quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Morre Esoani Parísio Lona Cleto, o Noni - "Barba non facit Philosophum" - ao meu colega, com carinho!

 

"Barba non facit Philosophum" -  Esoani Parísio Lona Cleto 


       Meu  multititulado professor de Latin, Padre Leo Horst, entra na nossa sala daquele jeito sempre apressado, coloca sua maleta  de couro abarrotada de livros sobre a mesinha, pega num pedaço de giz e escreve algo no quadro-negro: "Barba non facit Philosophum". O cenário é uma das salas de aula da então FAFI, aos fundos. Na frente, a histórica Praça Coronel Amazonas. 

       Nossos olhares se voltam para aquele senhor respeitável que não escolhe lugar para sentar. Cabelos e barba espessa bem escuros, olhar firme mas cândido, calmo no falar, que é secundado por suas mãos discretas, que esboçam movimentos elegantes. A perfeita personagem para a famosa frase latina, que parecia significar "O filósofo não faz a barba", adequada ao colega que parecia um filósofo aristocrático. Mas Padre Leo já ia corrigindo nossas mentes erradas: Como diria o ....."A barba não faz o filósofo". E nossa cabeça juvenil via dissiparem-se as dúvidas, pois não seria e nem poderia ser a barba a indicação de que, por detrás dela, pudesse existir um filósofo, uma alma filósofa num corpo físico! Mas aquela barba combinada por um corte de cabelos bem executado no "Salão dos Estudantes", ali ao lado da papelaria do craque Farias, perto do Hotel Flórida, em União da Vitória, guardava atrás dela uma figura sensacional: Esoani Parísio Lona Cleto!
       O Cleto, como era por nós conhecido e chamado, era funcionário do Banco do Brasil, colega de nossos amigos  Mineo Yokomizo, Aderbal Domingos Tortato, Francisco Samonek (o Sabonete), do Jaime e adiante dos seus irmãos Vilmar e Jair Lusa, da Emelin e da Marly  Domit, do Leoclides Fraron, da Clara Lina Unterstell e de tantos outros. 
       O Cleto era nosso campeão: PRIMEIRO LUGAR EM NOSSO VESTIBULAR, em janeiro de 1972, para o curso de Letras-Inglês. Aprendia tudo, sabia tudo, ajudava a todos. Filho de José Cleto e Celina, nos explicava de onde seus pais, proprietários da Livraria Gisa, retiraram seu nome: ESO, a inversão das três últimas letras de José; e  ANI, as três últimas letras no nome da mãe, Celina, invertidas. 
       Cleto se tornou meu amigão, me dava orientações e conselhos. Eu lá chegara do Baixo Vale do Rio do Peixe, Ouro e Capinzal, e passara a tomar as águas do Rio Iguaçu, tão bem cantadas nos versos compostos por Ivonnisch Furlani. Seu pai dava nome a uma cruz que cruzava da Professora Amazília, onde eu morava na República Esquadrão da Vida. E ao aeroporto localizado no São Cristóvão. A família tinha história combinada com nossas gêmeas do Iguaçu, Porto União e União da Vitória. Autor de pelo menos 10 livros, José Cleto era um bom escritor. Esoani me trouxe três deles. Li e reli "Eu vi cair o último pinheiro", em que contava e descrevia, com precisão, fatos da Guerra do Contestado. E dizia: "Meu pai quis dizer que o último pinheiro foi o último soldado tombado naquela famigerada guerra"!
      Tenho o hábito de ler as páginas dos sites da internet das cidades gêmeas. Abro o "Vvale" e vejo lá a manchete da morte do Noni Cleto. Olho bem a foto e lá está o amigão Esoani, que quem há muito eu não tinha notícias. Apenas sabia que já havia se aposentado pelo Banco do Brasil. Barba e cabelos clareados pelo tempo, não mais o jovem de trinta e poucos anos que morava ali perto do Cid Gonzaga...
       Escrever sobre ele será minha forma de agradecer pelo amigo conselheiro e atencioso com quem convivi em minha juventude. Ele era 15 anos mais velho do que eu. E, eu, um jovem cheio de sonhos que se inspirava naquele ser com cara e jeito de filósofo. Que os anjos toquem umas clássicas daquelas que você admirava tanto e que Deus lhe dê o merecido lugar no Paraíso. - Cleto faleceu hoje em Curitiba e será sepultado amanhã em União da Vitória.

Euclides Celito Riquettti
Joaçaba - SC - 17-11-2021
Um seu criado!
       

Um comentário:

  1. Prezado Euclides,
    agradeço a bonita homenagem à memória de meu pai.
    Um abraço.
    Laerte Cleto
    lcleto@gmail.com

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