quarta-feira, 27 de março de 2013
As Apaes e a Inclusão.
Quando fui candidato a um cargo eletivo, propus-me a visitar todas as casas de meu Município, não apenas para pedir votos, mas também para conhecer a realidade de cada família. Portava uma planilha e anotava o nome dos componentes familiares e fazia algumas observações, que iriam nortear meu trabalho se fosse eleito. O que me surpreendeu e até me assustou foi a diferença com que as pessoas com limitações físicas ou mentais eram tratadas em cada casa. Em algumas, muito amor e carinho. Em outras, a rejeição. E minha constatação veio porque, numa delas, especificamente, quando perguntei se havia mais alguém na casa, responderam-me: "Tem um lá em cima, mas aquele é "alejado", não vota".
Pois pedi para ver a pessoa e fiquei chateado por ter presenciado tal situação, não a do jovem deficiente, mas com relação ao comportamento da família. Não faziam isso por mal. Foi cultura vigente, ao longo de nossa história, pessoas com algum tipo de limitação serem tratados com diferença. Saí de lá com uma firme decisão: Vou colocar um veículo com motorista para buscar, em cada casa, as crianças e jovens que quiserem frequentar escolas ou a Apae.
Na caminhada da campanha, registrei o nome, a idade e o endereço de cada um. Numa casa, em Linha Sul, encontrei uma Fisioterapeuta que visitava uma família. Perguntei-lhe o que podia ser feito pera essas pessoas, em especial para as crianças, e ela orientou-me. No ano seguinte, coloquei o transporte com uma Kombi e passamos a levá-los para a Escola Regular ou para a Apae de Capinzal. Também conveniamos com Fisioterapeuta e Psicóloga para dar-lhes apoio. Lembro-me até hoje da alegria dessas crianças. Lá no Pinheiro Baixo, uma aluna não tinha como andar a pé cerca de 2 Km para ir à escola. Começamos a transportá-la...
As Associações de Pais e Amigos de Excepcionais são entidades que têm em seus quadros profissionais que fazem de si verdadeiros amigos daqueles que as frequentam. Apegam-se às pessoas como se fossem seus próprios familiares tão grande é o carinho e o amor que lhes dispensam. E têm a reciprocidade dos alunos, que também se apegam a eles. Conheci a maioria dos funcionários dedicados da Apae de Capinzal e agora vejo da mesma forma a ação dos da de Joaçaba. Ambas, têm o carinho e o respeito ao seu educando como a característica principal, o que é muito animador.
Moro a menos de 100 metros da Apae de Joaçaba, localizada logo acima da Gruta de Nossa Senhora de Lurdes, no Bairro do mesmo nome. Vejo, diariamente, seus alunos chegando nos microônibus e vans, procedentes de alguns municípios circunvizinhos. As crianças descem com alegria e são recebidas com alegria. Muitas vezes saem para pequenos passeios e caminhadas, sempre com uma ou duas professoras. Não fosse o uniforme que usam, com a logo da Apae, nem se perceberia que são diferentes. Sua postura é das melhores, têm alto nível de disciplina e seguem as precisas orientações das professoras. Sinto que a vizinhança reconhece o magnífico trabalho dos funcionários.
Dia desses, uma turminha passou aqui defronte a minha casa. Todos felizes, falantes, alegremente acompanhados pela professora, muito jeitosa e demonstrando ter ótima formação. Conversamos e sinto o quanto eles ficam contentes em sair para seus passeios.
O local onde se situa a unidade de Joaçaba é muito aprazível, plano, com pátio seguro para sua rcreação e atividades. Têm uma pista, coberta, para a equinoterapia. Sinto que eles gostam muito de andar no dorso dos cavalos, apoiados pelo pessoal da Apae. Fico contente que assim seja e que, no Brasil, a criança diferente tem uma Legislação que a protege e lhe dá os merecidos direitos, inclusive o de frequentar escola regular e ter um professor exclusivo, pago pelo Estado. Pelo menos em Santa Catarina é assim.
Em algumas cidades, porém, as Apaes são localizadas em lugares de difícil acesso, em terrenos com topografia muito irregular e com o espaço para atuação muito limitado. Acho que as Prefeituras deveriam começar a pensar em adquirir áreas bem favoráveis e amplas, apresentar projetos aos Governos Federal e Estadual e dar um carinho especial a essas pessoas, relocalizando-as. Dizem que quando elas foram iniciadas, há meio século, as pessoas tinham muito preconceito com relação aos portadores de necessidads especiais e faziam as escolas em lugares retirados. É difícil de acreditar que foi assim. Acho que utilizavam os terrenos de baixo custo e não imaginavam que a entidade um dia se tornaria algo bem melhor que um simples depósito de gente com limitações.
A Literatura que se refere à Inclusão deixa bem claro que há, ainda , um certo nível de intolerância pela sociedade com relação àqueles que precisam de atenção especial. E que os pais levam um grande susto e sentem-se culpados quando se deparam com a situação de terem um bebê com alguma deficiência. As áreas de saúde e educação, porém, já dispõem de excelentes profissionais que podem ajudar esses pais a superarem isso e aprenderem a como lidar com seus filhos nesses casos, para que não se sintam rejeitados e nem os pais culpados. A sociedade também deve fazer a sua parte, compreendendo e apoiando os pais e os alunos. Pais, Escolas, Sociedade e Poder Público precisam continuar a darem-se as mãos para as causas da Inclusão.
Ah, não posso deixar de registrar: Já há alguns anos, recebi uma carta da jovem de Pinheiro Baixo, mencionada lá atrás, que mudou-se, indo morar em município vizinho. E me agradecia por tê-la apoiado quando era criança. Era já adulta, trabalhava, tinha independência. Só por isso já valeu-me a pena.
Euclides Riquetti
27-03-2013
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