segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dona Clorinda Baretta Casara - a partida

         O primeiro dia do mês de fevereiro enlutou nossa família. Ao final do domingo, meu irmão Edimar me ligou: "A tia Clarinda acabou de falecer". Logo em seguida ligou-me minha irmã Iradi, de União da Vitória: "Já soube?"  - Sim, eu já soubera. É nesses momentos que meu pensamento começa a retroagir, ir para trás nos anos, décadas... Foi assim quando o sol se escondeu atrás do monte e foi embora. Foi, como foi minha tia, minha madrinha, irmã de minha mãe, Clorinda Baretta Casara, esposa do tio Adelino, que deixou-nos para ir ao encontro de sua morada celestial. Completara recentemente seus 87 anos...

          A "Tia Clarinda", como todos a chamávamos, foi acometida de doença grave há um ano. Ficou esse tempo aos cuidados das filhas Iradi, Geni (Gena), Gelci (Gessa) e Rosane, em Capinzal. O filho Luiz Carlos mora em Ponta Grossa, é advogado. Foi estudar no Colégio Agrícola  Augusto Ribas e por lá ficou. A vida é assim mesmo. Ela perdeu todos os seus irmãos e agora só restou o Tio Arlindo. Os demais já se foram. E ela os seguiu...Foi juntar-se ao Juventino, Ivo, Névio, Dorvalina (minha mãe), Iracema, Aristides, Alcides e Ivani. E a dois outros irmãos, gêmeos, que se foram pequenos. E ainda a dois pequenos, filhos dela,  que também perdera ainda bebês. Dizem que lá em cima todos se encontram novamente...

         Mas, como falei, meu pensamento volveu-se ao passado: Lembrei-me de que , uma vez, quando eu tinha no máximo 4 anos, meu pai me levou de Linha Bonita para Capinzal. Deixou-me na casa de meus padrinhos para que meu outro padrinho, o João Frank, me apanhasse e levasse, a cavalo, até a colônia Leãozinho, pois eu fora morar com ele a madrinha Raquel com menos de um  ano  e dois meses. Sim, já falei sobre isso: Saí de casa quando minha irmã Iradi nasceu, ainda bebê...

       Depois me veio a lembrança de mais tarde, quando eu fui morar na cidade,  aos 8 anos, para ir à escola. Ia muito brincar com o Luizinho, que chamávamos de Dinho. Juntávamos ao Chiquinho Biavatti e outros meninos  e íamos jogar bolicas, ali entre a casa deles e a do Sr. Marcos Penso, no centro de Capinzal. Aos dez anos, eu já virara funcionário da "Tinturaria Confiança", de propriedade de minha madrinha. Ia aos hotéis Imperial e Capinzal, algumas vezes por semana, para buscar ternos dos hóspedes. Fiz isso por pelo menos dois anos, quando passei a trabalhar como balconista.

          As roupas eram lavadas no Rio do Peixe. Naquele tempo,  as águas não eram poluídas. As mulheres as lavavam nos "lavadores" que assentavam na margem do rio. Minha tia tinha sua tinturaria em sua casa, numa sala que dava para a Rua do Comércio, hoje Ernesto Hachmann. Tia Clarinda e algumas auxiliares passavam as roupas com pesados ferros de brasas. Engomavam camisas, tingiam, deixavam os frisos das calças impecáveis, os ombros dos paletós perfeitamente passados e assentados.

         A terceira boa lembrança vem de quando saí para estudar. Como em União da Vitória era muito frio, mandou-me um gorro de lã, preto, que eu usava infinitamente. E, quando eu ia passear na casa de meus pais, fazia uma visita a eles. Outra lembrança que tenho é a da comunicação entre minha mãe, 4 anos mais velha que ela, e ela. Tinham códigos simples e fáceis, num tempo em que os telefones eram raríssimos. A que queria convidar a outra para um chimarrão, colocava um pano branco na janela. Assim, a distância de 300 metros entre as janelas das duas casas, uma em cada margem do Rio do peixe se extinguia. E elas se visitavam com muita frequência. Era uma combinação inteligente de comunicação entre duas pessoas que estudaram somente até a "cartilha" do segundo ano primário, lá em Linha Bonita.

          Pois, nesta segunda-feira,  fui despedir-me dela. Revi  meus irmãos e meus primos. E alguns amigos que há tempos não via. É nessas ocasiões que,  infelizmente, as pessoas se reencontram. Conversamos muito, relembramos de algumas passagens de nossa vida. Não havia choro nem desespero. Todos entendemos que  ela fez sua parte, legando ao mundo seus filhos e netos. E que os filhos a ampararam em todos os momentos da vida. Bom quando isso acontece: a despedida sem dramas, apenas com o sentido do dever familiar cumprido por todas as partes.

Esteja na Paz de Deus, madrinha!

Euclides Riquetti
02-02-2015

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