segunda-feira, 1 de abril de 2013

Histórias com Torcedores do Vasco e do Arabutã.

          Sabe aquelas pessoas que têm características especiais e que escolhem ter suas paixões, simples paixões, mas as defendem como seu direito mais sagrado e absoluto? Pois elas existem e marcam nossa vida da maneira mais simples, mas são inesquecíveis.

          Quando eu era criança e ia ao campo municipal da antiga Rio Capinzal, torcia por todos os times da cidade. Desde que o jogo fosse contra os times de fora. Mas eu tinha meu time do coração: O Vasco da Gama. E, agora, eu lembro com saudades de cenas que presenciei por causa do fanatismo, da paixão que tira as pessoas de sua normalidade por causa do seu time de coração. E também lembro de torcedores folclóricos, sobre os quais falarei.

          Numa dada oportunidade, havia um jogo dos aspirantes do Vasco contra o Arabutã. O juiz tinha um time de preferência, mas estava atuando com imparcialidade. Chovia e o campo, pelo intenso uso, estava careca de gramado. O árbitro protegia-se com um portentoso guarda-chuva. Um torcedor do Arabutã, Etelvino, inconformado com uma decisão do juiz, pulou a cerca de madeiras, tomou o guarda-chuva do mesmo e deu-lhe na cabeça...

          Pois que havia a Dona Dileta, dona da Barraquinha do Café, onde servia um delicioso pastel  na Estação Ferroviária, vascaína fanática, só não invadiu o campo para entrar na briga deles  porque outros torcedores a detiveram. Os filhos Ico e Binde jogavam no Vasco e ela ficou fula da vida com o Etelvino. Mas com a turma do "deixa disso" os ânimos foram serenados.

          De outra feita, no clássico em que o Arabutã venceu o Vasco por 3 a 1, depois de 10 anos sem se enfrentarem, duas professoras minhas, das torcidas rivais, entraram em "rota de colisão" por causa de seu fanatismo. E, na semana seguinte, na escola, era só constrangimento...

         E não esqueço dos torcedores folclóricos do Arabutã, que iam a pé até a Baixada Rubra, ver os jogos do Arabutã:  o Bugre, que ia ao campo acompanhado de toda a numerosa prole, todos com as suas camisas e bandeira alvi-rubras.  Ficavam na arquibancada, torciam sem alvoroços, ficavam reunidos ali. E, quando a coisa apertava para a Casa, o Bugre fechava os olhos e fazia suas silenciosas orações. Devia ter suas inimagináveis convicções e a inabalável Fé. E davam resultado. Se não davam, dizia: "Deus assim  quis!" ou "Foi a vontade do Pai do Céu".

          Outro  torcedor muito  marcante foi o Mário Borges da Rosa, o "Ferro". Era tão fanático que saía cedo de casa, passava pelos bares, pelas casas, parava os carros, ia a pé. Camisa vermelha, do Arabutã. Levava muitas horas para fazer poucos quilometros. Mas, na hora do jogo, estava lá ele, de pé, ao lado do alambrado, cobrando dos jogadores e reclamando do juiz. Parecia que estava em outro mundo, olhava para a torcida na arquibancada, fazia gestos, erguia os bravos,  mas não perdia a noção do jogo. Depois, ia embora pela estrada, reptindo o método da ida, e resmungando, sabendo que ganhamos ou perdemos. A cidade toda o conhecia.

          O Mário "Ferro", há uns 7 anos, foi para Joinville visitar uma filha, adoeceu e foi pro céu. Pois quando estava construindo minha casa, em Joaçaba, não é que me passa na rua um senhor bem igualzinho ao Mário?! E com camisa vermelha, mesmo tipo de chapéu e calçado. Magro igual, alto igual, pele igual, movimentos de corpo e de mãos iguais.  O perfeito sósia do Mário. Entabulei conversa e descobri que Seu Antônio, o "Pato", era primo do Mário e do saudoso Tchule. Torcedor do Internaciobal e fã da dupla Teodoro e Sampaio, cantores. Que coisa! Viramos amigos, somos quase que vizinhos. E sempre, ao vê-lo na rua, lembro-me do "Ferro".

          Saudades, elemento sempre  presente na vida de todos nós...Saudades das pessoas simples que cruzaram nossa vida!

Euclides Riquetti
02-04-2013

  

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