Os anos vão passando e nós, que nos vamos adiantando na idade, estamos presenciando coisas que jamais imaginaríamos em nossa infância. Costumávamos andar tranquilamente nas ruas das cidades, cuidando-nos dos carros, sim, mas nos metiam mais medo os cachorros que perambulam do que os carros, tão diminuta era a sua quantidade. As ruas, mesmo não sendo grandes avenidas, comportavam o trânsito de carroças movidas a boi ou muares, e todos os carros de cada cidade.
Veio a indústria automobilística, incentivada pelo Presidente JK, ficamos muitos anos limitados a nos oferecerem duas marcas de carros americanos (Ford e Chevrolet) e uma alemã, Volkswagen, sendo que, ao final da década de 1970 recebemos a Fiat, italiana. Somente depois da década de 1990, quando aquele Presidente falou que andávamos em carroças, abrimos os mercados para outras marcas, de modo que foram tantas, com tantos modelos tentadores, bonitos, ágeis, confortáveis, econômicos, abarrotados de tecnologias, que vimos, em duas décadas, nossas ruas infestadas de lata, vidros e borracha.
Agora, num momento em que todos estão endoidecidos, estressados, revoltados porque têm que enfrentar o engarrafamento no trânsito, ainda temos o privilégio de contarmos com generosos descontos, a famosa "redução do IPI", que nos permite comprar mais carros ou fazer as trocas sonhadas.
Mesmo que a intenção da redução dos tributos dos carros esteja entre as mais nobres e belas, que é a de manter os empregos dos trabalhadores na indústria metalúrgica, não podemos esconder que o número de automóveis nas ruas está nos oferecendo o caos na mobilidade. Verifica-se que, mesmo que as cidades algumas), tenham buscado melhorar essa questão, ainda há muito por fazer.
Lembro bem que quando o Jaime Lerner começou a agir efetivamente em Curitiba, abrindo novas avenidas, indenizando casas e prédios para implantá-las, criando o melhor e mais articulado sistema de transporte coletivo do país, muitos aplaudiram e tentaram copiar, inclusive o Rio de Janeiro e até cidades asiáticas buscaram sua consultoria. E muitas cidades empurraram seus problemas com a barriga, não realizaram as obras na época em que os custos com indenizações seriam bem menores, e agora estão com o abacaxi nas mãos.
A questão da mobilidade me veio em mente novamente, após uma experiência que vivi ontem, na Capital Catarinense. Para não ir de carro da Praia de Fora até o Centro de Florianópolis, evitando o estresse e os riscos, tomei um ônibus. Foram quase duas horas de percurso, pois o mesmo entrava e saía de todas as ruas e ruelas de Santo Amaro da Imperatriz, Palhoça, São José e do Continente. A volta, ao meio-dia, foi tranquila: Apenas uma hora e vinte minutos. Então, as pessoas que saem da Enseada do Brito para a Capital e voltam ao final da tarde, outra hora de elevado fluxo, ficam 4 horas, diariamente, dentro de ônibus.
E, diariamente, ouço e leio notícias sobre projetos de mobilidade para a Região Metropolitana de Florianópolis. E isso já faz muito tempo. Ouço de terceira ponte, de túnel subaquático, de transporte marítimo, de transporte intermodal. Mas, com exceção do discurso e das tentativas do Prefeito Ronério, de Palhoça, pouco vejo de efetivo na questão. É preciso que as lideranças se dispam de vaidades, que se reúnam e botem pessoas competentes para projetarem articuladamente, a mobilidade de cidades conurbadas. E que se tomem as medidas em conjunto, no menor espaço de tempo possível.
Fico com muita pena de ver pessoas cozinhando-se, apinhando-se, sofrendo dentro de ônibus sem conforto, num calor insuportável, cuno único ar "condicionado" é o que vem pela janela quando fica aberta.
E continuamos a comprar carro "com desconto", a sair com ele para as ruas mais movimentadas das cidades, gerando o caos do qual não se vislumbram perspectivas de extinção.
Euclides Riquetti
05-12-2012.
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