domingo, 24 de março de 2013

As Garatujas da Indiazinha

          No dia 19 de abril a Júlia vai completar três anos. Lembro bem daquela tarde  em que nasceu, na Maternidade do São Miguel. Mamãe Caroline e o Papai Buja muito faceiros. Vovô Adão e Vovô Cride também. E as avós Liane e Miriam todas orgulhosas, cuidadosas...

         Nasceu no dia certo, nossa morena indiazinha. Como a Iracema, de Alencar, já com os cabelos "mais negros do que a asa da Graúna", até esboçou uns sorrisos, espásmicos, é claro. Mas sorriu!

        E vinham as visitas, muitos dos amigos dos pais. Revezavam-se no apartamento em que estavam a Carol e a filha.

        Agora, aluninha da Escolinha Girassol, é um encanto. Claro que todos os vovôs irão achar, sempre, que seus netos são um encanto. Devemos compreendê-los. A Juju é um encaaaanto!!

        Neste primeiro sábado outonal, veio cedo, antes das 7 horas para nossa casa, para a mãe ir ao trabalho.  Tomou meu lugar na cama. E o vovô foi cumprir suas funções de vovô: preparar um "zical". Zical, para ela, é um Nescau, nem que seja um achocolatado da Apti. Mas vale o carinho de ela sentir que fazemos o que ela gosta. E isso nos deixa muito felizes. O que mais querer de um sábado assim, em que os primeiros raios de sol estão aí, lutando para fulminar as nuvens e vir trazer-nos alegria?

         Ah, claro que você, vovô ou vovó, que é de minha geração, que curtiu os mesmos ambientes que eu curti na infância e na juventude, também tem, a todo o instante, o prazer de ouvir a vozinha de um neto, nem que seja ao telefone. E isso é muito compensador!

          O soninho emendado por uma hora e, ao acordar, o afetuoso abraço. Muito carinhoso e confortador. E diz: "Vovô, sabe porque meu cabelo tá perfumado? É porque a Mamãe Ine lavou com condicionador da Barbie.  E depois com shampu... da Barbie!

          E aproxima sua cabeça, seu cabelão negro, para que eu o cheire. Perfume suave, gostoso, discreto.

          Rolamos na cama, armamos uma grande bagunça. Olhamos para fora da janela,  embaçada. Apenas um tímido passarinho. Expliquei-lhe: "Os passarinhos estão escondidos embaixo das folhas das árvores, porque está frio!" E ela: "E quando vem o sol, vovô, os passarinhos voltam?"

         "Claro, fofa! Daí vamos olhar para todos eles e escutar eles cantando!"

        Depois, estiquei o braço para o janelão e desenhei um coração. Escrevi nele as palavras: Júlia, Vovô, Vovó... E li para ela. Ela, por sua vez, dedo indicador, desenhou uma grande "garatuja". E passou a fazer outras menores  no interior: "Esta é a Ju. Esta, a vovó. Este, o vovô. Esta, a Mamãe Ine. E esta,  a dinda Michele!"

         Fomos, então, para o café. Tomou e comeu daquele cafezão que nós, "italodescendentes", costumamos fazer. E mencionei que deveríamos dar a ela algo para melhorar sua imunidade. E a vovó: "Vamos fazer um suco de laranjinha do céu! Vamos usar as laranjinhas do céu que a mamãe da Tia Lu, a Dona Maria, mandou de Ibicaré!"  E a Júlia: "Vovó, como é que a Tia Lu fez pra subir e pegar as laranjinhas lá no céu?!"

          Agora, ajude-nos a explicar-lhe também isso...

Euclides Riquetti
23-03-2013


Um comentário:

  1. Caroline Riquettidomingo, março 24, 2013


    Pai!!!! Escritor por excelência, quando escreve textos referindo-se às pessoas de quem vc ama em especial, suas palavras têm um significado ainda maior!!!!!!!! No texto"As Garatujas da Indiazinha" em que vc fala sobre sua adorável neta "Julia", isso só demosntra ainda mais o apaixonado vovô que vc é pela minha filha!!!!!! Te amo!Caroline

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