quarta-feira, 6 de junho de 2018

Pão quente! Saudosas lembranças

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Foto meramente ilustrativa
     
          O dia  não vira, ainda, os primeiros claros do sol que deveria vir de Leste. As pessoas já andavam pelas ruas em sua ida para o trabalho, quando a fábrica da Pagnoncelli Hachmann abria sua estrondosa buzina a vapor, anunciando à cidade e a seus funcionários a hora do início de seu trabalho. Algumas senhoras emoldurando a cabeça com uma fita vermelha ao pescoço, que pertenciam ao "Apostolado da Oração", dirigiam-se à Matriz São Paulo Apóstolo para a Missa das Seis que seria celebrada pelo Frei Gilberto. As crianças nem tinham saído de suas casas para tomarem o caminho de suas escolas.. O frio da noite inibira até os animais de emitirem seus uivos, piados, grasnados  e mugidos. Apenas um ou outro galo liberava o canto na garganta. Era ainda madrugada...

         O silêncio era quebrado apenas pelo toque-toque das ferraduras nos cascos de um cavalo zaino que vinha em marcha bem ritmada pela "ponte nova", tracionando uma charrete. E algumas senhoras desciam até as proximidades da ponte, ali defronte a Indústria de Bebidas Prima,  portando suas cestinhas ou esportas confecionadas com palha de trigo. Objetivo: comprar pão sovado, da Padaria do  Cadorim, a única existente no primeiro quarto da década de 1960.

          Lembro da época como se fosse hoje. Fiz até amizade com o padeiro, que depois virou meu colega de aula na Escola Técnica de Comércio Capinzal: Artêmio Tonial, o Padeiro. Adiante, foi sucedido pelo Alcebides Soccol. A cidade se habituava a essas pessoas que traziam alegria em forma de pão quentinho...

          E lembrar do pão que vinha na  caixa de madeira portada pela charrete faz-me volver  o pensamento para aquela cidade bucólica de nosso Vale do Rio do Peixe, com a praticamente ausência de veículos nas ruas naquelas horas da manhã. Apenas um ou outro caminhão carregado de toras de madeira para alimentar as serrarias. Quando acabava nossa fornada de pão caseiro meu pai ia,  às sextas-feiras, esperar pelo pão de padeiro. Era uma alegria comer aquele "sovadinho". Depois,meu pai e eu tomávamos o mesmo rumo naquelas saudosas manhãs: o Colégio Mater Dolórum, onde eu frequentava o Terceiro Ano Primário, tendo como professora a Dona Marli Sartori. E meu pai o Normal, em nível do atual Ensino Médio, que naquela tempo chamavam de Segundo Ciclo Secundário.

       E ele era o único dentre duas dezenas de mulheres. Ainda lembro de seu quadro de formatura e de algumas pessoas que tinham sua foto nele: Vanda Faggion Bazzo, Dr. Nelson de Souza Infeld e algumas freiras. E, como colegas, Luinês Soares, Inês Dalpisol, Estela Flâmia, Lourdes Eide Fronza, Doraci Infeld, dentre outras.

          Os anos foram passando, as coisas mudaram muito. As cidades entopetaram-se de carros, multiplicaram-se as padarias, mercearias, mercados. Inventaram mil e uma receitas, todas muito deliciosas. A cada dia inventam maravilhosos novos produtos nas confeitarias e padarias.  Mas há duas coisas insubstituíveis em minha cabeça e meu coração: O cheirinho do pão quente saído do forno a lenha que minha mãe fazia  e a maciez do pão sovado do Cadorim, que o Artêmio e o Bide nos traziam na charreta do cavalo zaino. Isso é impagável...

Euclides Riquetti
22-05-2013

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