domingo, 26 de agosto de 2012

Décima Nona Crônica do Antigamente

          Em 1970  muitas transformações ocorreram em minha vida. E muitos acontecimentos marcaram-me profundamente. Era uma época em que eu vivia as incertezas sobre meu futuro e tinha qua trabalhar, arduamente,  durante todo o dia, inclusive aos sábados. E, descanso, apenas dois domingos por mês. Isso já faz tanto tempo...  A notável Sarah Michelle Gellar ainda nem havia chegado. Somente sete anos depois  é que Nova York iria conhecer uma bebezinha prodígio que, quatro anos depois iria começar a maravilhar  os americanos por suas atuações no meio artístico. E, hoje, com seus olhos belíssimos, também nos encanta nas telas dos cinemas. São dois formosos diamantes tinturados por azul, verde e cinza que nos brindam com uma nova cor: Não é cor de céu, não é cor de mar. É apenas a cor dos olhos de Sarah Michelle. Só ela os tem e só ela pode nos presentear  com seu olhar  encantador. As Michelles e Micheles, todas, têm olhos bonitos, inclusive uma que mora em meu coração...

          Como eu dizia, 1970 foi um ano marcante. O Brasil, que há 12 anos não conquistava uma Copa, conquistou, definitivamente, a Taça Julles Rimet, no México. Guadalajara, Guadalajara!!!...

          Nesta semana, um dos ícones desta conquista, integrante do grupo mais unido e que mais  se notabilizou no futebol brasileiro, nos deixou, foi morar no céu, aos 74 nos. Sim, porque o céu existe,  e pessoas como o Goleiro Félix, que, além de desportista correto, dedicado, defendeu a classe dos atletas, e deu muito de si pelos amigos e companheiros, merecem ter compensações na morada eterna.

          Aquela geração de Ouro do futebol brasileiro, que nas elimionatórias, em 1969, sob a batuta de João Saldanha, e 1970, na Copa, sob o comando de Zagalo, o "velho lobo", merece nosso reconhecimento. Do grupo, composto por Félix, Ado, Leão, Brito, Piazza, Carlos Alberto, Baldochi, Fontana, Everaldo, Joel Camargo, Zé Maria, Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Paulo César Caju, Jairzinho, Tostão, Pelé, Roberto Miranda, Edu, e Dario (Dadá Maravilha), perdemos o Everaldo, lateral que pertencia ao Grêmio de Porto Alegre, ainda jovem. Fontana nos deixou logo depois. O Joel, vi atuar pelo Santos, mas dois ficaram muito bem fixados em minha memória: Paulo César Caju e Edu. O primeiro pertencia ao Botafogo, mas atuou também pelo Grêmio, Vasco, Fluminense, Flamengo, Paris San German e outros clubes. Edu fez sua carreira praticamente no Santos, onde  está até hoje, é cartola, dirige segmentos da base santista. Eles tinham 18 anos quando disputaram as eliminatórias e atuaram com muito bom desempenho.

          Em 1987, já tendo interrompido sua carreira profissional, vieram jogar contra um combinado do Arabutã e do Penharol, na Baixada Rubra, em Ouro. Vieram pela Seleção Paulista de Masters, em ônibus leito. Reunimos meia dúzia de carros e viemos apanhá-los em Joaçaba, na Rodoviária. Coube-me transportar o Paulo César, o Edu e o Chicão, da Portuguesa de Desportos. Além de ser uma honra muito grande para mim, foi a oportunidade de conhecer um pouco sobre a personalidade daquelas personalidades. O Edu, quieto, no banco traseiro, era monossilábico. O Chicão estava "na dele". E o Caju, no Banco da frente, contava-nos muitas belas histórias, inclusive de sua vida pessoal. Tinha aquela fama de boçal, que alguns setores da imprensa brasileira lhe rotulara, mas percebi que ele era outra pessoa, simples, educado, atencioso. estava com um agasalho Adidas bem surradinho, azul com listras brancas, e um  "boné Milton Nascimento". Queria saber como eram as pessoas, o que faziam, onde trabalhavam, se gostavam muito de futebol. E eu ia contando algumas históriasd, algumas piadas. Em Lacerdópolis, parei em frente a um bar, na  esquina, para ele cumprimentar os "italianos",queria saber como era seu sotaque, sua maneira de falar. Depois,  contou-nos que estava namorando a Leonora, irmã do Jaime, zagueiro do Flamengo, daquela famosa defesa: Raul,  Leandro, Jaime, Mozer e Júnior.  Na descida da serrinha para Santa Bárbara, tivemos que parar porque havia um cachorrinho mancando e ele quis dar um afago nele, ver se era caso grave ou não. Ao chegar no Arabutã, mostrei-lhe o Orlando Santiago, um de nossos goleiros do Veteranos do Arabutã, e ele achou que o Orlando deveria jogar, que o jogo deveria ser para "velhos" e não contra os jovens do Arabutã e Penharol.

          Mostrou-me, realmente, que a imagem que a imprensa nos passava sobre ele era falsa, era mentira que ele trocava várias vezes o calção ao dia, para mostrar-se na praia de Ipanema. Bem, quem sabe isso foi apenas coisa de quando tinha 16 anos e já era titular no Botafogo. E o Edu, com 16, titular no Santos. Agora, já estavam com 37 para 38 anos, eram "velhos", maduros. E gostavam de jogar por prazer, viajar de ônibus, andar em carros de pessoas diferentes, conversar com as pessoas, almoçar embaixo de árvores, comer churrasco na Churrascaria do Pedro Beviláqua e dormir em seu Hotel...

          É, tenho muito orgulho em dizer que  conheci, de maneira diferente do que os meios de comunicação nos passavam na época, essas personagens da história do futebol brasileiro. Gente que jogava muito, que deu muita alegria aos seus fãs, que não eram movidos pelo marketing atual, que não recebiam "direitos de imagem", apenas jogavam futebol, e muito. O resultado do jogo: 1 a 0 para o time da casa, formado por atletas de 18 a 32 anos, jogando contra senhores acima de 36.

          Boas lembranças dos anos 70, que guardo comigo e que quero dividir com você, leitor.

Euclides Riquetti
26-08-2012

         



         

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