Na quarta-feira, 16, estivemos em Buenos Aires. Desejava conhecer aquela cidade por razões históricas, culturais e artísticas. E eu tinha um foco principal: visitar o jazigo da eterna Mãe dos Descamisados, Maria Eva Duarte Perón, a Evita, nossa Santa Evita. E conhecer a arquitetura da Recoleta. Enfim, estar na terra da arte, do (meu) sonho e do tango!.
Após umas andanças por Palermo, chegamos à Recoleta. Uma guia, Sílvia, passava-nos, habilmente e num espanhol claro, todas as informações sobre a cidade. Sabia muito sobre Buenos Aires e toda a História Argentina. Não parecia uma simples guia, mas sim uma professora que conhecia, com profundidade, todos os fatos daquele país desde a sua fundação. Passamos pela "9 de Julio", um avenidão para fazer-nos inveja. A mais larga do mundo.
Eu lembrava das ruelas de Florianópolis e ficava imaginando como aquelas pessoas tiveram a visão, lá, de projetar e construir uma avenida com mais de 140 metros de largura. Muitos monumentos para seus heróis e, sobretudo, para sua heroína, a mãe de todos os argentinos, Evita. No edifício do Ministério de Obras Públicas, em 2011, a Presidente Cristina Krchner inaugurou dois retratos moldados em ferro pelo artista argentino Daniel Santoro, com 31 metros de altura e 20 de largura, sendo que o assentado ao lado Sul mostra a Primeira Dama sorrindo para seus protegidos. Para o lado Norte, há um retrato dela discursando ao microfone, com uma expressão bem firme, severa. Dizem que sorri para os pobres que habitavam o lado sul do Bairro Montserrat e que fala austeramente para os burgueses do lado norte.
Era muita informação para processar. E atrativos para fotografar.
Finalmente chegamos ao Cemitério da Recoleta. Uma inscrição, em Latim, na fachada da entrada, dizia: "Requiescant in pace" (Descansem em paz). É um portal imenso, com cerca de 10 metros de altura, branco, e a inscrição e outros símbolos estão em dourado. O que você imaginar de belezas arquitetônicas influenciadas pelo mundo Eurpoeu, especialmente por Paris, ali estão nos mausoléus. Somente os ricos podiam comprar terrenos ali. E estão isentos de pagar impostos anuais pela ocupação do solo do cemitério com seus jazigos. São proprietários vitalícios. Alguns deles estão abandonados, mas, de uma forma geral, a conservação é boa. Os bens são passados aos seus sucessores, que têm o direito de enterrarem seus entes queridos neles.
Eu já havia pesquisado sobre a localização do túmulo da Evita e do Presidente Raúl Alfonsin, ainda antes de sair de casa. Tão logo adentramos o local, fui andando pela ruela central e, logo depois, virei à esquerda, dirigi-me para onde havia um grupo de pessoas. Certamente que ali seria onde estaria Evita e minhas suspeitas foram confirmadas pela guia. Foi muito emocionante para mim, estar ali, mesmo sabendo que seu corpo está quatro metros abaixo do nível do piso, protegido por concreto. Querem que seu corpo não seja, jamais, dali retirado, uma vez que somente duas décadas após sua morte foi ali sepultado.
Tirei fotos de todas as placas de bronze que estão afixadas na fachada o jazigo, edificado em granito negro. E dele em si. Passei a comentar com as pessoas sobre a vida dela e, mesmo meus 30 parceiros de viagem terem se afastado para cumprir o roteiro da visita, permaneci uns minutos ali, falando sobre a Evita para turistas de todos os lugares. Uma jovem brasileira, que estava com a mãe, mostrou-se muito interessada, disse-me que pouco ouvira falar, até então, daquela personalidade. Disse-me que iria, tão logo chegassem em casa, no Brasil, passar a estudar sobre aquele mito, que moreu aos 33 anos. Acho que arrumei mais uma fã brasileira para ela.
Corri para localizar meus colegas de viagem e rapidamente os encontrei. Convenci a guia a mostrar-me qual era o jazigo do Presidente Alfonsín e somente eu, de minha turma, o visitei. Não poderia deixar de visitar um dos grandes lutadores pela redemocratização da Argentina. Fotografei rápido e voltei para o grupo. Lembrei-me o Juca Santos, que, num jantar na casa do Ademir Romani e da professora Vanilda, disse-me que, com a posse de Raúl Alfonsín, eleito pelo voto direto, tudo ficaria resolvido na Argentina. E que, depois, com as eleições diretas que viriam também no Brasil, o resistente deputado Ulisses Guimarães iria ser nosso Presidente, e aqui também tudo se resolveria pela democracia... (José Leonardo Santos era um jovem sonhador ...)
Hoje, em todos os lugares de Buenos Aires, observa-se uma grande veneração por sua Santa. Os pobres, principalmente aqueles que habitam as favelas localizadas nas imediações e embaixo de um grande viaduto, porque ela é sua verdadeira heroína. Os burguses que habitam as mansões e prédios com características européias, renderam-se à força da alma e ao carisma de Evita, e a respeitam. A mulher que conquistou o direito do voto para os argentinos, 60 anos após a sua morte, cada vez mais ocupa o coração deles e angarfia legiões de fãs na América do Sul e mesmo na Europa. Conhecendo sua história, não há como não se render aos seus encantos...
Euclides Riquetti
26-01-2013
Ola Euclides,
ResponderExcluirQue belo texto sobre a Evita Peron, cuja historia realmente nos encoraja a valorizar os sentimentos humanitarios.
Um grande abraço ao amigo conhecido no navio MSC Magnifica.
Reinaldo Goncalves de Oliveira
reinaldo_uk@hotmail.com