quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Quinta crônica do antigamente

Reeditando minhas crônicas da série "antigamente":

Vera Fischer, ao centro, então Miss Brasil, na participação no concurso Miss Universo, em 1969.



          Sou razoavelmente antigo, já disse isso. E minha tenra antiguidade me permite lembrar de coisas boas e,  outras,  nem tanto.

          Na noite em que a Vera Fischer concorreu ao Miss Universo, fomos eu e o amigo Vilmar Adami até a casa do Benjamim Dorini. O "Andaime" tinha um gravador de rolo e jaqueta xadrez, igualzinha à  que o "Tio Buja" estava usando quando se jogou da ponte. O Vilmar tentou evitar, mas não pode. Ele estava desiludido com a namorada e sumiu nas águas... (no outro dia o Chascove o resgatou com um gancho daqueles de tirar balde caído em poço).  Eu era muito amigo do Tio Buja, que era pedreiro. Até fui servente dele. Mas, como dizia, vimos "La Fischer" pela TV, lá no Dorini. Estava divina, mas perdeu. Teve muitas vitórias e muitas perdas na vida conturbada.

          Também está meio conturbada a da Marjorie Estiano, a Manu de "A Vida da Gente", que agora vai dar um tempo com o Rodrigo e ficará um ano em Floripa. Numa dessas a gente transforma ficção  em "real" e tropeça nela na Praça da Figueira, em Florianópolis. (Nas novelas das 9 dizem Florianópolis, na Malhação dizem "Floripa"). E é comum ficção e realidade si confundirem e me confundirem. Provavelmente, você também.

          Sou do tempo em que as pessoas eram mais simples. Não havia internet. Nem TV. Nem Chevette e Brasília ainda havia. Só tinha jeep, rural, pickup e fusquinha importado da Alemanhã, com o vidro traseiro bem pequeno, um oval. Mas digo que as pessoas eram simples e havia poucos doutores, só alguns  doutores da Medicina,  das Leis,  e um Engenheiro, o Flávio Zortea. Ainda hoje chamam farmacêuticos, dentistas, agronomos e veterinários de "doutor", embora a maioria deles nem mestrado tenha. Doutorado, nem pensar!...

          Lembro com simplicidade de algumas pessoas ilibadas, respeitadas, que tocavam seus comércios em Ouro e Capinzal, (não eram doutores) e tinham um costume comum: guardar o lápis atrás da orelha. E o usavam para anotar na caderneta o fiado que vendiam. Naquele tempo valia muito a palavra. Hoje há quem negue sua própria assinatura. (Nem mais usam bigode para não ter que desonrá-lo, sistematicamente). E, nas folhas dobradas de papel de embrulho, que havia sobre os balcões para empacotar as compras, faziam as "contas", habilmente, sem calculadora. Muitos nem faziam contas, calculavam tudo "de cabeça". Alías, cabeça, naquele tempo, servia para mais coisas que não fossem apenas usar chapéu ou boina.

          Posso lembrar do Jacob Maestri, do "Silvério" Baretta, cujo nome era Severino; do Carleto Póggere, do Arlindo Baretta, do Benjamim Miqueloto, do Vitorino Lucietti, do Anildo Mázera; do Alcides, do Leôncio e do Dorotheu Zuanazzi; do Marcos Penso, do Adelino Casara, do Pedro Surdi, do Valdomiro Morosini, do Atílio Barison, do Antônio Biarzi, do Ivo  Brol, do José Formentão, do David Seben, do Agenor Dalla Costa, do Vitório Baretta, do Oziris, do Orvalino e do Osvaldino  D ´Agostini; do Crivelatti, do Augusto Hoch, do Eugênio Tessaro, do Clemente Moresco, do Antoninho Sartori, do Selvino Viganó, do Older Póggere e, se pensar um pouco mais, de muitos e muitos outros, que foram comerciantes, comerciários e açougueiros e que não tinham calculadora, nem balanças automáticas, nem produtos previamente embalados, mas que, nem por isso, deixaram de atender com muita precisão nos cálculos e bom atendimento, seus clientes.

          Ah, mas têm uns "poréns" que preciso relatar: Não faz muito, vi uma distinta e jovem senhora gabar-se de que "só conseguia somar o valor do serviço  da pintura do cabelo e das unhas de mãos e pés, utilizando calculadora. (Se eu dissesse que seu cabelo não era castanho, você iria me tachar de preconceituoso, né?)...

          Outra vez, vi, (de novo,  com esses olhos que a terra há de comer), uma senhora distinta, com tatuagens delicadamente expostas nos ombros, à mesa de um restaurante, perguntar para a filha, que estava numa mesa próxima, almoçando com amigas: "Filha, carne tem carboidratos, não é?" E ela:  "Não, mãe, carne e ovos têm proteína, carboidrato tem no macarrão!)

          E, contam-me, e recuso-me a acreditar, que outra senhora, de mesma faixa etária que as outras duas, que se acha bem "instruída", pegou o mapa-múndi de pernas para o ar e estava a pedir ajuda às colegas para localizar o Brasil...

        É, sou antigo, mas preciso viver muito para contar tudo o que já vi neste mundo de Deus! Ah, antes que eu me esqueça: o gravador de rolo era para as serenatas.

Euclides Riquetti
03-01-2012

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