terça-feira, 4 de agosto de 2020

A Igreja Católica se dividindo, perdendo adeptos e perdendo espaço


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Prédio do Seminário Camiliano de Iomerê - SC
Hoje abriga a Prefeitura Municipal daquela cidade.

       A Igreja católica está se dividindo, perdendo adeptos e perdendo espaço. A transição religiosa é uma realidade muito presente e, se em 1940 a Igreja Católica detinha 95% de adeptos no Brasil, há estudos que indicam que, daqui a dois anos, terá apenas 49,9%. Ainda não aprendeu a lição que já deveria ter aprendido há 30 anos. Nesta última dezena do mês de julho, ela volta a ser notícia por se manifestar politicamente. Está querendo marcar posição, como já marcaram os evangélicos. Então, vou lembrar de fatos que presenciei na convivência com os católicos.

       Meu pai foi seminarista camiliano em sua adolescência, iniciando-se no Seminário São Camilo, aqui em Iomerê. Continuou seus estudos em São Paulo, na mesma congregação, sendo noviço lá onde hoje de situa o Instituto São Camilo, na Vila Pompeia. Já cursava Filosofia quando saiu do Seminário, por uma encrenca que teve com outro noviço, Albino Baretta.  Mentiam para ele de que seus pais haviam falecido, aqui em Linha Bonita, Distrito de Ouro, na época pertencente ao município de Cruzeiro, durante Segunda Guerra Mundial. Ficou nove anos como seminarista e nunca visitou seus pais, embora de São Paulo para nossa região havia trânsito regular de trens. Viveu dois anos clandestino no centro de São Paulo, sem documentos, que ficaram retidos no Seminário. Somente 30 anos depois recuperou seus documentos escolares, já tendo feito nova carreira escolar, em Capinzal, para reabilitar-se e habilitar-se ao exercício do magistério. Fez alistamento militar, casou-se, teve filhos, viveu nova vida civil. Os padres “bonzinhos” o sacanearam por mais de 30 anos!

       Mesmo com tudo isso, induziu os seus filhos a seguirem os seus ensinamentos, seguindo a Religião Católica Apostólica Romana. Tanto que eu, antes ainda de ser eleito prefeito em Ouro, fui eleito Presidente do Conselho Administrativo Paroquial, da Paróquia de São Paulo Apóstolo, em Capinzal (mesmo morando em Ouro), congregando 47 capelas nas comunidades de Capinzal, Ouro e parte de Campos Novos. Tínhamos um pleno entendimento com os demais colaboradores, plena harmonia com os conselheiros das capelas, muita afinidade com os freis da Paróquia e muito trabalho dedicado à mesma. Na época, sabem qual o maior problema que tínhamos a administrar? Era a revolta das pessoas que vinham cobrar dos conselheiros sobre as posições que a Igreja Católica tomava em relação à política partidária, a partir da influência do pessoal de Chapecó que tinha atuação política. Com bom entendimento, sempre imperou a harmonia entre as lideranças, mesmo composta por pessoas de diversas tendências. O que nos atrapalhava mais, no entanto, eram as orientações que vinham “das instâncias superiores”.

       Agora, vemos que 152 bispos são signatários de um documento que está em discussão para a manifestação de críticas ao Governo Federal, mais na pessoa do Presidente Jair Bolsonaro. No Brasil, há 481 bispos, sendo 312 na ativa e 169 eméritos. Não são, portanto, uma maioria, embora representem um número considerável. A “classe está muito dividida”, haverá desdobramentos, podem ter certeza. Nossa região é conservadora, a Igreja Católica vai perder mais adeptos ainda com isso. Várias lideranças com histórico de trabalho social e comunitário já trocaram de barco, estão em outras religiões.

       Tenho que registrar aqui minhas mais sentidas condolências aos familiares do ex-Prefeito Raul Furlan, de Joaçaba, que nos deixou no final de semana. Fomos prefeitos à mesma época. Ele também foi presidente do Conselho Paroquial em Joaçaba no passado. Fomos bons amigos e políticos alinhados nas ideias, embora em agremiações partidárias opostas. Participamos da vida política do Meio-Oeste Catarinense através da AMMOC, juntamente com os saudosos Agenor Piovesan (Erval Velho), Irineu José Maestri (Capinzal); e ainda Nelson Primo (Herval d´Oeste), Euclides Miazzi (Lacerdópolis), Saul Leovegildo de Souza (Catanduvas), Noveli Sganzerla (Água Doce), Rudi Ohlweiler (Treze Tílias), Ozires Randon (Pinheiro Preto), Faustino Panceri (Tangará), Ari Ferrari (Ibicaré), saudoso Santin Palavro Júnior (Abdon Batista) e Romildo Titon (Campos Novos).  Formamos um grupo de políticos relativamente jovem, pessoal cheio de energia e unidos em favor de nossa microrregião. Na época, o foco principal foi a construção do Hemocentro, o apoio à FUOC e ao Hospital Santa Terezinha, a realização de feiras industriais regionais no CPJ, como projetos microrregionais. E muitas outras ações em conjunto!

Euclides Riquetti – Escritor – Autor de “Crônicas do Vale do Rio do Peixe e Outros lugares” e “Crônicas dos Antigos Distrito de Rio Capinzal e Abelardo Luz/Ouro” 

Minha coluna no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC -  em 31-07-2020

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