sexta-feira, 21 de março de 2014

O Sonho que se tornou realidade

          Na adolescência e na juventude, somos verdadeiros sonhadores. Alguns querem ser motoristas de caminhão, preferencialmente carreteiros, seguindo a profissão do pai. Outros médicos, advogados, dentistas, engenheiros, na mesma linha. Alguns pelas circunstâncias, tonam-se professores. Outros, pedreiros, carpinteiros, vendedores, comerciantes, mecânicos, lavoureiros. Mas há um sonho que muitos filhos buscam realizar e que os remetem para conquistar algo que poucos pais conseguiram: o de tornar-se jogador de futebol profissional. 

          Na minha geração,  isso já era o sonho de muitos colegas. Mas reconhecíamos que não tínhamos as habilidades para isso, então buscávamos nossa realização profissional em outras ocupações, que também nos permitissem sustentar uma família, ter casa, automóvel, poder dar boa educação aos filhos nossos. E, um dos jovens meus cotemporâneos, o Roque Manfredini, também alimentava, embora que silenciosamente, este sonho.Na juventude, fora aluno de meu pai no Grupo Escolar Belisário Pena, em Capinzal, no final da década de 1970. Tinha avantajado porte físico. Não era levado muito a sério pelos colegas, pois não demonstrava muia vontade de estudar. Justamente meu pai lhe deu forças  e motivação, dando-lhe tarefas especiais, uma espécie de ajudante do  professor"." Adolescente, jogou no "Botafoguinho"e no Juvenil do Arabutã FC.

          Antes de completar seus 18 anos, na inauguração do Estádio do Arabutã, atuou pela primeira vez como titular deste, num confronto com a poderosa equipe da Perdigão, de Videira, Campeã Estadual de Futebol em 1965. Tinham um timão e por isso mesmo foram convidados a atuar numa  pré-inauguração. Nos primeiros 45 minutos enfrentaram o Arabutã,  e no segundo tempo o Grêmio Esportivo São José. Levou gols, mas não se abalou. Pouco tempo depois, foi cumprir com suas obrigações militares no "Quinto BE", o Exército Brasileiro, no quartel de Porto União.

          Cumpriu seu Serviço Militar por um ano e voltou a Capinzal, onde começou a trabalhar como
vendedor de máquinas agrícolas. Trabalhava com uma caminhonete de cor laranja, visitava as popriedades rurais do Baixo Vale do Rio do Peixe.  E voltou a jogar no Arabutã, embora estivesse com um peso um pouco acima do normal para quem jogasse futebol.
 
         Nesse tempo, o Arabutã tinha bons goleiros, o Coquiara era um deles. E eu saí para esudar na Faculdade, a FAFI, em União da Vitória. E, numa de minhas vigens de volta a minha cidade para visitar os familiares, no início de 1972,  encontrei-o ali o lado do Posto Ipiranga, em Capinzal. Havia voltado de Porto União há dois anos, mas fizera o nome lá quando estivera no Exército, jogara no "União". E gostaria muito de voltar para lá, fazer testes na Associação Atlética Iguaçu, havia pessoas na cidade que conheciam seu futebol. Sinceramente, achei que ele só estava contando vantagens, mas compometi-me de falar com o Leoclides Fraron, que era Cabo no BE, que conhecia os dirigentes do Iguaçu.

         Quando falei com meus colegas da República Esquadrão da Vida,  fiquei muito surpreso: O Roque tinha muita popularidade na cidade, fora um grande goleiro, um dos melhores que o União já tivera. Mandei-lhe uma carta pelo correio dizendo-lhe que o Fraron falara com o Capitão Dal'Acqua e que este disse que ele podia vir para os testes.

         Ele me mandou recado dizendo que estava fazendo exercícios físicos para perder peso com o Joe Luiz Bertola, que foi meu colega de aula no Contabilidade. Pois, em poucos dias,  o Joe operou um verdadeiro milagre: O Roque caiu da casa dos 100 Kg para 82 Kg.

          Esperei-o no dia marcado: Um final de dia, chegou de trem, com uma sacola de boleiro branca, e as inscrições em vermelho: Arabutã FC. Sapatos esporte sem meias, uma calça Lee bem desbotada, uma camisa estampada combase branca e estampas de um vermelho rosado, que eram "muito da moda"na época. Levei-o a um hotel perto da Estação Ferroviária e marcamos que eu chegaria na manhã seguinte, às 7 horas, para pegarmos a lotação até o Batalhão. Cheguei antes da hora, mas  ele já havia ido. Fora cedo. Sempre fora assim, determinado.

          Tomei um ônibus e cheguei às 8 horas no campo do Batalhão. Estava lá, treinando, pegando tudo. Lembro que o lateral esquerdo Santos, que tnha um chute portentoso, batia forte e ele defendia. Pegava firma, seguro, nem sequer espalmava, Dois dias de treinos e ele estava aprovado. Mas não levara os  documentos para seu registo na Federação. Bem do jeito dele... Pegou o trem na quarta-feira e voltou a Capinzal buscar os documentos.Um dia de viagem para ida e outro para volta. Na sexta-feira o registro em Curitiba e, no domingo , a estreia, no estádio do Ferroviáio, em casa, contra a Mourãoense, de Campo Mourão. Vitória  do Iguaçu por 2 a 0. E o Roque escolhido como o melhor jogador em campo, enaltecido pelos locutores das rádios Colmeia e União. E muito aplaudido pelos torecedores. E eu vibrava na aquibancada, junto com mus colegas Osvaldo, Odacir, Fraron, Tortato, e outros.

          Nossa amizade ficou muito fortalecida a partir de 1972. Encontrávamo-nos na Praça Coronel Amazonas. Ele estudava Contabilidade à  noite no Colégio David Carneiro. E eu Letras, na Fafi. Eu o incentivava a estudar, da mesma forma que meu pai o fez, alguns anos antes...

          Valeu a pena ter incentivado o Roque a realizar seu sonho. Um sonho que realizou em razão de sua extema determinação e força de vontade. Só pessoas com nível de determinação e objetividade tão elevados conseguem realizar sonhos que parecem impossíveis!

          Ele teve uma carreira vitoriosa. Em 1975 foi escolhido como o melhor jogador do Campeonato Paranaense pelos clubes do interior. Chegou a ser contratado pelo Coritiba Futebol Clube.
Voltou para União da Vitória onde tornou-se empresário. 

         Mas sua história não termina aí. Oportunamente, vou falar mais sobre ele. Muitas vezes, quando vejo jovens que falam em ser jogadores de futebol profissional e vejo que têm algum talento, não os desencorajo. Mas faço algumas indagações, dentre elas pergunto se sabem que é mais fácil tornar-se médico do que jogador de futebol. Eles não entendem, mas a matemática é simples: "Quantos de seus conhecidos se tornaram médicos?  - Quantos de seus conhecidos conseguiram tornar-se jogadores de futebol?"  Certamente que mais de 50 pessoas que conheci tornaram-se médicos. E, menos do que a quantia de dedos de uma de minhas mãos tornaram-se jogadores profissionais. É uma realidade. O sonho nem sempre pode ser realizado pelo caminho que nos parece mais fácil.

Euclides Riquetti
22-04-2014

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