Numa dessas manhãs que voltamos a contemplar o sol, saí para levar minha neta Júlia, nossa Jujuba, até a Escola Girassol, aqui em Joaçaba, que funciona nas instalações do antigo Colégio Cristo Rei. Ela já pegou a mania de querer ficar aqui em casa para que depois a levemos para a sua aula em período integral.
Pois que, na quinta-feira, coube-me levá-la. Já conheço todos os procedimentos, até a senha do portão da escola, e nos entendemos como dois adultos. Eu sempre querendo ensinar-lhe algumas coisas para que aprenda a viver a vida como ela é. Então, cada vez que tenho que fazer algo, convido-a a ajudar, pois assim também aprende. Como vão asfaltar umas ruas aqui do Bairro e ela já viu como fazem a base com bueiros e brita graduada, estamos esperando que nos próximos dias coloquem a camada de CAUQ (Concreto Asfáltico Usinado a Quente) e depois a compactação e a sinalização. Ela está na expectativa de aprender como se faz isso...
Mas, naquela manhã, surpreendeu-me por demais. Quando passamos por um outdoor da Bortoluzzi, ela apontou e disse: "É a placa da loja que o Tio Fá trabalha, lá com a Tia Tânia!" Falei-lhe que ele não trabalha mais lá, fez alguns serviços para mim por uns dias, mas apareceu uma oportunidade de trabalho e foi atuar numa empresa que vende leite, queijo, iogurte... E perguntei-lhe se ela sabia que o queijo era feito com leite.
Pois ela, com aquele seu jeitinho delicado, foi-me dizendo: " Sei, sim! Vovô, sabia que lá no sítio da Vovó Marlene ela faz queijo com leite das vacas? Eu sei fazer queijo!
Como nada mais me surpreende, fiquei imaginando como poderia ela saber fazer queijo! Então, mais alguns segundos e ela: "Vovô, tá ficando maluquinho? Era ali a rua que a gente vai pra escola!" (Ih, distraído como de costume, passei do ponto, mas virei na esquina seguinte e mostrei que há mais de um caminho possível para chegar até sua "Girassol"). E perguntei-lhe: "Então, como é que a gente faz queijo? Você me ensina?"
E a Jujuba: "É bem fácil. A gente tira o leite das vacas e põe uma panela grande bem cheia em cima do fogão. Depois, quando o leite esquenta e coalha, a gente põe pra escorrer o soro. Daí pega aquele queijo bem mole e aperta num pano pra sair o resto do soro. E depois coloca numa forma que nem um ralador. Pra que o queijo fique bom tem que deixar na tábua, porque queijo muito mole não é muito bom de comer."
Fiquei contente em ver que, com três anos e meio, ela guarda todas as experiências que vive. Até lembrei-me de um quadro que havia lá na Escola Major Cipriano Rodrigues Almeida, em Zortea, no ano de 1977, quando iniciamos nossa atividade definitiva como professor, onde, na sala da Diretora Vitória Brancher Formighieri, estava escrito: "Los niños aprenden lo que viven!"
Nos anos 80, veio um ciclone e derrubou a escola, destruiu o prédio, os materias, os livros da biblioteca, o mobiliário, tudo. Mas não destruiu nossas lembranças, que estão aqui, firmes em meu imaginário. E, realmente, as crianças aprendem o que vivem. Desde então, sempre procurei aprender e ensinar vivenciando. Foi escrevendo poesias ao mesmo tempo que os meus alunos lá da Escola Sílvio Santos escreviam em nossas aulas que criei o hábito de compor e conservo até hoje. Realmente, como a Jujuba, os adultos também aprendem aquilo que vivenciam. E eu, agora, aprendo muito com nossa Jujubinha!
Abraços!
Euclides Riquetti
28-09-2013
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