Não venha querer me dizer que você nunca escondeu uma panela difícil de lavar. Todo o ser humano, quando adolescente, faz isso. E aprende com o irmão mais velho. Ou com o primo mais velho. Ou com o tio. Esconder panelas dificeis de lavar é regra cotidiana para o sexo masculino, aquele mesmo que uma vez se autoentitulava de "sexo forte". Na verdade, em se tratando de lavação de louças, o "sexo forte"sempre foi a mulher. Sempre foi ela que, jeitosamente, esfregou bem o fudo das panelas. O de dentro e o de fora. Sim, porque nos tempos em que poucos tinham fogão de cozer a gás, uma mesma panela nos trazia dois sofrimentos, que vou descrever no segundo parágrafo, pois parágrafo muito comprido é chato, parece que a leitura fica demorada, não dá tempo para o leitor respirar... sentiu isso,leitor (a)?
Bem, se sentiu é porque está um tanto, ou dois tantos, fora de forma. Mas tem como corrigir isso: treinamento. Treinamento full time. É assim que os técnicos de futebol mais antigos diziam nas entrevistas para o rádio. Era mais fácil de dizer do que falar que teriam treino "o dia inteiro". O Inglês, língua sintética, tem muitas palavras cutas e estruturas curtas. Tão curtas quanto são curtos os salários dos professoes no Brasil... Então pelo menos leitura em "half time", que já ajuda!
Veja, amigo, eu enrolei você dizendo que ia falar sobre os sofrimentos de limpar dois fundos de uma mesma panela no segundo parágrafo e nem falei. Então, calma com o dedo no controle, não mude de canal que eu explico: quando ainda o fogão a lenha era o mais usado, principalmente no meio rural ou em cidades menores, para acelerar o crescimento, digo o cozimento, muitas vezes eram retiradas as argolas das chapas dos fogões, de modo que a chama atingisse diretamente a base da panela. Assim, tínhamos dois efeitos: o fundo externo enegrecido, encarvoado, e o interno com aquelas crostas de comida que queimou e grudou porque a mama teve que ir por a roupa no arame para aproveitar o sol antes que ele sumisse. Agora isso mudou também, é varal em vez de arame.
Quando o cheiro de queimado se espalhava pela casa e saía pelas janelas, vinha correndo a mama e dava um jeito de meter a mescola na bóia e desgrudar o que fosse possível. E então dava para aproveitar a comida, mesmo que não ficasse a costumeira delícia. E era nessas horas que as panelas iam para um esconderijo, para que ficasse para ser lavada no dia seguinte.
Um primo meu era bem expert nisso. O Jurandi morava na casa do Nono Serafim Baretta, lá na Linha Bonita. E quando nós íamos lá à noite para rezar o terço ou tomar um mate doce com pipoca melecada, , enquanto todos ficavam batendo papo na sala ele tinha que ir lavar a louça. Então ele cumpria o seu papel de primo mais velho e me ensinava. As panelas com o fundo preto ou cascão de comida grudada por dentro, ele guardava embaixo do lavador. O lavador é aquele móvel que vocês, da cidade grande, chamavam de pia. Dizia o primo Jurandi que, no outro dia, as tias Nair e Lindamir iam ver as panelas sujas escondidas ali e ficariam fulas da vida. E que, então, ele estaria lá na roça ajudando a quebrar milho e elas lavariam. E, quando voltasse, a nona não ia dexar que brigassem com ele por tão pouca coisa. Era bem esperto já o primo, imagine agora, Até está com um contrato com um time de veteranos, aqui da Vila, em Joaçaba. O treinador Torresmo não abre mão da presença do primo no time. Vem lá da Barra Fria jogar aqui.
Todo o jovem, moço ou moça, deve ter feito escondido panelas, um dia. Eu pensava que quando ficasse grande não ia precisar me ocupar com questões assim. Mas os tempos mudaram e agora nós precisamos dividir tudo em casa. Os bônus e os ônus. E o meu é lavar a louça muitas vezes ao dia. Sem esconder panelas. Por isso tenho que cuidar bem para não estragar o teflom, senão me ferro...
Euclides Riquetti
11-07-2013
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