sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Adeus a Adelino Casara

          As pessoas deixam de ser uma folha de papel em branco quando legam aos familiares e concidadãos alguma coisa que, por mais simples que seja, marque, de alguma forma a vida delas. Ainda, pessoas que chegam à velhice com os cônjuges, mesmo que não tenham vivido em perfeita harmonia, podem nos deixar belas lições. Laços sentimentais as levam a, na perda do outro, sofrerem as agruras da separação definitiva.

          A comunidade de Capinzal perdeu, nesta quinta-feira, 28 , o Sr.Adelino Casara, 88 anos (nasceu em 28-10-1926). No dia 01 de fevereiro deste ano ele perdeu a esposa Clorinda. Além de tios, eles foram meus padrinhos de Batismo, na Matriz São Paulo Apóstolo, de Capinzal. Eram originários da Linha Bonita, no Distrito de Abelardo Luz, município de Cruzeiro, hoje Joaçaba. Linha Bonita faz parte do território do município de Ouro.

          O jovem casal teve sete filhos. Os dois primeiros, os gêmeos Celito e Anelito, faleceram em tenra idade. Depois tiveram a Iradi (Ira), Geni (Gena), Gelci (Gessa), Luiz Carlos (Dinho). Ainda deixaram 8 netos, oitos bisnetos e uma tataraneta.  Participei da celebração de sua despedida em nossa suntuosa Matriz, em Capinzal, hoje pela manhã. Fui convidado pelos filhos a apresentar uma biografia de meu padrinho na abertura da cerimônia religiosa.
         Alguns pontos tive que ressaltar sobre Adelino: a) Era uma pessoa muito religiosa, um cristão de muita fé. Quando nos encontrávamos, na rua, dizia que ia rezar por mim, pela minha saúde, pelas pessoas da família.  E lhe dizia que rezaria pela saúde e felicidade dele também. Herdou de seu pai, Joaquim Casara, todo o seu Capital Cristão. O pai foi um santo homem, pessoa muito respeitada na comunidade de Linha Bonita (Ouro), onde fazia as vezes desde  catequista a celebrante de ofícios aos mortos.
          b) Há quase três décadas, procurou-me com uma mala de viagem cheia de documentos: recibos e guias de recolhimento de institutos de previdência social. (IAPETEC - INAMPS- INPS). Queria aposentar-se, tinha realizado as contribuições mas tinha dificuldades em organizar as planilhas das mesmas. Datilografei tudo, fiz requerimentos e ele apresentou-os para buscar seus direitos. Foi aposentado pelo INSS. Ficou maravilhado e agradecido porque deu tudo certo. Trouxe-me um presente e disse-me que, em vez de ele ser meu padrinho, eu é que havia me tornado o padrinho dele. E ia rezar para que meus projetos pessoais fossem bem sucedidos. E isso me aconteceu.

         c) Quando saiu da colônia para morar na cidade, instalou-se como comerciante numa casa da esquina entre a rua XV de Novembro e a Dom Vicente Gramázzio, onde, por muitos anos, funcionou o antigo BESC, em Capinzal, no que foi sucedido pelo bananeiro Augusto Hoch. Adquiriu, depois, uma casa na Rua Ernesto Hachmann (antiga Rua do Comércio), na mesma cidade, onde sua família reside até hoje. Com muita coragem, construiu sua casa na década de 1970, um patrimônio valioso e bem localizado. Ali viveu e recebeu o carinho dos filhos, netos e bisnetos. Visitei-o no dia 01 de maio quando o percebi muito debilitado.  Há duas semanas eu o vi de novo e conversei com ele. Senti que estava animado e julguei que tivesse dado a volta em seus problemas de saúde. No entanto, a partir dali, sua condição de saúde entrou em queda livre.

          d) Dois fatos marcantes de meu tempo de infância: uma vez, cavado um poço de água ao lado da sua casa, mostrava-nos que a água se mostrava ainda turva, em razão da terra vermelha. mas que era abundante e muito fresca. Dizia-nos que, com o tempo, as aguas turvas ficam límpidas. E que tínhamos que cuidar bem dela. E assim aconteceu. Outra vez, retirou uma folha de um galho de uma laranjeira, amassou-o, cheirou-o e nos deu para que também o cheirássemos. Pediu-nos para que sentíssemos bem aquele aroma delicioso e natural. Fiz isso. E, sempre que sinto o cheiro da folha da laranjeira, lembro-me disso.

          Pequenas coisas que acontecem na vida da gente, mas que se eternizam. Bom  poder lembrar, por ocasião da despedida definitiva, de alguns fatos que compartilhamos. É bom poder lembrar de momentos que ficarão eternos e saudosos. É bem lembrar de uma pessoa que, na sua simplicidade, nos deixou lições de honestidade e humildade. Assim foi com meu padrinho, Adelino casara, que descansa em paz na Gloria Divina.

Euclides Riquetti
29-05-2015

         

Um comentário:

  1. Só o tempo pra amenizar a dor... parabéns pelas palavras...

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