terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Enchente de São Miguel e a Romaria de Salette

          Desde meus tempos de criança é  que ouço falar na Enchente de São Miguel. Aqui no Vale do Rio do Peixe e no do Rio Uruguai, tem-se a data como referência pela realização da Romaria de Nossa Senhora da Selette, que acontece em Marcelino Ramos, ao final de setembro de cada ano. Coincidentemente, no de 2013, a Romaria, para a qual acorrem milhares de sulbrasileiros, acontece no dia 29, justamente no dia consegrado a São Miguel Arcanjo, o defensor dos cristãos, assim considerado a partir do Século V pelo Romanos.

          Em todas as cidades do Vale do Peixe, na década de 1960, havia grande expectativa tanto com relação à enchente quanto com a conhecida Festa de Marcelino Ramos. Um trem de passageiros originário de Porto União da Vitória serpenteava pelo Vale, levando centenas de pessoas até a fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. No vizinho Estado, a localização do Santuário de Salette, no alto de um monte, em Marcelino Ramos. Dessa festa, tenho três fatos que me marcaram: Numa oportunidade, a salada de maionese, produzida em tachos inadequados, causou uma grande indisposição gástrica em muitas pessoas, correndo a notícia para todos os lados. Em outra,  um colega meu, o Vilmar Adami, que em 1970 caiu do trem na região de Piratuba, esfolando o corpo, mas nada ocorrendo de grave com ele. E, Adiante, nos primeiros anos da década de 1970, também, um acidente com o trem, com muitos feridos, quando  quatro  jovens perderam a vida, sendo dois de Caçador e dois de Ouro, Jamir Rech, filho do Alberto Rech, e Selvino Rech, filho de Guilherme Rech, primos entre si. Segundo o primo e amigo idnei Baretta, seu pai, Izalino Baretta, estava no vagão mais avariado e o clima foi de um verdadeiro horror. Na época o fato teve repercussão nacional devido à importância da Romaria no contexto religioso brasileiro.
          Outro fato que sempre me chama a atenção é o de que centenas de romeiros, de toda a região, dirigem-se para lá a pé, pagando suas promessas diante de graças alcançadas. Ainda, alguns sobem todos os degraus de acesso ao Santuário, em joelhos. Na semanma que a precede, a celebração de muitas missas, inclusive a Procissão Luminosa, à noite.

          E o fato conectado a este evento, que praticamente ocorre em todos os anos, é a famosa Enchente de São Miguel. O mês de setembro, em sua normalidade, é muito chuvoso no Planalto e no Meio-oeste Catarinense, o que leva a acontecerem  as enchentes no Rio Itajaí-açu e no Itajaí-mirim, com as águas dirigindo-se ao litoral, onde causam grandes estragos em cidades como Rio do Sul, Ilhota, Gaspar, Brusque e Itajaí. Nesta, um risco muito forte de inundação em razão das marés do Oceano Atlântico. Causam muita preocupação, mobilizam autoridades, as Comissões Municipais de Defesa Civil, Bombeiros e os cidadão voluntários. Obras que poderam minimizar os impactos naquela região, como algumas barragens de contenção com grandes reservações de água, estão empacadas em razão de recusos jurídicos por empresas que não tiveram sucesso nas licitações. Muitos entraves burocráticos, além do essencial dinheiro, retardam as necessárias ações.

          Aqui no Vale do Rio do Peixe, embora possam ocorrer grandes prejuízos, é impossível evitar-se o evento adverso. Há, porém, como remediar a situação.  Há edificações, muitas, construídas nas margens do Rio do Peixe, antigamente,  e que com apenas 5 metros de elevação do nível das águas já restam inundadas. Na enchente de 1983, as águas do Peixe elevaram-se em mais de 10 metros, ocasionando uma catástrofe. Mas enchentes, aqui, não são novidades. Tivemos a de 1911, a de 1939, a de 1972 e a de 1983 como sendo as maiores. Seguramente, a que mais causou danos, foi a de julho de 1983, que atingiu também todo o Vale do Rio Iguaçu. Porto União da Vitória e as principais cidades do Vale do Peixe foram fortemente atingidas, não escapando da catástrofe o do Itajaí.

          A Enchente de São Miguel, embora seja indesejada, é previsível para os meses de setembro. É mais regra do que exceção. Então, infelizmente, temos que conviver com isso, mas há maneiras de se reduzir seus impactos, que exigem competência técnica, decisão política e investimentos. E é uma atribuição não apenas do Poder Público, mas também de toda a sociedade. Nossas cidades estão-se cobrindo de concreto e pavimentação asfáltica, reduzindo-se as áreas permeáveis. É preciso encontrar meios de compensar isso, como o plantio de milhões de árvores em toda a bacia do rio, melhorando o nível de permeabilidade do solo, prejudicado pelo pisoteio de animais e rodas de equipamentos. De qualquer forma, precisamos nos adaptar para viver com isso. Mas não podemos nos acomodar...

Euclides Riquetti
24-09-2013

Um comentário:

  1. Prezado Riquetti,
    Excelente texto sobre o fenômeno atual, as memórias e a qualidade da informação de quem conhece de perto, na práticarompante, a realidade do nosso querido interior catarinense. São texto assim (e sem qualquer pompa ou impáfia, também das reportagens que realizei com nossa equipe pela Fecoagro nos dois últimos anos e veiculadas no Canal Rural através do programa nacional COOPERATIVISMO EM NOTÍCIA) que reforçam e difundem a força de toda uma região e sua gente trabalhadora. Abraço. Gilberto Motta, jornalista e professor universitário (Chapecó/SC).

    ResponderExcluir

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!