Se meu pai, Guerino Riquetti, estivesse ainda conosco, estaria completando 92 anos. E saber que o perdemos há mais de três décadas, quando ele estava com 55 anos. Eu tinha 24 anos e fiquei muito abalado. Muito chateado e sentido por termos tido a separação definitiva tão cedo, sem antes termos parado para que ele me passasse todas as recomendações que um pai deve fazer a um filho antes de partir. Éramos muito identificados eu e ele. Cursou o primeiro ano de Filosofia,Seminário São Camilo, na Vila Pompeia, em São Paulo, tendo antes passado pelo de Iomerê, enquanto que cursei Letras na Fafi, em União da Vtória. Em 1974 ele prestou vestibular na mesma para o Curso de Geociências, aos 52 anos. Viramos colegas acadêmicos, o que muito me orgulhava. Lembro-me que ele tinha um professor raivinha e autoritário que mandou-o sair da sala porque estaria mascando chiclete, uma injustiça, pois ele detestava goma de mascar. Meu pai ficou indignado com isso, pois o professor era o dono da situação e queria impor sua autoridade a qualquer preço...
Herdei muitos dos seus hábitos, temos um biotipo semelhante, ambos gostávamos de ler muito, eu lhe emprestava meus gibis, O Pato Donald e o Mickey. Ele me emprestava seus livros, lembro bem de "História Sagrada - Antigo e Novo Testamento", que li e reli muitas vezes. Havia a História "José do Egito", que eu adorava. Tinha muita pena do José, que fora vendido pelos irmãos. Também me encantava com a "Parábola do Filho Pródigo", pois ela lembrava muito a hisória de meu progenitor, somente que este saiu para o Seminário adolescente e ficou anos sem ver seus pais e irmãos, que moravam na Colônia Linha Bonita, no antigo Distrito de Ouro, antigo Rio Capinzal.
Minha maneira de andar, a postura e o movimento de minhas mãos, a mesma cor dos olhos e dos cabelo ambos castanhos claros , o precoce agrisalhamento, enfim, restou muito dele em mim. As mesmas posições sobre religião, política e até sobre carreira profissional. E acabei fazendo minha carreira profissional como professor, sendo que por 28 anos atuei na Escola Sílvio Santos, da qual ele foi o primeiro Diretor.
Tinha muita amizade, era muito inteligente e criativo, falava italiano padrão e francês e, embora poucos saibam, fora organista e pianista nos tempos de seminarista. Quando o perdemos achei que poderia fazer algumas das coisas que ele queria fazer, fiz, consegui usar o poder sem nenhuma vaidade, saí da mesma forma como entrei, sem mudar meu padrão de vida, meus hábitos e meus costumes. Segui a recomendação socratiana que me fez numa correspondência na época em que eu estava na Faculdade, até colocamos em sua lápide, está lá no latim que ambos estudamos: "In medio virtus"! Mais uma semelhança entre nós: ambos estudamos Latim.
E, desde aquele ano de 1974, quando mandou-me o provérbio, procuro pautar minha vida nesse ensinamento, agindo e me portando dentro de um razoável padrão de equilíbrio e na tomada de atitudes corajosas, mas sensatas.
Hoje, depois de tantos anos, tenho todas as lembranças bem fixadas em minha memória. E alguns conceitos assumidos; "Pai é pai! "Filhos devem respeitar os pais!". "Meu pai é o melhor pai do mundo!" "Meu pai é meu herói!" "Meu pai é grande e tudo pode!". Ele partiu sem ter conhecido meus filhos, infelizmente. Mas me importam, mesmo, são as lições e exemplos que me deixou e até as amizades que dele herdei. Feliz aniversário, meu velho e querido pai, onde quer que você esteja.
Euclides Riquetti
07-08-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!