terça-feira, 1 de abril de 2014

Cinquenta anos depois...

          Leitores:  "31 de Março"  é uma data de muita significação para o povo brasileiro, pois marca a tomada do Poder pelas forças militares no Brasil. Com a eleição de Jânio Quadros para Presidente da República e João Goulart para Vice, em 1961 o eleito renunciou no mesmo ano de sua posse. Jango, como era conhecido o Vice, assumiu o cargo pelo seu direito Constitucional, mas teve muitas dificuldades para para governar. Enfrentou toda a espécie de pressão mas, de alguma forma, estava se mantendo no cargo. Porém, em 31 de março de 1964, havia muita turbulência no país, imperando a corrupção e a "subversão da ordem". A inflação em alta e o medo de que o sistema comunista, nos moldes de Cuba, fosse instalado, mobilizou setores da sociedade, a Igreja e as Forças Armadas.

          Em razão disso, as forças militares, apoiadas pelo alto clero da Igreja Católica, e alguns setores da sociedade e alguns jornais, ensejaram a derrubada do Governo Goulart, o que aconteceu em 1º de abril de 1964. Provisoriamente, Ranieri Mazzilli governou-nos até 15 de abril, quando o Marechal Humberto de Alencar Castelo  Branco foi eleito, por votação indireta, inclusive com o "voto articulado" do Senador Juscelino Kubitschek, ex-Presidente.

          Muita "confusão" precedeu o ato que recebe nomes conforme a ideologia de quem o conceitua: "Golpe Militar", "Revolução de 1964" ou "Contrarrevolução de 1964". Lembro que em Capinzal e no recém instalado município de Ouro já panfletavam a cidade com convites para a Greve Geral. Duas agremiações estudantis atuavam nos meios estudantis: A ACES e a ALEAR. A primeira, Associação Catarinense de Estudantes Secundaristas, que tinha sede junto ao prédio de madeira do Cine Farroupilha; e a Associação Lítero Estudantil Aparício Ribeiro, que era liderada por Agadir Almeida Lovatel, que funcionava ali em Ouro, no local onde se desativara a Indústria de Bebidas Prima. E a gente, no meio de uim tiroteio, não sei se ideológico ou de vaidades... Não tínhamos, ainda, maturidade para descernir sobre isso!

          Eu estava na quarta série do curso primário, no Mater Dolorum, as irmãs nos levavam para rezar na capelinha porque tinham medo do Comunismo. Nos meios, falava-se no perigoso Leonel Brisola... Meu pai já havia planejado que, se a guerra estourasse, iríamos nos esconder em Linha Bonita, que era na colônia, na Casa do nono Victório Baretta.  Nós, crianças estávamos curiosos em saber a diferença entre "guerra e revolução". Eu era privilegiado, meu pai entendia disso e me explicava.

           A intervenção militar deveria ser temporária, até que houvesse a eleição direta, mas isso não aconteceu, o que levou setores da sociedade a se manifestar e, consequentemente, a repressão, o endurecimento. O erro dos militares foi terem praticado a tortura e demorado para devolvar a nação para a administração eleita pelo voto popular. O Poder que fascina e o medo de que os rumos da política tomem caminho diferente do que as expectativas de quem manda é que determina o tamanho da vontade de tê-lo nas mãos. O exemplo se verifica em muitos países, ainda.

          O resto, é aquilo que se lê nos livros, que se lê ou ouve na imprensa. Cada um tem sua versão, sua predileção. Descarta-se qualquer hipótese de os militares voltarem ao Poder, não é essa a sua função Constitucional. De minha parte, não embarco em nenhuma onda. Procuro ver o lado A e o lado B de todas as coisas, na política, na economia, nos esportes, na vida social. Quando vejo uma posição defendida, procuro ver se a posição contrária também tem seus preceitos e seus argumentos. Não sou uma "maria-vai-com-as-outras, definitivamente.

          O que a população quer, hoje, é que haja ordem no País, nos Estados e nos Municípios, com  segurança, saúde, e educação de alto nível. A Democracia, sem dúvida alguma, é o melhor regime para todos, para quem governa e para quem é governado. A sociedade tem nas nossas  mãos um poder muito forte que a democracia e a Constituição lhe garantem: o voto! Serve para varrer o que não serve e para manter o que serve, conforme a opinião de cada um. Vale a sua, a minha, a do outro...

Euclides Riquetti
31-03-1964.

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