terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Quarta Crônica do antigamente

         Minha antiguidade é relativamente antiga. Já escrevi, em outras oportunidades, sobre ser antigo. Sou muito, muito, mas nem tanto. Sou do tempo em que os adolescentes levantavam muito cedo, no domingo, para ir à Missa das Seis, na Matriz. Primeiro o "compromisso", depois a bola. Então, a maioria dos amigos (eu ia com o irmão Ironi), levantava às 5,30, quanto tocava o sino, para ir à Igreja, "confessar", escutar bem o sermão do Frei Gilberto "Fujão", do Frei Lourenço "Brabo", do Frei Tito "Bondoso"  e, depois, comungar. E, comungando, não poderia fazer pecado no domingo, nem na segunda, nem na terça...

          Então,  o negócio era não pensar marotezas, nem dar caneladas nos outros nas peladinhas do campínho, porque tudo isso era pecado, muito pecado. E havia dos pecados veniais, que eram os mais simples, mais fáceis de se obter o perdão por se tê-los cometido, que poderiam ser extinguidos se estivéssemos arrependidos, mesmo sem contá-los ao padre, bastando para isso declinar um simples "ato de contrição". Tinha o grande e o pequeno, que era mais fácil de decorar. Se o pecadinho era um "nadica di nada", podia ser o pequeno. Coisa  assim como dar uma olhadinha numa menina, coisinhas simples. Mas, se fosse uma coisa como "pegar" uma pera do quintal do vizinho, mesmo que ela estivesse caído com o vento, isso era roubo, um roubo leve, sim, mas isso era sério, poderia se acostumar e, mais tarde, tornar-se um contumaz ladrão. Então, por enquanto, precisava ser  um "ato de contrição grande", que tinha no livrinho de catequese. Era como uma medida liminar judicial, permitia que você comungasse mesmo assim, mas, adiante, quando tivesse oportunidade de confessar ao padre, mostrando aparente arrependimento, após esse julgamento, estaria   perdoado,  e a alma, que enegrecera, voltava à brancura. Ficava branca como camisa lavada com "Rinso".

          Acho que a alma da Marjorie Estiano deve ter ficado um pouco cinzenta quando ela casou com o Rodrigo, que era a grande paixão de sua irmã, Ana, a bela tenista que se encontrava em coma, mãe da Júlia, em "A Vida da Gente". E deve ter rezado pelo menos uns três "atos de contrição", daqueles bem longos, quando a mana da Manu acordou, na novela. Seria um "pecado mortal"??

          Os pecados mortais rondavam as mentes perturbadas de minha geração temente a Deus. Hoje, as pessoas nem sabem mais que pecados mortais existem,  e agridem, roubam, matam...

          Quando o Pelé esteve em Capinzal, em 1989,  estivemos com ele lá na Perdigão. Estávamos eu, o Frei Davi, o Celso Farina, o Barzinho, o Irineu Maestri, o Ademir Belotto, o Jaime Baratto, o Ronaldo Cheiroso (que trabalhava lá),  convidados pelo Altrair Zanchet. Com o "Rei", viera o ator David Cardoso, o Rei da Pornochanchada, ator e diretor em quase 100 filmes nacionais, protagonista da novela "A Moreninha", sucesso da Globo, em que ele era o Leopoldo, e contracenava com a Lucélia Santos.

          Conversei muito com ele, ele havia sido candidato a Prefeito no Mato Grosso, não lembro se em Campo Grande ou Dourados, perdera, e queria saber como eu, com 35 anos, havia sido eleito Prefeito. Falei sobre meu engajamento em causas comunitárias, sociais e culturais, minha liderança junto a alguns segmentos sociais e profissionais, e que isso me dera base para a conquista. Ainda, abordei-o sobre o filme Férias no Sul, filmado em Blumenau e Gramado, em que ele contracenara com a Vera Fisher, a glamourosa atriz e ex-miss brasileira. Contou-me que teve um "flerte" com ela, que ela era "o máximo"... Ah, ele e o Pelé vieram  juntos porque estavam filmando no Pantanal, um filme de combate aos matadores de jacarés, em que o Pelé era o Policial e o David Cardoso era o mocinho. O ator tivera deliciosos pecados com ela, todos veniais, compreensíveis...

          Mas, como tenho afirmado, sou antigo, muito antigo. Sou do tempo do Sapeca e da Tia Bena, do João Maria Barriga-de-Bicho, da Nega Júlia, do Zeca Gomes, do Vinte-quatro... figuras folclóricas de Capinzal e Ouro que, certamente, sabiam muito bem a diferença entre "pecado venial e pecado mortal", mesmo que não tenham aprendido o "ato de contrição", porque eram almas ímpias e puras, negros de alma muito alva, da estirpe de nosso Cruz e Souza, sem pecados que lhe valessem qualquer condenação...

          Não sou tão antigo quanto o Simbolista, mas sou antigo, sim!

Euclides Riquetti
27-12-2010

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