Enquanto lavavam meu carro num posto de serviços aqui da Vila Pedrini, em Joaçaba, aproveitei para fazer uma caminhada pelas ruas adjacentes. Andei por mais de uma hora e pude curtir a alegria de um fim de tarde com a temperatura amena, até um sol delicioso nos acariciou a pele neste dia. Passei, em dado momento, defronte uma escola, Passos Maia, que foi desativada e que até foi invadida, recentemente, por um casal que não tinha onde morar. Isso me remeteu a observar melhor todo o ambiente.
No pátio abandonado, uma quadra de esportes e um campinho com gramado, o mato crescendo. Lembrei-me de quando morava em União da Vitória e, numa tarde de domingo, fui com umas crianças jogar uma bolinha no PREMEN e, tão logo adentramos à quadra, vieram lá e nos expulsaram: um bem público, ocioso, e lá, intocável... Que decepção!
Adiante, o Ginásio de Esportes Ivo Silveira, o Silveirão, palco de tantas emoções dos desportistas joaçabenses: vai ser demolido, dizem que está fora dos padrões para a prática do esporte, que é mais barato demolir e fazer um novo do que recuperar. Lembrei-me que, em Lages, vão recuperar um Silveirão com a mesma idade ao custo de R$ 200.000,00. Do mesmo tamanho. Lá o padrão serve, aqui...
Caminhei pelo gramado do Estádio Oscar Rodrigues da Nova, que pretendem desativar também. Olhei para aquelas arquibancadas de alvenaria, para as cabines de rádio, para a cobertura das arquibancadas, pisei o gramado que foi tapete para os pés do Glorioso "Doutor Sócrates" num amistoso do Joaçaba com o Santos, uma vez, e onde joguei bola contra ex-craques do JAC como Juarez, Bahiano, Valmir, Edinho e outros, e fiquei pensando: "Querem demolir. Quanto custou para que isso fosse construído?"
Gente que diz pensar no futuro e que, VERGONHOSAMENTE, fala que quem gosta de história e coisa velha é museu, está fora da realidade histórica e contextual. Pode conquistar todas as medalhas que puder, pode tirar fotografia de sua equipe e por no jornal, na internet, onde quiser, mas para mim tem um conceito, uma definição, como dizem os dois Vilson Duarte lá do Ouro: "É um pranada", ou seja, um sujeito que não serve "para nada"! Egocentismo puro, lamentavelmente.
Adiante, vejo mais um campo de futebol tomado pelo mato. Encontro um amigo, o conterrâneo Dirceu Bazzo, advogado, pergunto se é área pública ou privada, diz-me que é particular... Fico pensando: Não jogam mais bola? Será que o esporte popular, comum, jogado nos campinhos, não tem mais lugar? Será que foi substituído pelos de computador, pela internet, pelo celular? Então, tanto áreas públicas como particulares ali passivas, adubando o mato!
Ah, acho que estou mesmo "por fora" da nova realidade das coisas, devo ser muito careta. Estou inserido no meio digital, tenho facebook, blog, e-mail, escrevo minha coluna "Do Alto da Cidade", aqui no Jornal Cidadela, em Joaçaba, leio jornais impressos e revistas, escrevo poemas, crônicas, tenho sentimentos e emoções e, por ser saudosista, então, minhas ideias e pensamentos deveriam ir "para um museu?"
Como é triste ver que muitas pessoas, que ainda não conseguiram por sobre si o verniz da maturudade, possam achar que elas estão certas e que os outros estão errados! Bem, pelo menos a caminhada valeu para mim, pois também reencontrei o Tito Sartori,( irmão do Hermes de saudosa memória, dos "doutores em motores", ) marido da antiga vizinha Angelina Masson, caminhando nas margens do Rio Tigre, apenas para manter a forma e curtir a vida saudável. Feliz, diz-me que parou, definitivamente, de trabalhar. Sua oficina, agora, está adaptada para as festas da família e dos amigos, ali perto do Estádio.
Minhas caminhadas, por todos os lugares, me permitem ver pessoas, sentir mais de perto o que elas pensam, reencontrar conterrâneos e fazer novos amigos. Até me permitem reformular conceitos. Mas, há alguns, bem arraigados, de que não abro mão: a história e os costumes fazem parte da condição humana e não podem, jamais, serem relegados a segundo plano.
Euclides Riquetti
02-10-2013
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