quinta-feira, 8 de maio de 2014

O Reencontro de Jair Rodrigues com Simonal e Elis Regina


          O Jair Rodrigues também foi pro céu. Não é lá o lugar de destino de quem vai embora depois de ter feito o bem e de ter alegrado tanta gente? Chegou com o violão embaixo do braço, de terno escuro, camisa branca, gravata escura, distribuindo sorrisos. Saiu de Cotia no meio da manhã, foi levando seu sorriso jovial e alegre, uma sacolada de alegria. Nem deu tempo pra se despedir dos amigos. Difícil imaginar que alguém pudesse ir embora assim, de repente, sem se despedir de ninguém...  Foi recebido pelo Wilson Simonal. Nas décadas de 1960 e 1970 fizeram muito sucesso cá na terra. O Simona com seu Patropi. O Sr. Rodrigues chegou com seu sorriso largo, com sua voz rouca e bem característica, e foi disparando: "Prepare o seu coração... pras coisas que eu vou contar... eu venho lá do sertão, eu venho lá do sertão... e posso não lhe agradar!!!
         
          O coração do Simonal quase que parou de novo. Era muita emoção. O Simoninha chorou muito a partida do Jajá, deu pra ver no Jornal Nacional. O Velho Simona veio, rápido, ao encontro do amigão e foi um abraço que teve hora para começar e não para terminar, fervoroso! Depois Simonal ensaiou uns passinhos e lascou: "Moro... num patropi...!" E os dois começaram a dançar, pareciam duas crianças. Foi emocionante o reencontro. Relembraram de muitas passagens de sua vida, dos festivais, do Geraldo Vandré, do Chico Buarque, do Ronie Von, do Roberto Leal,  de muitos outros.

          "Jajá, vem mais aqui que quero te apresentar a um amigo. Este, conheci quando aqui cheguei, já estava morando na Estância de São Pedro..." E chamou um rapaz bem apessoado, o Tchule. Era assim que era conhecido o José dos Anjos, que foi baterista dos "Fraudsom", lá em Capinzal. O Tchule também foi habilidoso jogador de bola, esteve no Arabutã e no Vasco, lá na sua terra natal. Também foi zagueiro no Grêmio Lírio, no Zortéa!

          O Tchule se achegou, tinha  um papel branco da cor de seus dentes na mão morena, uma caneta Bic, sorriu muito e pediu um autógrafo. E o Jajá: "Vem cá, Negão!, vamos ser grandes parceiros aqui! Nem se preocupe, teremos muito tempo para autógrafos. E mais, vou te dar um bolachão, um dos primeiros LPs meus.  E os dois abraçaram-se, afetuosamente, fã e ídolo, agora companheiros na mais nova jornada, a da Vida Eterna.

             Jair Rodrigues começou a fazer sucesso em 1964, e foi  o primeiro cantor brasileiro a superar a venda de 1.000.000 de discos. Ganhou  muitos prêmios. A vida toda com a agenda cheia, e ainda a atenção necessárias aos filhos Jairzinho e Luciana, também cantores. Ele e a esposa Claudine Mello sempre fizeram o melhor pelos filhos.

            Simona e Tchule ajudaram levando a sacola e o violão, foram para o Departamento dos Sambistas, que se situa ao lado direito da estrada dos músicos, após o Departamento de MPB. Deste,  vinha uma melodia suave e uma voz cheia de ternura, bem familiar, bem  conhecida... Abriu-se  uma cortina de uma porta,  branca, cujos marcos eram adornados com véus dourados. Olhou,  discretamente,  e ouviu: "Os sonhos mais lindos, sonhei...!"  Nem parecia acreditar, era ela que estava lá, que veio com seu cabelo curto, jeito moleque, sorrisão, braços abertos, pronta para saudar o antigo companheiro de atuação na TV Record: Elis Regina!

          É impossível descrever os minutos que se seguiram. Apenas se ouvia um coro de aplausos que saíam das mãos enternecidas de milhares de anjos vestidos de branco, que aplaudiam o grande reencontro: Jair e Elis, agora, vão alegrar o céu.

Euclides Riquetti
08-04-2014

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