quarta-feira, 12 de março de 2014

A Primeira Jipeira de Rio Capinzal

          Quando criança, passava a pé pela antiga Rua do Comércio, hoje Presidente Kennedy, em Ouro, este ainda Distrito de Capinzal.  Ia até a chácara do Nono Victório Baretta buscar laranjas e ameixas. Havia uma casa lá, sem moradores. Bem mais adiante foi o lugar onde meus avôs, Victório e Severina viveram seus últimos dias...

          Quando subia pela rua, ainda de chão batido revestido com macadames, meu irmão mais velho, o Ironi, falava-me: "Aquela mulher, ali, que chegou com o jipe, não tem mais marido. Ele morreu. É irmã do Severino Dambrós". Filha do Seu Silvano e da Dona Deolinda, morava junto a eles.

          E eu observada aquela jovem morena, cabelo escuro, sobrancelhas escuras, que tinha o rosto e os olhos parecendo ser de descendente de asiáticos, não de nossa colônia italiana. Consigo, no jipe, as filhas Rosane e Rejane, bem crianças ainda. Trazia também mantimentos  no jipe, que encostava na frente de sua casa. Era meio esverdeado, tipo um verde abacate, muito bonito. Inteirinho!

          Dona Ilse, de sobrenome Dambrós Busato, perdera o marido aos 24 anos. Tinha que trabalhar duro, indo quase todos os dias para os lados do Engenho Novo, em Capinzal, para cuidar  de suas terras. Criava gado, teve que aprender a lidar com isso. Pegar, vacinar, tratar, cuidar... E até cerca costumava arrumar. Era uma brava mulher, de muita fibra. Chegava na cidade à tardinha, era muito bonito ver. Vinha pela Ponte Nova, descia pela Felip Schmidt e, na altura da atual Praça Pio XII, pegava o rumo da Coxilha Seca. Todos admiravam aquela senhora  de postura séria, firme, bonita, morena...trabalhadeira e determinada!

          Os anos foram-se passando, fui estudar em Porto União da Vitória, ao voltar fique três anos no Zortea. Em 1980 voltei ao Ouro, fui fazer o "Censo 80", do IBGE,  na casa dela. Recebeu-me amavelmente, prestou todas as informações. Sempre reservada, mas já bem madura, tinha o carinho dos pais, dos irmãos, das filhas. Mais adiante, estive lá em minha campanha eleitoral, em 88, e fui muito bem recebido de novo. O Ivanor de Souza, marido da Rejane, fora meu aluno na Escola Sílvio Santos. Era mecânico. Hoje toca as granjas da família. É  um rapaz muito forte e simpático.

          Agora,  aos 79 anos, Dona Ilse vive sua vida tranquila, tem o carinhoa das filhas e netos, é respeitada ve valorizada. Só quem acompanhou sua trajetória de vida pode avaliar o que ela representou para todos, inclusiva para a comunidade.

          Na época em que apenas os homens dirigiam veículos automotores, ela dirigia seu jipe Willys e o fazia com habilidade, segurança, maestria. Era algo incomum uma mulher dirigir. Mas ela o fez. Foi pioneira nisso. Como muitas outras que perderam o esposo, e antigamente muitos  homens morriam bastante jovens, tendo as viúvas que darem conta do cuidado com as propriedades e a educação dos filhos.

Parabéns, Dona Ilse,

Um comentário:

  1. Riquetti, boa tarde. Meu nome é Ademir Dariva (dariva85@gmail.com), sou natural de Herval d´Oeste (onde ainda mora minha irmã Edyone, tenho outro irmão em Joaçaba - Jair Júlio), e moro em Florianópolis há 43 anos (onde também mora meu outro irmão - Cylo). Através de uma ex-colega da empresa Sulcatarinense (construtora, onde sou Auditor), chamada Margrith Rempel (morou em Pato Branco), desde o ano passado sou leitor do seu blog, e o parabenizo pelos poemas e, mais, pelas magníficas crônicas que me remetem ao passado. Quando garoto, muitas vezes joguei contra o Vasco da Gama no campo que tinha ao lado da estação ferroviária (tenho fotos). Também tenho uma foto do mesmo Vasco jogando no Estádio Oscar Rodrigues da Nova (que de forma lamentável foi posto abaixo pelo atual alcaíde, que não deve ter passado), vestindo o impecável uniforme da cruz de malta. Também ia todo o final de semana, de trem, para namorar a Marilha Dal Sasso, que morava na rua principal de Ouro. Por acaso conheceste alguém da família Dal Sasso, cujo pai (Amélio) veio de Nova Bassano (RS) para trabalhar no frigorífico? A mãe (Amália), a outra filha (Isabel), e os filhos Joãozinho (que casou com a minha irmã Edyone, veio morar em Herval e tornou-se advogado em Joaçaba), Egydio, Ildo e Aldo, que constituíram uma malharia que operava na parte inferior da residência, com produtos de ótima aceitação, e depois foram - em 1969 - para São Paulo (mais precisamente para Embu das Artes), onde arrendaram o restaurante e o bar que funcionavam no km 26 da Régis Bittencourt. Continue nos brindando com suas reminiscências e um forte abraço.

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