

          Tive que me identificar e dizer que era eu mesmo  e ele queria me tirar do ônibus. Pedi mil desculpa, do jeito que minha querida mãe me ensinou, mas não teve jeito, ele não aceitava nenhuma explicação e nenhuma desculpa. E, depois de muita, muita  conversa ele aceitou que ficaria a caixinha lá na frente  e quando chegasse em Palmas me devolveria e, no final, assim  fez e não perdi os doze pintinho da raça dos pescoço pelado."

            Disse-lhe que ele estava ficando doido, que isso não jeito de transportar animais, que é proibido. Perguntei-lhe diversas coisas ainda para satisfazer minhacuriosidade e obtive respostas que dava gosto ouvir. Falou-me que ainda vai me visitar quando o caminhão da erva vier para nossos lados. O motorista é seu genro e prometeu trazê-lo.

          Pois que o Amílcar me deixou muito feliz com seu contato. A primeira vez depois de nosso reencontro em Canasvieiras, no início de abril  Agora tenho o número do fone dele. E sei que quando eu lhe ligar tenho que estar sem nenhum compromisso porque a ligação não fica por menos de uma hora. Ainda bem que inventaram as promoções de "fale infinitamente por vinte cinco centavos"!

Euclides Riquetti
13-05-2013



         

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