segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Da ilusão à realidade - sobre a pandemia - escrevi duas semanas após o início do caos

 






       O avanço da contaminação pelo novo coronavírus no Brasil e em outros países da América do Sul é menor do que a havida na China, Itália, França, Espanha e outros países. Verifica-se que na Indonésia e na Austrália o avanço se deu no mesmo ritmo do havido por aqui e há uma razão científica para isso: No hemisfério sul, estávamos no verão e estamos entrando no outono e, com o calor, a propagação do vírus é bem menor.

       Os índices de letalidade, por aqui, causam muita preocupação em São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil. Nos outros estados, o índice é menor. Em Santa Catarina, os percentuais ficam em menos de metade do que em São Paulo, pois perdemos apenas duas pessoas até este dia 31 de março de 2020, felizmente.

      Tem sido vergonhoso o comportamento da classe política no Brasil, principalmente em Brasília e São Paulo. Há culpados por estarmos enfrentando tal situação no Brasil? Certamente que ninguém busca desgraça para si voluntariamente. Mas, se quando ainda considerada apenas uma epidemia na China, alguém tomasse alguma providência no Brasil, como, por exemplo, o cancelamento do carnaval, seria perdoado ou trucidado naquele momento?

       A ocorrência que levou o Brasil a entrar em Estado de Calamidade Pública nos mostra o quanto a saúde tem sido apenas pauta de discursos na época das eleições e depois acabamos ficando com menos do que o básico. Dizem os cientistas que somente quando 70 % da população brasileira estiver portando o vírus, e criado anticorpos para sua autodefesa, é que a situação se normalizará. Discute-se se devem ser tomadas as medidas de quarentena vertical ou horizontal e não se tem uma conclusão. Invoca-se, por um lado, as recomendações da OMS. Por outro, há quem defenda que a atividade econômica seja retomada, pois poderá haver falta de comida logo ali.

       Os recursos para o SUS sempre foram vergonhosos. O repasse aos hospitais filantrópicos e outros prestadores de serviços ao SUS ficaram com valores sempre abaixo do próprio custo aos que prestam atendimento ao público. O SUS é um dos melhores sistemas de saúde do mundo. Mas, em vez de investir em melhorar os hospitais e acabar as construções paradas, investiu-se em construir estádios para a malfadada Copa do Mundo e para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Muita gente que está bradando bobagens na televisão já esqueceu que foram eles mesmos que quebraram o Brasil e que investiram errado, oportunizando, ainda, que muito dinheiro fosse roubado ou mal empregado.

       Nós estamos acostumados a viver no mundo da fantasia. O futebol, por exemplo, nos cega. Enquanto uns ganham fortunas jogando futebol ou apresentando-se como "artistas", a grande maioria mora em lugares sub-habitáveis. A crise vai fazer com que voltemos à realidade. A que abramos os olhos e vejamos o que, realmente, é importante ou o que é supérfluo. Nunca o provérbio socratiano "In medio virtus" esteve tão em alta.

       O comportamento de um grande número de jornalistas da Tv é simplesmente ridículo. Falam bobagem, ironias e desdenham. Vi uma que “se acha” enfatizar que houve falta de vacinas para a H1N1. Não sabe ela que o Instituto Butantã tem batido recordes na produção das vacinas, mas que houve a antecipação da data da campanha de vacinação, justamente para diminuir a "confusão" e as dúvidas que aumentariam para a identificação que qual doença estaria acometendo os pacientes. O oportunismo, por outro lado, no meio político, é vergonhoso, tanto de esquerda como de direita, passando pelo "meio".

       A proposição de medidas precisa ser conjunta e definida com alguns critérios. A retomada da atividade produtiva pode ser programada considerando não a essencialidade agora considerada, mas também o mapa dos casos de contaminação já constatados. Em Santa Catarina, por exemplo, temos uma grande concentração no litoral. Na Serra, um caso comprovado em Lages, 5 em Chapecó e um em São Lourenço do Oeste. E temos mais de 100 municípios em que podem haver suspeitos. Dentro desse prisma, ,imagino que as medidas para cada cidade sejam específicas.

       Hoje, terça-feira, tive que ir ao Banco porque não havia como outra pessoa fazer o que eu precisava por mim mesmo. E  passei numa farmácia. Tomei todas as precauções possíveis. Mas os atendentes da farmácia, onde procurei por máscara de proteção, não tinham nem mesmo para eles. Então, fico me perguntado: "Qual a diferença de um trabalhador que atua numa produtora de alimentos e uma metalúrgica?" Então, imagino que as normas precisam ser revistas, todos os cuidados tomados, e quem possa produzir, que produza.

       Na área rural, onde há forte atividade agropecuária, aqui em Santa Catarina, há perdas por causa da estiagem. Em algumas cidades, há o racionamento de água para o consumo humano, embora ainda não tenha faltado e se espera por chuvas em 3 dias. Então, precisamos da convergência de ideias e da inteligência. Buscar planos para a retomada de atividades que possibilitem que as pessoas tenham renda ou que consigam pagar seus tributos para que o governo tenha dinheiro para ajudar alguns setores que serão os mais atingidos.  É quase que certo de que algumas coisas que importavam até a época do carnaval  passem não mais importar. Estamos caindo na real!

Euclides Riquetti – escritor – publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba SC
03-04-2020 

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