quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O caminhão azul do Nono Savaris


Homenagem póstuma a Silvino Savariz


 


        Conheci o Selvino Savaris e sua prole em 1977, quando ele morava no Pouso Alto, uma comunidade lindeira ao Rio Pelotas, então pertencente ao Município de Campos Novos, ali pra cima da Volta Grande. Foram vindo seus netos, a família foi crescendo e, no início da década de 1980, adquiriu propriedade no Bairro Parque e Jardim Ouro, em Ouro. Com dupla residência, com o passar dos anos, acabou ficando por ali, até o seu falecimento, que se deu recentemente.

       Nascido em 21 de dezembro de 1933, na comunidade conhecida como Caravággio Velho, no Distrito de Ouro (que antes fora Distrito de Abelardo Luz), pertencendo ao município de Cruzeiro (hoje Joaçaba), casou-se, na juventude, com Dona Amélia Bazzo, numa união muito feliz, da qual nasceram oito filhos, o Vítor Antônio (in memorian), Hilário, Aurora, Ivo, Iraci (in memorian), Dirceu, Célio e Oscar. Tornou-se uma forte liderança no âmbito do esporte, da religião católica e do cooperativismo agropecuário.

       As histórias com o Nono Savaris são muitas e algumas delas eu mesmo vivenciei. A primeira foi na época em que eu fui morar em Duas Pontes, hoje município de Zortéa, para lecionar Inglês e Português na Escola Básica Cipriano Rodrigues de Almeida, convidado que fui pela Diretora Vitória Leda Brancher Formighieri, esposa do compadre Aníbal. Eu jogava nos aspirantes do Grêmio Esportivo Lírio, tinha 24 anos e atuava como lateral direito. Me chamavam de Orlando, porque eu era cabeludo, cultivava razoável barba, era alto e magro, muito parecido com o Orlando, saudoso craque que jogou no Coritiba, no Grêmio e no Vasco. Orlando era companheiríssimo de Oberdan, que jogaram muito no Coritiba e no Grêmio, fechando as porteiras da defesa daqueles clubes. O Nono era gremista histórico e convicto. No Pouso Alto, organizaram um time de futebol, com titulares e aspirantes, construíram um campo de futebol... Nome do time: Grêmio do Pouso Alto, com camisa tricolor, em listras verticais, igualzinho ao de Porto Alegre.

       Fomos lá para jogar contra eles, nosso treinador era o  Pedro Raimundo Hilguert, conhecido comi Pedro Camomila, um dos melhores jogadores produzidos por Capinzal, ao final da década de 1960. Camomila me escalou na lateral direita e lá fomos nós... O jogo estava bem disputado e o Nono Savaris era o árbitro. Apitava do jeito que sabia e conseguia, mas era respeitado pelos jogadores e pela comunidade. Quando marcava uma falta, lá no meio do campo, e um jogador reclamava da marcação, ele dizia: "Foi falta, sim. Não reclame porque senão dou penalte contra voceis!". E os jogadores bem sabiam que ele era capaz de mudar o local da falta, levando para a marca do pênalti!

       O Nono Savaris tinha um caminhão azul, um Mercedes-Benz, modelo 1113, com caçamba basculante ou tombeira, com o qual transportava a areia que ele e seus filhos retiravam do Rio Pelotas e insumos agrícolas. Nas portas, havia um adesivo da Cooperzal, cooperativa à qual ele era associado.

       No início do segundo tempo, eu cometi uma falta dentro da área. Pensei: "Vou medir barreira e me postar, para ver o que acontece! Medi nove passos, chamei mais 4 colegas e formamos a barreira. O Nono olhou bem pra mim e autorizou a cobrança da penalidade com barreira. Disseram-me, depois, os colegas de bola, lá, que eu tinha a fama razoável de conhecer sobre o futebol e suas regras, pois quando eu morava em União da Vitória, eu acompanhava muito as atuações da AA Iguaçu nos campeonatos do Paraná, jogos contra Coritiba, Atlético, Colorado, Pinheiros, Londrina, Maringá, Pontagrossense, Cascavel e outros. Eu costumava falar dos jogadores que vi jogar, como o Orlando e o Oberdan, Krüger, Kosilek, Tião Abatiá, o Coutinho (companheiro de Pelé no Santos), Mengálvio, Picasso, Gainete, Aladin, Zé Roberto e tantos outros.

       Outro fato muito importante aconteceu em 1978, quando os padres missionários, dentre eles o Padre Gringo Mantovani (que era nativo  de Lacerdópolis), vieram para celebrar as missões na Capela de Zortéa e adjacências. Num evento final, a celebração foi na Capela de Santa Catarina, para onde afluíram moradores de toda a região, desde o Agudo até a Volta Grande. E os missionários costumavam pacificar as comunidades, inclusive acertar as pontas entre líderes das capelas. Pois o Nono chegou lá com seu caminhão Mercedes-Benz azul, carregado de gente. Alguns vieram em suas rurais, mas a grande maioria veio embarcada no caminhão. Quando os padres deram a oportunidade para os fieis se pronunciarem, o Nono levantou o braço, pediu a palavra e disse que ele não concordava que todo o dinheiro do dízimo da Capela do Pouso Alto fosse para a paróquia de São Paulo Apóstolo e para a Mitra Diocesana de Joaçaba. Ele dizia que sua comunidade era pequena e que precisavam ficar com uma parte do dinheiro lá para ser investida e nas melhorias da capela local.

       Já na segunda metade da década de 1980 morava no Parque e jardim Ouro, em Ouro. O mesmo espírito comunitário que tinha em Pouso Alto também desenvolveu no seu Bairro. Os Savaris foram a maior influência à proliferação de torcedores do Grêmio no parque e Jardim Ouro. Muito apoiou o time de futebol do Parque e Jardim Ouro e o Grêmio do Bairro Alvorada. Seu caminhão, que  antigamente transportava areia, passou a servir para a entrega de lenha e os produtos da loja de materiais de construção dos filhos, a atual SAS Materiais de Construção, e lenha que cortava num picador ali na sua propriedade, onde se situou a garagem dos veículos deles.

       O Nono Savaris merece minha homenagem e o aplauso de nossa família, pois deixou uma descendência que sabe respeitar os outros, pessoal muito empreendedor e bem sucedido. Parabéns aos familiares por terem a alegria e o orgulho de serem filhos ou netos do Nono e da Amélia.

Euclides Riquetti
19-08-2020


     

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