segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

José Wilker no Purgatório?

 



Para relembrar:
          Nem era de dia ainda. Os anjos que davam plantão na entrada  do céu estavam participando de uma greve geral. Isso preocupava, pois poderiam chegar muitos para a Vida Eterna no Paraíso e, se não tivesse quem abrisse as portas, essas pessoas teriam que esperar no purgatório. E o purgatório não é,  nem de pertinho,  confortável como o céu. Lá,  eles não têm sofá com cheese, nem TV a Cabo, nem internet com facebook.  E celular é proibido, embora há uma semana alguns mais espertos estão usando livremente uns aparelhos que tinham escondido, pois acabou o contrato com a empresa que cuida dos bloqueadores de celular no purgatório,  e esqueceram de fazer a licitação para novo contrato.

          Mister Wilker chegou no hall do céu, pôs sua malinha com algumas roupinhas no chão, tirou o seu Ray Ban, aquele que usou quando fez o Giovanni Improtta em "Senhora do Destino", encarou a anjada como se fosse o Jango ou o Juscelino, todo imponente. Na mala, muitos óculos, bem moderninhos, coloridos, como os que costumava usar nas novelas. (A malinha era a mesma que usou, aos 19 anos, quando foi do Ceará, onde era locutor,  para aventurar-se na carreira de ator, no Rio.)

           "Caríssimos anjos, I am here!", disse José Wilker.  Miguel, o anjo mor,  riu. Era o chefe da guarda: "Mister Wilker, we have close doors here! The angels are in a srike! You need to stay some days at purgatory! Wilker entendeu: estavam com as portas fechadas, em greve, ele teria que ficar uns dias no purgatório...). Depois, cochichou para o colega Gabriel: "Psssst! É o Mundinho!" "Qual?", perguntou este.
E Miguel: "O Roque Santeiro...".

          Acostumado com as manifestações e greves do Rio de Janeiro, não se surpreendeu. Mas imaginava que lá, em cima, não houvesse falta de dinheiro oficial, que o Orçamento Celestial fosse bem generoso, que Pedro pudesse pagar seus assessores a contento. Então, começou a meditar: 68 filmes, 49 participações na TV, 1 filme e 2 novelas dirigidos, 1 seriado... E, mesmo com todo esse currículo, ficar fora do céu?!  Que coisa sem graça, pensou! Mas, educado e cavalheiro, como sempre, resignou-se. Sentou numa pedra ao lado da  malinha para esperar o busão que o levaria, junto com outros que ali se encontravam, para um estágio por tempo indeterminado no purgatório. Pareceu-lhes que havia alguns que vieram daquele avião da Malásia que desapareu, mas não tinha certeza.

          Os anjos, a essa altura, estavam decidindo se devessem ou não "abrir geral", ou seja, deixar que todo mundo entrasse. Com isso, causariam alguma confusão e poderiam ter sua pauta de reivindicações atendidas mais depressa.

          De repente, escutou uma vozinha: "Joseph... Mister Wilker...!"

           Olhou, era uma anja. Uma anja norteamericana, provavelmente.  Tão bonita que parecia reunir a beleza e todas as virtudes de suas ex-esposas, Renée de Vilmond, Mônica Torres, Guilhermina Guinle e Cláudia Montenegro. Encantou-se, foi de primeira. Pensou: "Estou salvo!"

            Dear, come in, silently! Here is a friend of yours waiting for you... Olhou, incrédulo. Lá estava o amigão Paulo Goulart, recém-chegado, para dar-lhe as boas-vindas. Cheio de moral, Goulart, com sua simpatia e habilidade, já tinha conseguido, com seu jeitinho brasileiro,  liberar a entrada do colega. Foi recepcionado por uma galera vibrante, comandada pela Hebe Camargo, que gritou: "Chega aqui, gracinha!"

          Chico Anísio deu-lhe um forte abraço. Darcy Gonçalves apertou seus peitões caídos conta o peito dele. Reginalso Rossi, The King, saudou-o com um soleado no violão.  Hebe lascou-lhe um selinho. Avassalador... Sentiu-se em casa!

Euclides Riquetti
06-04-2014

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