quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Vigésima Segunda Crônica do Antigamente

          Buscar conhecimentos em cidades maiores sempre foi uma aspiração das pessoas das pequenas cidades. Na década de 1960, quando passei a entender o porquê disso, já muitas pessoas de minha cidade natal, Capinzal, buscavam cursar o antigo Colegial, hoje Ensino Médio, em cidades como Porto Alegre, Passo Fundo, Curitiba, Florianópolis, Ponta Grossa e Porto União. Para esta última cidade sei que foram, bem antes ainda, por exemplo, os saudosos Irineu Maestri e Élea Panis, esposa do Valdomiro. Ali havia bons colégios, como o Santos Anjos e o São José, o primeiro administrado por freiras, o segundo por freis.

          Bem jovem, o Dr. Vítor Almeida foi para Florianópolis, os Macarini para Curitiba. Em  Curitiba, Eulésia e Euclair Brambilla, capinzalenses, davam guarida aos conterrâneos, oportunizando-lhes empregos e incentivando-os aos estudos. Já na década de 1970, anualmente, dezenas de jovens saíram para o Colégio Agrícola de Ponta Grossa, dentre eles o Alcebides Baretta, meu Primo, que lá está até hoje, sendo galgado, inclusive, à condição de Diretor.  Mas as grandes levas sucederam-se para Curitiba, primeiro, e depois Florianópolis, onde passaram a frequentar o antigo "Científico", realizaram os exames vestibulares e ingressaram nas Universidades, principalmente na Federal, por ser pública, gratuita, e com excelência nos cursos oferecidos. Engenharia Civil, Medicina e Direito eram os cursos mais procurados. No período de exceção, reduziu-se a procura pela Direito, retomada ao final da  década de 1980.

          Meu sonho de jovem também era buscar uma formação profissional em nível universitário, sonhava com duas alternativas possíveis: tendo cursado o Técnico em Contabilidade, em Capinzal, buscaria estudar Economia, possivelmentre em Lages, que era a cidade mais próxima onde esse curso era oferecido, ou iria para uma Capital estudar Inglês por 2 anos e depois iria para os Estados Unidos onde ficaria entre seis  meses e um ano, praticando a Língua Universal. E, após isso, iria trabalhar em empresas de exportação e importação, ou mesmo na área do Turismo, esta ainda incipiente no Brasil, pois vendiamos uma imagem de miséria e desolação para o exterior, mostrando nos nossos noticiários apenas cenários das favelas das grandes cidades ou os flagelos nordestinos.

          Como eu costumava dividir os sonhos com amigos e com meu pai, Guerino, este deu-me um rumo: Vá cursar uma faculdade para ser professor, que você não vai ganhar muito dinheiro com isso, mas vai ter emprego sempre. Depois, conforme tudo for acontecendo, você escolhe que caminho trilhar. Meu pai e eu éramos amigos do Teófilo Proner, um ex-seminarista, natural de Lacerdópolis, que veio lecionar em Capinzal e Ouro, no Mater Dolorum, no Nossa Senhora dos Navegantes (hoje Sílvio Santos) e no Juçá Barbosa Callado, em anexo ao Belisário Pena. O Teófilo aconselhou-me a ir para Porto União da Vitória, onde havia o curso de Letras/Inglês, e eu poderia estudar aquilo que pretendia e depois voltar para a cidade natal, ou redirigir meus rumos. Achei a ideia interessante, iria para o Porto, arranjaria alguma forma de trabalhar durante o dia e estudar à noite, faria meu curso superior.

          Dei um jeito de comprar uma calça Lee, "importada",  peça indispensável para qualquer estudante universitário naquela época. Comprar uma "Lee" custava os olhos da cara, mas eu consegui convencer um amigo, o Adelir Paulo Lucietti, a vender-me a dele. Paguei uma nota preta, soltei a barra, alarguei-a, tornando-a uma autêntica "boca-de-sino", que era a onda dos anos 70. Cabelos compridos, calça desbotada, boca de sino, camisa xadrez ou uma camiseta "University of Chicago ou University os Caliphornia". Depois, era conseguir uma jaqueta "US Army", ou "Marinner". Resolvi isso com umas jaquetas que o  cabo Leoclides Fraron conseguiu para mim no 5º BE, o Batalhão de Porto União, comandado pelo Coronel Ricardo Gianordoli, e que eram dos lotes descartáveis. As jaquetas tinham seus botões oficiais do Exército retirados e podiam ser usadas por nós. Era para tingi-las de preto, mas a onda verde-oliva era muito forte e gostávamos de usar nessa cor.  Mandei uma para meu pai, que recusou-se a tingi-la e, com orgulho, a usava para ir lecionar no Grupo Escolar Nossa Senhora dos Navegantes, onde tornou-se Diretor.

          E fui como Teófilo para Porto União, hospedei-me no Hotel Central, inscrevi-me no Vestibular, fui aprovado "na gataria", matriculei-me e transferi-me para aquela cidade, esutando na Fafi, em União da Vitória.

          Cheguei a uma cidade histórica, importante por ser um entroncamento ferroviário, um dos palcos da Guerra do Contestado. E, poucos dias antes, o Ministro dos Transportes, Mário David Andreazza havia inaugurado a Rodovia que ligava-nos a Curitiba, passando por São mateus do Sul e Lapa. Fiz grandes amizades e ali vivi por cinco anos. Brevemente, vou referir-me a minha "República Esquadrão da Vida", a meus estudos na Fafi e ao meu trabalho na Mercedes-Benz, do Jorge Ricardo Mallon.


Euclides Riquetti
12-09-2012
         

         


      

Um comentário:

  1. Boa noite Euclides Riquetti, meu chamo Emanuel Proner e sou filho do Teófilo Proner comentado por você neste artigo. Pelo que percebi, você seguiu o conselho dele e se formou. Com certeza fico muito feliz por isso. Infelimente meu pai faleceu em 2003, mas quero agradecer por mencionar o nome dele. Com toda a certeza meu Pai (Teófilo Proner), fez muito diferença nesse mundo, todas as pessoas que o conheceram gostavam muito dele. Obrigado.

    Emanuel Proner (emanuelproner@yahoo.com.br)

    ResponderExcluir

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!