Ao contrário do que muitos pensam, as uvas que produzem o vinho colonial no Sul do Brasil não vieram da´Europa, mas sim da América do Norte, algumas há bem mais de 100 anos. Dentre elas, as mais utilizadas são a Niágara, para a produção de vinho branco, e as variedades Bordô e Isabel para os tintos. Foram trazidas para a Colônia Gaúcha e, de lá, aqui para o Vale do Rio do Peixe, com a chegada dos descendentes de imigrantes italianos radicados na Serra Gaúcha. Isso começou a acontecer logo depois da inauguração da Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande, que corta nosso Vale do Rio do Peixe, e que aconteceu em 1910.
A introdução de uvas viníferas europeias é bem mais recente. O tempo e os costumes acomodaram (definiram) a classificação, e hoje são consideradas "americanas" ou "coloniais", as variedades acima mencionadas. As viníferas têm como característica principal serem cultivadas em terras de altitude. As melhores têm origem na França, mas temos também as vindas da Itália, do Tirol, de Portugal e da Espanha, e de outros lugares. As principais cultivadas no Sul são: Cabernet Sauvignon, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Tannat Cabernet Franc, entre as escuras; e Chardonnay e Sauvignon Blanc entre as claras. A Sauvignon Blanc, segundo Maurício Grando, da Villaggio Grando, de Água Doce, aqui perto, é considerada a "mãe das uvas do mundo". Concordo com ele.
Os franceses, especialmente, sempre trataram com desdém, inferioridade e desconfiança as uvas e os vinhos produzidos nas Américas (Estados Unidos, Brasil, Argentina, Chile, Uruguai...). O conceito, porém passou a mudar a partir de 1976, com um fato que ocorreu em Paris, na França. E, de lá para cá, os vinhos produzidos nas Américas passaram a ser respeitados e a tornarem-se, até, campeões em concursos que lá realizam, com os melhores vinhos, das melhores safras do mundo.
Um filme de muito boa produção, um drama, na verdade, de produção nortemericana em 2008, mostra uma história ( e por isso mesmo verdadeira), protagonizada por famílias da Califórnia, EUA, em que uma dúzia delas, no Napa Valley, produzem vinhos com parreiras trazidas da França. Com a Direção de Randall Miller e tendo como protagonistas Bill Pullman (no papel de Jim Barrett, o produtor de vinhos), Cris Pine (Bo Barrett, filho de Jim) e Rachel Taylor (Sam, por quem Bo nutre grandes sentimentos), enfoca a fazenda que produz vinho no seu Chateau Montelena. Um sommellier francês vem aos Estados Unidos e prova dos vinhos produzidos naquele vale. Acha que têm condições de competir com igualdade aos vinhos franceses, num concurso a ser realizado em Paris, em 1976. Leva 26 garrafas, sendo duas do Montelena, entregues escondidas por Bo, contra a vontade do pai.As garrafas seguem sem que o produtor saiba, encaminhadas pelo filho.
Classificado à final do Concurso, Bo segue a Paris para ver o julgamento. Os sommelliers escolhem, sem saber que é produzido na Califórnia, EUA, o Montelena como o melhor vinho. E, então...
(Final de filme não se conta!).
A história apresentada no filme "O julgamento de Paris" muda a história dos vinhos nas Américas e hoje o vinho, para nós sul brasileiros, tem forte importância econômica. Houve grande evolução no sistema de armazenagem, sendo que a maior parte, hoje, é acondicionada para repousar em grandes tonéis inoxidáveis, em que cabem milhares de litros. A sua temperatura é controlada por sistemas de computação e, vinho que se preza, antes de ir para a garrafa passa uma temporada em barris de carvalho americano ou francês.
Para nosso orgulho, a região do Meio-oeste Catarinense e Alto Vale do Rio do Peixe, tem contríbuído com vinhos e espumantes de excelente qualidade. Pessoalmente, destaco as cantinas de Pinheiro Preto e Tangará ( Treze Tílias também tem evoluído), e Água Doce, onde se situa a Villaggio Grando, que vale a pena conhecer.
Mas, voltando ao filme, vale a pena assistir, pois além de um enredo interessante e paisagem espetacular (imagine os extensos parreirais...) ainda a presença de Cris Pine e Rachel Taylor fazendo a parte romântica.
E, como diz a poetisa Denize Maria Cecatto Bee, que produz vinho com sua família ali em Pinheiro Preto, e que sabe muito bem poem(ar), " A magia do vinho não está só na qualidade da bebida, mas também na companhia de quem a desfruta". Tem razão a minha colega, pois o vinho é a bebida dos deuses, a bebida do amor!
Euclides Riquetti
01-11-2013
Caro, Riquetti. Leio seu texto aqui em Dionísio Cerqueira onde passarei o final de semana. No período em que aqui estiver aproveitarei para do outro lado da fronteira, em Bernardo Orygoien, comprar e me deliciar com os ótimos vinhos argentinos. Seu texto é ótimo. Lamento não ter abordado os abusivos preços dos vinhos com cepas européias produzidos aqui no Brasil. E, me desculpe: Vamos demorar ainda alguns anos para alcançarmos a qualidade dos Chilenos (Cabertet), Argentinos (Malbec) Uruguaios (Tannat). Gosto é gosto, dizia uma senhora de idade avançada em Barra Fria, onde nasci. Ela jogava a banana fora e comia a casca. Meu gosto é Malbec. Um DV Catena Malbec/Malbec ali do outro lado da fronteira está custando 35 reais. O mesmo vinho em Floripa R$ 155,00. Vou aproveitar para levar algumas garrafas também do Catena Zapata Malbec que é muuuuuuuuuuuito bom. Para finalizar, Riquetti. Participo da Sociedade da Mesa (vinhos via Internet), todo o mês recebo 06 vinhos que a sociedade busca em diferentes partes do mundo. Alguns de fechar o mercado de bons. Mas valeu, temos aqui no Brasil alguns bons vinhos que não são bons para minha carteira. Abraços e continue escrevendo e compondo. Leio, semanalmente, sua coluna no Cidadela de nosso amigo Mario Serafim. Inté++++ - Ailton Viel
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