quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A cama do Amílcar

          O Amílcar estava indignado ontem. Dormiu quase que a tarde inteira. Quase chegando a hora  de tomar "cimarrón" e veio a véia e lascou;" Levante, véio! Num vê que a loça tá tuda incima da pia pra lavá?!" Ele estava curando a ressaca de ontem, por causa de umas caipirinhas do fim de tarde anterior...
   
          Houve muita revolta no coração dele. Só não dá pra dizer que "houve choro e ranger de dentes" porque isso seria plagiar uma máxima já bem difundida, mas que, certamente, houve ranger de dentes e um pouco de chororô, ah, isso houve! Quando tinha que trabalhar, era porque tinha que trabalhar, pagar a Fafi pra filha, o aparelho para os dentes dela, o celular "cum internética" e outras mordomias. Agora que todo mundo está encaminhado, ninguém está rico, mas dá pra ir levando sem muito "istresse" vem a Véia Nena e começa a pegaçón no pé.

          " Me dá um sussego, Nena! Dá um táime aí que mais tem Deus pra dá do que o diabo pra tirá, Nena! I o mundo num foi feito tudo num dia. Foi sete dia pra fazê o mundo!"

         Dia antes ele tinha ido com o "zenro" pro Porto. Enquanto este ia entregar erva-mate, o Amílcar foi ver uma cama nova que disseram que é muito boa, que nem dor na coluna não deixa dar. Viu muitas camas. Não sabia que tinham criado tantos modelos e tantas cores de camas. Telefonou para sua Nena muito admirado:

          "Óia, Nena! O mundo tá virado num cumunismo de bom! Num é mais como antigamente, que a zente tinha que desfiá as páia do milho pra enche o paión  e de manhan tinha que revirá ele pra dá volume. Agora tem as "cama bósqui" que son uma beleza. Umas cama de dois andar que despois de uma semana a zente vai zirando o andar de cima pra non intortá, nun ficá uma valeta no meio.  Dizem que tem até material da Nasa, mais eu num acredito, imazine que a Nasa vai dexá eles pôrim as ispuma deles na cama dos brasilero. Os brasilero eles querem só ispiá no satélite e mais nada."

          E o Amílcar foi contando para a sua Nena de como foi bom voltar lá pro Porto e rever alguns amigos, comprar uns Steinhagger Doble W, dar uma olhadinha na estação do trem, que agora virou Câmara de Vereadores porque nem trem mas passa por lá. Também comprou uns remédios numa farmácia e voltou para o posto de gasolina onde tinha marcado encontrar-se com o genro. Voltaram para General Carneiro na casa da filha e de lá rumou para Palmas. A Nena estava esperando com os limões, o acúcar e o gelo para fazer a deliciosa caipirinha com o Steinhager Doble W.

         Retirou a carteira do bolso, colocou em cima da geladeira, entregou para a Nena os remédios que comprou. Uma dúzia de  frascos de plástico com Omeprazol Genérico. A véia foi ä loucura:

         "Pra que tanto remédio pro istômego, seu asno?

         "Pra tu, Nena! Tu sabe que tem aquela gastura no istômego, sua potranca! Tava in promoçón por R$ 9,90 cada cacinha. Intón fiz bem in comprá, né, véia? I me faça a caipira que hoze tô pro crime!"

         

          Esse é nosso Amílcar!

Euclides Riquetti
10-10-2013
         

         
                   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!