domingo, 19 de abril de 2020

Nem Deus acredita (ou o jornalismo de necrotério...) - em tempos de Pandemia


De quando ainda conseguiam se entender


       Na política acontecem coisas em que nem Deus acredita. Cenários teatrais são pintados com tanta maestria que fazem com que nós, simples mortais, sejamos induzidos a acreditar em mentiras que se propagam mais facilmente do que a poeira no vento. O jogo para a plateia enrola até mesmo as almas mais ímpias e ilude o mais descrente dos seres.

       Alguns quadros colocados ao público me fazem lembrar daquilo que um professor e amigo  me falou há 30 anos: “Dá até um frio quando  vocês, da direita, se reúnem e maquinam suas coisas”. Na época eu achava que isso era coisa da cabeça dele, mas hoje vejo que ele tem toda a razão. Vejam o que está acontecendo com a classe política em relação à crise ocasionada pela expansão do coronavírus: O confronto das ideias está acontecendo com pessoas da mesma ideologia. O epicentro da encrenca parte da figura do Presidente da República, que já se alfinetou, pela ordem, com o Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, depois com João Dória, de São Paulo, e em seguida com Ronaldo Caiado, de Goiás. Até o Comandante Moisés, governador de Santa Catarina, tem dado e recebido estocadas no e do Governo Federal. Mas lembremo-nos que, antes disso, Bolsonaro já tinha se defrontado com governadores do Nordeste, filiados a partidos de esquerda.

       O protagonismo e o antagonismo na encrenca tem ganhado espaço generoso na mídia. O Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem feito pronunciamentos que atingem o fígado do Presidente da República. Pesquisas de um Instituto muito poderoso no Brasil, que tem errado feio nas eleições, mostram que o Ministro da Saúde está com mais de 80% de apoio popular. O Presidente, dependendo da maneira como você lê e interpreta as mesmas pesquisas, tem metade disso.  Então, esquerda embarca nisso para criticar o Presidente e posicionar-se em favor do Ministro. Enquanto isso, os da direita e do centrão estão protagonizando a encrenca, cada um ao seu modo, segundo o seu interesse. Aí me lembro do que um companheiro político me disse há duas décadas: “Não considero inimigos meus adversários. Tenho que ficar de olho em meus companheiros. Para meu êxito, estes é que precisam ser tirados do meu caminho, pois são eles que me atrapalham”. Imagino que quando Mandetta cair, seus companheiros farão grande reação teatral, mas o tempo dirá se isso é verdadeiro ou não.

       Então, Sr. Mandetta, o oportunismo de seus colegas de partido vai fazem com que surfem em sua onda. Vão andar de braços dados com Vossa Excelência. Depois, adiante, sabendo que pode tornar-se um companheiro com mais facilidade de trilhar o caminho do êxito eleitoral, começarão a lhe passar rasteiras. Enquanto isso, a direita vai continuar desfilando na mídia e a esquerda, sempre crítica e pouco propositiva, vai cair no ostracismo. Claro que você, leitor pode ter um pensamento parecido ou mesmo muito diferente do que o meu. Mas, em política, tudo tem sido possível!

       Vindo para mais próximo de nosso canteiro, estamos vendo que o Governo de Santa Catarina tem afrouxado um pouco nas restrições ao afastamento social das pessoas. Como nosso Estado e os municípios aqui de nossa região saíram na frente nas medidas de combate à propagação do vírus, alguns setores estão “mandando ver”. Nossa economia vai retomar bom ritmo antes do que a de outros estados. Liguei para alguns empresários e constatei: Muita gente está se organizando e reestruturando para começar a ganhar mercado a partir de já. Há empresas que estão vendendo mais do que vendiam antes da crise. Há empreendedores, na região, que vão investir agora quando está mais fácil e barato de comprar determinados insumos e mais fácil a contratação de mão-de-obra. Há indústrias criando máquinas que vão produzir insumos que vão ajudar nas lidas contra o vírus. Aquela máxima de que as crises nos oportunizam criar para crescer está muito válida para o momento. Vejam como é importante termos um parque industrial que trabalhe na produção física.

       Você, leitor, pode ajudar a você mesmo tendo boas práticas e atitudes em relação às suas compras. Pessoalmente, no comércio, procuro produtos com a qualidade e os preços que me convenham, sem deixar de conduzir-me por um método: escolho primeiro os produtos fabricados em minha cidade ou nas cidades vizinhas. Não havendo o que me satisfaça, adquiro os de produção microrregional. Depois, faço as escolhas no âmbito da produção estadual. Somente depois disso é que opto por outros produtos, naturalmente de produção nacional. Importados, muito difícil. Quero gerar empregos e arrecadação para minha cidade, minha região, meu estado e meu país. Até porque quem me paga precisa arrecadar. Essa prática de gradação já venho fazendo há muitos anos.

       Enquanto isso, meu olho crítico me leva a ver noticiários fazendo análise do comportamento de alguns jornalistas. Além de já conhecer o elenco de jornalistas de ar-condicionado, aparece agora o núcleo, muito crescente, dos “jornalistas de necrotério”. Sabem tudo sobre todas as coisas, mas têm um interesse muito especial em noticiar as desgraças!

Euclides Riquetti – Autor de “Crônicas do Vale do Rio do Peixe e outros Lugares” e “Crônicas dos Antigos Rio Capinzal, Abelardo Luz-Ouro e Arredores”

Publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC
Em 17-04-2020





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