domingo, 8 de dezembro de 2013

Homenagem ao Negão Esganzela, o Moço da Gaita!

          O Negão dedilhava o teclado de sua gaita com elegância e  maestria. Tirava dela, desde moço, qualquer tipo de moda da tradição gaúcha: música nativista, xote, vanerão, valsa, chamamé, qualquer coisa
que lhe pedissem. Gostava de trajar calça social, preferencialmente cinza ou azul,  e camisa com colarinho, normalmente  branca ou de uma cor muito clara. Dobrava os punhos da camisa de manga longa para melhor movimentar os braços nas alças de sua gaita. Sabia as notas das músicas "de cor e salteado".
Colocava seu coração corinthiano a mover suas mãos e a incitar seu cérebro, tirando os mais belos acordes. Era convidado a participar de festas sociais e animar eventos de escolas.


          Competimos em trincheiras opostas na campanha política de 1988, quando ele se elegeu vereador. Naquele dia 16 de novembro de 1988, ao final do dia, encontrei-o ali na Rua XV, em Capinzal, defronte ao "Edifício Sanalma" Ainda pela manhã havíamos recebido o resultado das urnas. Eu tivera êxito em minha postulação e ele também. Veio correndo e me abraçou: "Ganhamos, Riquetti! Vou apoiar você!" - eu jamais iria esperar isso de um adversário, mas aconteceu. E demos início a uma amizade que foi-se consolidando aos poucos e durou por 25 anos. Viramos, adiante, colegas de trabalho, até aliados na política. 

          Enaltecer a humildade dele, a habilidade que tinha na conversa com as pessoas, seu alto nível de educação, não faz jus às suas inefáveis qualidades. Mas dizer que ele foi uma grande, sincero e verdadeiro amigo, isso sim é ser justo e honesto com sua memória. Estivemos juntos em bons e em maus momentos. Confiava-me muitos de seus segredos, tinha absoluta confiança em mim e eu tinha nele. Há pouco mais de um anos, fiz um poema para ele, imprimi e fui levar a sua  casa.  Colou na parede, queria mostrar para os amigos que o visitassem que eu era verdadeiramente amigo dele. E, se o compus, é porque ele era merecedor. Queria que ele soubesse, em vida, o quanto eu o prezava.

          Consegui conversar com ele pelo menos em três das seis vezes que o visitei aqui no Hospital Santa Terezinha, em Joaçaba. Estava muito debilitado, mas muito lúcido. Lembramos de alguns bons momentos de nosso convívio e ele me agradeceu pelo poema. A gente sentia que sua vida estava chegando ao fim, mas só falávamos com otimismo, ensejando a sua recuperação. Há uma semana, disse-lhe que iria viajar e que quando voltasse o visitaria já em sua casa, recuperado...  E, na noite de ontem, ainda ausente da cidade, recebi a informação de que ele havia partido...

          Vereador do primeiro dia de  1989 ao primeiro de 1997, em duas Legislaturas,  portou-se sempre com retidão, não usou do cargo para favorecer-se. Prestou concurso para o cargo de Vigia Noturno em 1989 e tirou primeiro lugar, efetivando-se no Município de Ouro. Adiante, ocupou funções de Diretor de Obras e Urbanismo. Há oito anos foi acometido de doença e "veio levando a vida". Eu sempre mencionava para meus familiares que o Negão deveria ter um coração muito forte, resistente, na proporção de sua bondade. E, tenho certeza, foi isso que permitiu que tivesse uma sobrevida de pelo menos uns três anos.

         O Olindo Esganzela deixa a Rosa, o Eduardo, o Ewerton, a Vitória, a Lilian e a Iliane.Voltou, neste sábado de sol, a morar no Engenho Novo, ao  lugar onde nasceu. Estava com 55 anos. Seu corpo agora ali repousa, inerte. Mas sua alma foi animar, com seu talento, uma legião de anjos e arcanjos. Num cortejo celestial, foi tocando sua acordeona em meio ao coro de anjos, numa celebração da nova vida. Ao Negão Esganzela, pela sua bondade e pela sua fraterna e simpática maneira de ser, nosso desejo de que esteja bem no Paraíso!

Euclides Riquetti e Família
07-11-2013

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